sábado, dezembro 26, 2009

2009

"... de que adianta?"

sábado, novembro 07, 2009

dicionário

Anomia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo, e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores tradicionais, fortemente ligados à concepção religiosa. A Modernidade, com seus intensos processos de mudança, não fornece novos valores que preencham os anteriores demolidos, ocasionando uma espécie de vazio de significado no cotidiano de muitos indivíduos. Há um sentimento de se "estar à deriva", participando inconscientemente dos processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação consciente e da identidade.

Este termo foi cunhado por Durkheim em seu livro O Suicídio. Durkheim emprega este termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de forma patológica ou "anomicamente". Em seu famoso estudo sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais - especialmente da sociedade moderna - exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento suicida.

Segundo Robert King Merton, anomia significa uma incapacidade de atingir os fins culturais. Para ele, ocorre quando o insucesso em atingir metas culturais, devido à insuficiência dos meios institucionalizados, gera conduta desviante. Seu pensamento popularizou-se em 1949 com seu livro: Estrutura social e Anomia.

A teoria da anomia de Merton explica porque os membros das classes menos favorecidas cometem a maioria das infrações penais, explica os crimes de motivação política (terrorismos, saques, ocupações) que decorrem de uma conduta de rebeliões e explica comportamentos como os do alcoolismo e tóxico-dependência (evasão).

segunda-feira, outubro 19, 2009

Revisão de documento sobre depressão acirra conflitos entre psiquiatras e psicólogos

RAFAEL GARCIA da Folha de S.Paulo

Não é de hoje que as ciências da mente são uma área turbulenta: psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e suas subdivisões sempre se digladiaram no campo teórico e clínico. Houve ciclos de calmaria em algumas décadas, mas o debate sobre o entendimento de uma condição tão antiga quanto a humanidade --a depressão-- parece estar levando essas classes de profissionais a um novo pico de agressividade agora.

Dentro de dois anos, o comitê redator da chamada "bíblia" da psiquiatria, o DSM (Manual de Diagnósticos e Estatísticas), deve completar a quinta edição da obra. Pressões para que a depressão receba um tratamento diferente no texto partem de todo canto. O DSM, produzido pela Associação Americana de Psiquiatria, é a baliza de referência dos planos de saúde privados em vários outros países para decidir o que pagar ao paciente deprimido: drogas ou psicoterapia.

Psicólogos clínicos, sobretudo, têm feito um ataque sistemático ao uso de antidepressivos no tratamento a essa condição, e sua posição está agora resumida em livros de dois pesquisadores britânicos.

Placebo turbinado

Irving Kirsch, da Universidade de Hull, acaba de lançar "The Emperor's New Drugs" (As Novas Drogas do Imperador), relato no qual descreve como descobriu aquilo que chama de "mito dos antidepressivos". Declarando-se ex-apóstolo desses medicamentos psiquiátricos, Kirsch conta como foi o processo de pesquisa para a produção de uma análise que desmontou a estatística dos testes clínicos que validaram os remédios da mesma classe do popular Prozac.

A polêmica toda começou em 1998, quando o psicólogo publicou o primeiro resultado de seu trabalho, mostrando que a eficácia dessas drogas --os chamados inibidores de recaptação de serotonina- era toda ou quase toda atribuível ao infame efeito placebo.

Esse é o termo que clínicos usam para definir quando um paciente melhora não porque o remédio foi eficaz, mas porque a crença na cura produziu alguma transformação mental e orgânica que a realizou. Testes clínicos em geral têm um controle para não se deixarem enganar pelo efeito placebo, mas Kirsch mostrou que a adoção de placebos 100% inertes, sem efeito colateral nenhum, sabotou a lógica das pesquisas.

Os pacientes voluntários conseguiam descobrir se estavam tomando drogas ou pílulas de farinha, e os resultados dos testes acabavam distorcidos. "Em vez de comparar placebos normais com drogas, estávamos comparando placebos "turbinados" com placebos normais", escreve o psicólogo.

Nenhum médico questiona hoje a existência do efeito placebo, mas psiquiatras e a indústria farmacêutica negam que este seja o caso dos antidepressivos. Os primeiros ataques de Kirsch a esses medicamentos precipitaram uma enxurrada de artigos em revistas de psiquiatria, com médicos questionando as "metanálises", o método que o pesquisador usou para tirar suas conclusões. A técnica consiste em fazer ajustes estatísticos para poder juntar os resultados de vários testes clínicos diferentes em um único estudo.

A passagem de dez anos, porém, mostrou que o método é seguro, diz Kirsch. "Metanálises são apresentadas regularmente hoje nas principais revistas médicas do mundo", diz, lembrando que a interpretação estatística dos placebos não era o único problema dos testes.

"Segredinho sujo"

Kirsch provocou um verdadeiro rebuliço na comunidade científica quando descobriu que os resultados de muitos testes do Prozac e de drogas similares não haviam sido divulgados ao público. Esses ensaios clínicos --o "segredinho sujo" dos laboratórios farmacêuticos, segundo o psicólogo-- eram aqueles em que as drogas não haviam mostrado eficácia.

O trabalho de Kirsch serviu para suscitar um grande debate sobre o sistema de publicação de pesquisas médicas, mas não convenceu a todos que os antidepressivos sejam meros placebos. Muitos psiquiatras consideram o estudo de Kirsch um ataque corporativo dos psicólogos, que devolvem a acusação.

Em janeiro deste ano, o "British Journal of Psychiatry" publicou um editorial afirmando que uma possível falha dos testes clínicos se deveria ao fato de que os antidepressivos estavam sendo prescritos para muitos pacientes que não estavam realmente deprimidos. A fronteira que separa a depressão clínica de uma tristeza normal, porém tem mesmo de ser arbitrária, e já tem havido algum debate sobre como delimitá-la.

"A diferença entre dar a uma pessoa que não está deprimida um antidepressivo ou placebo não pode mesmo ser grande", diz o psiquiatra (e psicanalista) Marco Antônio Alves Brasil, da UFRJ, integrante do conselho consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. "Para os quadros de depressão leve, ainda não existe uma comprovação de que os antidepressivos seja superiores à psicoterapia."

O debate sobre como diferenciar a depressão "patológica" de uma reação normal de tristeza, diz Alves Brasil, pode levar a uma revisão desse ponto no DSM e na ICD (Classificação Internacional de Doenças), produzida pela Organização Mundial da Saúde. A ICD, a referência usada por médicos dos sistemas de saúde pública brasileiros, também deve ser reeditada em 2011.

Para alguns psiquiatras, é preciso limitar a depressão patológica apenas aos casos em que a melancolia é anormal. "Se você está profundamente triste e não há uma razão para isso, você está doente", diz Alves Brasil. Muitos psicólogos, porém, questionam a existência da depressão orgânica e, junto com ela todas as estatísticas de prevalência.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Projeto sobre redução da libido aguarda votação no Senado

Gilberto Costa

Da Agência Brasil
Em Brasília

Por falta de fórum qualificado, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) não votou na quarta-feira (16) o relatório do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) sobre o Projeto de Lei 552/2007, que modifica o Código Penal e estabelece a diminuição de pena para autores de estupro, atentado violento ao pudor e abuso sexual de crianças e adolescentes que se submeterem a tratamento químico hormonal que reduz a libido.

De acordo com o relatório, o condenado deverá se submeter voluntariamente ao tratamento durante o período de livramento condicional (cumprido fora da prisão). O tratamento será tentado depois que uma comissão, formada por psicólogo e psiquiatra, fizer atendimento psicossocial no período de reclusão. O uso do hormônio começa antes da soltura. Em caso de reincidência, a pessoa volta à prisão e perde o direito de diminuir a pena.

Conforme o senador Crivella, medida semelhante é adotada "com sucesso" na Inglaterra, França e em oito Estados norte-americanos. "O que os médicos têm dito é que 90% das pessoas deixam de cometer o crime. A reincidência é muito pequena, o que não ocorre hoje. Atualmente, quando você prende um pedófilo, não importa o tempo que passar na prisão, ele sai e comete o mesmo crime. O que a gente está tentando é que seja uma pena reeducativa, que o sujeito aprenda que tem que se submeter ao tratamento, que tem que tomar remédio, porque senão ele volta a cometer o crime", defendeu o relator.

Crivella garantiu que enquanto a pessoa condenada estiver em tratamento, terá acompanhamento médico. Depois de cumprir a pena, o senador acredita que o ex-condenado continuará tomando o medicamento. "Terminada a pena, ele é um homem livre, não precisa obrigatoriamente continuar o tratamento porque já cumpriu a pena. A partir daí, o que se espera é que ele continue o tratamento, que ele se conscientize de que para o convívio social, precisa de tratamento".

O parlamentar carioca admite que o projeto - que tem caráter terminativo na comissão e pode ser encaminhado diretamente para a Câmara dos Deputados - sofrerá oposição de quem classifique a pena como cruel e, por isso, inconstitucional.

