segunda-feira, dezembro 31, 2007

Físicos tentam desvendar o conceito dos "universos paralelos"

da France Presse, em Paris

Popularizada por obras de ficção científica como "Jornada nas Estrelas" ou então pelo recente filme "A Bússola de Ouro", primeira parte da trilogia escrita por Philip Pullman, o conceito dos universos paralelos desperta um grande interesse por parte dos mais sérios cientistas do planeta.

"A idéia de vários universos simultâneos é mais do que uma invenção fantástica. Parece natural em várias teorias e merece ser levada em conta", afirma o astrofísico Aurélien Barrau no número de dezembro da revista "Cern Courier", publicada pela Organização Européia para a Pesquisa Nuclear.

"Estes universos múltiplos não são apenas teoria, e sim as conseqüências de teorias elaboradas para responder a questões de física das partículas ou da gravitação. Muitos problemas centrados na física teórica encontram assim uma explicação natural", resume o cientista do Laboratório de Física Subatômica e Cosmologia.

"Nosso Universo seria apenas uma ilhota insignificante dentro de um imenso 'multiverso' infinitamente vasto e diversificado? Se for verdade, isso pode ser para o homem, que durante muito tempo acreditou que era o centro do mundo ou o centro da criação, a quarta ferida narcisista", prosseguiu, explicando que as três primeiras feridas teriam sido causadas por Copérnico, Darwin e Freud.

Imaginar que existem vários universos responderia a uma das grandes perguntas dos físicos: Por que motivo --fora acreditar em Deus-- nosso universo, se fosse o único existente, teria precisamente as leis e as constantes físicas que teriam permitido o surgimento de astros, de planetas e finalmente de vida?

Paradoxos

A idéia de universos paralelos foi introduzida em 1957 pelo físico americano Hugh Everett, para interpretar certas raridades --para o sentido comum-- da física quântica.

Dessa maneira, é possível encontrar partículas numa espécie de superposição de estados. O exemplo clássico e o do gato que pode estar vivo e pode estar morto ao mesmo tempo dentro da caixa que serve de exemplo e paradoxo da teoria pronunciada por um dos "pais" da física quântica, Erwin Schrödinger.

Apenas um dos estados se torna realidade no momento de uma observação. Dessa maneira, não se criam outras possibilidades em outros tantos universos? Hugh Everett e outros cientistas acreditam que sim.

Existiriam então vários universos paralelos que poderiam ter um passado comum, antes de divergir para outro possível e diferente.

No cinema

Um episódio de "Jornada nas Estrelas", "O universo do espelho", exemplifica bem o conceito, pois mostra, em um outro universo, outras versões do capitão Kirk, do sr. Spock e dos demais tripulantes da nave Enterprise.

"Este mundo, como todos os demais universos, nasceu do resultado das probabilidades", explica o Lorde Asriel a sua filha Lyra, a jovem heroína de "A Bússola de Ouro", evocando as partículas elementares.

"Num dado momento, várias coisas são possíveis e, no instante seguinte, apenas uma acontece e o resto deixa de existir", conclui.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Feriado de Natal é o mais violento do ano nas estradas federais

O feriado de Natal, no período entre zero hora de sexta-feira (21) e meia-noite de ontem (25), deixou 196 mortos nas estradas federais, e tornou-se o mais violento do ano, segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Foram registrados 2.561 acidentes e 1.870 feridos. Os números superam os registrados no Carnaval, tradicionalmente o feriado mais violento por causa dos excessos, inclusive de bebidas alcoólicas. Naquela operação, foram computados 2.417 acidentes, 145 mortes e 1.587 feridos.

Os Estados com maior número de acidentes foram Minas Gerais (460), Santa Catarina (297), São Paulo (235), Rio Grande do Sul (205) e Paraná (151). Já os estados com maior volume de mortos foram Minas Gerais (26), Bahia (20), Santa Catarina (19), Mato Grosso e Paraná (14) e Goiás (13). Os Estados que produziram mais feridos foram Minas Gerais (309), Santa Catarina (208), Paraná (150), Rio Grande do Sul (149) e São Paulo (134).


A polícia atribui os números altos ao bom momento da economia, que elevou o volume da frota brasileira e aumentou a circulação de veículos nas estradas.

Somadas a estes fatores, também contribuíram as chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, e a desconfiança que persiste em relação aos aeroportos, levando mais pessoas a optarem pelo transporte terrestre em suas viagens.

Imprudência
Entretanto, apesar das causas externas, os registros da PRF apontam a imprudência ao volante como principal motivo para a ocorrência de acidentes. De acordo com levantamentos internos, 80,75% dos acidentes acontecem em trechos com pista boa; 71,4% nas retas; 53,6% em plena luz do dia e com tempo bom (63%). A falta de atenção é o item mais alegado pelos condutores que se envolvem em acidentes (33,3%).

Cálculos baseados em estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelam que, nos cinco dias do feriado de Natal, o Brasil sofreu um prejuízo de R$ 111,1 milhões apenas com mortos e feridos nos 61 mil quilômetros de rodovias federais.

Próxima operação
As estatísticas do feriado de Natal levaram a PRF a promover ajustes na Operação Ano Novo, que começa à zero hora da próxima sexta-feira (28).

De acordo com o Coordenador de Controle Operacional da PRF, inspetor Alvarez Simões, a alternativa viável para o momento é investir na tecnologia para combater os excessos. "Se não podemos aumentar a quantidade de policiais, vamos apostar nos radares e etilômetros. Quando os apelos por cautela no trânsito parecem não funcionar, esperamos que ao menos o valor das multas seja um fator inibidor", afirma Alvarez.

Na próxima operação, a fiscalização deverá ser reforçada nas rodovias que levam aos principais balneários do país. Ao contrário do Natal, quando os deslocamentos ocorrem em direção ao interior, no Ano Novo as viagens acontecem, em sua maioria, com destino ao litoral.

Acidentes
Três acidentes graves marcaram o feriado de Natal. O mais violento aconteceu no domingo (23), quando um ônibus que fazia transporte irregular de passageiros bateu de frente com uma carreta na BR 020, no município de São Desidério (BA), deixando 11 mortos e 23 feridos.

Também no domingo, quatro pessoas morreram quando o ônibus em que viajavam saiu da pista e capotou na BR 060, em Goiás. Na tarde de sábado, em Mato Grosso, seis pessoas perderam a vida numa colisão frontal entre um Fiat Uno e um ônibus na BR 174, em Nova Lacerda.

Fiscalização
Durante a Operação Natal, a PRF fiscalizou 94.804 veículos e autuou 18.536. O número mostra que um em cada cinco condutores abordados cometia alguma infração contra o Código de Trânsito Brasileiro.

As prisões por embriaguez e direção perigosa aumentaram em 107%, saltando de 71 em 2006 para 147 no mesmo período de 2007.

Na última sexta-feira (21), a Polícia Rodoviária Federal realizou nos principais corredores rodoviários do país a Operação Sangue Bom, para flagrar pessoas que insistem em ingerir bebidas alcoólicas antes de dirigir. Em seis horas de fiscalização, equipes de agentes dos Núcleos de Operações Especiais da PRF autuaram 120 motoristas em todo Brasil.

"Globalistas" buscam sons periféricos

CAMILO ROCHA
Colaboração para a Folha de S.Paulo

A maioria dos DJs costuma direcionar seus ouvidos para algumas poucas mecas musicais do Primeiro Mundo, como Nova York, Londres, Berlim e Paris. Nesta década, porém, emergiu uma nova categoria, a dos DJs "globalistas", que viajam muito mais longe em suas garimpagens musicais.

Nomes como Diplo, DJ Dolores, Maga Bo, DJ/rupture, Ghislain Poirier e Wayne&Wax constroem sets incrivelmente variados, que podem ter hip hop americano, tecno alemão ou electro francês, mas também soca de Trinidad, rap marroquino, funk carioca, kuduro de Angola, dancehall jamaicano, o grime das Cohabs londrinas ou a cumbia colombiana.

A exposição desses ritmos "periféricos" já influencia artistas em diferentes esferas como a banda Bloc Party e os DJs/ produtores Simian Mobile Disco e Samim (que teve um dos hits do ano com "Heater", no qual juntou cumbia com tecno). Depois tem o fenômeno da anglo-cingalesa MIA, a primeira popstar a sair dessa tendência e que lançou neste ano o elogiado álbum "Kala".

Seria tudo isso uma nova roupagem para o desgastado termo "world music"? Ao conversar com a Folha por telefone, o DJ e produtor canadense Ghislain Poirier, que acaba de lançar o álbum "No Ground Under" pelo selo Ninja Tune (da dupla inglesa Coldcut), nega: "World music é mais exótico, os sons que tocamos são mais urbanos. Eles vêm de um cenário comum: pessoas sem muito dinheiro, fazendo música em estúdios caseiros ou num laptop. É algo mais urgente".

Graças a um maior acesso à internet e à tecnologia, em todo o mundo há uma proliferação sem precedentes dos sons das periferias dos países, boa parte deles com fortes bases eletrônicas e criados em laptops ou PCs surrados, muitas vezes com softwares piratas, e divulgados via blogs, sites e sets dos DJs "globalistas".

O DJ e MC americano Wayne&Wax, que também é etnomusicólogo, batizou o movimento de "global ghettotech".

"Inventei essa frase para descrever uma estética emergente entre certos DJs e blogueiros, onde se mistura gêneros "globais" como hip hop, tecno e reggae, entre outros, com estilos 'locais'", explicou Wayne à Folha. "Mas sou contra a abordagem superficial e modista. Gosto de conhecer os contextos sociais e culturais que moldaram esse sons", esclarece.

Pioneiros

Um dos "globalistas" pioneiros é o DJ/rupture, de Boston, EUA, que primeiro chamou a atenção com uma mixtape (set mixado) chamada "Gold Teeth Thief". O set deu tanto o que falar que figurou entre os dez melhores lançamentos de 2002 da prestigiosa revista musical inglesa "The Wire".

Por meio de seu blog e programa de rádio "Mudd Up!", Rupture transmite uma mescla insana de ritmos de várias partes. Um de seus interesses especiais é a música maghrebi, do norte da África. "Estou descobrindo [também] o mundo da cumbia --existem muitas cenas fascinantes, do passado e do presente", conta o DJ.

O selo de Rupture, Soot, deve lançar em alguns meses o álbum de estréia de outro nome importante da cena "globalista": Maga Bo, um americano de Seattle que mora no Rio desde 1999. Maga Bo já trabalhou com brasileiros como BNegão, MC Catra, Marcelo Yuka, Marcelinho da Lua e Digitaldubs.

No ano que vem, ele deve começar a dar aulas sobre produção digital na sede do AfroReggae, em Parada de Lucas, no Rio. No momento, está em Addis Ababa, capital da Etiópia, gravando com músicos locais e pesquisando música etíope.

"Batidas eletrônicas são o campo onde todo mundo pode se entender. O computador, que já foi chamado do primeiro 'instrumento folk universal', está cada vez mais acessível. O volume de música que pode ser encaixada nesse 'global ghettotech' está aumentando no mundo. A morte das gravadoras tradicionais e o crescimento da distribuição de música na internet estão ajudando essa popularização", conta Maga Bo.

Já o DJ Dolores, representante brasileiro mais conhecido dessa tendência, diz que "os computadores são os tambores de hoje, um instrumento primal que cada um pode usar do seu jeito". Em 2004, Dolores ganhou o prêmio de melhor DJ na categoria "Club Global" da Radio One, da BBC inglesa. Dolores acaba de chegar de vários shows pelos EUA e México e no ano que vem deve lançar o álbum "Um Real".

Diplo é o nome mais conhecido dessa safra de DJs/produtores. Esse americano de 29 anos foi um dos principais divulgadores do funk carioca no exterior. Ex-namorado de MIA (cujo primeiro álbum ele co-produziu), Diplo tocou recentemente no Tim Festival.

