quarta-feira, abril 23, 2008

Tremor foi o maior em São Paulo desde 1922

Tremor foi o maior em São Paulo desde 1922

Ondas de choque se propagaram em dois minutos e atingiram todos os bairros da capital; abalo, às 21h48, atingiu 5,2 graus

Epicentro foi em alto-mar, em São Vicente, a 270 km de SP; outros tremores parecidos podem ocorrer nos próximos dias, diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

Um terremoto de 5,2 graus na escala Richter aconteceu ontem às 21h e 48 segundos na costa do Estado de São Paulo e, depois de se propagar em ondas de choque durante dois minutos, atingiu todos os bairros da capital paulista, boa parte do Estado, além do Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
O chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, Lucas Vieira de Barros, admitiu a hipótese de que outros tremores, de intensidade parecida, aconteçam nos próximos dias: "Em geral a sismicidade se mantém por um período mais longo, até o reacomodamento do terreno."
Em geral, tremores dessa ordem de magnitude provocam no máximo pequenos danos em edifícios. Até a conclusão desta edição, não havia relato de pessoas feridas.
"Em termos mundiais, os 5,2 graus na escala Richter são apenas uma magnitude moderada, mas em termos de Brasil, o abalo foi expressiva", afirmou Vieira de Barros, em relação ao terremoto de ontem à noite. Em 1922, outro tremor de mesma magnitude foi registrado em São Paulo. Nunca a cidade foi chacoalhada por terremoto mais intenso.
O epicentro do tremor foi em um ponto em alto-mar localizado a uma distância de 215 km de São Vicente e a uma profundidade estimada de 10 km, segundo os sismógrafos do US Geological Survey, órgão do governo dos Estados Unidos que monitora desastres naturais. Em relação à cidade de São Paulo, o epicentro estava a 270 km. O terremoto foi sentido em um raio de 300 a 400 km a partir do epicentro.
Bombeiros dos municípios da Grande São Paulo receberam milhares de telefonemas logo após o tremor. Eram pessoas assustadas, que queriam entender o que havia ocorrido.
O tremor no epicentro durou fração de segundos, mas as vibrações geradas por ele prolongaram-se por cerca de seis segundos e foram sentidas principalmente por pessoas em andares mais altos de edifícios.
"Foi um grande susto. Eu nunca tinha passado por isso antes. O sofá mexeu, a persiana começou a bater, minha vizinha veio para cá correndo. O prédio foi para a direita e para a esquerda várias vezes", disse Patrícia Barboza, 37, que mora no sexto andar de um edifício de oito andares no Butantã (zona oeste de São Paulo).
Segundo o cientista Vieira de Barros, o terremoto foi causado por movimentos na camada tectônica em que se apóia o continente sul-americano. "Foi uma liberação de energia na forma de onda sísmica", disse o pesquisador, ontem à noite, de seu laboratório.
Para Vieira de Barros, o Brasil vem assistindo ao que chama de "recrudescimento sísmico", o que explicaria a ocorrência, por exemplo, de vários terremotos iniciados neste ano em Sobral (Ceará), com amplitudes de até 3,9 graus, e em dezembro do ano passado em Itacarambi (Minas Gerais), com 4,9 graus na escala Richter. Este último tremor causou a morte de uma menina de cinco anos (cada grau a mais na escala Richter significa abalo com intensidade 30 vezes maior ao do grau anterior).
O pesquisador da Universidade de Brasília explica que esses tremores em território brasileiro, normalmente inerte em termos sísmicos, provavelmente decorrem de um longo ciclo de acumulação de energia em falhas geológicas ativas. É como se uma camada de terra "empurrasse" outra até que esta trincasse. Essas trincas são os terremotos, que se vão repetindo até a reacomodação das camadas geológicas.
Segundo o professor Marcelo Assumpção, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, o fato de o epicentro localizar-se no oceano não autoriza "de maneira alguma" temores a respeito de tsunamis.
"A intensidade do tremor paulista foi insignificante, a movimentação dissipou-se rapidamente. Nada que se compare ao terremoto que gerou o tsunami", diz Assumpção. Na Tailândia, em 2004, o terremoto teve 9 graus na escala Richter. "Nem uma onda sequer foi gerada pelo terremoto desta noite", afirma o pesquisador.
Segundo o professor George Sand de França, do Observatório Sismológico da UnB, já ocorreram no país cinco terremotos de magnitude maior do que o tremor de ontem à noite e dois com os mesmos 5,2 graus. O terremoto mais forte que ocorreu no Brasil foi em 1955, com 6,2 graus na escala Richter, e balançou a localidade de Portos Gaúchos, no Mato Grosso. O professor explica que, de dez em dez anos, ocorre um terremoto desta intensidade no Brasil.
(LAURA CAPRIGLIONE, MÁRCIO PINHO, RICARDO WESTIN, JOÃO PEQUENO e RAFAEL GARCIA)

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