Essa é a opinião do jurista Agesandro da Costa Pereira, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "É uma providência que afronta os princípios básicos em que se assenta a República Brasileira. Todo o arcabouço judicial-legislativo do país se assenta no respeito à dignidade da pessoa humana", critica o advogado.

Para Crivella, a proposta original [de autoria de Gerson Camata, PMDB-ES] era, de fato, inconstitucional pois era "uma medida impositiva". Na avaliação do senador, o projeto viabiliza "uma alternativa para a Justiça conseguir reeducar o homem". Agesandro discorda: "essa opção há de ser feita na vida pessoal e não como condição de punibilidade ou distinção da pena. O projeto padece de inconstitucionalidade", reafirma o representante da OAB.

sexta-feira, setembro 04, 2009

i'm a huge oasis fan.

buuuuuuuuuuuuuuuuuut, tem que tirar um coco mesmo.

domingo, agosto 30, 2009

Os hackers e os diplomatas

Le Monde
Yves Eudes


Na internet, o Twitter surgiu como uma nova rede de dimensão planetária, com um poder inigualável. Na vida real, é uma start-up jovem que ainda não encontrou um modelo de negócios. Ela ocupa meio andar de um depósito organizado em lofts, no coração de São Francisco: ao todo, são cerca de sessenta funcionários, todos jovens e amontoados, que trabalham em grupos, sentados no chão sobre almofadas multicoloridas. O hall central, um espaço luminoso com decoração minimalista, é repleto de bicicletas e consoles de videogame. Tudo parece feito para lembrar o fato de que o Twitter foi pensado e criado, antes de mais nada, para ser um instrumento de diversão leve e fútil.

O Twitter é um serviço de "microblogging", instantâneo, que funciona ao mesmo tempo na internet e nos telefones celulares. As pessoas podem entrar e publicar gratuitamente pequenos textos (com no máximo 140 caracteres) com a freqüência que desejarem, para contar um pouco da vida, compartilhar os pensamentos do momento, dar seus avisos sobre não importa o quê. Os "autores" são lidos em tempo real por todos aqueles que decidiram os "seguir", ou seja, que se inscrevem para receber seu fluxo pessoal de mensagens. Quanto mais somos conhecidos - no Twitter ou no mundo real -, mais temos "seguidores". As celebridades conseguiram criar para si mesmas fã-clubes com milhões de pessoas.

O Twitter tem também um papel utilitário. As ONGs o usam para suas campanhas de sensibilização, as empresas para fidelizar sua clientela, os políticos para tentar falar com os jovens. Por outro lado, o microblogging começa a se impor como um novo meio de informação. Todos os dias, nos Estados Unidos, pessoas que presenciam algum acontecimento espetacular ou dramático (crime, manifestação, acidente) usam seu telefone celular para divulgar testemunhos pelo Twitter.

Biz Stone, cofundador e diretor de criação da empresa, lembra que, já em 2008, o Twitter foi o primeiro a anunciar o ataque terrorista em Mumbai: "Nós furamos todo mundo, com informações vindas do coração do evento, enviadas por pessoas que estavam vivendo os acontecimentos. Nós demos um poder imenso ao que antes era a mídia mais fraca, o SMS."

Para ele, não resta dúvidas quanto ao vencedor da batalha que se anuncia entre aos meios de comunicação tradicionais e as "pessoas de verdade". "Neste inverno, houve um pequeno tremor de terra na Califórnia. Nove minutos depois, a agência Associated Press publicou uma nota de 57 palavras sobre o assunto. Mas durante esses nove minutos, o Twitter já tinha publicado 3.800 mensagens, totalizando dezenas de milhares de palavras, que contavam tudo em detalhes. Nós mudamos o ritmo e o conteúdo da informação."

Os meios de comunicação tradicionais tentam utilizar o Twitter em seu benefício. Inúmeros jornais abriram contas para enviar pequenas notícias a seus leitores e os incitar a entrarem em seus sites.

A partir da primavera de 2009, o Twitter avançou sobre o cenário diplomático. Em abril, constatando que os estudantes da Moldova estavam usando o Twitter para relatar sua revolta contra o governo neocomunista, os veículos de informação norte-americanos não hesitaram em batizar o movimento de "revolução Twitter" - mesmo que, no local, a revolução não tenha de fato acontecido.

A notoriedade do Twitter atingiu um novo status em junho por causa da crise que agitou o Irã depois da reeleição contestada do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Novamente, para manter o resto do mundo a par dos acontecimentos, alguns jovens manifestantes iranianos contrários ao regime islâmico usaram o Twitter.

Entretanto, o Twitter decidiu interromper seu serviço durante uma noite (horário da Califórnia) para efetuar uma operação de manutenção. Ao receber a notícia, um responsável do departamento de Estado norte-americano pediu para que o serviço adiasse a operação, para que os manifestantes iranianos não ficassem desligados do mundo em pleno dia - hora de Teerã.

Depois, em 16 de junho, a secretária de Estado Hillary Clinton em pessoa apoiou esse pedido. Durante uma coletiva de imprensa, ela confessou sem meias palavras que não sabia muito bem o que era o Twitter, mas disse estar consciente de seu poder: "Enquanto meio de livre expressão, o Twitter se tornou muito importante, não só para o povo iraniano, mas cada vez mais para os povos do mundo inteiro. (...) É preciso manter aberta esta via de comunicação, e permitir que as pessoas compartilhem a informação, sobretudo num período onde não há muitas outras fontes de informação."

Logo em seguida, o governo iraniano protestou contra essa ingerência sobre seus assuntos interiores, o que provocou uma nova declaração de um porta-voz do governo norte-americano: "O Twitter é uma ferramenta que permite a todos os iranianos se comunicarem. Ele não diz respeito a este ou aquele grupo. De fato, (...) parece que o próprio governo iraniano utiliza o Twitter."

Desde então, o Twitter mudou de status aos olhos do mundo. O preço da fama: em 6 de agosto, ele sofreu um ataque de hackers que bloqueou seus servidores e interrompeu seu serviço durante duas horas. Foi uma operação do tipo "DDOS" (Distributed Denial of Service), que constitui em enviar para um servidor da internet milhões de pedidos simultaneamente durante horas a fio, o que satura completamente o servidor e impede que os usuários legítimos se conectem.

Em um primeiro momento, os hackers precisam tomar o controle de milhares de computadores espalhados pelo mundo inteiro. Eles enviam por e-mail, ou colocam em sites da internet, um vírus que se instala sorrateiramente nos computadores sem que os usuários percebam. Assim, os hackers se colocam à frente de uma rede de "máquinas zumbis" que podem ativar quando desejarem. No dia D, eles ordenaram que todos os computadores infectados enviassem pedidos continuamente para seu alvo. Para a vítima, a agressão parece vir de toda parte de uma só vez. Por isso, os investigadores têm muita dificuldade de localizar os culpados, protegidos por uma multidão de zumbis e repetidores.

Dessa vez, os especialistas em segurança pareceram concordar pelo menos sobre um ponto. O ataque visava de fato apenas um usuário, um georgiano que usava o pseudônimo de Cyxymu (em caracteres cirílicos, Shoukoumi, a capital da Abkhásia, província separatista da Geórgia ocupada pelo exército russo). Os hackers, que não foram identificados, estavam sem dúvida na Rússia. Eles lançaram uma grande quantidade de e-mails falsos em inglês, como se fossem enviados por Cyxymu, e convidaram os internautas do mundo inteiro a visitar suas diferentes páginas pessoais no Twitter, Facebook e LiveJournal. Muitos internautas teriam clicado sobre o link enviado, e esse fluxo de conexões teriam saturado os servidores do Twitter. Isso não foi muito difícil, uma vez que a arquitetura técnica do serviço ainda é muito centralizada e sem dúvida mal equipada em sistemas de segurança.

Cyxymu se chama na verdade George Jakhaia, é um professor de economia de 34 anos, morador de Tbilisi, capital da Geórgia, mas originário da Abkhásia. Depois da guerra entre a Rússia e a Geórgia, em 2008, ele passou a utilizar a internet para promover a causa da Geórgia e denunciar as agressões vindas da Rússia. Seus sites, escritos em russo, atraíam pouquíssimas pessoas.

Desde o dia seguinte do ataque virtual, ele decidiu se valer ao máximo dessa celebridade recém-adquirida. Ele multiplicou as entrevistas e, sem fornecer provas, acusa os serviços de segurança russos de terem fomentado o ataque. Os meios de comunicação ocidentais repercutiram sua versão dos fatos, e muitos especialistas europeus e norte-americanos observaram que esse tipo de ataque muito básico está ao alcance de qualquer bando de adolescentes, pois não são necessários os recursos do Estado para isso. Se o objetivo dos hackers era silenciar Cyxymu, eles fracassaram. Seus sites são muito mais freqüentados hoje do que no passado. Alguns de seus textos foram traduzidos para o inglês e sua conta no Twitter possui milhares de seguidores.