Ele acredita que é importante retribuir as culturas locais. Através do projeto Heaps Decent, ele vem fazendo música com jovens aborígenes de um centro de detenção de menores da Austrália. Faixas devem sair em breve, em parceria com o selo australiano Modular.

"Já que essas subculturas, de certa forma, me ajudam a ganhar a vida, fiz algo para ajudar seu desenvolvimento", explica. "Nos próximos meses, espero fazer o mesmo na favela do Cantagalo, no Rio, com a ajuda do AfroReggae e do [antropólogo] Hermano Vianna."

Na festa de Natal da Daslu, presente é virar celebridade

Além da ceia no Buddha Bar, balada no Terraço da Daslu movimentou ceia na megabutique

Olacyr de Moraes reservou mesa, mas não estava na lista; no Buddha, quem perdesse o cartão de consumação teria de pagar R$ 6.000

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Olacyr de Moraes, 76, desce de um Toyota Lexus preto à porta da Daslu e diz: "Fala com o dono dessa merda que eu estou aqui e quero entrar." É 24 de dezembro, quase meia-noite. Olacyr havia reservado mesa para a ceia do Buddha Bar, recém-inaugurado, mas seu nome não está na lista. "Quem é esse "véio'?", pergunta um segurança.
Depois de "passar um rádio" para a portaria do restaurante, o segurança libera a entrada de Olacyr, seu motorista e das três jovens que o acompanham.
Além da ceia seguida de festa no Buddha Bar, uma outra balada, no Terraço da Daslu, movimenta a noite nas dependências da megabutique multimarcas. O convite da primeira foi vendido a R$ 180 (ceia+festa), e o da outra, a R$ 150 ("primeiro lote") e R$ 300, na porta.
Convidaram-se 800 pessoas para o pós-ceia, e esperavam-se 1.500 no baladão do terraço -em caso de perda do cartão de consumação na festa do Buddha, o cliente teria de pagar R$ 6.000. A primeira é freqüentada por um "público acima dos 35", a outra, "pela garotada".
Depois de passar pelas duas barreiras de seguranças, chega-se ao Buddha Bar, cuja inspiração é a matriz francesa. Enquanto aguarda liberação para entrar, ao lado de uma vitrine da grife Louis Vuitton, a reportagem ouve barulho de tiros. Muitos. Os seguranças explicam que vêm da favela ao lado.

Só batata frita
O interior do BB é bem amplo, suavemente iluminado e com mesas ao redor de uma pista improvisada.
A chef, Bel Coelho, 28, chega para conversar. Bel é bonita, sorridente, estagiou em Londres e posou nua. Em uma mesa, estão sua mãe, Ângela, e os três irmãos. "Quando criança, a Bel não comia nada, só batata frita", conta Ângela. Carioca, ela diz que está ali para dar uma força à filha. Não costuma vir à Daslu? "Querido, eu trabalho na secretaria da Cultura, na estação da Luz, e quando saio, só vejo criança viciada em crack, cafetão, os "nóia". Você acha que eu consigo entrar na Daslu e dar R$ 5.000 por uma bolsa?"
Na mesa de Olacyr de Moraes, o clima é outro. Das três moças na faixa dos 20 que acompanham o empresário, duas se apresentam como "modelo internacional". A terceira, Priscila Cruz, 19, uma morena alta, faz faculdade de farmácia e conta que Olacyr deu dois vestidos do italiano Roberto Cavalli a cada uma delas. Dois? "Um é para o Réveillon." Diz que o dela custou R$ 20 mil.
No baladão no terraço, um espaço imenso com iluminação feérica, a pista nunca fica cheia. Repórteres entrevistam celebridades. A atriz Natália Rodrigues quer ser Bruna Surfistinha no cinema: "Se não for a escolhida, tenho laboratório para fazer qualquer prostituta".
Um quarentão de mãos dadas com uma loura, camisa social preta meio aberta, deixando a mostra a gargantilha com crucifixo. Quem é? "O cara da Caçula de Pneus."
Um produtor de TV se aproxima da reportagem e pergunta: "Qual esquema? Quanto paga pra sair [no jornal]? Tenho uma amiga bonitona, do Morumbi, mulher de status, posso colocar você em contato."
Giselle Itié aparece dentro de um vestido frente única verde água. É a mulher mais bonita da noite. Diz que passou o Natal com "os sobrinhos fofos" e "bateu aquela coisa tipo quero ser mãe". Está plenamente recuperada do acidente no programa de Faustão e já até patinou de novo, em Nova York. "Só sinto um zumbidinho no ouvido."
Rubens Aizemberg, um dos organizadores do baladão, explica que o nome da festa é "Safe Celebration": "Queremos incentivar o consumo consciente. Chamamos táxis para atender os freqüentadores da festa, para que ninguém saia dirigindo bêbado". Será que rolou?
Bem, do lado de fora, Range Roovers, Mitsubishis, Mercedes e Porsches arrancam em velocidades abusivas. "Imagina se essa playboyzada vai deixar o carro aí pra pegar táxi", ri um motorista do ponto.

domingo, dezembro 23, 2007

dicionário

filoginia

{verbete}
Datação
1873 cf. DV

Acepções
■ substantivo feminino
1 apreço pelas mulheres
2 Regionalismo: Brasil.
tese da equivalência intelectual entre homens e mulheres


Etimologia
filógino + -ia; ver 2fil(o)- e gino; f.hist. 1873 philogynia

Antônimos
misoginia

Parônimos
filogenia(s.f)

dicionário

misoginia

{verbete}
Datação
1858 cf. MS6

Acepções
■ substantivo feminino
1 ódio ou aversão às mulheres
2 aversão ao contato sexual com as mulheres


Etimologia
gr. misogunía,as 'horror, aversão às mulheres'; ver mis(o)- e gin(o)-; f.hist. 1858 misogynia

Antônimos
filoginia

dicionário

misandria

{verbete}
Acepções
■ substantivo feminino
aversão, ódio ou desprezo pelos indivíduos do sexo masculino
Obs.: p.opos. a misoginia


Etimologia
mis(o)- + -andria

dicionário

feminismo

{verbete}
Datação
1905 O Malho nº 152

Acepções
■ substantivo masculino
1 doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade
2 Derivação: por metonímia.
movimento que milita neste sentido
3 Derivação: por extensão de sentido.
teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos
4 Derivação: por metonímia.
atividade organizada em favor dos direitos e interesses das mulheres
5 interesse do homem pela mulher; atração
6 Rubrica: medicina. Estatística: pouco usado.
presença de caracteres femininos no homem


Etimologia
fr. féminisme (1837) 'doutrina que visa à extensão dos papéis femininos'; ver femin-; f.hist. 1905 (anti-)feminismo

dicionário

machismo

{verbete}
Datação
sXX

Acepções
■ substantivo masculino
1 qualidade, ação ou modos de macho ('ser humano', 'valentão'); macheza
2 Uso: informal.
exagerado senso de orgulho masculino; virilidade agressiva; macheza
3 comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem
Ex.: o m. ainda tem limitado o acesso feminino ao mercado de trabalho


Etimologia
macho + -ismo; ver 1masc-

dicionário

sexismo

{verbete}
Datação
1965

Acepções
■ substantivo masculino
atitude de discriminação fundamentada no sexo
Ex.: falocracia, machismo, misandria, misoginia são modalidades de s.


Etimologia
sex(i/o)- + -ismo

Luta entre garotas e rapazes levanta questões de igualdade e decoro

Adeline Gray, uma lutadora do colégio secundário de Chatfield, a sudoeste de Denver, Colorado, está deitada de bruços e faz força para se levantar. Um rapaz de 63 quilos, exatamente o mesmo peso dela, a mantém imobilizada.

E todas as regras tradicionais sobre garotas e garotos adolescentes, como eles devem se comportar e como devem se tocar, estão suspensas.

Gray finalmente se liberta. Ela executa um golpe de tesoura e então enfia uma perna entre as dele. Ela luta para prender o braço dele em um de seus golpes favoritos, a 'asa de galinha'. Travada no combate, a dupla continua quase imóvel até que ela começa a incliná-lo, muito lentamente, e o imobiliza no chão.

A equipe dela vibra.

Ele volta para junto de sua equipe, suportando o tipo de derrota raramente vista em um esporte que não muito tempo atrás era exclusividade masculina.

No ano passado, mais de 5 mil garotas praticaram luta greco-romana em colégios em todos os EUA -contra 112 em 1990, segundo a Federação Nacional de Associações Estaduais de Colégios.

O esporte deverá crescer ainda mais depressa com a inclusão da modalidade feminina nas Olimpíadas e mais mulheres aderindo ao esporte nos campus de colégios e faculdades. A USA Wrestling (Associação Americana de Luta Greco-romana) está fazendo campanha para que a luta feminina seja sancionada como esporte da NCAA (Associação Atlética Nacional de Colégios).

Mas o esporte emergente é um gatilho para polêmica, especialmente em mais de 40 estados onde as garotas de colégios lutam nas equipes dos meninos. Os opositores da luta mista alegam motivos que vão desde o perigo de as garotas se machucarem até a ameaça de os rapazes serem humilhados. E, é claro, há a questão do contato físico.

"A maioria das pessoas simplesmente acha que as mulheres não devem lutar", diz Pat Babi, diretora feminina da USA Wrestling no Colorado. "Um dos maiores problemas é que o Colorado não tem equipes separadas para garotas que querem lutar."

Apesar do crescimento do esporte, os números em muitos estados ainda são baixos demais para justificar equipes separadas. Mas ainda assim algumas garotas estão tendo êxito nesse mundo masculino.

Em 2006, Brooke Sauer, da Golden High School, tornou-se a primeira menina na história do Colorado a se qualificar para o torneio colegial estadual de luta greco-romana. Adeline Gray, 16, espera se sair ainda melhor em fevereiro, quando o Colorado realizar seu campeonato estadual.

"É uma meta dura de alcançar", disse o pai dela, George Gray, um policial de Denver. "Acho que ela vai entrar, mas se conseguirá alcançar o objetivo de ganhar algumas lutas é difícil saber."

Gray é bastante respeitada na escola de Chatfield para ser o capitão da equipe de luta. "Ela é um bom exemplo", diz um dos treinadores, Fred Carrizales. "Esforça-se mais que os meninos e está se sobressaindo."

Quando os lutadores chegam ao ensino do segundo grau, os rapazes têm mais força que as garotas, especialmente na parte superior do corpo. Mas as meninas têm de combater mais que os músculos masculinos.

"Estamos pedindo que as pessoas modifiquem suas definições de feminilidade e masculinidade", disse Katie Downing, uma pioneira campeã do mundo de luta greco-romana feminina que está treinando para as Olimpíadas. Ela acaba de terminar sua tese de mestrado sobre o impacto das mulheres no esporte.

"A luta como foi desenvolvida tem muito a ver com masculinidade e individualidade, todas essas coisas ligadas ao sonho americano", ela disse. "Ela representa tudo o que é masculino há alguns séculos."

Patricia Miranda, a primeira norte-americana a receber uma medalha olímpica em luta greco-romana feminina quando ganhou um bronze em Atenas em 2004, lembra de um momento perturbador no início de sua carreira, depois de vencer um rapaz em sua equipe colegial na Califórnia.

"A mãe dele me confrontou quando eu estava saindo da arena", ela disse. "Ela me deu muitos argumentos de como é injusto as garotas competirem com rapazes. Ela disse que eu coloquei o filho dela numa situação impossível, em que se ele ganhasse era apenas uma garota e se ele perdesse sua vida estaria terminada".

Na época, Miranda era muito menos hábil para se defender.

