segunda-feira, março 30, 2009
primeiro post pessoal em anos
tenho pensado muito na vaidade, na insegurança e no medo, nos segredos e na sorte.
domingo, março 22, 2009
Fórum de Istambul termina sem reconhecer água como direito humano
ANDRÉS MOURENZA
da Efe, em Istambul
O Fórum Mundial da Água (FMA) terminou neste domingo em Istambul mostrando a clara divisão entre os Estados no momento de se comprometer a garantir o acesso à água como um direito essencial de todo ser humano.
Durante toda a semana, aproximadamente 25 mil participantes --entre líderes políticos, especialistas, empresas e ONGs-- discutiram as questões mais polêmicas em torno deste recurso, como as secas, a reciclagem das águas residuais, a distribuição e a gestão da água.
Ao mesmo tempo, ONGs e associações críticas com o fato de que o fórum seja organizado pelo Conselho Mundial de Água (CMA), uma instituição de caráter privado, se encontraram em diversas atividades paralelas de protesto, algumas reprimidas pela polícia.
Pelo menos 17 ativistas turcos foram detidos no protesto do primeiro dia, e dois membros da ONG International Rivers foram deportados pelo governo turco.
A declaração final, assinada pelas delegações dos 150 países participantes (70 deles representados em nível ministerial), foi apresentada hoje em ocasião do Dia Mundial de Água.
Nela, os Estados signatários advertem para a necessidade de conseguir segurança no setor da água, em um mundo em que se enfrenta mudanças globais rápidos e sem precedentes, incluindo o crescimento da população, as migrações, a urbanização, a mudança climática e a desertificação, entre outros.
Por isso, se comprometem a intensificar os esforços para conseguir cumprir os Objetivos do Milênio das Nações Unidas, embora a declaração não seja vinculativa para os países signatários.
No entanto, o tema que mais debate gerou durante as negociações finais foi o direito à água, que terminou sem consenso, explicou no sábado a presidente do processo político, Sumru Noyan.
Assim, na Declaração Ministerial de Istambul não se chegou a decretar a água um direito humano, como exigiam os movimentos sociais e ecologistas e vários países latino-americanos.
"Admitimos as discussões dentro da Organização das Nações Unidas sobre os direitos humanos e o acesso à água potável e ao saneamento. Reconhecemos que o acesso à água potável e ao saneamento é uma necessidade humana básica', diz o documento final, que países como a Venezuela se negaram a assinar.
Os organizadores afirmaram que existe consenso entre os Estados com relação ao direito à água, mas não sobre como expressá-lo, pois as diferentes redações têm diversas consequências político-jurídicas.
"Em nenhum documento vinculativo da ONU a água aparece como direito humano", justificou Noyan.
Durante vários dias, as delegações sul-americanas lideradas por Uruguai e Bolívia tentaram pressionar para que se introduzisse o direito humano na declaração, enquanto outros países ofereceram uma redação intermédia que falaria da água como um direito básico.
No entanto, as negociações foram em vão, já que, segundo informaram fontes ligadas à negociação, países como Brasil, Estados Unidos e Egito bloquearam a tentativa de voltar a debater os documentos que tinham chegado à Turquia após as sessões preparatórias que começaram em setembro de 2008.
Finalmente, um grupo de 25 países críticos decidiu assinar uma declaração alternativa na qual, como primeiro ponto, se reconhece o acesso à água e ao saneamento como um direito humano, e os signatários se comprometem a realizar as ações necessárias para a implementação progressiva deste direito.
A declaração complementar tem um segundo ponto, assinado por 16 países latino-americanos, asiáticos e africanos, no qual pede à comunidade internacional para desenvolver um espaço de debate global sobre água no marco da Organização das Nações Unidas, em vez do atual fórum organizado pelo CMA.
Membros dos movimentos sociais se mostraram satisfeitos com o fato de o debate sobre o direito humano ao acesso à água tenha sido instalado no fórum, já que no encontro anterior, no México, em 2006, apenas quatro países (Uruguai, Venezuela, Bolívia e Cuba) apoiaram esse reconhecimento.
da Efe, em Istambul
O Fórum Mundial da Água (FMA) terminou neste domingo em Istambul mostrando a clara divisão entre os Estados no momento de se comprometer a garantir o acesso à água como um direito essencial de todo ser humano.
Durante toda a semana, aproximadamente 25 mil participantes --entre líderes políticos, especialistas, empresas e ONGs-- discutiram as questões mais polêmicas em torno deste recurso, como as secas, a reciclagem das águas residuais, a distribuição e a gestão da água.
