quarta-feira, setembro 26, 2007

A indústria nuclear volta à tona

Ralph Nader*

São Francisco, Califórnia - Após trinta anos sem um pedido definitivo, as companhias de energia atômica estão pressionando para o regresso de sua custosa tecnologia radioativa à custa de todos nós, contribuintes. O velho argumento dos anos setenta era que a eletricidade produzida através da energia nuclear reduziria nossa dependência do petróleo estrangeiro. Atualmente, com apenas 3% de nossa eletricidade procedente da combustão do petróleo, o lobby pró-nuclear utiliza o discurso do aquecimento global. O urânio, dizem, não desprende gases de efeito estufa como o carvão ou o petróleo.

O que os lobistas nucleares ignoram é a quantidade de carvão e petróleo que precisa queimar para enriquecer o urânio, transportar os resíduos radioativos pelas rodovias e ferrovias com veículos protegidos e garantir a segurança, já que seriam um alvo prioritário para a sabotagem.

Além disto, comecemos com a loucura tecnológica do ciclo da energia nuclear, desde as minas de urânio e seus resíduos mortais até o refinado e a fabricação de derivados energéticos; a superprotegida e imponente planta nuclear até a necessidade de um funcionamento perfeito da instalação e os problemas ainda não resolvidos da localização e embalagem dos perigosos resíduos radioativos e material contaminante durante os próximos 200 mil anos!

Tudo isso com o único objetivo de converter água em vapor. Uma cadeia bastante complicada para ferver água. Existem maneiras muito melhores e mais baratas de atender as necessidades de eletricidade da geração atual sem sobrecarregar durante séculos as futuras gerações com resíduos mortíferos.

Voltando aos anos setenta, antes da opinião pública se revelar e dizer não à energia nuclear, ajudada pela pouca disposição de Wall Street para financiar estas problemáticas plantas, a Comissão de Energia Atômica planejou a construção de 1.000 plantas de energia nuclear nos Estados Unidos para o ano 2000. Atualmente existem 103 plantas.

Colocar as 100 plantas ao longo da costa da Califórnia teria sido um ato de imprudência sem precedentes, especialmente levando em conta as falhas sísmicas.

O terremoto de intensidade 6,8 que atingiu Kashiwakazi, no Japão, deixou fora de funcionamento uma planta nuclear gigante que, segundo o New York Times “gerou preocupação acerca da segurança da indústria nuclear nacional, repleta de acidentes”. Esta planta, propriedade da Tokyo Electric Power, possivelmente está situada diretamente sobre a linha de uma falha sísmica. Os relatórios falam diariamente de danos maiores do que se pensava no dia anterior, incluindo fugas radioativas, danos a dutos obsoletos, tubulações queimadas e outros "maus funcionamentos”, além dos incêndios. Várias centenas de barris de resíduos radioativos foram abaixo.

O problema com a indústria nuclear é o de Eva mordendo a maçã. Basta um acidente importante de fusão do núcleo do reator de uma planta para provocar uma demanda de fechamento de toda a indústria por dano público generalizado. Assim, voltando aos anos cinqüenta e sessenta, a Comissão de Energia Atômica, uma agência promotora e reguladora das plantas de energia nuclear, estimou que em um desastre deste tipo poderia ficar contaminada uma “área do tamanho da Pensilvânia”.

Lembremos que Chernobyl, na Ucrânia, ainda está rodeada por cidades e povoados vazios após a tragédia de 1986. A radioatividade abriu caminho até os rebanhos da Inglaterra, as nogueiras da Turquia e outros lugares.

Existe qualquer outra indústria produtora de eletricidade que deva dispor de planos de evacuação específicos abrangendo quilômetros a seu redor, que seja inerentemente um risco para a segurança nacional e que não possa ser assegurada no setor privado sem requerer um mandato do Congresso de responsabilidade limitada importante no caso de acidentes massivos e requeira subsídios massivos à custa do contribuinte?

Um estudo de caso muito conciso e autorizado contra o átomo elétrico é o título recentemente publicado Por que um Futuro para a Indústria Nuclear é um Risco? por um grupo de organizações de saúde, meio-ambientais e de investimento social (Veja no site www.cleanenergy.org).

Na introdução do relatório, o argumento contra a energia nuclear se resume do seguinte modo: “a energia eólica e outras energias renováveis, combinadas com a eficiência energética, a conservação e a co-geração podem ser muito mais efetivas no que tange a custo e podem decolar muito antes que as novas plantas nucleares”.

Efetivamente, a eficiência ou a conservação, com alcance nacional, podem reduzir à metade a perda de energia usando tecnologias e know-how disponíveis atualmente, antes que se abra a primeira planta nuclear de capital privado. Um cientista descreveu em certa ocasião o resultado primário das plantas de geração de eletricidade como um “aquecimento do céu”.

Se esta insensível indústria não pode ser reavivada pela Fazenda do Tio Sam não há nenhuma indicação por parte de Wall Street de que o investimento privado assuma o risco. O investimento se dirige atualmente rumo a energias eólicas, solares e outras energias renováveis. E isto é só o princípio da primavera para estas fontes benignas de energia.

A Agência Internacional da Energia prevê uma redução do custo de 25% para a energia eólica e uma redução do custo de 50% para as fotovoltaicas solares de 2001 a 2020. Sem o capital privado de Wall Street e com custos de construção e de operação em crescimento em outros países, não parece previsível que a energia nuclear seja competitiva, inclusive sem levar em conta os custos de embargo e os custos de muitos milênios de armazenamento de resíduos.

