quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Após 125 anos de sua morte, Wagner segue como mito alemão

Rodrigo Zuleta Berlim, 14 fev (EFE).- O compositor Richard Wagner (1813-1883), um dos mitos alemães por excelência, morreu há exatos 125 anos sem ter deixado de ser uma das figuras mais controversas da história da cultura ocidental.

Seu lugar na história da música praticamente não é discutido, mas a conotação política de sua figura, que foi intimamente ligada ao nazismo, faz com que Wagner também siga despertando paixões contrárias.

Um dos bisnetos do compositor, Gottfried Wagner, reprimiu em diversas ocasiões o anti-semitismo de seu bisavô, chegando a assegurá-lo em seu polêmico livro "He who Does Not Howl with the Wolf".

Segundo Gottfried, o anti-semitismo da família começa com o ensaio de Wagner intitulado "O judaísmo na música", escrito em 1850, a partir do qual o bisneto do compositor vê uma linha direta que leva ao Holocausto.

O primeiro testemunho de uma relação direta entre os Wagner e Adolf Hitler é uma carta do genro do compositor e teórico do racismo Houston Stewart Chamberlain ao Führer, na qual lhe assegura, já em 1923, seu apoio incondicional.

Após a Segunda Guerra, os Wagner optaram por dissimular seu passado, e nos anos 70 chegaram a assumir posições de esquerda moderada, para ficar em compasso com os novos tempos.

No entanto, paralelamente ao repúdio político a Wagner, também existe uma corrente que destaca antes de tudo a qualidade de sua música, acima de quaisquer conflitos políticos e ideológicos.

O próprio Gottfried conta em seu livro a experiência que teve com o violinista judeu Yehudi Menuhin.

Após ouvir Gottfried falar do anti-semitismo de seu bisavô, Menuhin pôs um disco com a música de Wagner e pediu ao bisneto do compositor para que a escutasse com atenção.

"Por que um judeu como eu ouve esta música de um anti-semita e se emociona?", perguntou Menuhin a Gottfried Wagner, sem encontrar resposta.

Outro judeu devoto da música de Wagner é o pianista e diretor argentino naturalizado israelense Daniel Barenboim que, no entanto, percebeu que sua aproximação ao compositor de "Parsifal" não era bem-vista em Israel.

Em 2001, Barenboim gerou um escândalo no país ao encerrar um concerto com a abertura de "Tristan und Isold", rompendo assim um tabu que existia no país em relação a Richard Wagner.

Um dos biógrafos do compositor alemão se centra no aspecto estético da obra de Wagner, e diz que ele revolucionou a ópera de estilo tradicional, além de ter ampliado as possibilidades expressivas da música.

No entanto, em vida, não interessaram a Wagner as revoluções estéticas, e inclusive o compositor se viu obrigado a fugir da Saxônia, em 1849, por causa de sua participação em revoltas contra o principado, como parte de um movimento que buscava a unidade alemã, que só aconteceu em 1871.

Suas opiniões políticas volúveis, porém, deram tempo para que produzisse uma obra enorme, que vai de "Rienzi" até a tetralogia de "O anel dos Nibelungos", além de criar o Festival de Bayreuth, que segue hoje consagrado inteiramente à sua figura.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Cloudy!

Morre o ator Roy Scheider, o chefe de Polícia de "Tubarão", de Spielberg
Los Angeles (EUA), 10 fev (EFE) - O ator Roy Scheider, que
alcançou fama internacional como o chefe de Polícia Martin Brody no
filme de Steven Spielberg "Tubarão" (1975), morreu hoje aos 75 anos,
informaram fontes do hospital da Universidade de Arkansas.

O porta-voz da instituição, David Robinson, não especificou a
causa da morte, embora funcionários do centro explicaram que o ator
americano tinha recebido tratamento devido a um mieloma múltiplo
durante os últimos dois anos.

Tanto Scheider como Richard Dreyfuss, no papel de um
oceanógrafo, protagonizaram "Tubarão", filme que inaugurou a
era dos arrasa-quarteirões de Hollywood. A produção foi a primeira a ultrapassar a barreira dos US$ 100 milhões em bilheteria nos cinemas.

O outro ator do trio protagonista de "Tubarão" era Robert Shaw -- Quint, no filme --, morto em 1978.

Scheider participou também da continuação do filme de Spielberg,
"Tubarão II" (1978), dirigida por Jeannot Szwarc.

Apesar do sucesso de "Tubarão", o reconhecimento acadêmico do ator se deu com "Operação França" (1971), filme pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1972. Oito anos mais tarde voltou a ser indicado ao prêmio, desta vez como protagonista de "All That Jazz" (1979), de Bob Fosse.

