Adeline Gray, uma lutadora do colégio secundário de Chatfield, a sudoeste de Denver, Colorado, está deitada de bruços e faz força para se levantar. Um rapaz de 63 quilos, exatamente o mesmo peso dela, a mantém imobilizada.
E todas as regras tradicionais sobre garotas e garotos adolescentes, como eles devem se comportar e como devem se tocar, estão suspensas.
Gray finalmente se liberta. Ela executa um golpe de tesoura e então enfia uma perna entre as dele. Ela luta para prender o braço dele em um de seus golpes favoritos, a 'asa de galinha'. Travada no combate, a dupla continua quase imóvel até que ela começa a incliná-lo, muito lentamente, e o imobiliza no chão.
A equipe dela vibra.
Ele volta para junto de sua equipe, suportando o tipo de derrota raramente vista em um esporte que não muito tempo atrás era exclusividade masculina.
No ano passado, mais de 5 mil garotas praticaram luta greco-romana em colégios em todos os EUA -contra 112 em 1990, segundo a Federação Nacional de Associações Estaduais de Colégios.
O esporte deverá crescer ainda mais depressa com a inclusão da modalidade feminina nas Olimpíadas e mais mulheres aderindo ao esporte nos campus de colégios e faculdades. A USA Wrestling (Associação Americana de Luta Greco-romana) está fazendo campanha para que a luta feminina seja sancionada como esporte da NCAA (Associação Atlética Nacional de Colégios).
Mas o esporte emergente é um gatilho para polêmica, especialmente em mais de 40 estados onde as garotas de colégios lutam nas equipes dos meninos. Os opositores da luta mista alegam motivos que vão desde o perigo de as garotas se machucarem até a ameaça de os rapazes serem humilhados. E, é claro, há a questão do contato físico.
"A maioria das pessoas simplesmente acha que as mulheres não devem lutar", diz Pat Babi, diretora feminina da USA Wrestling no Colorado. "Um dos maiores problemas é que o Colorado não tem equipes separadas para garotas que querem lutar."
Apesar do crescimento do esporte, os números em muitos estados ainda são baixos demais para justificar equipes separadas. Mas ainda assim algumas garotas estão tendo êxito nesse mundo masculino.
Em 2006, Brooke Sauer, da Golden High School, tornou-se a primeira menina na história do Colorado a se qualificar para o torneio colegial estadual de luta greco-romana. Adeline Gray, 16, espera se sair ainda melhor em fevereiro, quando o Colorado realizar seu campeonato estadual.
"É uma meta dura de alcançar", disse o pai dela, George Gray, um policial de Denver. "Acho que ela vai entrar, mas se conseguirá alcançar o objetivo de ganhar algumas lutas é difícil saber."
Gray é bastante respeitada na escola de Chatfield para ser o capitão da equipe de luta. "Ela é um bom exemplo", diz um dos treinadores, Fred Carrizales. "Esforça-se mais que os meninos e está se sobressaindo."
Quando os lutadores chegam ao ensino do segundo grau, os rapazes têm mais força que as garotas, especialmente na parte superior do corpo. Mas as meninas têm de combater mais que os músculos masculinos.
"Estamos pedindo que as pessoas modifiquem suas definições de feminilidade e masculinidade", disse Katie Downing, uma pioneira campeã do mundo de luta greco-romana feminina que está treinando para as Olimpíadas. Ela acaba de terminar sua tese de mestrado sobre o impacto das mulheres no esporte.
"A luta como foi desenvolvida tem muito a ver com masculinidade e individualidade, todas essas coisas ligadas ao sonho americano", ela disse. "Ela representa tudo o que é masculino há alguns séculos."
Patricia Miranda, a primeira norte-americana a receber uma medalha olímpica em luta greco-romana feminina quando ganhou um bronze em Atenas em 2004, lembra de um momento perturbador no início de sua carreira, depois de vencer um rapaz em sua equipe colegial na Califórnia.
"A mãe dele me confrontou quando eu estava saindo da arena", ela disse. "Ela me deu muitos argumentos de como é injusto as garotas competirem com rapazes. Ela disse que eu coloquei o filho dela numa situação impossível, em que se ele ganhasse era apenas uma garota e se ele perdesse sua vida estaria terminada".
Na época, Miranda era muito menos hábil para se defender.
"Eu deveria ter dito: as garotas não podem lutar sozinhas agora, e se elas querem ter essa experiência -que é maravilhosa para a auto-estima e a autoconfiança-, por que vocês querem barrar a metade da população? Por que a senhora, como mãe, ensina seu filho que a pior coisa é perder para uma garota?"
A maioria das meninas diz que preferiria lutar contra garotas porque os músculos e a força são mais equiparados. Mas somente quatro estados -Texas, Havaí, Washington e Oregon- têm campeonatos estaduais femininos e luta greco-romana feminina como esporte colegial.
O que significa que a maioria dos estados ainda tenta descobrir o que fazer com suas lutadoras.
Tom Beeson, membro do Hall da Fama Nacional dos Lutadores e ex-treinador em colégios do Colorado, disse que muitos meninos vêem isso como uma "situação de perder ou perder".
"Se eles derem uma surra nela, por falta de um melhor termo, é uma garota e não é tão forte, então você deveria vencê-la. Não há respeito ou honra. E se você perder você tem de ir para o basquete".
Arnold Torgerson, membro do Hall da Fama Nacional dos Lutadores, que foi treinador de luta colegial durante 35 anos no Colorado, também é contrário à luta mista.
Ele tem dois filhos e quatro filhas. "Eu sempre ensinei os meninos a respeitar as mulheres e cuidar delas", ele disse. "Agora os treinadores dizem para eles: dê uma surra nela, esfregue o nariz dela no chão. Na minha opinião isso é anti-sexista."
A sexualidade é outra preocupação.
"O colégio é uma época em que os rapazes e as garotas estão começando a sentir suas diferenças", disse Torgerson, que acredita que certos golpes são problemáticos na luta mista.
"Esse é o único esporte que é pele-a-pele. Por isso, quando a pele dos meninos encosta na pele das meninas em alguns lugares onde você agarra e segura, sem intenção, são lugares onde a garota deveria se sentir ofendida, ou ficaria se acontecesse no corredor da escola."
Gray, que luta com seu longo cabelo castanho escondido sob uma touca preta, enfrenta essa discussão o melhor que pode.
"É um esporte muito físico", ela diz. "Eu cresci lutando desde os 6 anos, por isso nunca foi estranho para mim tocar os garotos desse modo. É uma maneira muito diferente de tocar um rapaz, mas não vai ser nada sexual... Este esporte é muito mental e competitivo, e se você for com essa mentalidade vai perder."
Terry Steiner, treinadora feminina nacional da USA Wrestling, diz que qualquer um pode lutar -rapazes gordos e magros, altos e baixos-, então por que as garotas não podem?
Enquanto isso, Gray está concentrada para chegar ao campeonato estadual. "Sou uma mulher quando entro na luta", ela disse. "Mas também sou uma atleta, e é isso que eles precisam entender."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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Um comentário:
vale chute no saco?
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