Acrescentamos a isso um grande acidente e, além dos danos e das terras e propriedades contaminadas, veremos os investidores privados correndo para assegurar seu risco enquanto a conta é passada aos contribuintes. Isto pode servir como sugestão para acalmar a propaganda do setor. Algum alto executivo da indústria nuclear deseja debater com o físico Amory Lovins no Clube de Imprensa Nacional, repleto de líderes de companhias elétricas? Se for assim, visite, por favor, http://www.rmi.org e entre em contato com o Sr. Lovins.
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Ralph Nader
Ativista em matéria de consumo; também é advogado e escritor.
Seu último livro é The Seventeen Traditions. Tradução para www.sinpermiso.info: Anna Garriha Tarrés

terça-feira, setembro 25, 2007

OSASCO - Juliane Moore e Danny Glover filmam em Osasco

O pátio de trens de Presidente Altino, em Osasco, foi cenário, no último final de semana, para as filmagens de "Blindness", novo longa metragem do diretor brasileiro Fernando Meirelles.

Após ganhar prestígio internacional com os filmes "Cidade de Deus" e o "O Jardineiro Fiel", Meirelles agora traz à telona sua visão para o livro "Ensaio sobre a Cegueira", do escritor português José Saramago.

O filme, previsto para estrear no próximo ano, narra o mistério que acomete um vilarejo onde todos os habitantes, com exceção a mulher de um médico, ficam cegos. No elenco estão nomes de destaque em Hollywood, como Julliane Moore (As Horas), Mark Ruffalo (Zodíaco), Danny Glover (da série Máquina Mortífera) e Gael Garcia Benal (Diários da Motocicleta), entre outros.

O pátio e a linha ferroviária ao redor, que abrigam trens já desativados ou parados para reforma, foram cenário para tomadas em que os personagens andam às cegas, guiados pela mulher.

Embora tenham ocorrido em segredo e não sejam confirmadas nem pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), as filmagens, que contaram com a participação de Julliane, Glover e Rufalo foram flagradas por moradores de um conjunto de prédios nas proximidades.

Uma delas foi Priscila Dias, que fotografou as cenas." Os atores acenavam para os curiosos amistosamente. Fernando Meireles logo apareceu, instruindo o elenco, e a parafernália da equipe ficou estacionada entre os prédios. Por todos os lados viam-se fios e pessoas da equipe correndo de um lado para o outro", relata.

Ela também acompanhou as folgas da equipe. "Mark Rufallo, a cada pausa das filmagens, tirava sua mini-câmera do bolso e filmava os arredores, provavelmente para o seu arquivo pessoal. Já Julianne Moore aparecia sempre acompanhada de alguém que segurava um guarda-sol, para protegê-la do forte calor. Já Glover estava muito concentrado tentando caminhar, como se estivesse cego, pelo terreno irregular da estação", completa.

Segundo ela, ver a "vizinhança" transformada em cenário para um filme de Hollywood foi uma surpresa. "Quem passa diariamente por aqueles trens velhos e enferrujados jamais poderia imaginar que seria utilizado como set de filmagem", diz. Os equipamentos foram recolhidos do local no domingo.

TV digital mudará maneira de medir ibope; telejornais podem perder pontos

DIÓGENES MUNIZ
Editor-assistente de Ilustrada da Folha Online


A TV digital transformará a maneira de medir audiência televisiva. O próprio faturamento publicitário das atrações sofrerá mudanças. Projeções com públicos restritos apontam quem ganhará telespectadores (séries e novelas) e quem perderá (telejornais) por conta da digitalização dos canais.

O Ibope está desenvolvendo um aparelho para descobrir não apenas a emissora sintonizada, como faz hoje, mas também o conteúdo digital que está sendo consumido seja qual for a grade de programação. Isso porque a TV digital chega com a promessa de, assim como nos EUA, oferecer autoprogramação, na qual o usuário pode escolher a hora em que verá determinado programa.

"A TV digital cria uma alternativa para o telespectador. Haverá, sim, aumentos e quedas de audiência. É natural que aconteça", diz Dora Câmara, diretora comercial do Ibope Mídia.

A audiência de TV aberta no Brasil é medida hoje pelo DIB 4, um aparelho que é instalado na residência dos espectadores para revelar os canais sintonizados.

"Esse instrumento identifica em qual canal você sintoniza. Já o novo aparelho, DIB 6, vai monitorar conteúdo --também de internet, celular e rádio. Ele pode identificar um programa em segundos, minutos ou horas depois de ter sido transmitido e atribuir audiência", explica Dora.

Segundo o Ibope, falta ainda definir como os novos dados serão apresentados. Os pontos tradicionais como vemos hoje devem continuar, mas acompanhados de um levantamento mais complexo. Por exemplo: terá de se apresentar, além da audiência do programa na hora da transmissão, seu ibope acumulado quando foi visto por gravação digital. O DIB 6 terá amostra piloto ainda neste ano, em São Paulo, mas não tem data para sua implementação.

Autoprogramação

A opção de armazenar e escolher a que hora assistir determinado programa (autoprogramação) favorece a audiência de séries e novelas. Uma pesquisa divulgada pela SKY em junho último sobre o hábito dos usuários de DVR --gravador de vídeo digital-- revelou que 41% dos assinantes preferem assistir apenas ao que eles mesmos gravam. Ou seja, quase metade dos usuários não acompanha mais a TV "ao vivo", na ordem em que a programação é oferecida pelas emissoras.

De toda a grade, os programas menos gravados por quem já usa o DVR em TV por assinatura são os telejornais, segundo o mesmo estudo de comportamento. Apesar do estudo ser sobre um público isolado, segue-se a lógica de que, diferentemente de novelas e seriados, telejornais são produtos mais perecíveis, de data de validade mais curta.