"Eu deveria ter dito: as garotas não podem lutar sozinhas agora, e se elas querem ter essa experiência -que é maravilhosa para a auto-estima e a autoconfiança-, por que vocês querem barrar a metade da população? Por que a senhora, como mãe, ensina seu filho que a pior coisa é perder para uma garota?"

A maioria das meninas diz que preferiria lutar contra garotas porque os músculos e a força são mais equiparados. Mas somente quatro estados -Texas, Havaí, Washington e Oregon- têm campeonatos estaduais femininos e luta greco-romana feminina como esporte colegial.

O que significa que a maioria dos estados ainda tenta descobrir o que fazer com suas lutadoras.

Tom Beeson, membro do Hall da Fama Nacional dos Lutadores e ex-treinador em colégios do Colorado, disse que muitos meninos vêem isso como uma "situação de perder ou perder".

"Se eles derem uma surra nela, por falta de um melhor termo, é uma garota e não é tão forte, então você deveria vencê-la. Não há respeito ou honra. E se você perder você tem de ir para o basquete".

Arnold Torgerson, membro do Hall da Fama Nacional dos Lutadores, que foi treinador de luta colegial durante 35 anos no Colorado, também é contrário à luta mista.

Ele tem dois filhos e quatro filhas. "Eu sempre ensinei os meninos a respeitar as mulheres e cuidar delas", ele disse. "Agora os treinadores dizem para eles: dê uma surra nela, esfregue o nariz dela no chão. Na minha opinião isso é anti-sexista."

A sexualidade é outra preocupação.

"O colégio é uma época em que os rapazes e as garotas estão começando a sentir suas diferenças", disse Torgerson, que acredita que certos golpes são problemáticos na luta mista.

"Esse é o único esporte que é pele-a-pele. Por isso, quando a pele dos meninos encosta na pele das meninas em alguns lugares onde você agarra e segura, sem intenção, são lugares onde a garota deveria se sentir ofendida, ou ficaria se acontecesse no corredor da escola."

Gray, que luta com seu longo cabelo castanho escondido sob uma touca preta, enfrenta essa discussão o melhor que pode.

"É um esporte muito físico", ela diz. "Eu cresci lutando desde os 6 anos, por isso nunca foi estranho para mim tocar os garotos desse modo. É uma maneira muito diferente de tocar um rapaz, mas não vai ser nada sexual... Este esporte é muito mental e competitivo, e se você for com essa mentalidade vai perder."

Terry Steiner, treinadora feminina nacional da USA Wrestling, diz que qualquer um pode lutar -rapazes gordos e magros, altos e baixos-, então por que as garotas não podem?

Enquanto isso, Gray está concentrada para chegar ao campeonato estadual. "Sou uma mulher quando entro na luta", ela disse. "Mas também sou uma atleta, e é isso que eles precisam entender."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

sábado, dezembro 22, 2007

Rehab.

They tried to make me go to rehab but I said 'no, no, no'
Yes I've been black but when I come back you'll know know know
I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab but I won't go go go

I'd rather be at home with Blake
I ain't got seventy days
Cause there's nothing
There's nothing you can teach me
That I can't learn from Mr Hathaway

I didn't get a lot in class
But I know it don't come in a shot glass

They tried to make me go to rehab but I said 'no, no, no'
Yes I've been black but when I come back you'll know know know
I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab but I won't go go go

The man said 'why do you think you here'
I said 'I got no idea
I'm gonna, I'm gonna lose my baby
so I always keep a bottle near'
He said 'I just think your depressed,
kiss me here baby and go rest'

They tried to make me go to rehab but I said 'no, no, no'
Yes I've been black but when I come back you'll know know know
I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab but I won't go go go

I don't ever wanna drink again
I just ooh I just need a friend
I'm not gonna spend ten weeks
have everyone think I'm on the mend

It's not just my pride
It's just 'til these tears have dried

They tried to make me go to rehab but I said 'no, no, no'
Yes I've been black but when I come back you'll know know know
I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab but I won't go go go

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Grupo acha ancestral terrestre de baleias

Evolução teria levado pequeno mamífero herbívoro a fugir de predadores terrestres e procurar alimentos na água

Descoberta foi feita após cientista quebrar fóssil em acidente: fratura revelou semelhança de ouvido do animal com o de cetáceos



RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL


Poderia um bicho do tamanho de uma raposa e parecido com um veadinho ser um parente próximo das baleias e golfinhos? Não só pode, como é a melhor hipótese até agora para explicar a evolução dos mamíferos marinhos, segundo um estudo de cientistas dos EUA e da Índia publicado hoje na revista científica "Nature".
Para o pesquisador Hans Thewissen, das Universidades do Nordeste de Ohio, EUA, o mamífero extinto que viveu há 50 milhões de anos, conhecido pelo nome científico Indohyus, seria uma espécie de "elo perdido" na evolução dos cetáceos, mamíferos marinhos como a baleia ou o golfinho.
Apesar de esses fósseis serem conhecidos há vários anos, a nova hipótese surgiu graças a um acidente: um técnico de laboratório quebrou o crânio de um Indohyus, na altura do ouvido. Ele mostrou o dano a Thewissen, que ficou intrigado com a espessura do osso, que lembrava o das baleias. Ao reestudar o fóssil, descobriu que, além da estrutura do crânio, duas outras evidências indicavam que o animal passava boa parte do tempo na água -a espessura dos ossos das patas e sua composição físico-química.
"Os ossos são como os de animais terrestres, mas sua espessura é como a dos ossos de hipopótamos, que os ajudam a andar no fundo do rio", declarou Lisa Noelle Cooper, uma das autoras do estudo.

Água à vista
A vida no planeta surgiu no mar e depois passou à terra firme. Os mamíferos aquáticos fizeram o caminho de volta, mas o registro fóssil dessa fase de transição ainda tem falhas.
Thewissen e seus colegas descobriram várias espécies de baleias primitivas na década de 1990 e vêm estudando-as desde então. "Há 40 milhões de anos, as baleias eram semelhantes às de hoje", declarou ele em entrevista gravada e distribuída pela "Nature"; mas basta voltar outros cinco milhões de anos e os ancestrais das baleias passam a ser bem diferentes. Um capítulo antes na história da evolução, esses animais eram semelhantes a crocodilos -tinham patas e viviam em mar raso. Thewissen descobrira o fóssil de uma dessas espécies, a Ambulocetus natans, e anunciado seu achado em 1994.
Outra descoberta da equipe também não lembra nem de longe uma baleia. O Pakicetus attacki, descrito em 2001, lembra uma mistura de porco com cachorro, mas os ossos indicam o parentesco com cetáceos. O fato de ele ser semelhante a um crocodilo e se alimentar de presas capturadas em água rasa aparentemente dava apoio à teoria mais comum sobre a transição da terra para a água. Achava-se que ancestrais das baleias seriam ungulados, animais com casco nas patas.
Estudos com DNA mostraram que, dos animais vivos, os mais próximos das baleias são os hipopótamos -que infelizmente são bem mais recentes na evolução e não revelam muito sobre a transição dos cetáceos para a água.
Os fósseis do Indohyus foram achados na Caxemira, região dividida entre Índia e Paquistão. Esses animais não eram bons nadadores, e seus dentes indicam que eles passavam bom tempo na água -uma hipótese é que, apesar de herbívoros, eles nadavam para escapar de predadores. Passando tanto tempo na água começaram a se alimentar ali também.

Mudança de dieta

"Nós propomos que a mudança de dieta foi o evento que definiu a origem dos cetáceos", escreveram os autores. "Os cetáceos se originaram de um ancestral como o Indohyus e mudaram sua dieta para uma de presas aquáticas", afirmaram.
A hipótese de que o Indohyus seja o "elo perdido" na evolução de baleias e golfinhos promete gerar polêmica -algo muito comum na paleontologia, área de pesquisa em que muitos trabalhos têm de ser baseados em pouca evidências. Por exemplo, Kenneth Rose, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, afirma que as evidências de Thewissen e colegas ainda não são conclusivas. Ele comentou também que um dos traços essenciais usados no estudo, a estrutura do osso do ouvido, é difícil de analisar e parece ser baseado em apenas um espécime.
Com Associated Press

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Garota que permaneceu seqüestrada durante 8 anos inicia carreira na televisão


Laurence Monnot
Correspondente em Viena, Áustria


Cansada de ver a imprensa entreter-se com a sua vida de vítima, Natascha Kampusch, a jovem austríaca que permaneceu seqüestrada durante oito anos, partiu para a ofensiva. Ela será a animadora de um programa televisivo que estreará a partir de fevereiro de 2008 no novo canal austríaco Puls 4.

A Puls 4, um canal regional que pertence ao grupo alemão Prosieben Sat. 1, está se preparando para lançar uma nova programação nacional em fevereiro.

A jovem mulher, que foi promovida recentemente ao status de jornalista e de animadora de programas de televisão, escolherá, ela própria, os convidados do seu programa. Estes deverão ser "personalidades excepcionais" do mundo político, artístico ou social, conhecidas ou não do público, cujas realizações deixaram a futura apresentadora impressionada. As sessões de teste já começaram.

Auxiliada pela redação da Puls 4 e pela equipe da Diamond Age, a empresa de relações públicas que a representa, Natascha Kampusch aprendeu os segredos da entrevista televisiva e então analisou as imagens junto com os seus formadores. Faltando um mês e meio apenas para a estréia, o formato do programa, que provavelmente será mensal, e papel exato da apresentadora ainda estão por serem definidos.

Em agosto de 2006, a menininha que fora seqüestrada aos 10 anos havia ressurgido na mídia, agora com a aparência de uma jovem mulher de 18 anos. O seu destino havia fascinado a opinião pública no mundo inteiro, mas ela preferiu contar o menos possível a respeito. A partir daquele momento, ela passou a dedicar uma grande parte da sua vida de mulher livre a se proteger da curiosidade dos meios de comunicação e dos fotógrafos.

Um único jornalista da televisão nacional austríaca, que foi capaz de inspirar-lhe confiança, foi autorizado a entrevistá-la, mas com a condição de que ele censurasse o seu próprio trabalho. As perguntas desagradáveis, como aquela a respeito de suas relações com o seqüestrador, não foram abordadas. Um cuidado que o jornalista explicou alegando a necessidade de proteger a vítima de um novo trauma.

Natascha Kampusch teme os meios de comunicação e não hesita a processá-los na justiça pela publicação de fotos ou de comentários não-autorizados. Ela os considera "parciais e ingênuos", mas, durante oito anos, eles foram o seu único vínculo com o mundo exterior.

"Papel ativo"
Seria possível imaginar alguma divulgação melhor para a estréia deste canal do que incluir a jovem seqüestrada na programação? Uma pesquisa de opinião que foi realizada no final do ano de 2006 na Áustria a apontava como a personalidade mais popular do país depois do presidente da República. No papel de entrevistada, a jovem mulher conseguiu impressionar o público com a sua maturidade e a sua eloqüência muda de vítima, fazendo disparar os índices de audiência do canal nacional.

"Há muito tempo que eu estou pensando em abandonar o papel passivo de objeto da curiosidade da mídia para assumir um papel ativo", disse Natascha por meio de seu porta-voz, um funcionário da agência de comunicação Diamond Age.

Christoph Feuerstein, o autor das entrevistas televisivas que foram difundidas no mundo inteiro, que até hoje mantém contato regular com ela, avalia que este grande salto é prematuro. Aos 19 anos, Natascha já recuperou o seu atraso escolar e está se preparando para obter um diploma de curso primário, mas, até hoje ela segue sendo acompanhada por psicólogos.

As desavenças dos seus pais, que se manifestam por intermédio de advogados e de notas oficiais, não poupam nem a própria filha. Ela mesma deverá comparecer a uma audiência na primavera de 2008, devido a um processo que opõe a sua mãe a um antigo juiz que está convencido da cumplicidade desta última no seu seqüestro.