Seu começo na indústria cinematográfica foi em produções de terror B, como "A Maldição" (1964). Alguns anos depois, sua atuação em "O Passado Condena" (1971), com Jane Fonda, chamou a atenção.

A participação no bem-sucedido "Tubarão" não lhe afastou de projetos
independentes, como "Maratona da Morte" (1976), de John Schlesinger, no qual encarnava um agente da CIA, irmão do personagem de Dustin Hoffman.

Outros projetos populares nos quais participou foram a segunda parte de "2001: Uma odisséia no espaço", de Stanley Kubrick, que recebeu o título de "2010" (1984), e "A Casa da Rússia" (1990), ao lado de Sean Connery e Michelle Pfeiffer.

Em seus últimos anos de vida, Scheider participou ativamente em manifestações contra a intervenção militar dos EUA no Iraque.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

do dia 9/2 do ano passado... ao som de In the morning do club 8

A gente se vê

"De Xico Sá.



“A gente se vê.” Pronto, phodeu, eis a senha para o nunca mais, o “never more” do corvo do tio Edgar A. Poe.

A gente se vê. Corta para uma multidão no viaduto do Chá.

A gente se vê. Corta para uma saída de estádio lotado em dia de decisão do campeonato.

A gente se vê. Corta para “onde está Wally”.

Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre.

Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam.

Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size filtro do abandono. Melhor dizer que vai pra nunca mais. Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o desprezo propriamente dito, o desprezo on the rock´s.

A gente se vê uma ova. Seja homem, torque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. A gente se vê é a mãe, ora, ora.

Como canta o Rei, use a inteligência uma vez só.

Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.

A gente se vê é pior do que a gente se esbarra por ai. Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte.

Melhor dizer logo “foi bom, meu bem, mas não te quero mais”. YO NO TE QUIERO MAS, como na camiseta mexicana que ganhei. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem.

A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. A gente se vê é a vovozinha, ora!

Seja homem, diga na lata.

Não engane a moça, que a nega é fino trato, que não merece desdém.

A fila anda, jogue limpo.

A gente se vê. Corta para uma multidão no show do U2. A gente se vê. A gente se vê. Corta para a festa do Círio de Nazaré. A gente se vê. Corta para a festa do Morro da Conceição. A gente se vê. Corta para o dia de Iemanjá em Salvador. A gente se vê. Corta para o reveillon na praia de Copacabana.

A gente se vê. Então aproveita e vai olhar se eu estou na esquina."

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Movimento da pupila antecipa momento da tomada de decisão

Experimento liga circuitos nervosos da visão a centro da iniciativa no cérebro

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando estamos olhando para um objeto, antes mesmo de conseguirmos reconhecê-lo já o analisamos e já "julgamos" como devemos tratá-lo. Essa é a maneira inusitada com que a visão opera no cérebro, conforme demonstra um estudo publicado na edição de hoje do periódico científico "PNAS".
Num elegante experimento que demonstrou o fenômeno, um grupo liderado por Olivia Carter, do Laboratório de Ciências Visuais da Universidade Harvard, dispensou modernas tecnologias de mapeamento cerebral. Para saber o que se passava na cabeça das pessoas, bastou a ela observar os olhos das pessoas, e o comportamento das pupilas revelou tudo.
No experimento, voluntários foram apresentados a uma série de imagens ambíguas. Uma delas era o "cubo de Necker", uma figura clássica de ilusão de óptica, que dá margem a uma dupla interpretação sobre sua perspectiva.
Quando olhavam para o cubo, os voluntários relatavam de tempo em tempo qual das duas perspectivas parecia real. Mas eles mudavam de idéia o tempo todo. Enquanto acompanhava o que as pessoas diziam, a pesquisadora também monitorava o diâmetro de suas pupilas. Ela percebeu que, em alguns momentos, as pupilas dos voluntários sofriam um espasmo, dilatando-se, e logo em seguida eles "trocavam" de idéia sobre a interpretação da imagem.
A neurocientista Carter, porém, sabia que a dilatação de pupilas estava ligada a um fenômeno interno no cérebro: a reação em cadeia de uma molécula chamada norepinefrina, transmissora de impulsos nervosos. Quando ativada em um setor do tronco cerebral -estrutura que conecta o cérebro à medula espinhal- essa substância provoca o alargamento da pupila.
Esse mesmo mecanismo está associado também à tomada de iniciativa. A norepinefrina age no momento em que uma pessoa deixa de analisar um problema para pôr a mão na massa e começar a resolvê-lo. Carter descobriu que essa via de transmissão de impulsos nervosos, que impele as pessoas à ação, é a mesma que inconscientemente obriga as pessoas a escolherem uma das interpretações da visão que lhes é apresentada.
"A evidência atual sugere que esse complexo está envolvido em otimizar o equilíbrio entre "aproveitar" (continuar fazendo o que se faz) e "explorar" (libertar-se e escolher uma das alternativas possíveis)", escreveram Carter e colegas na "PNAS".
É como se fosse o instante em que uma pessoa prestando vestibular se dá conta de que não sabe resolver uma questão e "chuta" uma das alternativas.
A neurociência, afinal, está mostrando que o mero ato de olhar já implica em uma tomada de decisão. (RAFAEL GARCIA)