O governo da Abkházia (apoiado pela Rússia) soube evitar a armadilha ao publicar na internet um comunicado condenando o ataque contra Cyxymu, em nome da liberdade de expressão. Por sua vez, os donos do Twitter recusaram-se a entrar no terreno das acusações e especulações geoestratégicas. Depois do ataque, Biz Stone reafirmou que Twitter tinha por vocação continuar sendo um instrumento de diversão e promoção comercial.

O Twitter não se livrou dos hackers. Em 14 de agosto, a sociedade de segurança Arbor Networks publicou um alerta: hackers estavam se preparando para usar o Twitter como vetor para dirigir ataques contra outros sites. Em 16 de julho, o Twitter já havia sofrido um primeiro ataque, menos divulgado pela mídia. Um hacker havia conseguido penetrar em um servidor da internet normalmente utilizado pelos donos do Twitter, e roubado mais de 300 documentos confidenciais sobre a vida da empresa, o estado de suas finanças, suas estratégias de desenvolvimento e suas negociações secretas com outras empresas de internet.

Depois o pirata transmitiu todo o dossiê à revista de informática na internet TechCrunch, da Califórnia. Depois de negociações árduas com o Twitter, a TechCrunch publicou apenas uma pequena parte dos documentos - que foi suficiente para deixar clara a extrema ambição dos dirigentes do Twitter. Eles esperam um dia chegar a um bilhão de usuários, o que fará do Twitter o "pulso do planeta".

Tradução: Eloise De Vylder

terça-feira, agosto 11, 2009

"Gêmea" da Terra será vista em dois anos, diz cientista

RAFAEL GARCIA
enviado especial da Folha de S.Paulo ao Rio

O astrônomo Michel Mayor, da Universidade de Genebra (Suíça), diz que a ciência nunca esteve tão perto de achar um planeta "gêmeo" da Terra fora do Sistema Solar. "Temos grande chance de fazer isso nos próximos dois anos", afirma.

Concepção artística do sistema Gl-581 com planeta rochoso; astrônomo Michel Mayor diz que ciência está próxima de achar planeta "gêmeo" da Terra
Desenho do sistema Gl-581 com planeta rochoso; astrônomo diz que ciência está próxima de achar planeta "gêmeo" da Terra

Ele foi pioneiro no uso da técnica para medir o movimento de estrelas analisando distorções na frequência de sua luz -o chamado efeito Doppler. Quando um planeta gira em torno de seu sol, ele o faz "rebolar" um pouquinho, e a velocidade desse rebolado pode ser detectada assim.

Em entrevista num dos intervalos da assembleia da IAU (União Astronômica Internacional), Mayor disse o que espera ver nos próximos anos.

*

FOLHA - O que o sr. veio apresentar no encontro aqui no Rio?

MICHEL MAYOR - Vim mostrar que aquilo que descobrimos nos últimos dois anos foi uma grande população de planetas de baixa massa. Isso significa massas poucas vezes maiores que a da Terra ou a massa de Netuno. Mais ou menos entre 5 e 20 vezes a massa da Terra. Essa população parece ser bastante frequente. Um terço das estrelas de tipo solar tem esse tipo de planeta perto delas.

As propriedades desse novo tipo de planeta são bem diferentes daquilo que vínhamos descobrindo há alguns anos, que são planetas gasosos gigantes. O recorde é um planeta com uma massa 1,9 vez a da Terra. Estamos perto de achar um de massa igual ao nosso.

FOLHA - Como o sr. faz para detectar a presença desses planetas? Existem várias maneiras, não?

MAYOR - A técnica que estou usando é a do efeito Doppler. Nós tentamos detectar mudanças nas velocidades de estrelas devido à influência gravitacional dos planetas. Mas, recentemente, nos últimos dois anos, grandes progressos foram feitos também por pessoas que estão procurando planetas em trânsito na frente de suas estrelas. É possível achá-los porque eles causam uma pequena queda na luminosidade.

Recentemente, houve uma descoberta interessante feita pelo satélite francês Corot, que achou planetas com poucas vezes a massa da Terra. Estou certo de que nos próximos dois anos temos uma chance bastante grande de detectar um planeta com massa tão pequena quanto a da Terra.

FOLHA - Isso vai acontecer com a técnica que o sr. usa ou com as técnicas usadas pelo Corot?


MAYOR - Com as duas. Nós estamos competindo, e as técnicas são complementares.

FOLHA - Alguns poucos estudos relataram ter conseguido ver planetas diretamente. Isso é uma técnica promissora também?

MAYOR - Sim, mas a luz direta é uma técnica bem diferente. Uma vez que o planeta esteja atrás da estrela, você tem uma pequena queda da luminosidade infravermelha. Isso é um tipo de detecção direta. Outra, direta, é a produção de imagem com óptica adaptativa avançada, uma técnica que corrige a turbulência da atmosfera. Aí você consegue ver pontos minúsculos perto da estrela.

FOLHA - Quantos planetas seu grupo detectou até agora desde 1995, quando achou o primeiro?

MAYOR - Grupos do mundo inteiro detectaram até agora cerca de 350 planetas. Eu e minha equipe podemos reivindicar a descoberta de 150 deles.

FOLHA - Agora que vocês conhecem tantos planetas, é possível dizer se o Sistema Solar é especial?

MAYOR - Temos de ser cautelosos com essa pergunta, porque a amostra de planetas que temos na verdade é ainda pequena. Mas, ao que parece, o Sistema Solar não é nem de longe um exemplo típico. Em todos os sistemas nos quais descobrimos planetas gigantes, eles têm órbitas muito excêntricas [ovaladas], enquanto no Sistema Solar elas são mais circulares.

Com relação aos planetas de baixa massa, descobrimos sistemas com diversos planetas com massa da escala de duas Terras, orbitando perto da estrela, o que não existe no Sistema Solar. Então, em muitos aspectos, o Sistema Solar é diferente daquilo que temos visto.

Mas ainda não podemos dar declarações definitivas. A visão que temos ainda é enviesada.

FOLHA - O que fez o número de planetas detectados aumentar tanto desde 1995? Foi o poder dos telescópios ou os astrônomos aprenderam a olhar para os lugares certos?

MAYOR - Os telescópios tiveram avanços importantes, mas não no poder de coletar luz, que está relacionado ao tamanho do telescópio, e sim na instrumentação. Por exemplo, a precisão típica que tínhamos 15 anos atrás, quando descobrimos o planeta 51 Pegasi b [medindo a velocidade de sua estrela-mãe] era de 51 metros por segundo. Hoje chegamos a uma precisão de 3 m/s.

FOLHA - A detecção de um planeta na zona "habitável", onde a água líquida está presente, será possível?

MAYOR - Sim, na verdade, três meses atrás, quando anunciamos a descoberta de um planeta novo em torno da estrela Gliese 581, nós corrigimos os parâmetros orbitais de um planeta a mais nesse sistema. É um planeta com sete vezes a massa da Terra, localizado na "zona habitável" na órbita da estrela.

FOLHA - Os instrumentos já têm capacidade de investigar a química desses planetas?

MAYOR - Já houve alguns avanços na análise da composição atmosférica. Mas estamos longe de ter capacidade de detectar a chamada "assinatura" química que a vida deixaria num exoplaneta igual à Terra.

FOLHA - Quinze anos atrás, quando o sr. achou o primeiro exoplaneta, já imaginava que hoje teríamos conseguido achar mais 350?


MAYOR - Absolutamente, não. Quando descobrimos aquele planeta, era apenas um. Não tínhamos como extrapolar dados para estimar quantos mais poderiam ser detectados. Um ano depois, quando apareceram alguns outros, começamos a pensar: "OK, temos chance de ver mais deles; não é um objeto tão raro". Ainda assim, ninguém imaginava que o campo de pesquisa cresceria tanto. Hoje, há alguns milhares de pessoas trabalhando nisso.

FOLHA - Quando o sr. descobriu 51 Pegasi b, estava procurando planetas deliberadamente ou houve um componente de sorte?

MAYOR - Nós construímos os instrumentos para conseguir captar com precisão as velocidades e, assim como outros astrônomos, tivemos de fazer pedidos de tempo de observação para o comitê que controlava os telescópios. Ainda hoje temos de fazer isso, e sempre está escrito nos requerimentos que a intenção é detectar planetas gigantes. Não foi sorte.

FOLHA - O que está acontecendo de importante sobre exoplanetas aqui no encontro do Rio?

MAYOR - Uma coisa importante é que três anos atrás nós não tínhamos nenhuma comissão sobre exoplanetas na IAU. Quinze anos atrás não existia nada mesmo e, há poucos anos, demo-nos conta de que o campo é muito importante. Hoje já existem inúmeras conferências internacionais sobre o assunto, talvez até demais.

sexta-feira, julho 31, 2009

Guerreando para promover a 'paz'

The New York Times
Noam Chomsky

Um debate está em andamento na ONU em torno de uma política que pode parecer sem controvérsia: uma estrutura legal internacional para prevenir crimes graves contra a humanidade.