O gravador de vídeo digital estará fora dos primeiros nos receptores da TV digital brasileira --os chamados "set top box", que devem custar cerca de R$ 800, segundo fontes da indústria. Técnicos dizem que eles chegariam num segundo lote, a médio prazo.

No entanto, a Net vai levar ao mercado em dezembro um produto que funcionará como receptor de TV digital e gravará programas. O DVR da Net chega aos assinantes em dezembro, na estréia da TV digital, também por cerca de R$ 800.

Comerciais

A autoprogramação ainda permitirá que, manualmente, o telespectador evite comerciais. De acordo com especialistas, os jornalísticos serão os produtos mais prejudicados caso o "corte" do intervalo pegue no Brasil.

Para se manterem rentáveis, os programas devem inserir ainda mais merchandising (introduções "sutis" de produtos na transmissão) durante a atração ou recorrer a patrocínios. Os telejornais, em tese, não podem incluir ofertas deste tipo em suas notícias, com perigo de perderem a suposta independência editorial.

Nelson Hoineff, cineasta e diretor do IETV (Instituto de Estudos de Televisão), lembra que alguns telejornais do século passado traziam a propaganda em seus nomes --caso do "Repórter Esso" e da primeira versão do "Jornal Nacional", da TV Rio, patrocinado pelo Banco Nacional.

"A idéia do 'break' é recente. As plataformas digitais, como a internet, apontam para o conteúdo sob demanda, fazendo com que a programação em grade seja severamente modificada a longo prazo. Esperamos que isso traga uma maneira diferente e específica de comercialização", diz Nelson. Para ele, no entanto, "não é razoável pensar em merchandising em telejornais".

"Esse recurso [de conteúdo sob demanda] é terrível. Querem acabar com o nosso negócio", rebate José Marcelo Amaral, diretor de tecnologia da Rede Record. Para ele, "a TV é feita para a população de massa ver o que está passando ao vivo".

Programa de notícias de maior audiência na TV brasileira, o Jornal Nacional atinge em média 6 milhões de pessoas na Grande SP a cada transmissão.

Proibição

Pela proposta dos radiodifusores, a decisão de proibir ou não a gravação dos programas será da própria emissora de TV.

Em alguns casos, a gravação será totalmente proibida e o sinal enviado pelas emissoras já estará bloqueado.

Para outros programas, a gravação será permitida, mas o sinal será bloqueado para regravação. Ou seja, o telespectador poderá gravar a novela, por exemplo, para ver em outro horário, mas não conseguirá repassar o arquivo para um CD, o que permitiria a reprodução e mesmo comercialização do programa.

sábado, setembro 22, 2007

"Sou contra a música que faz perder a compostura"

Hosein Saffar-Harandi, ministro da Cultura do Irã:
Ángeles Espinosa
Em Teerã


À frente do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, Mohamed Hosein Saffar-Harandi recebe todas as críticas dos iranianos reformistas e liberais pelas crescentes restrições à liberdade de expressão. Saffar-Harandi (nascido em Teerã em 1953) subestima as acusações e, às vésperas de sua viagem à Espanha, onde participará hoje de uma conferência organizada pela Unesco, declara a EL PAÍS que sob a presidência de Mahmud Ahmadinejad "a tolerância aumentou".


El País - Intelectuais e jornalistas queixam-se de um aumento da censura com Ahmadinejad. A que se deve isso?

Mohamed Hosein Saffar-Harandi - O senhor tem provas? Durante este governo foram enviados a julgamento menos jornalistas e se fecharam menos jornais do que nos anteriores. As críticas ao governo aumentaram, o presidente foi atacado pessoalmente, inclusive de forma desrespeitosa. Talvez se deva à maior tolerância do presidente.

EP - Os editores também afirmam que encontram mais obstáculos para publicar seus livros. Por que seu ministério limita os títulos que os iranianos podem ler?
Saffar-Harandi - No final as pessoas é que decidem o que comprar. Se não gostam de um livro, ele não é vendido. Todo mundo é livre para divulgar suas idéias, mas há limites legais, entre eles não ofender o próximo, as crenças islâmicas e a identidade nacional. Nossas limitações para publicar são comparáveis às que existem na Europa e nos países ocidentais para o tema do Holocausto. Tenho ouvido falar que lá há intelectuais que são processados, multados ou presos, e editoras fechadas por discordar do discurso oficial sobre o Holocausto.

EP - O senhor gosta de música? Dizem que é contra o rock e o rap.

Saffar-Harandi - Sim, gosto. Mas ela deve cumprir algumas condições, entre elas que não faça as pessoas saírem de si e perderem a compostura. Ouvi falar que alguns estilos, não o próprio rap, mas o heavy metal e algum outro, com o uso de alucinógenos, chegam a levar [os jovens], enquanto conduzem a toda velocidade, a abrir as janelas ou as portas e saltar do carro. Sou contra esse tipo de música.

EP - O governo lançou uma campanha de moralidade que, entre outras medidas, cuida para que as iranianas respeitem a cobertura islâmica, o jihab. No entanto, o presidente disse depois de sua eleição que havia problemas mais urgentes a solucionar. Já fizeram isso?
Saffar-Harandi - Ao contrário da imagem que se tem fora, de uma campanha policial e de confronto, é mais de orientação e de instrução moral às pessoas que possivelmente tenham esquecido o comportamento social [correto] e não o respeitem. As medidas que a polícia tomou afetam principalmente as pessoas que saíram à rua vestindo intencionalmente roupas que não são adequadas à nossa sociedade porque lhes pagam um dinheiro mensal para isso.

EP - Pagam? A quem?

Saffar-Harandi - A polícia identificou algumas fontes. Procedem daqueles que pretendem que traiamos nossa cultura.