Ao mesmo tempo, ONGs e associações críticas com o fato de que o fórum seja organizado pelo Conselho Mundial de Água (CMA), uma instituição de caráter privado, se encontraram em diversas atividades paralelas de protesto, algumas reprimidas pela polícia.
Pelo menos 17 ativistas turcos foram detidos no protesto do primeiro dia, e dois membros da ONG International Rivers foram deportados pelo governo turco.
A declaração final, assinada pelas delegações dos 150 países participantes (70 deles representados em nível ministerial), foi apresentada hoje em ocasião do Dia Mundial de Água.
Nela, os Estados signatários advertem para a necessidade de conseguir segurança no setor da água, em um mundo em que se enfrenta mudanças globais rápidos e sem precedentes, incluindo o crescimento da população, as migrações, a urbanização, a mudança climática e a desertificação, entre outros.
Por isso, se comprometem a intensificar os esforços para conseguir cumprir os Objetivos do Milênio das Nações Unidas, embora a declaração não seja vinculativa para os países signatários.
No entanto, o tema que mais debate gerou durante as negociações finais foi o direito à água, que terminou sem consenso, explicou no sábado a presidente do processo político, Sumru Noyan.
Assim, na Declaração Ministerial de Istambul não se chegou a decretar a água um direito humano, como exigiam os movimentos sociais e ecologistas e vários países latino-americanos.
"Admitimos as discussões dentro da Organização das Nações Unidas sobre os direitos humanos e o acesso à água potável e ao saneamento. Reconhecemos que o acesso à água potável e ao saneamento é uma necessidade humana básica', diz o documento final, que países como a Venezuela se negaram a assinar.
Os organizadores afirmaram que existe consenso entre os Estados com relação ao direito à água, mas não sobre como expressá-lo, pois as diferentes redações têm diversas consequências político-jurídicas.
"Em nenhum documento vinculativo da ONU a água aparece como direito humano", justificou Noyan.
Durante vários dias, as delegações sul-americanas lideradas por Uruguai e Bolívia tentaram pressionar para que se introduzisse o direito humano na declaração, enquanto outros países ofereceram uma redação intermédia que falaria da água como um direito básico.
No entanto, as negociações foram em vão, já que, segundo informaram fontes ligadas à negociação, países como Brasil, Estados Unidos e Egito bloquearam a tentativa de voltar a debater os documentos que tinham chegado à Turquia após as sessões preparatórias que começaram em setembro de 2008.
Finalmente, um grupo de 25 países críticos decidiu assinar uma declaração alternativa na qual, como primeiro ponto, se reconhece o acesso à água e ao saneamento como um direito humano, e os signatários se comprometem a realizar as ações necessárias para a implementação progressiva deste direito.
A declaração complementar tem um segundo ponto, assinado por 16 países latino-americanos, asiáticos e africanos, no qual pede à comunidade internacional para desenvolver um espaço de debate global sobre água no marco da Organização das Nações Unidas, em vez do atual fórum organizado pelo CMA.
Membros dos movimentos sociais se mostraram satisfeitos com o fato de o debate sobre o direito humano ao acesso à água tenha sido instalado no fórum, já que no encontro anterior, no México, em 2006, apenas quatro países (Uruguai, Venezuela, Bolívia e Cuba) apoiaram esse reconhecimento.
segunda-feira, março 16, 2009
Poemas de sem-teto anônimo causam comoção no Japão
Eles são cada vez mais visíveis. Mas os passantes cruzam com eles aparentemente sem vê-los. Indiferentes, constrangidos. Suas sombras furtivas, miseráveis, aqui e ali nas estações ou nos parques, lembram bruscamente a muitos de suas próprias dificuldades. Seu sofrimento parece incorpóreo. Eles não mendigam e sobrevivem dos restos da sociedade de consumo. Essa sociedade os ignora e foge deles, os sem-teto das grandes cidades japonesas. Dois mundos que andam próximos, mas fingem não se ver.
Completamente inquietante, uma voz se eleva deste mundo de "náufragos" da prosperidade. Desde o fim de 2008, o jornal "Asahi" publica poemas curtos de um autor sem-teto que permanece anônimo. E, certamente pela primeira vez, os leitores desse jornal descobrem através de suas palavras esse "povo de baixo" que, durante a noite, dorme em caixas de papelão aos pés daqueles que se apressam para não perder o último metrô.