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Vale-tudo em SP inspira apostas no exterior

SILAS MARTÍ
da Folha de S.Paulo

Com a bandeira do Brasil cravada no protetor de boca e um "Jesus" tatuado nas costas, Marcelo França, 26, entra no ringue. O curitibano franzino se aquece, exibe os músculos e ostenta o verde-amarelo dos dentes na cara do adversário.

Menos de três minutos depois, deixa a jaula de 25 m2 com sangue escorrendo dos lábios e um rasgo no olho esquerdo.

"Faltou gás", conclui França, estendido no chão e à sombra dos holofotes --mais um dentre dezenas de jovens lutadores que recebem R$ 700 para entrar no ringue, ganhando ou perdendo. Eles têm transporte e hotel pagos pela Rio Heroes, empresa de Miami que organiza lutas de vale-tudo em um galpão na periferia de Osasco, na Grande São Paulo.

A luta é transmitida ao vivo via satélite para Las Vegas, onde o sinal é distribuído pela internet, contornando a lei brasileira ao receber apostas por sites no exterior --um deles com sede na Costa Rica. Os sites patrocinam o evento e estampam as suas marcas no ringue.

"Eu sou o juiz, na verdade mais do que o juiz. Sou um animador. É uma rinha de briga.


Eu boto pilha e torço para quem está ganhando", diz o brasileiro Jorge Pereira, vice-presidente da Rio Heroes, que vira locutor diante das câmeras, anunciando no começo de cada embate e em inglês tortuoso: "ao vivo, do Rio".

Faixa-preta em jiu-jitsu e cego do olho esquerdo, que rasgou numa luta, Pereira, radicado em Miami, veio ao Brasil a pedido do empresário Jason Atkins para recrutar lutadores de vale-tudo "que brigassem de verdade" --ou seja, sem luvas, árbitro ou tempo dividido em rounds, nos moldes do vale-tudo oficial.

Ele se defende dizendo que as apostas não são feitas no Brasil. Acrescenta que tem alvará de funcionamento, quatro seguranças armados, médicos e uma ambulância disponíveis --tudo pelo "amor ao esporte", já que, diz, os campeonatos não dão grande retorno financeiro, embora se recuse a citar cifras.

Mas o prédio na avenida dos Autonomistas, na periferia de Osasco, deveria abrigar uma concessionária de veículos, segundo a prefeitura, e não um ringue de luta-livre -a assessoria da prefeitura afirmou que "um fiscal irá vistoriar o local".

Segundo o promotor José Reinaldo Carneiro, qualquer coleta de apostas não-regulamentadas pelo governo é contravenção penal, desde que as apostas no site sejam feitas a partir do Brasil. Mas os organizadores dizem que os sites bloqueiam lances feitos no país.

Cego pela violência

Muito pouco das apostas feitas pela internet, ao mínimo de US$ 50, pinga no bolso dos lutadores. Look Macrena, 30, que já quebrou a mão e clavícula no vale-tudo, ganha R$ 1.000 por mês. "A gente se vira como pode. Estou para brigar mesmo, é soco na cara a toda hora", diz, atento à luta. "Joelho, joelho", grita, orientando um lutador.

"A testosterona é alta, mas é tranqüilo", diz Pamela Vogue, 27, 600 ml de silicone em cada seio, cabelo oxigenado e microbiquíni amarelo, esperando para entrar no ringue com um cartaz anunciando a grande final. Por R$ 200 anteontem, ela e quatro amigas tiraram uma folga da Solid Gold, boate em São Paulo onde fazem strip-tease, para colorir a batalha.

No 14º encontro do tipo no mesmo endereço, cerca de 200 pessoas se espremiam para ver a rinha humana.

"Quebra a cabeça dele", gritava, grudada na grade da jaula, a dona de academia Leila Werdini, 42, mulher do treinador de Ivonildo Cafu --o rapaz massacrado no centro do ringue. "Eu ajudo, cuido, tenho médico", dizia, enquanto incentivava a continuidade da luta.

Durou 13 minutos, a mais longa da noite. Tempo suficiente para Cafu sair carregado depois de bater a cabeça na grade, desmaiar e vomitar. No dia seguinte, a empresária afirmou: "Ele está ótimo, pronto para outra".

Colaborou WILLIAN VIEIRA, da Folha de S.Paulo