Tradução: Jean-Yves de Neufville
Visite o site do Le Monde

Amar e ser amado

Definir o amor tem sido assunto reservado aos poetas. Mas a neurociência, quem diria, já pode dar os seus pitacos -ao menos para explicar por que amar e ser amado são desejos tão fortes e presentes em nossa espécie. Considerados inviáveis dez anos atrás, dada a subjetividade do assunto, exames do cérebro de voluntários que contemplam imagens da pessoa amada ou a abraçam são hoje em dia bem aceitos pela ciência. Esses estudos mostram de que é feita a experiência do amor pelo cérebro. A presença do ser amado ativa o sistema de recompensa, trazendo sensações de prazer, felicidade e bem-estar como um todo, que, de quebra, nos ensinam a associar a tais sensações positivas o objeto de nosso amor e nos fazem querer continuar em sua presença e até ansiar por ela. Essa ânsia é especialmente intensa quando o amor é reforçado por sexo -o bom sexo, voluntário e prazeroso, que, com o orgasmo, leva à liberação de hormônios como a ocitocina, que ativam ainda mais o sistema de recompensa.
Se o amor é correspondido, a presença da pessoa amada é também calmante. Mesmo longe de levar ao orgasmo, um abraço já aumenta a liberação de ocitocina, que, além de estimular o sistema de recompensa, reduz a atividade das estruturas do cérebro responsáveis pelo medo e facilita a aproximação.
Abraços amorosos nos deixam menos temerosos e desconfiados e, por conseguinte, mais confiantes no outro, otimistas e dispostos a abaixar a guarda. Sentir-se amado é um grande ansiolítico. Quem de fato recebe a atenção e os cuidados do objeto do seu amor não se sente sozinho e tende a ter respostas mais saudáveis ao estresse, inclusive com a produção de quantidades menores do hormônio cortisol -aquele responsável pelos estragos do estresse crônico. Receber um abraço dessa pessoa já basta também para diminuir instantaneamente o nível de cortisol no sangue.
Até o sexo é ansiolítico, por levar, com o orgasmo, à liberação de prolactina -uma grande responsável pela sensação de bem-estar e relaxamento físico e mental que se seguem. Dar apoio moral é uma grande demonstração de amor, crucial para manter saudável a resposta ao estresse de quem o recebe. Mas dar carinho a quem se ama é a mais inequívoca demonstração de amor, tão importante que conta com um sistema de nervos específico para detectá-la. Por isso, não basta amar; é preciso fazer o outro se sentir amado.
Um feliz Natal para você, leitor, repleto de abraços das pessoas que você ama!
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, Neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Fique de bem com o seu cérebro" (Editora Sextante) e do site O Cérebro Nosso de Cada Dia (www.cerebronosso.bio.br)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Golfinhos podem ter linguagem própria, diz estudo

Reuters

Os assovios e trinados emitidos por golfinhos "podem ser chamados de linguagem", de acordo com um estudo da universidade de Southern Cross, em Linsmore, na Austrália.

A pesquisa, publicada na última edição da revista New Scientist, foi coordenada por Liz Hawkins, do Centro de Pesquisas sobre Baleias da instituição, e identificou quase 200 sons diferentes.

"Essa comunicação é altamente complexa e é contextual, ou seja, de certa forma poderia ser descrita como linguagem", disse Hawkins, que passou três anos ouvindo "conversas" de golfinhos da costa oeste australiana.

Já se sabia que golfinhos utilizam assovios "personalizados" para se apresentar uns aos outros, mas o significado dos outros sons que eles emitem era desconhecido.

Ao todo, Hawkins gravou 1.647 sons de 51 diferentes grupos que habitam a região da Baía de Byron, no Estado de Nova Gales do Sul.

Contexto

Do total, identificou 186 assovios diferentes, dos quais 20 eram os mais comuns. Hawkins então separou os sons em cinco grupos tonais e descobriu que cada um deles era associado a comportamentos diferentes.

Quando o grupo passeava, 57% dos sons analisados apresentaram forma sinoidal, isto é, com subidas e descidas simétricas.

Já quando os animais descansavam ou se alimentavam, este tipo de assovios era menos comum.
Quando os golfinhos se divertiam, os sons usados eram quase sempre ascendentes ou em tons sustentados.
Liz Hawkins percebeu que um destes sons de "diversão" era sempre repetido quando os golfinhos "surfavam" as ondas do barco da cientista.



Um outro som que parece ter um significado concreto foi identificado pela pesquisadora quando um golfinho se encontrava separado do grupo.

"Este assovio poderia definitivamente significar: 'Estou aqui, onde está todo mundo?'", disse Hawkins.
Para outra pesquisadora da linguagem dos golfinhos, Melinda Rekdahl, da Universidade de Queensland, em Brisbane, ainda é cedo para saber se assovios têm assovios específicos.

Rekdahl descobriu que os golfinhos em cativeiro emitem mais sons ao se alimentar que os livres.
A estudiosa diz ser possível que estes sons signifiquem expressões como: "rápido" ou "aqui tem comida".

Macacos resos, como os humanos, são capazes de fazer soma mental

Estudo comparou animais com estudantes dos EUA; taxa de acerto foi igual

DA REDAÇÃO

Depois de um grupo de chimpanzés ter dado um banho em universitários num teste de memória numérica, como mostraram cientistas japoneses no começo do mês, pesquisadores americanos anunciaram na segunda-feira que macacos resos, mais distantes dos humanos na linha evolutiva, não deixam a desejar. Na comparação com estudantes de faculdade, os animais se mostraram capazes de fazer adições mentais tão bem quanto os humanos.
Estudos anteriores já haviam mostrado que vários animais são capazes de reconhecer quantidades, mas até então não havia evidência de que eles tivessem habilidades matemáticas, como a de somar, explica Jessica Cantlon, neurocientista da Universidade Duke e co-autora da nova pesquisa.
No trabalho, dois macacos, Boxer e Feinstein, foram comparados com 14 universitários da Duke. A tarefa consistia em mentalizar dois conjuntos de pontos que eram rapidamente apresentados em uma tela de computador. A imagem então mudava e apareciam duas caixas contendo uma quantidade X de pontos. Os macacos tinham de escolher a que apresentava a soma correta.
Os humanos não podiam contar verbalmente enquanto viam os pontos e deviam dizer quantos havia na tela o mais rápido possível. Tanto macacos quanto humanos responderam em média dentro de um segundo. E ambos tiveram a mesma taxa de acerto. O estudo está na revista aberta "PLoS Biology" (www.plosbiology.org).

sábado, dezembro 15, 2007

Dados põem sob suspeita anúncio de "dia sem homicídios"

Dados de dois distritos policiais da capital indicam que pode ter havido precipitação da Secretaria de Segurança Pública ao anunciar que no dia 7, pela primeira vez em 12 anos, São Paulo não teve homicídios nem registro de assassinatos. Testemunhas ouvidas pela reportagem afirmaram acreditar que um assassinato registrado no dia 8 na zona leste aconteceu na véspera - hipótese admitida pela polícia. Se considerados apenas os registros em DPs, houve um caso de homicídio comunicado no dia 7, ainda que referente a uma morte ocorrida na véspera.

No dia 8, à 1h14, o corpo de um homem branco não identificado, aparentando 35 anos, foi encontrado pela PM morto com ferimento à bala em Itaquera. Estava ao lado de uma caçamba na Rua Toledo Castelanos, reduto de casas de classe média alta no bairro. O rapaz chegou morto ao Hospital Santa Marcelina. Vizinhos afirmaram ao Estado que não houve briga ou tiros na rua e o corpo foi deixado no local mais cedo.

Um morador disse que o corpo deve ter sido jogado entre 23h40 - horário em que sua filha chegou e não notou nada de diferente - e 0h30, quando o filho o avistou na rua. Segundo os próprios policiais do 53º DP (Parque do Carmo), o rapaz pode ter sido morto ainda no dia 7.

Já o 26º DP, do Sacomã, na zona sul, registrou no dia 7 o homicídio do auxiliar administrativo Adriano da Silva Pereira. O corpo do rapaz, de 21 anos, foi encontrado com um tiro na têmpora às 20h15 do dia 6.

O cientista político Guaracy Mingardi, coordenador do Setor de Análise de Informações Criminais do Ministério Público Estadual, criticou o anúncio do governo. "Passa a falsa sensação de que as coisas estão indo bem." O número de assassinatos caiu drasticamente na última década, mas ainda está dentro de faixa considerada epidêmica, 11,6 casos por 100 mil habitantes, segundo o governo. "Ninguém contesta os avanços", diz o cientista político Paulo Mesquita, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. "O problema está em celebrar um fato isolado como se fosse importante."

Fabiane Leite e Bruno Tavares

sexta-feira, dezembro 14, 2007

sei lá.

Andy, cujas medidas são 101, 56 e 86 cm, tem o que muitos homens querem em uma mulher: "Paciência ilimitada". Ao menos é isso que promete a fabricante, First Androids, baseada em Neumarkt, perto de Nuremberg, no sul da Alemanha. Andy também vem com opcionais, inclusive um "sistema de felação, com níveis ajustáveis", um "pulso tangível", "moção do quadril em rotação" e um "sistema de aquecimento com controles ajustáveis" para aumentar a temperatura do corpo.

"Exceto pelos pés -que continuam frios, como na vida real", diz David Levy. O interesse do cientista britânico em Andy é puramente acadêmico, insiste. Para Levy, sua boneca sexual de alta tecnologia é um arauto de uma nova ordem mundial.

Levy é especialista em inteligência artificial. Ele é fascinado pela idéia de "amor e sexo com robôs", e suas visões de futuro incluem robôs masculinos e femininos como amantes e parceiros. Campeão de xadrez e presidente da Associação Internacional de Jogos de Computador, Levy, 62, acaba de publicar um livro, "Love and Sex with Robots: The Evolution of Human-Robot Relationships" (amor e sexo com robôs: a evolução dos relacionamentos entre humanos e robôs) -que é provocativo no verdadeiro sentido da palavra. Ele está convencido que os seres humanos farão sexo com robôs um dia. Eles vão nos mostrar práticas sexuais que nem imaginávamos existir. Vamos amá-los e respeitá-los e confiaremos a eles nossos mais íntimos segredos. Tudo isso, diz Levy, será realidade em 40 anos.



"O próprio conceito de parceiro artificial, marido, mulher, amigo ou amante desafia a noção de relacionamento da maior parte das pessoas no início do século 21,", diz Levy. "Mas minha tese é a seguinte: os robôs serão enormemente atraentes para os humanos como companheiros, por causa de seus muitos talentos, sentidos e capacidades." Com o rápido desenvolvimento da tecnologia, Levy acredita que é apenas uma questão de tempo antes das máquinas poderem oferecer traços humanos. De acordo com Levy, "amor e sexo com robôs em grande escala são inevitáveis".

A idéia de amor envolvendo andróides não é exatamente nova. Na mitologia grega, o escultor Pygmalino faz uma estátua de marfim de sua mulher ideal. Ele reza para a deusa do amor Afrodite para trazer vida à estátua, que ele chamou de Galatea. Afrodite concorda em ajudá-lo e, quando Pygmalion beija Galatea, ela devolve o beijo e os dois se casam.

A mesma coisa pode logo estar acontecendo com robôs. Levy já vê sinais de 'robofilia' nascente em toda parte. De acordo com Levy, o apelo do cão robô da Sony, Aibo, e de Furby, brinquedo que parece uma bola de pelo com apêndices e um circuito de computador interno, mostram o potencial da tecnologia de servir como espelho das emoções humanas. "Hoje em dia, é relativamente comum as pessoas desenvolverem fortes ligações emocionais com seus bichos de estimação virtuais, inclusive robóticos", diz Levy. "Então, por que se surpreender quando as pessoas formarem apegos igualmente fortes com pessoas virtuais, com robôs?"