EP - O senhor atribuiu a hostilidade dos EUA contra o Irã à batalha que travou contra a filosofia ocidental. Fechar-se para o exterior não será empobrecedor para o Irã?
Saffar-Harandi - É claro que não concordo em fechar as portas à filosofia ou à sociedade de nenhum país. A razão principal da hostilidade do Ocidente contra nós, que se tornou patente desde o início da revolução, é seu desacordo com nossa volta ao islã e nossa rejeição à laicidade, ao liberalismo e à social-democracia.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Visite o site do El País

sexta-feira, setembro 21, 2007

Jovens esquecem casa e dormem em lan house


Rodrigo Bertolotto
Em São Paulo

Domingo, 6h30, do lado de fora, os passarinhos cantam para os primeiros raios de sol. Lá dentro o que canta é a porrada. "Mete a faca no truta", "Fala agora, arrombado", "Dá um tiro no meio da idéia dele", são os gritos saídos da escuridão da lan house Immersion. São os amigos Cromadinho, Tripa, Tucano e Edinho, que entraram madrugada a dentro se desafiando no Counter Strike, game de polícia versus terroristas.

LAN, DOCE LAN
Grupo deixa lan de manhã para pegar ônibus rumo ao bairro de Campo Limpo
O fenômeno lan house (lan é sigla para local área network) começou em 1996 na Coréia do Sul, onde existem atualmente 22 mil lojas - mais até do que nos EUA. No Brasil, elas chegaram em 1998 e hoje são quase quatro mil, sendo que em São Paulo são mais de 700. Elas se espalharam tanto que lojas em pequenas cidades foram usadas como base para golpes de hackers - outro problema delicado envolvendo o setor, fora a relação com os menores de idade.

Na cidade-dormitório de Taboão da Serra (Grande São Paulo), eles se negam a descansar. Quando muito, cochilam nos sofás do local e pescam diante dos computadores. Como Carlos André, o Ceará, que sonha com a mão no mouse às 7h15. Com o amigo Bruno Gabriel, está desde o meio-dia do sábado no mundo virtual e já pagou para ficar até o mesmo horário de domingo.

Bruno tem 17 anos, já repetiu de ano três vezes, sonha em ser advogado, trabalha na lanchonete da mãe no Jardim Dracena e, com o que ganha, paga as horas na lan e os salgadinhos, chocolates e refrigerantes que garantem a sobrevivência longe do lar.

"Já cheguei a ficar quatro dias seguidos sem voltar para casa. Para dormir, colocava os pés em cima da mesa, descansava duas horas e seguia jogando", conta, para depois descrever a reação de sua mãe-patroa com a ausência. "Ela falou uma penca de coisas, mas na semana seguinte eu estava de volta na lan."

Mas o recorde, certificado pelo proprietário do estabelecimento Nobuki Yamazaki, é de Luis Fernando Lopes, 22. Nas férias (ele trabalha como técnico em eletrônica em uma lan vizinha, mas que não opera 24 horas), ele ficou de uma manhã de segunda até sábado de manhã sem voltar para casa. "Não conheço ninguém no litoral, nem fora de São Paulo. Então, minha praia é aqui", confessa.

Sua rotina nesses dias só incluía de diferente uma escapada para a academia vizinha, duas horas de manhã e mais duas à tarde. Uma muda de roupa para o exercício, outra para o mundo virtual. Dormir só diante do computador. Comida só x-salada e pastel do boteco vizinho. "Sinto larica por jogar. Meus pais sabem disso, mas eles até gostam que eu venha aqui porque assim não dou trabalho em casa."

Os casos de morte na Coréia do Sul e na China de maratonistas virtuais não o abalam. Nem o caso do garoto brasileiro que espancou a mãe que o interrompeu seu jogo quando estava trancado em seu quarto. "Isso acontece com quem é fraco da cabeça. Ninguém mexe com meu cérebro", argumenta em sua lógica própria. Também não estranha a notícia que no Japão as lans viraram opção de hospedagem barata - de certa forma, se repete o fenômeno por aqui.

Ele aperta os botões "alt" e "tab" e lá está ele no orkut. Outro toque, e é a vez do msn. Assim se relaciona com o mundo. "Esse gordo é nóia. Se soubesse que ele não voltava para casa, trazia marmita e toalha para ele", brinca o amigo Yukiassu Sakamoto, 19.

Os nomes dos estabelecimentos já dão indício do que se passa com seus freqüentadores: Immersion, Extreme e Hipnotic. As madrugadas custam em média R$ 5 (a sessão é chamada de Corujão), com diversão garantida por oito ou mais horas. Para ficar até o meio-dia, é acrescentar mais R$ 2.

Duas delas ficam do lado da delegacia do município, o que cria um campo de força contra um eventual assalto. Um pouco mais distante, a Hipnotic fecha a porta. Dentro, o funcionário escuta "Fear of the Dark", clássico metaleiro do Iron Maiden. O medo, porém, é da luz da manhã. É uma noite eterna, a única luz vinda dos monitores. Qualquer lâmpada acessa atrapalha a nitidez da tela.

AMORES VIRTUAIS
Rodrigo Bertolotto/UOL
Rafael joga em lan com a namorada, Suellen, postada em seu colo por horas
Amores que começam pelo orkut por vezes não se livram de seu lado virtual. O programa de fim-de-semana dos namorados Rafael Assakura e Suellen Policarp, por exemplo, é se enfurnar em uma lan house e se postar por horas passando por games, fases e pontos ao lado de um grupo de amigos.