Uma estrutura se chama "responsibility to protect" (responsabilidade de proteger), ou R2P, no jargão da ONU. Uma versão restrita da R2P, adotada pela Cúpula Mundial das Nações Unidas em 2005, reafirmou direitos e responsabilidades aceitos pelos países membros no passado e às vezes implantados por eles.

Entretanto, as discussões sobre a R2P ou sua prima, "intervenção humanitária", são regularmente perturbadas pelo chacoalhar de um esqueleto no armário: a história, até o presente.

Por toda a história, alguns poucos princípios de assuntos internacionais se aplicam de modo geral. Um é a máxima de Tucídides de que os fortes fazem o que desejam enquanto os fracos sofrem como devem.

Outro princípio é o de que virtualmente todo o uso da força em assuntos internacionais é acompanhado de retórica elevada sobre a responsabilidade solene de proteger as populações que estão sofrendo, assim como de justificativas factuais para isso.

Compreensivelmente, os poderosos preferem esquecer a história e olhar para frente. Para os fracos, não é uma escolha sábia.

O esqueleto no armário fez uma aparição na primeira disputa considerada pela Corte Internacional de Justiça, há 60 anos, o caso do Canal de Corfu, um incidente envolvendo o Reino Unido e a Albânia.

A corte determinou que "só pode considerar o suposto direito de intervenção como a manifestação de uma política de força, como as que, no passado, deram origem aos abusos mais sérios e, dessa forma, não pode, quaisquer que sejam os defeitos na organização internacional, encontrar um lugar na lei internacional (...); dada a natureza das coisas, (a intervenção) seria reservada aos Estados mais poderosos e poderia facilmente levar a uma perversão da administração da própria justiça".

O mesmo ponto de vista informou o primeiro encontro da Cúpula do Sul, envolvendo 133 países em 2000. Sua declaração, certamente tendo em mente o bombardeio contra a Sérvia, rejeitou o "chamado 'direito' de intervenção humanitária, que não tem base legal na Carta das Nações Unidas ou nos princípios legais da lei internacional".

Os termos reafirmam a Declaração das Nações Unidas sobre Relações Amistosas (1970). Eles foram repetidos várias vezes desde então, entre outros pelo Encontro Ministerial do Movimento de Países Não-alinhados, na Malásia em 2006, novamente representando as vítimas tradicionais na Ásia, África, América Latina e mundo árabe.

A mesma conclusão foi apresentada em 2004 pelo Painel de Alto Nível das Nações Unidas sobre Ameaças, Desafios e Mudanças. O painel concluiu que o Artigo 51 da Carta da ONU "não precisa de adendo e nem restrição ao seu campo bem-entendido".

O painel acrescentou: "Para aqueles impacientes com essa resposta, esta deve ser a de que, em um mundo cheio de ameaças potenciais percebidas, o risco para a ordem global, assim como para a norma de não-intervenção na qual continua baseada, é simplesmente grande demais para ser aceita a legalidade de uma ação preventiva unilateral, diferente de uma ação endossada coletivamente. Permitir que um aja dessa forma significa permitir todos" -o que é, claramente, impensável.

A mesma posição básica foi adotada pela Cúpula Mundial das Nações Unidas em 2005. A Cúpula também declarou a disposição de "adotar uma ação coletiva (...) por intermédio do Conselho de Segurança, de acordo com a Carta, (...) caso meios pacíficos sejam inadequados e as autoridades nacionais estejam evidentemente fracassando em proteger suas populações" de crimes sérios.

Quanto muito, a frase reforça os termos do Artigo 42, que autoriza o Conselho de Segurança a recorrer à força. E a frase mantém o esqueleto no armário -se pudermos considerar o Conselho de Segurança como um árbitro neutro, não sujeito à máxima de Tucídides.

Essa suposição, entretanto, não é defensável.

O Conselho é controlado pelos seus cinco membros permanentes e eles não são iguais em autoridade operacional. Uma indicação é o histórico de vetos -a forma mais extrema de violação de uma Resolução do Conselho de Segurança.

Durante o último quarto de século, China e França vetaram juntas 7 resoluções; a Rússia, 6; o Reino Unido,10; e os Estados Unidos, 45, incluindo até mesmo resoluções exigindo que os Estados cumprissem a lei internacional.

Uma forma de atenuar este defeito no consenso da Cúpula Mundial seria eliminar o veto, de acordo com a vontade da maioria da população americana. Mas essas heresias são impensáveis, assim como aplicar a R2P no momento àqueles que necessitam desesperadamente de proteção, mas não estão na lista de interesse dos poderosos.

Ocorreram alguns desvios da restrição do Canal de Corfu e suas descendentes. A Lei de Constituição da União Africana (UA) afirma "o direito da União de intervir em um país membro... em caso de circunstâncias graves". Isso difere da Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA), que proíbe a intervenção, "por quaisquer motivos, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro Estado".

O motivo para a diferença é claro. A Carta da OEA busca impedir a intervenção por parte dos Estados Unidos, mas após o desaparecimento dos Estados de apartheid, a UA não enfrenta problema semelhante.

Eu tenho conhecimento de apenas uma proposta de alto nível para estender a R2P além do consenso da Cúpula e da extensão da UA: o Relatório sobre Responsabilidade de Proteger da Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania Estatal (2001).

A comissão considera a situação na qual "o Conselho de Segurança rejeita uma proposta ou fracassa em tratar dela em um prazo razoável". Neste caso, o relatório autoriza "ação dentro da área de jurisdição por organizações regionais ou sub-regionais (...) sujeitas a buscarem autorização subsequente do Conselho de Segurança".

A esta altura, o esqueleto no armário se agita de modo barulhento. Os poderosos determinam unilateralmente sua própria "área de jurisdição". A OEA e a UA não podem fazê-lo, mas a Otan pode, e faz.

A Otan determinou que sua "área de jurisdição" se estende até os Bálcãs, Afeganistão e além.

Os direitos expansivos acertados pela Comissão Internacional se restringem na prática apenas à Otan, violando os princípios do Canal de Corfu e abrindo a porta para a R2P como uma arma de intervenção imperial à vontade.

A "responsabilidade de proteger" sempre foi seletiva. Logo, não se aplica às sanções contra o Iraque impostas pelos Estados Unidos e Reino Unido e administradas pelo Conselho de Segurança, condenadas como "genocidas" pelos distintos diplomatas encarregados, que renunciaram em protesto.

Também não se pensa hoje em aplicar o R2P à população de Gaza, uma "população protegida" pela qual a ONU é responsável.

E nada sério é contemplado a respeito da pior catástrofe na África, se não do mundo: o conflito homicida no leste do Congo. Lá, como noticiou a "BBC", multinacionais são novamente acusadas de violar uma resolução da ONU contra o comércio ilícito de minerais valiosos -que financia a violência.

A R2P também não é invocada para responder à fome em massa nos países pobres.

Há vários anos, a Unicef relatou que 16 mil crianças morrem por dia por falta de comida, muitas mais por doenças de fácil prevenção. Os números são maiores agora. Apenas no sul da África equivale a uma mortandade como a de Ruanda, mas não por 100 dias, mas todo dia. Uma ação segundo a R2P seria fácil se houvesse vontade.

Nestes e em numerosos outros casos a seletividade se encaixa na máxima de Tucídides e nas expectativas da Corte Internacional de Justiça há 60 anos.

Mas as máximas que em grande parte guiam os assuntos internacionais não são imutáveis e, de fato, se tornaram menos severas ao longo dos anos, em consequência do efeito civilizador dos movimentos populares.

Para essa reforma progressiva, a R2P pode ser um instrumento valioso, tanto quanto tem sido a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Apesar dos Estados não aderirem à Declaração Universal, e alguns formalmente rejeitarem grande parte dela (incluindo o Estado mais poderoso do mundo), todavia ela serve como um ideal para o qual os ativistas podem apelar em esforços educativos e de organização, frequentemente de forma eficaz.

A discussão da R2P pode ser semelhante. Com compromisso suficiente, infelizmente ainda não detectável entre os poderosos, ela poderia ser de fato significativa.

Tradução: George El Khouri Andolfato

domingo, julho 26, 2009

"Toda uma indústria está esperando por uma pandemia", diz epidemiologista

Der Spiegel

Johann Grolle e Veronika Hackenbroch.

Nas últimas semanas, o mundo foi tomado pelo medo da gripe suína. Em entrevista à "Spiegel", o epidemiologista Tom Jefferson fala sobre os perigos da pesquisa científica desvirtuada, que lucra com o medo, e também porque deveríamos lavar nossas mãos com muito mais frequência.

Spiegel: Sr. Jefferson, o mundo está vivendo com medo da gripe suína. Alguns preveem que, no próximo inverno, um terço da população mundial possa estar infectada. O senhor está preocupado? O senhor e sua família tomam alguma precaução?
Tom Jefferson: Eu lavo minhas mãos com muita frequência - e não somente por causa da gripe suína. Isso é porque esta talvez seja a precaução mais eficiente que existe contra todos os vírus respiratórios, e também contra a maioria dos vírus e germes gastrointestinais.