Mesmo os computadores simples exercem uma atração quase mágica para algumas pessoas. A dedicatória do livro de Levy diz: "Para Anthony, estudante do MIT que tentou ter namoradas, mas descobriu que preferia relacionamentos com computadores. E para todos os outros 'Anthonys' do passado, presente e futuro, dos dois sexos." O que os viciados em computador dirão quando puderem brincar com computadores que se movem, falam e parecem ser pessoas e possivelmente até com emoções?

No que diz respeito ao sexo, os robôs podem em breve suplantar a experiência original de carne e osso, diz Levy. O pesquisador mergulhou fundo na história da máquina erótica para documentar a suscetibilidade do Homo sapiens aos brinquedos sexuais mecânicos. Ele descobriu evidências de vibradores movidos por mecanismos de relógio ou a vapor. Levy descreve uma máquina de masturbação para mulheres movida a pedal, desenhada em 1926 por engenheiros na cidade alemã de Leipzig. Em uma antologia pornográfica do século 17 do Japão, o autor leu sobre um "travesseiro de viagem libidinoso". A vulva artificial, chamada de "azumagata" (mulher substituta) em japonês, era feita de casco de tartaruga e tinha um buraco forrado de cetim.

Em suas viagens pelo globo, os marinheiros holandeses compartilhavam suas camas com bonecas de couro costuradas a mão, o que explica porque os japoneses hoje se referem às bonecas sexuais como "esposas holandesas" -apesar da versão atual não ser mais de couro. A empresa japonesa Orient Industry vende bonecas femininas que são réplicas quase perfeitas de jovens japonesas -desde a ponta do cabelo até a consistência da pele. O sucesso da empresa baseia-se em um modelo anterior chamado de "Antarctica", uma boneca que os cientistas costumavam levar para a estação de pesquisa do Japão Showa, para aquecerem-se durante o longo inverno antártico.

A empresa americana RealDoll, líder do mercado em bonecas sexuais, vende os modelos "Leah" e "Stephanie" por US$ 6.500 (cerca de R$ 12.000) cada. Os clientes podem encomendar as bonecas com busto de tamanho 30AA até 34F. Cada boneca vem com três "portais de prazer". Outro modelo, "Charlie", vem até com um pênis de vários tamanhos, assim como "entrada anal" opcional.

Serão simples brinquedos eróticos para uma rapidinha ocasional? De forma alguma, diz Hideo Tsuchiya, presidente da Orient Industry. "Uma esposa holandesa não é meramente uma boneca ou um objeto", insiste. "Ela pode ser uma amante insubstituível, que fornece uma sensação de cura emocional."

Levy tem opinião similar. Mas será que os robôs vão se parecer tanto com os humanos nas próximas décadas que serão equivalentes ou até melhores que os amantes humanos?

Imitar a aparência humana parece ser o menor dos desafios. Há dois anos, o especialista japonês Hiroshi Ishiguro revelou seu robô "Repliee Q1". O estranho nome engana. A criação de Ishiguro pode facilmente se passar como a primeira mulher robótica da história. Graças a 42 ativadores movidos por ar comprimido, ela pode "virar e reagir de forma parecida com os humanos", diz Levy. "Repliee Q1 pode piscar, parece respirar, move as mãos como uma pessoa e responde ao toque", diz entusiasmado.

Muito mais difícil que os traços externos, entretanto, será o desafio de criar algo parecido com uma alma. Os maiores obstáculos são alguns dos comportamentos mais fundamentais do homem. Os sensores robóticos atuais, por exemplo, não são capazes de distinguir de forma confiável entre as pessoas, diz Levy. Ele admite que, se um robô não conseguir reconhecer seu parceiro, ou o confundir com outra pessoa, o relacionamento será facilmente arruinado.

Ainda assim, Levy prevê que os avanços virão rapidamente. Para Levy, imbuir robôs com traços tão humanos quanto empatia, humor, compreensão e amor é meramente uma questão de tecnologia. A empatia, por exemplo, é "uma questão essencialmente de aprendizado", diz ele e portanto "relativamente fácil de instalar em robôs". Só o que a máquina precisa fazer é observar seu parceiro, fazer deduções inteligentes sobre os pensamentos do parceiro e reagir de acordo.

Levy vê um futuro no qual a inteligência artificial permitirá aos robôs se comportarem como se tivessem atravessado todo o espectro da experiência humana, sem de fato ser o caso. Ele cita as emoções como exemplo. "Se um robô se comporta como se estivesse sentimentos, podemos razoavelmente argumentar que não tem? Se as emoções artificiais de um robô o levam a dizer coisas como 'eu te amo', certamente devemos estar dispostos a aceitar essas declarações, desde que os outros comportamentos do robô as corroborem."

Levy vê vantagens em companheiros artificiais sobre parceiros humanos. A infidelidade, as mudanças de humor, o mau gosto, a falta de higiene, a obsessão com futebol - todas essas dificuldades de relacionamento seriam jogadas no lixo da história. Os parceiros robóticos seriam até imortais. Levy imagina que o usuário poderá arquivar toda a personalidade de seus andróides em discos rígidos. Se um robô for destruído, será fácil encomendar um novo.

E o sexo! Sempre disposto, nunca desapontado, adeus dores de cabeça -e com as fantasias mais sujas disponíveis para download. Um robô poderia ser programado para oferecer "posições e técnicas sexuais de todo o mundo" ou colocado em "modo de ensino para um aprendiz sexual", diz Levy. Tudo, desde as dimensões da vagina e do pênis, cheiro do corpo até a barba, pode ter opções disponíveis.

"Imagine um mundo no qual os robôs são (quase) como nós", diz Levy. "O efeito na sociedade será enorme". Ele também aborda as questões potenciais éticas e morais após a grande invasão robótica. Será antiético emprestar robôs sexuais aos amigos, por exemplo, ou "usar o robô sexual de um amigo sem contar para ele"? Será permitido enganar andróides? O que os maridos farão quando as mulheres disserem: "Esta noite não, amor, vou fazer com o robô?"

Levy está convencido que as mulheres, em particular, após as dúvidas iniciais, vão apreciar os robôs como alternativa para seus maridos suados. O fato de seu apetite sexual freqüentemente ir além do desempenho medíocre de muitos homens reflete-se nas "incríveis vendas" de vibradores, diz Levy.

E os homens? Bem, quanto a eles, todo esse barulho sobre inteligência artificial é energia desperdiçada. Eles estão dispostos a "fazerem sexo com bonecas infláveis", diz Henrik Christensen, coordenador da Rede de Pesquisa de Robótica Européia. Será fácil fazer algo melhor. "Qualquer coisa que se mova será uma melhora."

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Brasil lidera pesquisa de preocupação com concentração na mídia

Pesquisa avaliou opinião de mais de 11 mil pessoas em 14 países
Os brasileiros se mostram os mais preocupados com a concentração dos meios de comunicação nas mãos de um "pequeno número de grandes empresas do setor privado", revelou uma pesquisa de opinião sobre liberdade de imprensa feita em 14 países.

A sondagem – encomendada pelo Serviço Mundial da BBC e feita pelas empresas de pesquisa GlobeScan e Synovate – avaliou a opinião de 11.344 pessoas por meio de um questionário. Segundo o levantamento, 80% dos brasileiros se mostram preocupados com a propriedade das companhias de mídia e acreditam que esse controle pode levar à “exposição das visões políticas” de seus donos no noticiário.

Entrevistados de outros países também compartilham da mesma opinião, como no México (76%), nos Estados Unidos (74%) e na Grã-Bretanha (71%).


A sondagem mostrou, no entanto, que ao mesmo tempo em que são os mais preocupados com o controle e a concentração privada na mídia, os brasileiros também fazem a pior avaliação sobre o desempenho dos meios de comunicação financiados pelo governo.

Nessa parte do questionário foi considerada a opinião das pessoas em relação à “honestidade” e à “precisão” com que os órgãos de comunicação, públicos e privados, tratam a notícia.

De acordo com o estudo, 43% dos entrevistados acreditam que a cobertura do noticiário pelos órgãos públicos brasileiros é “pobre”; 32%, mediana; e 25% dizem que ela é “boa”.

Em contrapartida, os brasileiros tiveram uma opinião mais positiva quando foram indagados sobre o desempenho das empresas privadas: 37% acreditam que elas fazem um “bom” trabalho, 38% afirmam que ela é mediana e 25% dizem que sua atuação é “pobre”.

Voz

Os brasileiros também se mostraram os mais interessados em participar do processo de decisão sobre o que é noticiado: 74% dos entrevistados disseram que gostariam de “ser ouvidos” na escolha das notícias. Nessa pergunta, em seguida vieram os mexicanos, com 63%. Os russos, com 29%, foram os entrevistados que se mostraram menos interessados em influenciar na escolha do que é noticiado.

A pesquisa ainda avaliou que os brasileiros parecem “divididos” sobre a questão da liberdade de imprensa e estabilidade social.

Enquanto 52% opinaram que a liberdade para informar os fatos de forma honesta e verdadeira é importante para garantir uma “sociedade justa” – mesmo que isto implique em “debates desagradáveis ou efervescências sociais” –, outros 48% acreditam que “a harmonia e a paz social são mais importantes” e, portanto, o eventual controle do que é noticiado seria aceitável para o “bem comum”.

Curiosamente, avalia o relatório, a Venezuela foi um dos países cuja população mais priorizou a liberdade de imprensa em detrimento da estabilidade social (64%).

Entre todos os pesquisados, os americanos (70%), britânicos (67%) e alemães (67%) foram os que mais opinaram a favor da liberdade de imprensa como instrumento para garantir uma sociedade justa.

A pesquisa ouviu os entrevistados entre os dias 1º de outubro e 21 de novembro. A Oceania foi o único continente não incluído no levantamento. Na América Latina, o estudo foi realizado no Brasil, México e Venezuela.

O trabalho foi divulgado como parte das comemorações do 75º aniversário do Serviço Mundial da BBC.

domingo, dezembro 09, 2007

SP tem primeiro dia sem homicídio, anuncia governo.

Da redação
Em São Paulo

Em sete de dezembro de 2007, ou seja, a sexta-feira passada, a cidade de São Paulo passou o dia inteiro sem registrar um único homicídio em seus 93 distritos policiais -- um fato inédito nas estatísticas criminais. Foi o que anunciou neste sábado (8) o secretário estadual de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, durante o evento Faça Esporte na PM.

"Não houve nenhum homicídio da 0h do dia 7 até as 24h do dia 7", afirmou ele. Segundo o secretário, desde 1999, ano em que 12.800 pessoas foram mortas em todo o Estado, o número de homicídios registrados caiu 63%. Na capital, a queda atingiu 72% no mesmo período.

Marzagão disse ainda que neste ano a queda foi acentuada, o que o levou a anunciar uma meta mais ousada para 2008. "Neste momento, são 11,6 homicídios por 100 mil habitantes. Se Deus quiser, chegaremos no ano que vem a 10 por 100 mil, que é uma marca aceita pela ONU (Organização das Nações Unidas)".

Para atingir a meta de 2008, Marzagão defendeu a manutenção de ações como a Operação Homicídio, da Polícia Militar, que consiste em fazer revistas em bares nos finais de semana. "São locais onde pessoas bebem e, muitas vezes, acabam ocorrendo homicídios por motivos fúteis. Também devemos investir muito na inclusão social. Faremos tudo que pudermos para a inclusão, porque acreditamos que o problema da violência não se resumirá só com as ações da polícia", afirmou.