"Ela é tão viciada como eu. Se não, não conseguiria. Ponho no colo e jogo horas", conta Rafael, 20. O programa pode incluir um jantar pouco romântico, encomendando um "prato feito" no restaurante ao lado. Os dois não estão sozinhos no costume: casais estão entre as minorias representadas na lan, cuja população hegemonicamente masculina e adolescente.

Na Extreme, as janelas são pintadas de preto. Uma fresta mostra um pátio de lava-rápido. Ao longe, os cânticos de uma igreja evangélica vizinha. Mas, no lugar do subúrbio e dos crentes, os adolescentes estão em campos medievais na companhia de elfos, mortos-vivos e gigantes do game Warcraft. Um rapaz dorme desde as 4h da manhã. Comprou uma hora por R$ 1 e dormiu as horas restantes - bem mais barato que uma pensão. O sono pesado resistia aos berros dos outros clientes ("Pedala, gótico" e "Cola aí, mano" são os menos ofensivos).

Sócia de uma lan, Ivani Yamazaki conta que já albergou cinco meninos dormindo em um sofá de três lugares. Outra vez, recebeu um menino de rua, lavou suas mãos, deu um pacote de salgadinho e deixou ele dormir por lá. Horas depois a mãe e a polícia buscavam o menino que há 15 dias estava fora de casa.

A regra é que menor de 12 anos não pode usar o serviço, e os corujões só podem ser freqüentados por adolescentes com autorização dos pais. Os meninos têm de informar o horário em que estudam, e estão bloqueados durante essas horas.

As brigas são raras. "Tem cara que chega aqui todo bonzão, todo pá. Esses arrumam treta", diz Luis Fernando. Os palavrões, provocações e empurra-empurra são uma constante. Os funcionários se confundem com os clientes, afinal, estão jogando e xingando também - muitos freqüentadores acabam virando empregados, afinal, trabalho e diversão viram a mesma coisa. Os jogadores, na verdade, são trainees para os futuros expedientes diante dos computadores.

Para os que não seguem até o meio-dia dominical, a jornada acaba às 8h da manhã. Na rua, um rastro de copos plásticos e guimbas de cigarros da noitada no mundo em volta, que teve carros derrapando, escapamento de motos estourando, paquera na sorveteria e pileques nos bares vizinhos.

Eles não viram nada disso. Carregando o resto do refrigerante quente e sem gás, um grupo vai pegar o ônibus para o Campo Limpo, chegar em casa, se enfiar na cama para acordar na segunda-feira, quando o fim-de-semana vai ser só uma lembrança.

IPTV é o futuro da televisão com banda larga

Paulo Rebêlo*
Para o UOL Tecnologia
As discussões sobre a escolha do padrão para TV digital no Brasil - entre americano, japonês, europeu ou desenvolver um próprio, nacional - vêm desde o final da década de 90. As primeiras transmissões públicas em caráter de teste, sempre adiadas, agora estão previstas para dezembro deste ano em São Paulo. Se você não agüenta mais ouvir falar em escolha de padrões e políticas públicas para a TV digital no Brasil, talvez seja hora de entender como funciona a televisão por redes IP ('Internet Protocol'), também conhecida como IPTV.

Os primeiros testes estão sendo realizados no país por universidades, centros de pesquisa e operadoras de telefonia, desta vez sem dependência direta do governo. Nesta quarta (19), a Universidade de São Paulo, em parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) lançou o IPTV-USP que, por enquanto, se assemelha demais com WebTV, ou seja, com vídeos sob demanda pelo computador. A IPTV USP é inspirada no modelo criado pelas universidades americanas, mas ao contrário de suas colegas estrangeiras, ela também pode ser vista por quem não faz parte da comunidade acadêmica.

"O diferencial em relação ao sistema de IPTV que a USP está lançando é essa idéia de focar em um nicho, que seria a comunidade acadêmica, e pegar esse conhecimento que é produzido pela USP e estar levando ao usuário final", conta Reinaldo Matushima, pesquisador do Laboratório de Arquitetura e Rede de Computadores da USP.

TV pela Internet, mas sem computador
Por causa do prefixo de "Internet Protocol", é comum confundir IPTV com televisão pela Internet. Não é. Assistir vídeos pela rede não é novidade alguma, a chamada WebTV existe desde antes do fenômeno Youtube.

Na verdade, o grande trunfo da IPTV é justamente não depender de um computador, mas, ao contrário, receber na sua televisão de casa —qualquer uma— transmissão digital por uma rede de dados em banda larga. Ou seja, é como uma Internet fechada, em alta velocidade, específica para televisão.

Logo, esqueça a baixa qualidade de vídeos do YouTube e outros canais de streaming disponíveis na rede. A IPTV leva, via banda larga, muito do que se promete para a TV digital do governo: câmeras de vários ângulos, buscas pela Internet, interatividade em tempo real e alta qualidade de imagem e som.

A entrada da IPTV no leque de opções para o consumidor pode não apenas baixar um pouco a bola da televisão digital, como também oferecer uma nova realidade a quem procura conteúdo personalizado.

Confira a reportagem especial que o UOL Tecnologia preparou para você desvendar esta novidade.

*Colaborou Vicente Toledo, do UOL News

quarta-feira, setembro 19, 2007

Phil Spector

LOS ANGELES, 18 Set 2007 (AFP) - Os 12 jurados do caso contra Phil Spector, que foi produtor dos Beatles, não chegaram a um acordo sobre a responsabilidade ou não do acusado na morte de uma atriz em 2003, informaram fontes judiciais.

Os nove homens e três mulheres do juri "anunciaram que não chegaram a um veredicto", declarou o juiz Larry Fidler, presidente do tribunal.