Spiegel: O senhor considera a gripe suína especialmente preocupante?
Jefferson: É verdade que os vírus da influenza são imprevisíveis, então demandam um certo grau de cautela. Mas uma das características extraordinárias dessa influenza - e de toda a saga da influenza - é que há algumas pessoas que fazem previsões ano após ano, e essas previsões ficam cada dia piores. Nenhuma delas aconteceu até agora, e essas pessoas continuam fazendo suas previsões. Por exemplo, o que aconteceu com a gripe aviária, que supostamente mataria a todos nós?
Nada. Mas isso não impede que essas pessoas sempre façam essas previsões. Às vezes, dá a impressão de que existe toda uma indústria quase que esperando que uma pandemia aconteça.

Spiegel: A quem o senhor se refere? À Organização Mundial de Saúde (OMS)?
Jefferson: A OMS e autoridades de saúde pública, virologistas e companhias farmacêuticas. Eles construíram esta máquina em torno de uma pandemia iminente. E há muito dinheiro envolvido, e influência, e carreiras, e instituições inteiras! E bastou que um dos vírus da influenza sofresse uma mutação para fazer a máquina funcionar.

Spiegel: Eu seu site em italiano, há uma "contagem regressiva para a pandemia" que expira em 1º de abril. O senhor não acha que a situação exige um pouco mais de seriedade?
Jefferson: Estou só usando isso ironicamente para expor a falsa certeza com que nos alimentam. Será que um terço da população do mundo contrairá a gripe suína? Ninguém pode dizer isso com certeza no momento. Por enquanto, pelo menos, eu não vejo nenhuma diferença fundamental, nenhuma diferença na definição entre esta e uma epidemia de gripe comum. A gripe suína poderia até ter passado despercebida se tivesse sido causada por algum vírus desconhecido e não por um vírus influenza.

Spiegel: O senhor acha que a OMS declarou a pandemia precipitadamente?
Jefferson: Você não acha que é curioso o fato de que a OMS mudou sua definição de pandemia? A antiga definição era a de um vírus novo, que se espalhava rapidamente, para o qual não há imunização e que tinha uma alta taxa de incidência e mortalidade. Agora essas duas últimas características foram abandonadas, e foi assim que a gripe suína foi categorizada como uma pandemia.

Spiegel: Mas ano após ano, 10 a 30 mil pessoas morrem só na Alemanha por causa da influenza. No mundo ocidental, a influenza é a doença infecciosa mais fatal que existe.
Jefferson: Espere aí! Esses números não são nada mais do que estimativas. Acima de tudo, é preciso distinguir entre uma doença parecida com a influenza e a gripe propriamente dita, a influenza verdadeira. Ambas têm os mesmos sintomas: uma febre alta súbita, garganta ardendo, tosse, dor reumática nas costas e pernas, possível bronquite e pneumonia. Mas as gripes verdadeiras, as influenzas verdadeiras, são causadas apenas pelos vírus influenza, enquanto há mais de 200 vírus diferentes que causam doenças parecidas com a influenza. No que diz respeito aos números relacionados às mortes atribuídas à gripe, sempre existem outras causas, provocadas pela combinação de outros vírus. Agora, no caso das pessoas idosas que morrem de pneumonia, ninguém faria um exame de autópsia para descobrir se foi de fato um vírus influenza que as matou. Aproximadamente 7% dos casos de doenças parecidas com a influenza são causados pelos vírus influenza. É uma porcentagem muito pequena. O que eu sei é que a influenza verdadeira é sistematicamente superestimada.

Spiegel: E o que dizer desses outros 200 tipos de vírus?
Jefferson: Eles não são tão populares quanto a influenza. Os pesquisadores simplesmente não etão interessados nisso. Pegue o rhinovirus, por exemplo, um vírus derivado dos cavalos. É o agente isolado mais comumente associado aos resfriados comuns. Há centenas de tipos diferentes desses rhinovirus. Eles normalmente causam apenas coriza, mas também podem ser fatais. Ou o chamado RSV, o vírus respiratório sincicial humano, que é muito perigoso para crianças e bebês.

Spiegel: Então por que os pesquisadores não estão interessados?
Jefferson: É fácil. Eles não conseguem ganhar dinheiro com isso.
Com os rhinovirus, o RSV e a maioria dos outros vírus, é difícil ganhar muito dinheiro ou construir uma carreira com eles. Contra a influenza, entretanto, há vacinas, e há remédios que podem ser vendidos. E é aí que está o dinheiro investimento da indústria farmacêutica. Isso garante que a pesquisa do influenza seja publicada em bons jornais. E é por isso que há mais atenção para esse assunto, e todo o campo da pesquisa se torna interessante para cientistas ambiciosos.

Spiegel: Mas há alguma razão científica para se interessar pelos vírus influenza?
Jefferson: O interesse restrito sobre o influenza não é apenas um desvio; também é algo perigoso. Você lembra de uma coisa chamada Sars?
Essa foi uma epidemia verdadeiramente perigosa. Foi como um meteoro:
chegou e foi embora com rapidez, e matou muita gente. A Sars nos pegou de surpresa porque era causada por um coronavirus totalmente desconhecido. De onde ele veio? Para onde foi? Ou continua existindo? Ainda não sabemos. Há muitas coisas estranhas como esta que continuam aparecendo. Todo ano, um novo agente é identificado. Por exemplo, há uma coisa chamada bocavirus, que pode causar bronquite e pneumonia em crianças pequenas. E há outra chamada metapneumovirus, que os estudos dizem que é responsável por mais de 5% de todas as doenças relacionadas à gripe. Então, devíamos manter nossos olhos abertos em todas as direções!

Spiegel: Mas a grande pandemia de 1918 e 1919 foi causada por um vírus influenza, e matou cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Ou os cientistas contestam isso?
Jefferson: É muito provável que tenha sido assim, mas há muitos aspectos sobre a pandemia de 1918 e 1919 que ainda nos deixam intrigados. Fazem apenas 12 anos que descobrimos que o vírus H1N1 havia causado a pandemia. Mas também havia muita atividade bacteriana acontecendo na época. E sobretudo não está claro porque a taxa de mortalidade da gripe caiu de forma tão dramática depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje, há apenas uma fração do que era o padrão antes da guerra. No que diz respeito às pandemias posteriores, como a "gripe asiática" de 1957 ou a "gripe de Hong Kong" de 1968 e 1969, mal se consegue detectá-las como uma taxa excepcional de mortalidade em relação às estatísticas de morte como um todo.

Spiegel: Então por que chegamos a falar sobre pandemias?
Jefferson: Isso é algo que você deveria perguntar à Organização Mundial de Saúde!

Spiegel:,/B> Em sua opinião, o que é necessário para que um vírus como o da gripe suína se torne uma ameaça global?
Jefferson: Infelizmente, só podemos dizer que não sabemos. Eu suspeito que todo o assunto seja muito mais complexo do que somos capazes de imaginar hoje. Levando em conta todos os vírus que produzem sintomas parecidos com o da gripe, talvez o postulado de Robert Koch de que um patógeno específica provoca uma doença específica não vá longe o suficiente. Por que, por exemplo, nós não pegamos gripe no verão? Afinal, o patógeno está lá o ano inteiro! Já no século 19, o químico e higienista alemão Max von Pettenkofer havia desenvolvido uma teoria sobre como o contato do patógeno com o ambiente pode alterar a doença. Acho que valeria à pena a pesquisa nessa direção. Talvez isso nos fizesse entender melhor a pandemia de 1918 e 1919 ou nos tornasse mais capazes de compreender os perigos da gripe suína.

Spiegel: Os humanos têm melhores defesas hoje do que tinham em 1918, e provavelmente não vai levar muito tempo para que tenhamos uma vacina contra a gripe suína. Na semana passada, o governo federal da Alemanha anunciou que queria comprar o suficiente para 30% da população. Quanto o senhor acha que é necessário para nos proteger?
Jefferson: No que diz respeito à vacinação pandêmica, como dizemos em inglês, a prova está no pudim. A prova está em usá-la. Nós veremos.
Ela gera uma resposta de anticorpos, mas será que realmente vai prevenir a doença?

Spiegel: O senhor é pessimista em relação a isso?
Jefferson: Não, estou apenas dizendo que nós estamos prestes a descobrir (risos). Vamos conversar novamente daqui a um ano, que tal?

Spiegel: Durante vários anos, como integrante da Cochrane Collaboration, o senhor tem sistematicamente avaliado todos os estudos sobre imunização contra a influenza sazonal. Ela funciona bem?
Jefferson: Não exatamente bem. Uma vacina contra a influenza não funciona para a maioria das doenças parecidas com influenza porque é projetada apenas para combater os vírus influenza. Por esse motivo, a vacina não muda nada em relação às altas taxas de mortalidade durante os meses de inverno. E, mesmo nos melhores casos, a vacina funciona apenas num grau limitado contra os vírus influenza. Entre outras coisas, há sempre o perigo de que o vírus da gripe em circulação tenha mudado no momento em que a vacina comercializável está pronta, e como resultado, na pior das hipóteses, a vacina será totalmente ineficaz.
No melhor dos casos, os poucos estudos decentes que existem mostram que a vacina funciona principalmente com adultos jovens e saudáveis.
Com as crianças e os idosos, ajuda só um pouco, quando ajuda.

