sábado, junho 23, 2007

Um teste lisérgico para as cabeças emaranhadas da Internet

De Chris Nuttall*

Glastonbury -considerado, atualmente, o maior festival de rock no mundo e que deve receber um público de 150 mil pessoas, na Inglaterra - talvez seja o foco da música, da juventude e da cultura alternativa neste final de semana, mas deve suas raízes a um movimento criado a milhares de quilômetros de distância, há 40 anos.

Em junho de 1967, o primeiro grande festival de rock do mundo foi celebrado em Monterey, Califórnia. John Phillips, do The Mamas and the Papas, escreveu uma canção especialmente para a ocasião ("If you are going to San Francisco, be sure to wear some flowers in your hair").

Nos meses seguintes, o Verão do Amor evoluiu, enquanto uma 'estranha vibração' levava as pessoas de todo o país e do exterior para o distrito de Haight-Ashbury, em San Francisco, local de nascimento do movimento hippie.

O 40º aniversário de mais de 100 mil jovens invadindo a cidade, trazendo a contra-cultura e o caos, está sendo extensamente celebrado. Ao mesmo tempo, o segundo Verão do Amor parece estar emergindo com a turma da Web 2.0, de certa maneira herdeira daqueles idealistas dos anos 60.

A Web 2.0 defende o amor livre -compartilhar experiências com estranhos por fotos, vídeos e páginas do MySpace. Fala de revolução e do poder do povo com a força que as redes que a Web podem criar. No Lunch 2.0, um evento social no Silicon Valley, perguntei à diretora executiva da Ning.com se estava dando comida gratuita a todos como estratégia de recrutamento ou para receber publicidade gratuita.

"Não, é uma questão de bom carma; o legal é dar de volta à região e às pessoas", disse ela.

Certamente não estava doidona quando disse isso, mas algumas das experiências atualmente disponíveis na Internet estão se aproximando do psicodélico, de acordo com as pessoas que conhecem o assunto. Mitch Kapor, nascido em 1950, fez parte da geração hippie e foi professor de meditação transcendental. Ele também inventou os programas Lótus 1, 2 e 3 -a suíte de aplicações que levou à adoção de computadores pessoais pelas empresas- e é atualmente diretor do Linden Lab, criador do mundo virtual Second Life.

"(O Second Life) me fez lembrar de uma experiência com drogas na época em que não sabíamos como eram perigosas", lembra-se.


Igualmente alucinada foi uma mensagem de recrutamento que um ex-gerente de produtos da Google enviou nos últimos dias sobre seu novo trabalho, a Facebook. Segundo ele, a empresa era "o Google de ontem, a Microsoft de muito tempo atrás. O lugar onde inúmeras pessoas incrivelmente brilhantes congregam-se e alimentam-se da genialidade umas das outras... uma empresa que está em vias de Mudar o Mundo", disse ele.

Na conversação americana, esse é o equivalente verbal de "beber Kool-Aid", uma frase cujas origens estão em Ken Kesey e Merry Pranksters, que apimentavam suas bebidas com LSD nos anos 60. Esses boêmios reuniam-se em Palo Alto, no Vale do Silício, lar de inúmeras empresas de tecnologia iniciantes, o que explica como o coquetel de tecnologias iniciantes e ideais hippies está recebendo outra chacoalhada. Vamos esperar que não percam suas cabeças.

*O autor é correspondente de tecnologia do Financial Times em San Francisco

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