É necessária uma decisão unânime dos 12 membros do júri, que desde o dia 10 de setembro delibera sobre este caso, para absolver ou declarar culpado Spector, de 67 anos, que está em liberdade desde que pagou fiança de 1 milhão de dólares.

O produtor pode ser sentenciado a 15 anos de prisão ou até mesmo a pena perpétua.

Os jurados devem determinar se o produtor foi responsável pela morte de Lana Clarkson, uma atriz de filmes B.

Horas após um encontro entre os dois, no dia 3 de março de 2003, a mulher apareceu morta com um tiro na cabeça na mansão de Spector, em Los Angeles (Califórnia, oeste).

A promotoria afirma que Spector, furioso com a atitude de Clarkson, que teria deixado a casa do produtor contra sua vontade, a matou. Mas a defesa sustenta que a ex-atriz, deprimida com o fracasso de sua carreira, cometeu suicídio.

Phil Spector é considerado o gênio por trás de sucessos como "Da Doo Ron Ron" e "You've Lost That Loving Feeling", que revolucionaram as técnicas de gravação durante os anos 60. O produtor trabalhou com artistas como John Lennon, Elvis Presley, The Ramones e George Harrison.

terça-feira, setembro 11, 2007

Confira entrevista com Sergio Aragonés, da revista "Mad"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
da Folha de S.Paulo

Aos 70 anos, completados na última quinta (6/9), Sergio Aragonés ainda desenha com gosto e com a mesma velocidade que lhe valeu o título de "cartunista mais rápido do mundo": a Folha levou dois meses até conseguir entrevistá-lo, mas apenas 20 minutos, entre o pedido e o envio, para obter um auto-retrato para ilustrar a matéria.

Espanhol radicado no México e morando nos EUA há décadas, Aragonés tornou-se célebre por seus minicartuns para a revista "Mad", onde é o segundo colaborador mais longevo, trabalhando há 44 anos.

Ele acaba de retomar sua criação mais célebre, Groo, o errante, que ganhou no exterior uma edição especial para celebrar seus 25 anos e uma nova minisérie, "Groo: Hell on Earth", ainda sendo finalizada.

No Brasil, o personagem ganhou recentemente nova publicação, pela editora Opera Graphica, "Odisséia" (104 págs., R$ 49).

Falando por telefone de sua casa na Califórnia, Aragonés lembrou visitas ao Brasil e falou de Groo, da "Mad" e de sua vida.



FOLHA - Como é a edição comemorativa dos 25 anos de seu personagem Groo, que o sr. acaba de lançar?

SERGIO ARAGONÉS - É caprichada, tem uma capa prateada, mas é basicamente a mesma estupidez de sempre. A história é uma analogia que eu vinha tentando fazer há anos, sobre a Aids. Usamos um paralelo com uma praga que se transmite através de beijos, com o governo e a Igreja não fazendo muito para aliviar o problema.

FOLHA - E a nova minisérie que o sr. está criando?

ARAGONÉS - Estou desenhando um Groo agora, para o primeiro número, enquanto falamos. Serão quatro volumes, o tema é o aquecimento global. A história fala sobre os problemas causados pela poluição e todas suas conseqüências, e é claro que Groo acaba sendo o causador de vários dos problemas.

FOLHA - E como você e Mark Evanier [roteirista de Groo] trabalham?


ARAGONÉS - Já fizemos de diversas maneiras. Geralmente eu venho com uma trama, desenho algumas páginas a lápis e as levo para Mark, com os diálogos mal escritos, que ele apaga e substitui. Não sou muito bom com piadas escritas, meu humor é de pantomima, como o que eu faço para a "Mad". Às vezes ele sugere a trama e já houve casos em que escreveu tudo, como em "A Morte de Groo".

FOLHA - Groo é seu personagem preferido?

ARAGONÉS - Sim, já estamos juntos há tempos e é um personagem muito nobre porque seus direitos sempre foram meus, então ele nunca mudou. Muitos artistas criam um personagem e, como os direitos pertencem às editoras, acabam perdendo o controle sobre ele. Mas Groo ainda está intacto.

FOLHA - O sr. levou dez anos da criação do personagem até sua publicação. Por quê?

ARAGONÉS - Eu tinha vivido na Europa no começo dos anos 60 e vi que, lá, os autores eram donos de seu material, enquanto nos EUA era muito difícil que isso acontecesse. Então, quando cheguei no país, queria isso para mim, ter os direitos sobre minha criação. Levei vantagem sobre outros artistas porque eu estava trabalhando para a "Mad" e para a DC [editora de HQs], então não precisava desesperadamente de dinheiro, pude me dar ao luxo de esperar.

FOLHA - As histórias de Groo tem muito comentário político e social. Era esse seu objetivo ao criá-lo?


ARAGONÉS - Na verdade, não. Eu pensava nas aventuras de um bárbaro tolo, sem planejar muito à frente. Mas, com o tempo, eu via algo para o qual queria chamar a atenção das pessoas, criticar, ironizar, e escrevia baseado nisso, seja poluição, sem-tetos, arte moderna.

FOLHA - O sr. ainda é o cartunista mais rápido do mundo?


ARAGONÉS - Eu levo vantagem sobre os desenhistas que criam histórias sérias porque, como meus cartuns são de humor, as pessoas não notam quando eu erro algum personagem, faço um nariz maior ou um cabelo errado. A velocidade em si dá uma liberdade no traço com a qual é muito confortável trabalhar. Mas eu ainda levo 20 minutos para fazer uma página [ri]. É mentira, eu levo algumas horas. Esse mito começou porque eu desenho rapidamente quando estou em frente a platéias, para que elas não fiquem entediadas, e isso as espanta.

FOLHA - O sr. já era rápido quando criança?