Spiegel: Mas não são exatamente esses os grupos para os quais se recomenda a imunização contra a influenza?
Jefferson: De fato. Essa é uma das contradições entre as descobertas científicas e a prática, entre as evidências e as políticas.

Spiegel: Então, o que está por trás dessa contradição?
Jefferson: É claro que isso tem algo a ver com a influência da indústria farmacêutica. Mas também tem a ver com o fato de que a importância da influenza é completamente superestimada. Isso tem a ver com fundos de pesquisa, poder, influência e reputações científicas!

Spiegel: Então, nesse momento é razoável manter a vacinação contra a influenza sazonal?
Jefferson: Não consigo ver nenhuma razão para isso, mas não sou um tomador de decisões.

Spiegel: E quanto ao Tamiflu e Relenza, dois dos medicamentos antigripais que estão sendo usados contra a gripe suína? Qual é a eficácia deles?
Jefferson: Se for tomado na hora certa, em média, o Tamiflu reduz a duração da influenza verdadeira em um dia. Um estudo também descobriu que ele diminui o risco de pneumonia.

Spiegel: Esses medicamentos podem baixar as taxas de mortalidade associadas à gripe?
Jefferson: Isso é possível, mas ainda tem de ser cientificamente provado.

Spiegel: E quanto aos efeitos colaterais?
Jefferson: O Tamiflu pode provocar náusea. E há relatos que indicam efeitos colaterais psiquiátricos. Há relatos vindos do Japão de que jovens que tomaram Tamiflu tiveram reações psicóticas agudas similares às encontradas nos esquizofrênicos.

Spiegel: Então, é sensato usar esses medicamentos?
Jefferson: Nos casos severos, sim. Mas sob nenhuma circunstância o Tamiflu deve ser oferecido a escolas inteiras, como tem sido feito atualmente em algumas situações. Nessas circunstâncias, não me surpreende em nada o fato de que já estamos ouvindo relatos de variedades resistentes da gripe suína.

Spiegel: Na Alemanha, o governo deve estocar medicamentos para a gripe para 20% da população. O senhor acha que isso é sensato?
Jefferson: Bem, pelo menos há formas muito mais simples de fazer muito mais. Por exemplo, deveria-se ensinar as crianças nas escolas a lavarem as mãos regularmente - de preferência antes de cada aula! E todos os aeroportos deveriam instalar algumas centenas de pias.
Qualquer um que desça de um avião e não lave as mãos deveria ser parado pela polícia de fronteira. É possível saber, por exemplo, colocando uma tintura invisível e neutra na água. E usar máscaras também é sensato.

Mais sobre o entrevistado

Tom Jefferson, 55, trabalhou para a Cochrane Collaboration por 15 anos. Junto com uma equipe internacional de cientistas, ele avalia todos os estudos publicados relacionados à gripe. Antes de assumir sua atual posição, ele era clínico geral no Exército Britânico. Ele mora perto de Roma
Spiegel: De fato foi comprovado que essas medidas funcionam?
Jefferson: Há vários bons estudos sobre isso que foram feitos durante a epidemia de Sars. São estudos de caso controlados que examinaram indivíduos que tiveram contato próximo com o vírus da Sars. Eles compararam as características daqueles que haviam sido infectados com o vírus durante esse contato com as das pessoas que não foram infectadas. Esses estudos tiveram resultados muito claros.

Spiegel: O senhor parece bastante impressionado.
Jefferson: Estou. O que é ótimo em relação a essas medidas não é só o fato de elas serem baratas, mas também que elas podem combater mais do que os vírus da influenza. Esse método pode combater os 200 patógenos que produzem sintomas de gripe, assim como vírus gastrointestinais e germes totalmente desconhecidos. Um estudo feito no Paquistão mostrou que lavar as mãos pode até mesmo salvar as vidas das crianças. Alguém deveria ganhar um prêmio Nobel por isso!

sábado, julho 18, 2009

Rio terá 5 hospitais federais blindados contra tiroteios

Rio de Janeiro

Cinco dos seis hospitais da rede federal no Rio serão blindados. As unidades estão em regiões consideradas áreas de risco, por conta de constantes tiroteios entre traficantes de facções rivais e confrontos com a polícia. No fim da tarde de ontem, uma bala perdida atingiu o centro cirúrgico do Hospital Geral de Bonsucesso que está entre os que receberão o reforço. O tiro destruiu um equipamento de leitura de slides de Raio X. Ninguém ficou ferido.

Os hospitais terão diferentes proteções contra disparos de arma de fogo - as intervenções preveem a construção de muros de concreto, distantes cerca de um metro dos prédios, instalação de venezianas de aço (brie-soleil, no termo técnico) e até mesmo a blindagem de vidros, em alguns casos. "Vamos usar todos os mecanismos para evitar qualquer risco para a população e o servidor", afirmou o diretor da Rede Hospitalar Federal no Rio, Oscar Berro. Ele explicou que nem todos os prédios dos hospitais vão precisar de intervenções. "Os edifícios foram construídos de forma que um protege o outro. Nas salas que ficam mais expostas, a intenção é redirecionar serviços para áreas com menos risco. Se isso não for possível, vamos adotar as medidas de proteção."

Receberão a blindagem os hospitais de Ipanema, na zona sul, vizinho da favela Pavão-Pavãozinho; dos Servidores, no centro, próximo ao Morro da Providência; do Andaraí, na zona norte, perto da favela do Cruz e do Morro do Andaraí; o HGB, no subúrbio, cercado pelos complexos de Manguinhos e da Maré; e o Cardoso Fontes, na zona oeste, perto do Morro São José Operário. A única instituição federal que não passará pela reforma é o Hospital da Lagoa, na zona sul.

O diretor ressaltou que a decisão de reforçar a segurança nos hospitais não foi motivada pela bala perdida que atingiu o centro cirúrgico do HGB. Segundo ele, a medida já havia sido acertada há cinco meses, quando foi lançado o projeto de reestruturação e qualificação dos hospitais federais no Rio. O programa prevê gastos de R$ 500 milhões em qualificação profissional e modernização de equipamentos. Da verba total, R$ 110 milhões serão destinadas a intervenções arquitetônicas, o que inclui a blindagem. O projeto será concluído em dois anos.

quarta-feira, junho 10, 2009

Milionésima palavra em inglês deve surgir nesta quarta-feira, diz empresa

LAWRENCE POLLARD
da BBC, em Londres

A milionésima nova palavra da língua inglesa será criada nesta quarta-feira, segundo a empresa americana Global Language Monitor (GLM).

A companhia com base no Estado do Texas vive de "varrer" a rede mundial de computadores para informar seus clientes sobre quantas vezes eles são mencionados.

Da mesma maneira, a GLM encontra novas palavras e, quando uma delas é usada 25 mil vezes, a empresa a reconhece como um novo termo.

Segundo uma estimativa interna de que uma nova palavra é criada na língua inglesa a cada 98 minutos, a GLM calcula que o termo de número 1.000.000 está para aparecer "a qualquer momento".

Polêmica

No entanto, lexicógrafos --especialistas na elaboração de dicionários-- questionam a estimativa e os métodos da Global Language Monitor.

Para incluir um termo em um dicionário, os especialistas seguem uma série de critérios mais rígidos, como por exemplo, o uso da palavra durante um certo período de tempo.

Segundo lexicógrafos, é impossível dizer exatamente quantas palavras tem a língua inglesa. Mas eles concordam que se forem contados cada termo técnico ou palavra obscura usada por algum grupo de profissionais, o idioma já conta com mais de 1 milhão deles.

Se jargões não forem considerados, é possível que a língua tenha cerca de 750 mil palavras, de acordo com lexicógrafos.

Uma pessoa nativa ou muito fluente em inglês utiliza ou conhece entre 20 a 40 mil palavras. Mas a maioria das pessoas "se vira" com alguns milhares de termos.

Atualmente, estima-se que 1,5 bilhão de pessoas falem inglês ou alguma versão do idioma no mundo -- fazendo dele a língua que mais cresce no planeta atualmente.

domingo, maio 03, 2009

A visão moderna dos gênios

The New York Times
David Brooks

Algumas pessoas vivem em eras românticas. Elas tendem a acreditar que o gênio é o produto de uma centelha divina. Acreditam que houve, no decorrer das eras, modelos de grandeza - Dante, Mozart, Einstein - cujos talentos superaram em muito a compreensão normal, que tinham um acesso sobrenatural à verdade transcendental e que podem ser abordados da melhor forma com um respeito reverencial.