Entre os motivos da redução dos homicídios, Marzagão citou o recolhimento das armas ilegais, mesmo antes do Estatuto do Desarmamento, e policiamento com base no Infocrim -- sistema de mapeamento criminal que permite conhecer pela Internet os lugares em que os crimes acontecem.

domingo, novembro 25, 2007

Dogville

"Todos sabiam que menina estava no meio dos homens"

Moradores dizem que jovem aproveitava proximidade da cela com a rua para pedir ajuda

Segundo tia de um dos presos que foi transferido após caso ser descoberto, população tinha medo de denunciar a situação

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM (PA)



Da rua em frente à delegacia de polícia de Abaetetuba, 130 km de Belém, tem-se visão ampla da carceragem, um galpão de 80 metros quadrados, três banheiros minúsculos e uma cela de segurança, separados da cidade livre apenas por um portão de grades enferrujadas.
Foi lá que, durante pelo menos 20 dias, uma menina de 15 anos, L., acusada de tentativa de furto, permaneceu encarcerada com mais de 30 homens, submetida a abusos sexuais, violência e estupros seguidos, que só tiveram fim no dia 15.
"Era um show isso daqui. Todo mundo sabia que a menina estava lá no meio daqueles homens todos, mas ninguém falava nada", disse uma mulher na delegacia, sexta-feira à noite.
"Antes de comer, os presos se serviam dela", lembra inflamada outra mulher, falando alto bem em frente à sala do delegado de plantão. Refere-se ao fato de os presos obrigarem a menina a praticar sexo como condição para lhe darem alimento.
"Ela gritava e pedia comida para quem passava, chamava a atenção para si, e, como ela era conhecida por aqui, não dava para ignorar", afirma outra.
Nos bastidores do governo federal, em Brasília, existe a convicção de que o caso configura-se em uma das mais graves violações dos direitos humanos, uma ofensa ao Estatuto da Criança e do Adolescente, além de ferir os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
O mais constrangedor, porém, é que todo esse horror foi patrocinado por instituição do Estado (a Polícia Civil) comandada pela petista Ana Júlia Carepa, governadora do Pará.
L. não poderia estar no sistema penitenciário, menos ainda sob acusação de tentativa de furto e, pior, presa entre homens. "Só se pode internar um adolescente por violência, grave ameaça ou prática reiterada de delito grave, o que não era o caso", diz a advogada Márcia Ustra Soares, 42, da subsecretaria de promoção dos direitos da Criança e do Adolescente da Presidência da República.
Os presos até que tentaram camuflar a presença daquele corpo estranho no meio de tantos homens. "Minha filha tinha cabelos lindos e encaracolados que iam até o meio das costas", diz a mãe biológica. "Cortaram o cabelo dela com um terçado [facão], para disfarçar que se tratava de uma menina. Cortaram é modo de dizer, escalpelaram a minha filha." Mas não funcionou.
L. continuou vestindo as roupas que usava ao ser presa -sainha curta e blusinha que deixava evidentes os seios adolescentes. Seu corpo mirrado, com menos de 1,40 m, tampouco permitia que ela fosse enfiada nas roupas de seus companheiros de cela.
A carceragem onde a menina ficou trancada agora está quase vazia -os homens presos que conviveram com ela foram todos removidos para penitenciárias próximas. Apenas um jovem de 19 anos, Landrisson André Santos Mauegi, acusado de tentativa de furto de uma bicicleta, estava detido no local na sexta-feira (ele foi parar lá depois da libertação de L.). A mãe de Landrisson, Maria Santos, 75, vai ao local todos os dias para levar sanduíches, cigarros e conforto ao seu caçula. Nem precisa passar pelo carcereiro. Basta esticar o braço.
Se era tão flagrante a identidade feminina e quase infantil de L., por que ninguém denunciou antes? "Medo de morrer. Aqui todo mundo tem medo", diz a tia de um dos presos transferidos. "Se a delegada põe uma menina na cela com os homens, e a juíza mantém ela lá, quem sou eu pra denunciar. Aliás, denunciar para quem?"
A delegada a que se refere a mulher é Flávia Verônica Pereira, responsável pela prisão em flagrante de L. A juíza é Clarice Maria de Andrade.
No dia 14, finalmente, o Conselho Tutelar de Abaetetuba recebeu uma denúncia. Anônima. A delegada foi afastada de suas funções no dia 20 e a juíza está sendo investigada pela Corregedoria de Justiça. A Folha tentou sem sucesso contatar ambas por telefone na sexta.

Amor moderno: meu orgulho atropelado pelo amor

De Margaret Meehan

Aos 23 anos, eu tinha me apaixonado por cigarros, suflê de chocolate, meu gato e (pela TV) James Franco em "Freaks and Geeks". Mas ainda não tinha experimentado um verdadeiro romance humano.

Depois de passar meus anos de colégio nas laterais do amor, eu naturalmente desprezava qualquer um que estivesse dentro do jogo. Então cheguei a Nova York dois anos atrás como uma anti-romântica hipócrita que zombava das idealistas de olhar brilhante, considerava o sexo um ato impensado entre dois imbecis e tinha pena das mulheres que perdiam sua identidade e sua independência ao mergulhar naquele vazio insignificante chamado "amor".

Eu, a anti-romântica, fiquei enlouquecida por esse ele, medíocre mas encantador

Se o Trem do Amor um dia parasse na minha estação, eu pretendia caçoar dos idiotas a bordo, acenando da minha plataforma de solteira auto-suficiente enquanto eles se afastariam e se tornariam um borrão de sentimentalismo no horizonte.

Mas então aconteceu. Numa noite de quinta-feira, enquanto eu entornava vodcas-sodas num bar do East Village, o Trem do Amor achou o caminho do meu coração de gárgula irritada. Freou junto à minha banqueta com um chiado, e ele desceu. Para minha surpresa, eu não apenas o recebi de braços abertos e com uma admiração apaixonada, como passei a sacrificar todo o meu orgulho, amor-próprio e moralidade durante nosso relacionamento de um ano. Tudo em nome do que eu mais detestava: amor!

Ele era absurdamente bonito, quase alienígena com seus lábios grossos, olhos azuis e pele morena. E como naquela virada improvável em todo filme de Molly Ringwald ele se aproximou de mim, uma antissocial. Fiquei cativada e caí presa daquela outra idéia repulsiva reservada aos idiotas: amor à primeira vista. Conversamos sobre Hemingway e Henry Miller, e então nos beijamos apaixonadamente. Depois que ele bateu com a garrafa de cerveja no balcão e declarou "Você vai ser minha namorada!", trocamos telefones.

Nos meses seguintes, sem a permissão de minha lógica ou o bom julgamento do meu intelecto, fiquei enlouquecida por esse músico medíocre mas encantador. Passávamos a noite toda acordados escutando Billie Holiday e Sam Cooke, andamos de mãos dadas a ponto de sentir cãibras pelo parque de Tompkins Square e admirávamos de modo nauseante cada movimento do outro.

Ele rabiscou poemas proclamando sua adoração por meu cabelo, e até por meus dentes, em vários objetos do meu quarto: o retrato de Patti Smith, o manual do meu DVD, uma garrafa de vinho vazia. Tentamos assistir "Antes do Amanhecer" várias vezes, mas sempre tínhamos de parar no meio do discurso meloso de Ethan Hawke, como se estivéssemos ansiosos demais para trocar nossas próprias histórias de traumas de infância, segredos de família e as dores de nossas existências.

Ele gravou canções sobre cavalos e poças de lama em um tom country choroso num gravador barato e me deu as fitas como gestos de amor. Eu as escutava sozinha, ignorando a culpa pelo meu passado de insensibilidade e arrulhando como uma pombinha idiota. Agora sentia-me próxima dos românticos franceses do final do século 19. Tinha passado de uma teimosa Holden Caulfield para uma inebriada Baudelaire.

Quando nos conhecemos, ele dormia num colchão de ar no chão da cozinha do apartamento de seu colega de banda, com a intenção de um dia alugar lugar um apartamento. Depois que ele dormiu em minha casa na primeira noite, mudou-se para meu apartamento sem perguntar, e sem eu realmente perceber. Logo senti falta da minha solidão, do conteúdo da minha geladeira e do dinheiro que eu periodicamente lhe emprestava (ele raramente tinha o suficiente para a passagem do metrô). Mas permiti que ele alimentasse seus vícios em minha casa e com meus recursos, desde que me deixasse alimentar o meu vício: ele.

Mas eu conservava sensatez suficiente para forçá-lo (mas não demais) a procurar um lugar para ele. E foi nessa época, em um passeio à tarde pela minha região do Brooklyn, que ele e eu passamos pelo dilapidado Greenpoint Hotel. Parecia bastante inócuo, não muito distante do rio East.

Mas então encontramos uma reportagem de um jornal online afirmando que era um dos estabelecimentos com quartos de solteiro mais usados por prostitutas e viciados em Nova York. E ele decidiu que por US$ 100 por semana o lugar era imbatível. Talvez ele acreditasse que poderia viver seu Kerouac reprimido —o artista torturado juntando-se a um bando de vagabundos depravados para alimentar a produtividade artística.

Minhas reservas aumentaram. Eu não conseguia mais suportar suas excentricidades com humor, dizendo a mim mesma "Ele é tão livre!" ou "É bacana como ele despreza as normas sociais". Mas ainda assim decidi reprimi-las, jogando meus padrões pela janela junto com meu cinismo. O amor provara que eu estava errada: era real e estava lá, suplicando-me para apaziguá-lo por mais deploráveis que fossem as circunstâncias.

Pouco depois de ele mudar para o Greenpoint Hotel, tivemos uma discussão acalorada diante de um bar em Manhattan onde eu tinha comemorado meu 24º aniversário. Para ele, a humilhação de não ter dinheiro suficiente para me pagar uma cerveja superou sua obrigação de ficar e cantar "Parabéns" para mim. Quando ele terminou a única cerveja que podia pagar, saí com ele, chateada porque ele ia embora, mas tentando não ser dramática.

Quando ele acendeu um cigarro, eu disse calmamente: "Estou decepcionada porque você vai embora". E ele respondeu: "Então agora você quer me fazer sentir culpado?" E lá se foi.

Na minha mente saqueada pelo amor, aquela criatura maravilhosa não era apenas meu namorado, mas a própria personificação do amor; a abstração antes intangível havia se tornado uma entidade viva e respirante na qual eu podia encostar meu rosto e envolver meus braços. E eu não ia deixá-lo fugir, ainda mais no meu aniversário.

Então fiz o que qualquer romântica autodestrutiva faria: corri atrás dele. Em plena Avenue A, de vestido de lantejoulas e sapato de salto, correndo como um animal faminto. E quando meus saltos alcançaram as botas marrons do Amor, eu pretendia subjugá-lo. Mas errei e em vez disso me tornei uma bola de raiva enlouquecida, chutando e gritando na noite enquanto ele se afastava cada vez mais —meu idiota, meu namorado, meu amor.

Depois da minha explosão ele parou de se comunicar comigo, um gesto que só aumentou minha paixão. Pela primeira vez na vida eu senti a dor esmagadora do coração; era como se meus órgãos internos estivessem inchados e pressionassem minhas costelas.

Minhas dores comuns pareciam totalmente originais para mim, quase revolucionárias. Passei uma semana inteira (ou foi o que pareceu) agachada nas esquinas das ruas com as palmas das mãos voltadas para o céu, pensando coisas novas como "Ninguém jamais entenderá" e "Esta é a primeira vez na história que uma dor semelhante é sentida por um ser humano".

Em tempos mais felizes, ele havia tocado para mim a canção "Damaged" do Primal Scream, dizendo: "Esta canção me faz amá-la tanto que eu quero morrer".

Então eu cantei a letra em sua caixa postal: "Doces dias de verão quando eu me sentia tão bem, só eu e você, garota, que tempo maravilhoso. Oh, sim, eu me sentia tão feliz, minha, minha, minha", com o "minha, minha, minha" final rouco, quase um grito silencioso, para fazê-lo ter ainda mais pena de mim. Então liguei mais 17 vezes, a cada vez adorando ouvir sua voz gravada.