ARAGONÉS - Eu era um artista muito ruim, sempre havia alguém muito melhor do que eu na escola. O que eu tinha era perseverança, continuei fazendo por tantos anos que acabei me desenvolvendo. Mas a velocidade não é importante, quando estou na minha mesa eu levo o tempo que precisar, só sou rápido em frente a platéias.

FOLHA - O sr. saiu da Espanha ainda criança, fugindo da guerra civil. Que lembranças tem dessa fase?

ARAGONÉS - Da Espanha fomos para a França, onde ficamos alguns anos, era a época da Segunda Guerra. Eu tinha 7 anos quando chegamos ao México, estava sempre desenhando, era um jeito de me expressar, era muito confortável criar minhas histórias. Meus primeiros desenhos de infância são relacionados à guerra, com aviões, porque era o que estava acontecendo. Estudei, fiz serviço militar no México e saí de lá aos 24.

FOLHA - E como foi a imigração para os EUA?

ARAGONÉS - Meu passaporte era mexicano, porque me tornei cidadão do país, sendo um refugiado. Cheguei nos EUA como turista, tentando vender alguns cartuns e, à medida que comecei a trabalhar, consegui tirar um green card [que permite morar no país].

FOLHA - Sendo um imigrante mexicano, como o sr. vê a situação de seus compatriotas nos EUA?

ARAGONÉS - É um problema muito sério. A maioria dos imigrantes que vêm do México são mão-de-obra de fazendas e indústria, e são tão abundantes que causam problemas para os trabalhadores daqui, que fazem propaganda negativa, levando a população a temê-los, pois acham que eles vão sobrecarregar o sistema de saúde e apenas usar os benefícios, e não é verdade. Os EUA não querem admitir que, sem os mexicanos, eles teriam muitos problemas na agricultura. Eles precisam dos trabalhadores e escondem esse fato. Poderiam dar vistos temporários, mas não podem negar o problema, como fazem.

FOLHA - Quando chegou aos EUA, o sr. pediu ajuda ao cubano Antonio Prohias [criador do "Spy vs. Spy"] para entrar na "Mad"?

ARAGONÉS - Sim, e foi muito engraçado porque ele falava ainda menos inglês do que eu. E chamava a todos de irmão, então me introduziu como se fosse seu parente, "meu irmão do México está aqui". Aí mostrei meu portfólio, a revista gostou e assim começou.

FOLHA - E já são 44 anos na revista. Quais suas melhores memórias desse período?


ARAGONÉS -* O publisher da revista, Bill Gaines [1922-1992], costumava levar todo o staff para uma viagem ao exterior uma vez por ano. Fomos para o Marrocos, México, Alemanha, Rússia, vários lugares, com todas as despesas pagas. Dividíamos os quartos com outros colegas da "Mad" e essas experiências eram maravilhosas porque tornaram a equipe uma família.

FOLHA - E de quem o sr. foi mais próximo?

ARAGONÉS - Prohias, Don Martin, Al Jaffe, Jack Davis... foram vários amigos, é uma fraternidade, não apenas trabalhamos para "Mad", somos uma família há muitos anos.

FOLHA - Quem foram seus mestres e suas influências?

ARAGONÉS - Aprendi pantomima com [o diretor e escritor chileno] Alejandro Jodorowski para melhorar meu trabalho como cartunista. Originalmente, minhas influências eram do humor, além de Carl Barks [1901-2000] e, acredite ou não, Will Eisner [1917-2005], eu adorava o jeito como ele contava as histórias, foi uma grande influência na minha escrita. O argentino Oski [1914-1979], cartunista maravilhoso, também me influenciou, assim como o mexicano [Abel] Quezada [1937-2007].

FOLHA - E o sr. sempre preferiu o humor em seu trabalho?

ARAGONÉS - Eu consigo escrever histórias sérias, fiz um western, "Bat Lash" [para a DC] e, quando comecei, escrevia para a [revista de horror] "House of Mystery". Mas, como desenhista, meu único interesse é o humor. Não pinto, não faço desenhos realistas, acho que uma das razões por que meu trabalho é admirado é porque nunca mudei, sempre fiz aquilo em que era melhor.

FOLHA - O sr. já esteve algumas vezes no Brasil, que lembranças tem daqui?


ARAGONÉS - Estive aí na década de 70, em Piracicaba (SP), e já havia vários fãs da "Mad" que conheciam meu trabalho, foi incrível. Depois voltei algumas vezes, a maioria como turista, a última na década de 80. Tenho alguns bons amigos aí, como [os irmãos] Ziraldo e o Zélio. Não tive mais tempo, mas ainda tenho de voltar ao Brasil.

Uma bebida chamada Mijovi - e isto incomoda Bon Jovi

Richard G. Jones
Em Newark, Nova Jersey

Quando Marcos Carrington - um cientista ambiental, um gênio de Internet e romântico incurável - desenvolveu uma nova bebida energética, ele se preparou para enfrentar a Red Bull, Boost, SoBe e os demais pesos-pesados de tal segmento do mercado de bebidas.

Ao entrar em um campo lotado, que incluía uma nova bebida chamada Rockstar, Carrington nunca contou com a ameaça representada pela coisa real. Logo após a bebida de Carrington, a Mijovi, ter chegado ao mercado no ano passado, advogados do músico Jon Bon Jovi acusaram Carrington de violação de marca registrada.

Carrington, 37 anos, que cresceu no Bronx e vende sua bebida em 7 mil lojas na região central de Nova Jersey, disse que seu produto foi batizado segundo sua companheira de quatro anos, Jovita Saenz, e que conhece apenas de passagem a música de Bon Jovi; ele gosta mais de Prince.