Nós, é claro, vivemos em uma era científica, e a pesquisa moderna desmonta o pensamento mágico. Segundo a ótica atualmente dominante, nem mesmo as habilidades precoces de Mozart foram o produto de algum dom espiritual inato. As suas primeiras composições nada tinham de especial. Eram imitações de trabalhos de outras pessoas. Mozart era um bom músico em tenra idade, mas ele não teria se destacado entre as melhores crianças instrumentistas de hoje.

Atualmente acreditamos que, o que Mozart realmente possuía era a mesma coisa que Tiger Woods tem, - a capacidade de concentrar-se por longos períodos e uma determinação em melhorar as suas capacidades. Mozart tocava piano bastante quando era muito novo, de forma que obteve as suas 10 mil horas de prática bem cedo e a partir daí construiu o seu percurso.

As pesquisas mais recentes sugerem uma visão de mundo mais prosaica, democrática e até mesmo puritana. O fator fundamental que distingue os gênios daqueles que são meramente bem sucedidos não é uma centelha divina. Não é o coeficiente de inteligência (QI) - geralmente um mal previsor de sucesso - nem mesmo em áreas como o xadrez. Em vez disso, é a prática deliberada. Os indivíduos que mais se destacam são aqueles que passam horas (muito mais horas) praticando rigorosamente os seus talentos.

A recente pesquisa foi realizada por pessoas como K. Anders Ericsson, o falecido Benjamin Bloom e outros. Ela foi resumida em dois livros agradáveis: "The Talent Code" ("O Código do Talento"), de Daniel Coyle; e "Talent is Overrated" (algo como, "A Importância Atribuída ao Talento é Exagerada"), de Geoff Colvin.

Se você quiser entender como um gênio típico pode se desenvolver, imagine o caso de uma garota que possua uma habilidade verbal ligeiramente acima da média. Não precisa ser um grande talento, apenas o suficiente para que ela possa obter alguma espécie de distinção. A seguir, você faria com que ela conhecesse, digamos, um romancista, que coincidentemente compartilhasse algumas das mesmas características biográficas. Talvez o escritor fosse da mesma cidade, tivesse a mesma origem étnica, ou tivesse nascido no mesmo dia - qualquer coisa que criasse uma sensação de afinidade.

Esse contato daria à garota uma imagem da sua pessoa no futuro. Coyle enfatiza que isso proporcionaria a ela vislumbrar um círculo encantado no qual algum dia pudesse ingressar. E também seria útil se um dos seus pais morresse quando ela tivesse 12 anos, injetando nela uma profunda sensação de insegurança e alimentando uma necessidade desesperada de sucesso.

Armada com essa ambição, ela leria romances e biografias literárias exaustivamente. Isso lhe daria um conhecimento basilar da sua área. Ela seria capaz de agrupar os romancistas vitorianos em um grupo, os realistas mágicos em outro grupo e os poetas da renascença em um outro. Essa capacidade de agrupar informações em padrões, ou blocos, melhora enormemente as habilidade vinculadas à memória. Ela teria a capacidade de avaliar novos textos de maneiras mais profundas e de perceber rapidamente a estruturas internas desses trabalhos.

A seguir ela praticaria a redação. A sua prática seria lenta, árdua e concentrada nos erros. Segundo Colvin, Benjamin Franklin retiraria ensaios da revista "The Spectator" e os transformaria em versos. A seguir, ele os passaria novamente para prosa e examinaria, sentença por sentença, em que trechos o seu ensaio fosse inferior ao original da "The Spectator".

Coyle descreve uma academia de tênis na Rússia onde simulam-se jogos sem bola. O objetivo é a concentração meticulosa na técnica (tente reduzir a velocidade da sua tacada de golfe, de forma que ela dure 90 segundos. Veja quantos erros serão detectados).

Ao praticar dessa forma, o indivíduo adia os processos automáticos. A mente deseja transformar habilidades voluntárias e recém-aprendidas em outras inconscientes, que sejam concretizadas automaticamente. Mas a mente não é rigorosa, e vai se contentar com o que for suficientemente bom. Ao praticar lentamente, ao dividir as técnicas em pequenas frações e repeti-las, o estudante esforçado obriga o cérebro a internalizar um melhor padrão de desempenho.

A seguir a nossa jovem escritora encontraria um mentor que forneceria uma série constante de feedbacks, observando o desempenho dela de fora, corrigindo os seus menores erros, pressionando-a para que enfrentasse desafios maiores. A esta altura ela estaria trabalhando novamente com problemas anteriores - como obter personagens em uma sala - dezenas e dezenas de vezes. Ela estaria cristalizando hábitos de pensamento aos quais poderia recorrer para entender ou resolver futuros problemas.

A característica principal que ela possui não é nenhuma genialidade misteriosa. É a capacidade de desenvolver uma rotina de prática deliberada, árdua e entediante.

Coyle e Colvin descrevem dezenas de experiências que analisam esse processo. Essa pesquisa retira parte da mágica que envolve as grandes realizações. Mas ela sublinha um fato que é frequentemente negligenciado. A discussão pública está cativada pela genética e por aquilo que estamos inatamente "programados" para fazer. E é verdade que os genes impõem um limite sobre as nossas capacidades. Mas o cérebro é também dotado de uma plasticidade fenomenal. Nós nos construímos por meio do comportamento. Conforme Coyle observa, não se trata de quem você é, mas daquilo que você faz.

domingo, abril 19, 2009

Pai tenta vender atriz de "Quem Quer Ser um Milionário?"

da Folha Online

O pai da atriz Rubina Ali, 9, que interpretou a personagem Latika quando criança no filme vencedor do Oscar "Quem Quer Ser um Milionário?", está tentando vender a menina, informa o site de notícias britânico "News of the World".

A informação foi passada pelo pai da atriz após a reportagem se identificar como um suposto interessado na compra da criança.

De acordo com a reportagem, para fugir da pobreza na Índia, o pai da atriz quer vendê-la por 200 mil libras (cerca de R$ 647 mil). "Preciso pensar no que é melhor para mim, minha família e para o futuro de Rubina", disse o pai da criança para a publicação.

O pai de Rubina, chamado Rafiq, ainda tentou culpar os empresários de Hollywood por o forçarem a colocar a menina à venda. "Não ganhamos nada com esse filme", declarou.

De acordo com a reportagem, a quantia pedida por Rafiq atualmente representa quatro vezes o valor inicial. "Essa criança é especial agora. Ela não é uma criança qualquer, é uma criança vencedora do Oscar", afirmou.

Para o "News of the World", o pai da menina está desesperado para vendê-la. Para ele, a venda da criança representa a fuga de sua família de uma favela de Mumbai.

sexta-feira, abril 17, 2009

The Pirate Bay

Uma corte de Estocolmo, na Suécia, condenou a um ano de prisão os quatro fundadores do The Pirate Bay (TPB), o mais popular site de compartilhamento de arquivos do mundo, nesta sexta-feira.

Frederik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Carl Lundstrom e Peter Sunde foram considerados culpados da acusação de violar leis de direitos autorais, e ainda foram condenados a pagar uma indenização de 30 milhões de coroas suecas (aproximadamente US$ 3,55 milhões) por perdas e danos.

O dinheiro irá para várias empresas da indústria do entretenimento, como Warner Bros, Sony, EMI e Columbia Pictures.

Apesar da condenação, Sunde disse, em uma nota no site de comunicação instantânea Twitter, que "nada vai acontecer com o TPB, isto foi apenas um grande teatro para a imprensa".

Ele conta ainda que soube na noite de quinta-feira que "havíamos perdido". "Agora até veredictos ficam conhecidos antes de serem divulgados oficialmente."

"Sem princípios"

Em uma entrevista à BBC, John Kennedy, diretor do departamento de indústria da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), disse que a sentença obtida na Suécia traz uma mensagem clara.

"Esses caras não agiram com princípios. O que queriam era forrar seus próprios bolsos", afirmou. "Não há nada de mérito no comportamento deles."

"O Pirate Bay provocou danos imensos e multa que eles foram condenados a pagar não chegam nem perto de ser uma compensação", disse Kennedy.

"Havia uma ideia geral de que fazer pirataria é OK e que a indústria fonográfica deveria simplesmente aceitar isso. Mas este veredicto vai mudar essa situação", concluiu.

O Pirate Bay foi fundado em 2003 pela organização anti-direitos autorais Piratbyran, mas nos últimos cinco anos, ele passou a ser administrado por indivíduos.

Através do site, milhões de arquivos são trocados a cada dia entre internautas.

Os servidores do Pirate Bay não hospedam conteúdos de direitos autorais, mas sim links para arquivos de vídeo e música mantidos nos computadores de seus usuários.

No início da semana, os quatro rapazes disseram que iriam recorrer da sentença caso fossem condenados.

terça-feira, abril 14, 2009

domingo, abril 12, 2009

Erupção de vulcão pode afetar fauna nas ilhas Galápagos

da France Presse, em Quito

A erupção do vulcão Fernandina, situado em uma ilha homônima do arquipélago de Galápagos, que aconteceu neste sábado (11), pode afetar a fauna local, há três décadas Patrimônio Natural da Humanidade, informou o Parque Nacional Galápagos (PNG).

