segunda-feira, outubro 08, 2007

Mundo sem graça

EU QUERIA que você entendesse o seguinte: o New Order era o máximo, o símbolo definitivo do cool. O cabelo do Bernard Sumner, lá por 1985, era o mais legal. Como alguém podia tocar baixo daquele jeito tão louco, quase arrastando no chão, como o Peter Hook? Stephen Morris, baterista, mostrava que a busca da técnica pela técnica era asneira. E a Gillian Gilbert, com aqueles vestidos de vovozinha -como alguém podia ser, ao mesmo tempo, tão vanguarda e tão antimoda?
Sem falar nas lendas. Dizia-se que cada um dos quatro ganhava salário fixo e que não admitiam se vestir com o glamour de rockstars -pareciam bancários de cidade pequena. Uma das músicas do primeiro disco se chamava "ICB" porque a sigla significava "Ian Curtis is Buried" (Ian Curtis está enterrado -ele se suicidou em 1980 e era o líder do Joy Division, que deu origem ao New Order).
Nesse contexto de idolatria envolta em mitos, fui ver os caras no Ibirapuera, em São Paulo, em 1988. Hook, Bernard, Stephen, Gillian: icebergs humanos nos conduzindo a um futuro cinzento.
Sentiu o clima? Pois bem, agora venha comigo, caia na real.
Ganhei de um amigo um CD com um programa sobre o New Order, feito especialmente para a série "Originals", à venda na loja do iTunes (só dá para comprar com cartão de crédito gringo). Bernard, Hook e Stephen falam sobre as diversas fases da banda, tudo entremeado com versões, especiais para o programa, das músicas mais famosas.
Os mitos vão caindo aos poucos, e pelas mãos da própria banda.
A transição do rock do Joy Division para a eletrônica do New Order? Só para irritar os fãs do Joy.
"Blue Monday", maior clássico do grupo? Um acidente, uma tentativa de compor uma música que os instrumentos tocassem sozinhos, sem a banda no palco.
Até o New Order virou humano -que mundo mais sem graça!

>>Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

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