Cantor ameaça processar criador da bebida Mijovi por violação de marca registrada
Após uma espera de meses, a disputa em breve poderá seguir em frente. Bon Jovi tem o prazo de até 31 de outubro do Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos para se opor formalmente à marca registrada de Carrington. Bon Jovi também ameaçou processar.

De qualquer forma, Carrington está se preparando para um processo que poderá fechar seu crescente negócio e tornar fichinhas outras guerras entre bebidas em comparação. Ele disse que o protesto de Bon Jovi ajudou involuntariamente as vendas.

"Bon Jovi cria música; Mijovi cria bebidas", disse Carrington. "Nós ficamos chocados ao ver uma objeção a uma bebida positiva apesar de partilharmos estas poucas sílabas".

Em uma carta enviada em janeiro aos advogados de Carrington, os advogados de Bon Jovi acusaram Carrington de tentar usar indevidamente o nome registrado do músico para comercializar seu produto, dizendo que uma parte dos slogans de marketing da Mijovi -"itsmilife" (é minha vida)- é semelhante ao título de uma das canções mais populares de Bon Jovi, "It's My Life". Um advogado do cantor, Peter Laird, escreveu que o slogan e o nome da bebida "constituem uma tentativa intencional de enganar o consumidor e associar nosso cliente ao produto".

Bon Jovi e seus representantes se recusaram repetidas vezes em comentar sobre o caso desde que se tornou público no início deste ano. Mais de uma dúzia de telefonemas para dois advogados de Bon Jovi não foram retornados; pedidos para comentários por e-mail aos advogados também não foram respondidos. E outras tentativas de contatar Bon Jovi, como deixar uma mensagem a um funcionário do time da Arena Football League do qual é dono, o Philadelphia Soul, também não foram bem-sucedidas.

Um advogado de Carrington, James Nichols, respondeu à carta de Laird concordando em deixar de usar o slogan "itsmilife", mas defendeu o direito de Carrington de usar o nome Mijovi.

Carrington disse que se encontrou por acaso com Bon Jovi em um restaurante no segundo trimestre, quando apresentou Saenz ao astro do rock e explicou que ela foi a inspiração para a bebida. Carrington disse que ele e o músico tiveram uma conversa agradável mas que permaneceram longe de uma solução para a disputa.

Nascido John Francis Bongiovi Jr., o músico mudou seu nome no início dos anos 80 à medida que sua carreira como cantor decolava. Ele o registrou como nome de sua banda e marca em 1987. (Especialistas disseram que não é incomum músicos registrarem seus nomes artísticos; por exemplo, os registros do escritório federal de marcas mostra que o músico preferido de Carrington, Prince - cujo nome de batismo é Prince Rogers Nelson - já recebeu vários registros de marca.)

Por grande parte de duas décadas, Bon Jovi, 45 anos, é o vocalista da banda de rock que já vendeu mais de 100 milhões de discos em todo mundo.

Além da música, Bon Jovi é ativo na política (ele apoiou a candidatura presidencial democrata de 2004 do senador John F. Kerry e se apresentou na campanha deste) e contribui para várias caridades, incluindo a Habitat para a Humanidade e Special Olympics.

Bon Jovi também cultiva uma imagem de homem comum nascido em Jersey, o que explica parcialmente o motivo de Carrington ter ficado tão surpreso com a disputa em torno do nome da bebida.

Carrington, que se formou pela Universidade Rutgers e em 1998 vendeu parte de seu site de Internet, o citagreen.com, uma ferramenta de busca na Internet, disse que desenvolveu a idéia para a bebida em 2004 como forma de ajudar a financiar outros projetos. Ele trabalhou com especialistas em sabor de bebidas na Suíça e começou a vender o Mijovi (se pronuncia My Jovi) em fevereiro de 2006.

A Mijovi com sabor de café é vendida por US$ 3,95 e vem em uma lata esguia, alongada, de 310 ml com rótulo preto e prateado exibindo uma borboleta. (Em comparação, a Red Bull, uma líder de mercado, geralmente custa cerca de US$ 2 por uma lata de 250 ml.)

Os especialistas dizem que o mercado de bebidas energéticas, voltado para pessoas com menos de 35 anos, faturou quase US$ 4 bilhões no ano passado, em comparação a US$ 500 milhões em 2000. Alguns analistas de mercado estimam que tal número poderá dobrar nos próximos anos; em 2006, mais de 200 novos tipos de bebidas energéticas foram lançadas.

Como a maioria dos fabricantes, Carrington guarda a sete chaves a proporção precisa de cafeína em sua receita por razões de concorrência, mas disse que equivale aproximadamente a dois copos de café.

Alguém poderá oferecer a Carrington algo mais estimulante caso Bon Jovi resolva levar o caso aos tribunais: processos do gênero tendem a se arrastar.

"Se isto passar da fase de discussão do mérito, poderá ser incômodo", disse Frank Pasquale, um professor da Escola de Direito da Universidade Seton Hall, que é especializado em casos envolvendo marcas registradas.

Mas Pasquale disse achar que Bon Jovi poderá enfrentar dificuldades no tribunal. "Ele não está usando a imagem dele para promover o produto", disse Pasquale sobre Carrington. "Eu não acho que as pessoas que ouvirem Mijovi necessariamente pensarão em Bon Jovi".

Todavia, Bon Jovi não parece estar disposto a se arriscar. Os registros do escritório de patentes mostram que desde que a Mijovi foi lançada, a produtora de Bon Jovi entrou com pedido de pelo menos duas outras marcas registradas, incluindo Jovi Girls e Jovi Gear - aparentemente para evitar qualquer futura confusão entre produtos como Mijovi e o que ele diz ser seu Jovi.

Tradução: George El Khouri Andolfato