"É provável que as iguanas terrestres e marinhas e outras espécies de fauna marinha, como lobos, vejam-se afetadas por esse acontecimento, considerando-se que a lava está chegando ao mar", anunciou o organismo em um comunicado.

O Fernandina, de 1.476 metros de altura, é o vulcão mais a oeste do arquipélago e está em uma região desabitada, embora a ilha em que se encontre abrigue espécies de flora e fauna protegidas.

A população mais próxima ao vulcão é Puerto Villamil, a cerca de 90 quilômetros de distância, que é a capital da ilha Isabela.

quinta-feira, abril 02, 2009

Após 72 anos, novela mais antiga do mundo chega ao fim

NOVA YORK (Reuters) - A novela mais antiga do mundo, "Guiding Light", exibirá seu capítulo final em setembro na CBS devido à forte queda em sua audiência, finalizando uma era de 72 anos iniciada no rádio. A informação dada nesta quarta-feira é da CBS.

O programa matinal foi transferido da rádio NBC para a televisão CBS em 1952. Durante sua trajetória, conquistou 69 prêmios Emmy.

O Guinness, livro dos recordes, considera a "Guiding" como o drama mais antigo da TV. Mais de 15.700 episódios terão sido transmitidos quando seu último capítulo for exibido, no dia 18 de setembro.

"'Guiding Light' alcançou um marco na história da televisão que nunca será alcançado; cruzou meios, adaptou suas histórias à décadas de mudanças sociais e se pôs entre gerações de audiências como nenhuma outra", disse Nancy Tellem, presidente da CBS Paramount Network Television Entertainment Group.

"Estamos trabalhando duro para encontrar uma nova casa para a novela, e estamos explorando todas as opções para seguirmos dando aos nossos leais fãs os personagens e histórias que eles amam", disse Brian T. Cahill, vice-presidente e diretor-executivo da TeleNext Media, que produz a série.

(Reportagem de Michelle Nichols)

segunda-feira, março 30, 2009

primeiro post pessoal em anos

tenho pensado muito na vaidade, na insegurança e no medo, nos segredos e na sorte.

domingo, março 22, 2009

Fórum de Istambul termina sem reconhecer água como direito humano

ANDRÉS MOURENZA
da Efe, em Istambul


O Fórum Mundial da Água (FMA) terminou neste domingo em Istambul mostrando a clara divisão entre os Estados no momento de se comprometer a garantir o acesso à água como um direito essencial de todo ser humano.

Durante toda a semana, aproximadamente 25 mil participantes --entre líderes políticos, especialistas, empresas e ONGs-- discutiram as questões mais polêmicas em torno deste recurso, como as secas, a reciclagem das águas residuais, a distribuição e a gestão da água.

Ao mesmo tempo, ONGs e associações críticas com o fato de que o fórum seja organizado pelo Conselho Mundial de Água (CMA), uma instituição de caráter privado, se encontraram em diversas atividades paralelas de protesto, algumas reprimidas pela polícia.

Pelo menos 17 ativistas turcos foram detidos no protesto do primeiro dia, e dois membros da ONG International Rivers foram deportados pelo governo turco.

A declaração final, assinada pelas delegações dos 150 países participantes (70 deles representados em nível ministerial), foi apresentada hoje em ocasião do Dia Mundial de Água.

Nela, os Estados signatários advertem para a necessidade de conseguir segurança no setor da água, em um mundo em que se enfrenta mudanças globais rápidos e sem precedentes, incluindo o crescimento da população, as migrações, a urbanização, a mudança climática e a desertificação, entre outros.

Por isso, se comprometem a intensificar os esforços para conseguir cumprir os Objetivos do Milênio das Nações Unidas, embora a declaração não seja vinculativa para os países signatários.

No entanto, o tema que mais debate gerou durante as negociações finais foi o direito à água, que terminou sem consenso, explicou no sábado a presidente do processo político, Sumru Noyan.

Assim, na Declaração Ministerial de Istambul não se chegou a decretar a água um direito humano, como exigiam os movimentos sociais e ecologistas e vários países latino-americanos.

"Admitimos as discussões dentro da Organização das Nações Unidas sobre os direitos humanos e o acesso à água potável e ao saneamento. Reconhecemos que o acesso à água potável e ao saneamento é uma necessidade humana básica', diz o documento final, que países como a Venezuela se negaram a assinar.

Os organizadores afirmaram que existe consenso entre os Estados com relação ao direito à água, mas não sobre como expressá-lo, pois as diferentes redações têm diversas consequências político-jurídicas.

"Em nenhum documento vinculativo da ONU a água aparece como direito humano", justificou Noyan.

Durante vários dias, as delegações sul-americanas lideradas por Uruguai e Bolívia tentaram pressionar para que se introduzisse o direito humano na declaração, enquanto outros países ofereceram uma redação intermédia que falaria da água como um direito básico.

No entanto, as negociações foram em vão, já que, segundo informaram fontes ligadas à negociação, países como Brasil, Estados Unidos e Egito bloquearam a tentativa de voltar a debater os documentos que tinham chegado à Turquia após as sessões preparatórias que começaram em setembro de 2008.

Finalmente, um grupo de 25 países críticos decidiu assinar uma declaração alternativa na qual, como primeiro ponto, se reconhece o acesso à água e ao saneamento como um direito humano, e os signatários se comprometem a realizar as ações necessárias para a implementação progressiva deste direito.

A declaração complementar tem um segundo ponto, assinado por 16 países latino-americanos, asiáticos e africanos, no qual pede à comunidade internacional para desenvolver um espaço de debate global sobre água no marco da Organização das Nações Unidas, em vez do atual fórum organizado pelo CMA.

Membros dos movimentos sociais se mostraram satisfeitos com o fato de o debate sobre o direito humano ao acesso à água tenha sido instalado no fórum, já que no encontro anterior, no México, em 2006, apenas quatro países (Uruguai, Venezuela, Bolívia e Cuba) apoiaram esse reconhecimento.

segunda-feira, março 16, 2009

Poemas de sem-teto anônimo causam comoção no Japão

Eles são cada vez mais visíveis. Mas os passantes cruzam com eles aparentemente sem vê-los. Indiferentes, constrangidos. Suas sombras furtivas, miseráveis, aqui e ali nas estações ou nos parques, lembram bruscamente a muitos de suas próprias dificuldades. Seu sofrimento parece incorpóreo. Eles não mendigam e sobrevivem dos restos da sociedade de consumo. Essa sociedade os ignora e foge deles, os sem-teto das grandes cidades japonesas. Dois mundos que andam próximos, mas fingem não se ver.

Completamente inquietante, uma voz se eleva deste mundo de "náufragos" da prosperidade. Desde o fim de 2008, o jornal "Asahi" publica poemas curtos de um autor sem-teto que permanece anônimo. E, certamente pela primeira vez, os leitores desse jornal descobrem através de suas palavras esse "povo de baixo" que, durante a noite, dorme em caixas de papelão aos pés daqueles que se apressam para não perder o último metrô.

Como outros jornais, o "Asahi" tem uma coluna poética na qual são publicados poemas do gênero clássico waka, curtos e de beleza austera e melancólica, enviados por leitores que foram selecionados por um júri. Os concursos de poemas pertencem a uma tradição milenar no Japão. E os jornais a seguiram. A julgar pelo número que cartas de incentivo que o "Asahi" recebe, os poemas desse homem miserável, da rua, emocionaram mais do que um leitor.

A canção de Gréco
"Acostumado a viver sem chaves, eu passo o ano novo. De que mais ainda preciso me desapegar?" "Esta rua se chama a rua dos filhos infiéis. Eu não tenho pais, nem filho". "O homem não vive somente de pão, mas eu passo meu dia com o pão distribuído..." Sob uma noite estrelada, essa canção de Juliette Gréco, com letras de Jacques Prévert e música de Joseph Kosma, embalou o seu sono: "Adormecendo sob um céu estrelado, escutei a canção de Gréco. Era só uma ilusão..."

O poeta anônimo assina seus textos com o pseudônimo de Koichi Koda, mas o campo "endereço" que acompanha a publicação do poema, normalmente obrigatório, comporta a simples menção: "sem". O autor provavelmente vive no bairro de Kotobuki-cho, em Yokohama, uma das vilas de albergues decadentes, uma dessas armadilhas da cidade para onde correm os sem-teto.

A letra cuidadosa e a referência à canção de Juliette Gréco (que data dos anos 1950) fazem pensar que o homem é culto e deve ter mais de 70 anos. Logo depois da publicação de seus poemas pelo "Asahi", o poeta anônimo enviou outro: "Ao ler o artigo a meu respeito, como se tratasse de alguma outra pessoa, lágrimas me vieram aos olhos".

O jornal o chamou para que se apresentasse, nem que fosse para lhe pagar a pequena remuneração que acompanha a publicação do poema. "Estou comovido com sua gentileza, mas por enquanto não tenho coragem de entrar em contato com vocês", ele respondeu.

Tradução: Lana Lim