Eu tinha uma última opção: ir até o Greenpoint Hotel. Depois daquela noite terrível de ligações incessantes, acordei às 8h banhada em suor, em um pânico amoroso. Saí do apartamento e fui na minha bicicleta até a porta do cortiço.

Ele tinha me mostrado seu minúsculo apartamento uma semana antes (sob a condição de que, para minha própria segurança, eu me escondesse embaixo de um capuz e ficasse ao lado dele), e me lembrei do andar e do número do quarto. Entrei hesitante nos corredores turquesa malcheirosos e percorri um labirinto de corredores, passando por homens mal-encarados e rapazes bebendo cerveja.

Prendi a respiração para evitar o fedor de água sanitária e urina enquanto subia os três andares de escadas cheias de papéis de comida, latas de cerveja, sacos de droga e gatos sem dono. Cheguei até a porta dele, na qual havia a seguinte mensagem, escrita em marcador preto: "Por favor não bata forte, sou cardíaco" (palavras aparentemente escritas pelo último inquilino, um velho que realmente morreu na mesma cama em que meu namorado dormia hoje). Sim, eu estava prestes a suplicar o amor de um homem que dormia na cama de um morto em um quarto de 2,5 x 2,5 metros, de aluguel semanal.

Levantei o punho trêmulo até a porta e bati suavemente três vezes, depois mais alto e mais forte, até que estava esmurrando como uma louca. Finalmente desisti e despenquei junto à porta em um monte de soluços.

Então lá estava eu, uma garota com educação universitária e um currículo brilhante, uma família amorosa e todas as outras características incômodas de uma vida maravilhosa, tremendo no chão manchado de urina de um cortiço. E eu fazia tamanha cena que o inquilino do lado, um homem enorme de shorts rasgados, saiu de seu covil, apontou um dedo acusador para mim e gritou: "Garota, você precisa arrumar a sua cabeça".

Eu lentamente me recompus e me arrastei para fora do prédio.

E então meu namorado voltou para mim! Por um mês. E aí anunciou que ia me deixar por outra mulher.

Eu me agarrei a ele e solucei, ensopando sua camiseta branca com minhas lágrimas, batendo meus punhos em seu peito, suplicando a ele e aos deuses que nos permitissem ficar juntos. Mas de repente parei de chorar e gritei, quase confusa: "Espere. Quem quer realmente namorar você?"

Meu momento de clareza finalmente havia chegado. O que eu estava fazendo?

Alguém poderia pensar que essa experiência me deixaria amarga para o amor e traria de volta, como vingança, minha hostilidade ao romance. Mas não. Pelo contrário, e mais uma vez negando a razão, ainda o quero muito. Ou, mais precisamente, quero aquela sensação que tudo consome.

Sim, sou eu. Antes totalmente cínica em relação ao amor, hoje sou prisioneira dele, ou melhor, uma passageira, tendo encontrado um lugar muito confortável no Trem do Amor, lotado com outros tolos patéticos e soluçantes e prestes a partir para destinos condenados, perturbados e talvez até insalubres —onde o coração manda e a mente obedece.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Visite o site do The New York Times

sexta-feira, novembro 23, 2007

Satisfação pessoal depende de comparação com outros, mostra experimento.

Mapeamento cerebral aponta área ligada a competitividade e inveja

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL


Um experimento demonstrou na prática o velho ditado de que "a grama é sempre mais verde no quintal do vizinho". Isto é, não é tanto o valor absoluto de uma recompensa que deixa alguém feliz, pois isso depende também da comparação com a situação de um rival.
"As pessoas não se importam apenas com o que elas próprias ganham; parece ser igualmente importante o que elas ganham relativamente a uma outra pessoa", declarou o economista Armin Falk, da Universidade de Bonn, Alemanha. O estudo sai hoje na revista "Science".
O experimento envolveu 38 homens, avaliados aos pares em aparelhos que mediam a atividade do cérebro. Os voluntários tinham de responder a perguntas simples -como estimar o número de pontos em uma tela- e eram premiados pelas respostas certas, com uma recompensa monetária que ia de 30 a 120. O valor não tinha relação com o desempenho, e um voluntário poderia receber, ao acaso, mais ou menos dinheiro que seu rival.
Uma região do cérebro vinculada ao registro de recompensas, o corpo estriado ventral, ficava mais ativa quando um participante recebia mais dinheiro que seu companheiro. "Mostramos pela primeira vez que existe uma resposta cerebral imediata, fisiológica, em caso de comparação", diz Falk.
A economia tradicional dá ênfase ao valor absoluto das recompensas, apesar de estudos de comportamento mostrarem como as comparações sociais influenciam o bem-estar e a tomada de decisões. O comportamento competitivo ficou claro quando um participante errava a resposta e não ganhava nada. A ativação chegava ao máximo no rival que deu a resposta certa e recebeu dinheiro. Quando os dois davam a resposta certa, mas um ganhava mais, a área de recompensa do que recebeu menos ficava menos ativa.

terça-feira, novembro 20, 2007

Reino Unido quer organizar o terceiro Dia Sem Música

De Michael White
Em Londres


A vida sem música seria um erro, afirmou Nietzsche sem rodeios. Mas esse é um erro que muita gente no Reino Unido está preparada para cometer, pelo menos durante 24 horas na próxima quarta-feira, quando será pedido à nação que faça o seu terceiro e anual Dia Sem Música.

Segundo o website oficial (www.nomusicday.com), "iPods serão deixados em casa", "bandas de rock não tocarão", "garotos de coral calarão a boca", "os jingles não soarão". Tudo isso, é claro, não passa de um desejo impossível, já que o "No Music Day" não tem nenhum valor legal. É simplesmente a idéia de um homem: o escritor rebelde, pensador, artista conceitual e ex-astro de rock Bill Drummond, cuja história como um dos membros da banda KLF, do início da década de 1990, confere a ele uma certa autoridade quando a questão é a auto-negação artística.

No auge do seu considerável sucesso, a KLF deixou abruptamente de tocar, apagou o seu catálogo inteiro e —sem nenhuma boa razão da qual Drummond atualmente se recorde— queimou publicamente o último milhão de libras esterlinas (o equivalente, em valores atuais, a mais de US$ 2 milhões ou quase R$ 3,5 milhões) de seus rendimentos. Desde então Drummond dirigiu os seus interesses para as atividades avant-garde e passou a pensar sobre a vida sem a fama. Mas, de maneira mais ampla, ele tem pensado na vida sem música, estimulado, segundo o artista, "pela sensação de que a música não estava tendo o efeito que eu desejava que ela tivesse sobre mim".

"Lembro-me de ir até lojas de discos e concluir que havia música demais. Daí, passei a pensar em como seria ficar sem música por um ano, um mês, uma semana, e nada disso pareceu prático. Assim, um dia decidi fazer algo. E foi dessa forma que a coisa começou: uma iniciativa inteiramente pessoal, cujo objetivo nunca foi ser uma cruzada, mas que, não obstante, teria caráter público".

Ele escolheu o 21 de novembro, porque 22 de novembro é o dia de Santa Cecília, a padroeira da música, e fazer uma manifestação na véspera dessa data seria algo coerente com tradições como a de comemorar o Mardi Gras, o equivalente ao Carnaval de lá, antes do início da Quaresma.

A coisa toda pode soar como uma das idéias conceituais de Drummond, ou, pior ainda, como um ato de exibicionismo. Mas nos três anos anteriores o No Music Day já trouxe conseqüências práticas. Neste ano, por exemplo, não haverá música na Rádio BBC Escócia, e milhares de pessoas que visitaram o website do No Music Day prometeram fazer silêncio.

Nem todos os comentários no website são de aprovação. Mas a maioria das pessoas que o visitam prometem "cortar as cordas das guitarras dos músicos de rua", ou, mais pacificamente, "fazer as minhas atividades no esplendor do silêncio".

"O que temos não é mais música", argumenta uma das mensagens similares. "Trata-se de ruído de fundo. É uma jogada para atingir um grupo demográfico, um público alvo".

E aqui temos a questão resumida. As pessoas apreciam a idéia do dia sem música porque acreditam que a comercialização da música atingiu um ponto de saturação: música demais, à qual se tem acesso de maneira muito fácil.

A argumentação não é nova. E historicamente ela foi feita por músicos famosos. Quando Benjamin Britten recebeu o primeiro Prêmio Aspen para o avanço da cultura em 1964, ele dedicou uma parte do seu discurso de aceitação do prêmio à condenação da música gravada e instantaneamente disponível. "O auto-falante é o principal inimigo da música" disse ele, tomando o cuidado de acrescentar que reconhecia que esse equipamento é importante "como um meio de educação e estudo".

Não dá para saber como —se seguíssemos os conselhos de Britten— teríamos lidado com a era dos aparelhos estereofônicos pessoais, iPods e similares. E existe um elemento de paradoxo nas palavras de Britten, vindas de um homem que passou grande parte da sua vida em estúdios de gravação, promovendo a disseminação dos seus próprios trabalhos para tirar vantagem disso. E, além do mais, o mundo claramente beneficiou-se do fato de contar com o acesso fácil aos trabalhos não só de Britten, mas também de Bach, Mozart e Beethoven.

Mas a reclamação por trás do No Music Day também leva em conta as músicas que não escolhemos: a música —ou, para usar um termo mais apropriado, Muzak (música de fundo)— que agride os nossos ouvidos desprotegidos a partir de auto-falantes e aparelhos de televisão instalados em restaurantes, bares, lojas, saguões de hotel e no local de trabalho. Os músicos profissionais tendem a desprezar a Muzak, e no ano passado juntou-se à legião desses profissionais insatisfeitos com o fenômeno o pianista e maestro Daniel Barenboim, que abordou a questão, enfurecido, nas suas Palestras Reith, divulgadas internacionalmente.

A resposta ao ataque feito por Barenboim foi tamanha que a BBC decidiu promover uma pesquisa a respeito. A rádio solicitou aos ouvintes que estes mantivessem um diário das músicas que surgiam, por escolha deles ou não, em suas vidas em um período de 24 horas, incluindo desde o canto dos pássaros até as baladas comerciais de rádio e as melodias eletrônicas dos telefones celulares.

O resultado revelou uma média de duas horas e 46 minutos de música escolhida pelo ouvinte, contra uma hora e 16 minutos de música não solicitada. E as reações às músicas não solicitadas foram 38% negativas, 28% positivas e 34% neutras: uma conclusão ambígua que potencialmente apoiou tanto o lobby favorável quanto o contrário à Muzak. Nem todos disseram detestar a música de elevador— a maioria das pessoa não se opôs ativamente a ela—, mas o maior grupo distinto mostrou-se hostil a esse tipo de música.

Alguns entrevistados disseram que apreciam a descoberta acidental de novas músicas que surgem em um rádio permanentemente ligado. Muitos afirmaram gostar dos músicos de rua, mas condenaram o hábito de cantar no trabalho. E os psicólogos não perderam tempo em enfatizar a relação comprovada entre a audição de música e a elevação do estado de espírito.

Bastante contundente foi a posição de um grupo chamado Pipedown International, que há 15 anos faz campanha no Reino Unido (e que agora conta com a companhia de um ramo norte-americano) contra a Muzak em todas as suas formas. O grupo argumenta que, como a apreciação musical é uma questão de gosto, a imposição tende a irritar um número de pessoas pelo menos tão grande quanto o das que se sentem positivamente estimuladas.

"Pensem no sofrimento dos funcionários de lojas que são obrigados a ouvir a mesma fita sem parar, especialmente nas temporadas de festas", diz Nigel Rodgers, o fundador do Pipedown. "Segundo o Real Instituto Nacional para Deficientes Auditivos, um funcionário médio de uma loja ouve "Jingle Bells' 300 vezes nos dias que antecedem o Natal —o que é suficiente para enlouquecer uma pessoa. E o mesmo ocorre em restaurantes e hotéis: é ruim para os fregueses, e ainda pior para os funcionários".