Como outros jornais, o "Asahi" tem uma coluna poética na qual são publicados poemas do gênero clássico waka, curtos e de beleza austera e melancólica, enviados por leitores que foram selecionados por um júri. Os concursos de poemas pertencem a uma tradição milenar no Japão. E os jornais a seguiram. A julgar pelo número que cartas de incentivo que o "Asahi" recebe, os poemas desse homem miserável, da rua, emocionaram mais do que um leitor.
A canção de Gréco
"Acostumado a viver sem chaves, eu passo o ano novo. De que mais ainda preciso me desapegar?" "Esta rua se chama a rua dos filhos infiéis. Eu não tenho pais, nem filho". "O homem não vive somente de pão, mas eu passo meu dia com o pão distribuído..." Sob uma noite estrelada, essa canção de Juliette Gréco, com letras de Jacques Prévert e música de Joseph Kosma, embalou o seu sono: "Adormecendo sob um céu estrelado, escutei a canção de Gréco. Era só uma ilusão..."
O poeta anônimo assina seus textos com o pseudônimo de Koichi Koda, mas o campo "endereço" que acompanha a publicação do poema, normalmente obrigatório, comporta a simples menção: "sem". O autor provavelmente vive no bairro de Kotobuki-cho, em Yokohama, uma das vilas de albergues decadentes, uma dessas armadilhas da cidade para onde correm os sem-teto.
A letra cuidadosa e a referência à canção de Juliette Gréco (que data dos anos 1950) fazem pensar que o homem é culto e deve ter mais de 70 anos. Logo depois da publicação de seus poemas pelo "Asahi", o poeta anônimo enviou outro: "Ao ler o artigo a meu respeito, como se tratasse de alguma outra pessoa, lágrimas me vieram aos olhos".
O jornal o chamou para que se apresentasse, nem que fosse para lhe pagar a pequena remuneração que acompanha a publicação do poema. "Estou comovido com sua gentileza, mas por enquanto não tenho coragem de entrar em contato com vocês", ele respondeu.
Tradução: Lana Lim
Completamente inquietante, uma voz se eleva deste mundo de "náufragos" da prosperidade. Desde o fim de 2008, o jornal "Asahi" publica poemas curtos de um autor sem-teto que permanece anônimo. E, certamente pela primeira vez, os leitores desse jornal descobrem através de suas palavras esse "povo de baixo" que, durante a noite, dorme em caixas de papelão aos pés daqueles que se apressam para não perder o último metrô.
Como outros jornais, o "Asahi" tem uma coluna poética na qual são publicados poemas do gênero clássico waka, curtos e de beleza austera e melancólica, enviados por leitores que foram selecionados por um júri. Os concursos de poemas pertencem a uma tradição milenar no Japão. E os jornais a seguiram. A julgar pelo número que cartas de incentivo que o "Asahi" recebe, os poemas desse homem miserável, da rua, emocionaram mais do que um leitor.
A canção de Gréco
"Acostumado a viver sem chaves, eu passo o ano novo. De que mais ainda preciso me desapegar?" "Esta rua se chama a rua dos filhos infiéis. Eu não tenho pais, nem filho". "O homem não vive somente de pão, mas eu passo meu dia com o pão distribuído..." Sob uma noite estrelada, essa canção de Juliette Gréco, com letras de Jacques Prévert e música de Joseph Kosma, embalou o seu sono: "Adormecendo sob um céu estrelado, escutei a canção de Gréco. Era só uma ilusão..."
O poeta anônimo assina seus textos com o pseudônimo de Koichi Koda, mas o campo "endereço" que acompanha a publicação do poema, normalmente obrigatório, comporta a simples menção: "sem". O autor provavelmente vive no bairro de Kotobuki-cho, em Yokohama, uma das vilas de albergues decadentes, uma dessas armadilhas da cidade para onde correm os sem-teto.
A letra cuidadosa e a referência à canção de Juliette Gréco (que data dos anos 1950) fazem pensar que o homem é culto e deve ter mais de 70 anos. Logo depois da publicação de seus poemas pelo "Asahi", o poeta anônimo enviou outro: "Ao ler o artigo a meu respeito, como se tratasse de alguma outra pessoa, lágrimas me vieram aos olhos".
O jornal o chamou para que se apresentasse, nem que fosse para lhe pagar a pequena remuneração que acompanha a publicação do poema. "Estou comovido com sua gentileza, mas por enquanto não tenho coragem de entrar em contato com vocês", ele respondeu.
Tradução: Lana Lim
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