Um grupo pequeno, mas poderoso, o Pipedown inclui entre os seus membros o maestro Simon Rattle e o violoncelista Julian Lloyd Webber, que é bem direto em relação àquilo que ele chama de "o câncer disseminado da música de fundo por toda parte: uma poluição auditiva tão nefasta quanto a fumaça de cigarros".

No nível individual, os membros do Pipedown levam consigo cartões impressos que são fornecidos a gerentes de lojas e restaurantes. Os cartões são classificados em ordem de aprovação desde o "Obrigado por não colocar música" até o "A sua música fez com que você perdesse este freguês". De forma mais ampla, o grupo existe para fazer lobby junto ao parlamento britânico (onde o Pipedown está atualmente apoiando um projeto de lei para banir a Muzak dos hospitais) e para apresentar a sua posição aos diretores das grandes lojas.

"Conseguimos persuadir duas grandes redes de supermercados, a Tesco e a Sainsbury, a não reproduzir música nos seus corredores" diz Rodgers. "E suponho que a nossa maior vitória até o momento tenha sido a de persuadir o Aeroporto Gatwick a não desistir depois que uma pesquisa revelou que 43% dos passageiros não gostam desse tipo de música, 34% gostam e o restante é neutro. Mas perdemos outras batalhas, incluindo a da Marks & Spencer's, de forma que há um longo caminho a trilhar. E é por isso que apoiamos o No Music Day, embora, para nós, um dia por ano não seja suficiente".

Mas este único dia será significante neste ano na Escócia, com a decisão da Rádio BBC de não transmitir música. O produtor responsável, David McGuinness, diz que isso significa que "não haverá músicas, bandas ou orquestras".

"Mas quer dizer também que não haverá músicas para a introdução de noticiários, o que fará uma diferença qualitativa no que fiz respeito aos aparelhos de som que compõem uma estação de rádio", diz ele. "Estamos também fechando por um dia o website de música da BBC Escócia, que é um grande portal de música. E, para levar a mensagem às ruas, estamos despachando um esquadrão do No Music Day para simular a prisão de cidadãos que estiverem usando fones de ouvido".

Ou seja, jogada exibicionista.

"Não, não é nada disso", retruca McGuinness. "É claro que há um elemento de diversão, ou eu espero que haja. Mas também existe uma declaração muito séria embutida nessa ação. Queremos que as pessoas entendam como a música tornou-se onipresente, como ela invade as nossas vidas de maneira que não percebemos, e desejamos desafiá-las a parar e pensar no que isso significa, a ponderar como poderiam ser mais informadas nas suas escolhas. Essas são ações importantes. Não são de forma alguma brincadeiras teatrais".

Enquanto isso, Bill Drummond tem ambições para o futuro do No Music Day. "No ano que vem quero organizar uma busca nacional por filmes sem trilha sonora", diz ele. "E no ano seguinte espero fazer com que o iTunes deixe de funcionar por 24 horas. Isso será um desafio. Mas estou cheio de disposição".

segunda-feira, outubro 08, 2007

O cinema manda

Autores vendem para estúdios de cinema direitos de filmagem de livros que ainda nem foram escritos

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL


Há quem diga que adaptações para o cinema costumam estragar livros, principalmente por mostrar na tela personagens e cenas que antes só existiam na imaginação do leitor.
Mas a interferência do cinema na literatura tem sido bem mais poderosa do que se imaginava, capaz até de formar uma geração de autores que já escreve um livro com a intenção de vê-lo em breve na telona.
Há casos de livros que ainda nem chegaram às lojas e já saem da gráfica com um roteiro em fase de produção, muitas vezes feito pelo próprio autor.
O escritor americano Scott Smith teve seu livro de estréia, "Um Plano Simples", adaptado para o cinema pelo diretor Sam Raimi (o mesmo de "Homem-Aranha"). Autor também do roteiro adaptado desse divertido thriller, Scott foi indicado ao Oscar pelo trabalho em 1993.
Depois disso, ele levou quase 15 anos para escrever uma nova ficção. Lançada neste ano, "As Ruínas" conta a história de dois casais americanos que se vêem em apuros após uma aventura inconseqüente em um sítio arqueológico no México.
E, bem antes de terminado, "As Ruínas" já estava garantido para o cinema. "O livro foi escolhido por Ben Stiller [ator e diretor] para virar filme enquanto tinha somente dois terços prontos. Portanto, pelo menos no último terço, eu estava bem consciente de que eu eventualmente teria de adaptá-lo."
E como Ben Stiller tinha tanta certeza de que "As Ruínas" daria uma boa história para o cinema, uma vez que o livro nem pronto estava? "Faço trabalhos na produtora de Ben, a Red Hour, há muitos anos. Eu lhe entreguei um pequeno resumo do final da história, e ele baseou sua decisão nele. Acho que aquilo foi suficiente."
Questionado sobre uma perda de interesse dos leitores após a estréia do filme (prevista para 2008), Scott defende que a maioria das pessoas acha que ler um livro e ver um filme são experiências diferentes. "Aqui nos EUA, por exemplo, livros freqüentemente entram nas listas de mais vendidos após estrearem no cinema", defende.
Nem sempre. Um dos maiores sucessos literários de todos os tempos, "O Código da Vinci", de Dan Brown, viu suas vendas diminuírem bastante após a estréia de sua adaptação.

Aventura para cinema
O jovem escritor americano Christopher Paolini é outro que sofreu influência do cinema. Mal terminou o último livro de sua trilogia sobre um garoto e seu dragão em um mundo fantástico, no estilo "O Senhor dos Anéis", e já assistiu à primeira parte, "Eragon", neste ano, nos cinemas.
"Inicialmente eu vislumbrei a aventura para o cinema, mas, por causa da falta de recursos para produzir um filme, resolvi escrever os livros", explica.
"Eragon" foi comprado pelos estúdios da Fox quando ainda estava no manuscrito. Em entrevista ao jornal americano "USA Today", Elizabeth Gabler, executiva da Fox, explicou que "a relação entre um menino e um dragão que compartilham uma conexão telepática pode render uma forte história para o cinema".

Roteiros em falta
Aparentemente o principal motivo dessa pressa em comprar os direitos para o cinema de um livro que ainda não foi lançado é a falta de boas opções de textos para o cinema.
Joe Hill, filho do escritor Stephen King, viu seu primeiro romance, "Estrada da Noite", que conta a história de um roqueiro velho que arremata um fantasma por um site de leilões, ser comprado pelos estúdios da Warner quando ainda estava em seu quarto rascunho. Mas ele garante: absolutamente nada foi mudado após o contrato.
Joe Hill sabe do risco que é ter um livro roteirizado. "Aqui nos EUA, a cultura é tão saturada de entretenimento que as pessoas preferem passar duas horas vendo um filme a ler um romance em três semanas."

Nem o bruxo escapa
Nem mesmo a escritora J.K. Rowling fugiu desse esquema. Após o lançamento da primeira adaptação de Harry Potter para o cinema, em 2001, algo mudou no seu jeito de contar a história.
"Eu acredito que Rowling alterou seus livros para se encaixarem nos filmes. Todos os livros de Harry Potter escritos após a estréia do filme tiveram as adaptações já pensadas", afirma Stephen Brown, autor de "Wizard!: Harry Potter's Brand Magic" (mago! a mágica da marca Harry Potter).
No livro, ele analisa a estratégia de marketing usada inconscientemente por Rowling e que tornou sua obra um sucesso.
Mas Brown defende que essa mudança não seja uma tática de Rowling. "Ela apenas se influenciou ao ver o que o cinema poderia fazer com a sua visão literária. Os filmes foram muito importantes para espalhar a pottermania. O fenômeno ficou muito maior depois deles."
Para a jornalista Frini Georgakopoulos, especialista na série, o efeito "cinema manda" pôde ser sentido mesmo no sexto livro, "O Enigma do Príncipe". "As passagens foram descritas de tal maneira que eu conseguia ver uma cena de filme. A morte de Dumbledore é um exemplo. A descrição é ótima, mas conta com um olhar mais cinematográfico do que literário", analisa Frini.

Mundo sem graça

EU QUERIA que você entendesse o seguinte: o New Order era o máximo, o símbolo definitivo do cool. O cabelo do Bernard Sumner, lá por 1985, era o mais legal. Como alguém podia tocar baixo daquele jeito tão louco, quase arrastando no chão, como o Peter Hook? Stephen Morris, baterista, mostrava que a busca da técnica pela técnica era asneira. E a Gillian Gilbert, com aqueles vestidos de vovozinha -como alguém podia ser, ao mesmo tempo, tão vanguarda e tão antimoda?
Sem falar nas lendas. Dizia-se que cada um dos quatro ganhava salário fixo e que não admitiam se vestir com o glamour de rockstars -pareciam bancários de cidade pequena. Uma das músicas do primeiro disco se chamava "ICB" porque a sigla significava "Ian Curtis is Buried" (Ian Curtis está enterrado -ele se suicidou em 1980 e era o líder do Joy Division, que deu origem ao New Order).
Nesse contexto de idolatria envolta em mitos, fui ver os caras no Ibirapuera, em São Paulo, em 1988. Hook, Bernard, Stephen, Gillian: icebergs humanos nos conduzindo a um futuro cinzento.
Sentiu o clima? Pois bem, agora venha comigo, caia na real.
Ganhei de um amigo um CD com um programa sobre o New Order, feito especialmente para a série "Originals", à venda na loja do iTunes (só dá para comprar com cartão de crédito gringo). Bernard, Hook e Stephen falam sobre as diversas fases da banda, tudo entremeado com versões, especiais para o programa, das músicas mais famosas.
Os mitos vão caindo aos poucos, e pelas mãos da própria banda.
A transição do rock do Joy Division para a eletrônica do New Order? Só para irritar os fãs do Joy.
"Blue Monday", maior clássico do grupo? Um acidente, uma tentativa de compor uma música que os instrumentos tocassem sozinhos, sem a banda no palco.
Até o New Order virou humano -que mundo mais sem graça!

>>Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

terça-feira, outubro 02, 2007

Wu-Tang Clan consegue a primeira liberação para samplear Beatles da história

Da Redação

O grupo de hip hop norte-americano Wu-Tang Clan conseguiu uma proeza inédita: a autorização legal para utilizar um pedaço de música dos Beatles em outra canção, no processo conhecido como "sample". Versões literais de músicas da banda já são autorizadas há décadas, mas até então todos os DJs que utilizavam trechos dos Beatles (como o produtor Danger Mouse, que ficou famoso ao misturar o "White Album" dos Beatles com o "Black Album" de Jay-Z) o faziam sem a liberação da banda.

A faixa sampleada foi a famosa "While My Guitar Gently Weeps", composta pelo guitarrista George Harrison, e de acordo com uma mensagem postada no site do Wu-Tang Clan terá participações de Dhani Harrison, filho do falecido Beatle, e da cantora soul Erykah Badu.

Em entrevista à revista "Rolling Stone", o rapper RZA disse que Dhani Harrison é "o maior fã de Wu-Tang Clan do mundo", o que teria ajudado nas negociações. A versão final com o sample se chamará apenas "Gently Weeps", e trará os rappers Method Man e Ghostface, também do Wu-Tang Clan, interpretando um diálogo entre usuário e traficante de heroína.

Ainda de acordo com a nota no site do Wu-Tang Clan, a "magnitude do sample" fez com que a data de lançamento do álbum "8 Diagrams" fosse adiada de 13 de novembro para 4 de dezembro.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Pensamentos quase póstumos

LUCIANO HUCK

Pago todos os impostos. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa

LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei".
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.
LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa "Caldeirão do Huck", na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.