terça-feira, setembro 09, 2008

Grupo faz parto virtual em neandertal fossilizado

Pesquisa sugere que infância do hominídeo era similar à dos humanos modernos

Equipe refaz digitalmente crânios de bebês dessa espécie extinta e conclui que desenvolvimento lento bancava cérebro grande

DA REDAÇÃO


O primeiro parto já observado em neandertais está sugerindo aos cientistas que esses hominídeos extintos eram mais parecidos com os humanos modernos do que se imaginava, e pode ajudar a sepultar a noção de que esses primos do Homo sapiens foram levados à extinção por sua baixa capacidade intelectual.
O nascimento, claro, não foi documentado ao vivo. Ele foi simulado nos computadores da Universidade de Zurique, na Suíça, com base em reconstituições virtuais de fósseis de um recém-nascido e de uma mulher neandertais.
O trabalho foi feito por um grupo de cientistas da Suíça, do Japão e da Rússia, liderado pela antropóloga boliviana (radicada em Zurique) Marcia Ponce de León. O objetivo era entender a velocidade do crescimento do cérebro e da maturação dos neandertais, algo que pode ajudar a entender como os humanos modernos adquiriram a própria inteligência.
Até agora, a maioria dos estudiosos da evolução humana achava que uma das chaves para o desenvolvimento do intelecto da espécie estivesse na infância, prolongada em relação à dos outros primatas.
Como é muito grande, o cérebro do Homo sapiens precisa de mais tempo para amadurecer (5 a 7 anos) do que o de um chimpanzé, por exemplo (4 anos). Durante esse período, a criança humana recebe cuidados em tempo integral da mãe, explora o mundo e aprende as regras complicadas do convívio em sociedade. Há quem sustente que a própria estrutura da família humana, com a formação de casais, serve para fomentar esse amadurecimento.
Quando essas características da infância humana evoluíram, porém, ainda é um mistério. Os poucos fósseis disponíveis de hominídeos antigos sugeriam até agora que o Homo erectus -suposto ancestral do homem moderno- tinha uma infância curta, como a dos chimpanzés.
O mesmo se aplica aos neandertais. Apesar de terem o maior cérebro entre todos os primatas (maior inclusive que o humano), os neandertais amadureciam em ritmo de macaco. Infância curta significa independência, o que significa menos necessidade de uma mãe presente o tempo todo e de um pai por perto para sustentá-la. Isso, por sua vez, significa menos complexidade social. Em resumo, um ambiente intelectual mais pobre entre esses nossos parentes extintos há 30 mil anos. Pelo menos era o que se imaginava.

Pré-história digital
Entram em cena Ponce de León e seus colegas, um deles em especial: o cientista da computação Christoph Zollikofer, seu marido. Para tentar responder como esses hominídeos atingiam um volume cerebral tão grande e verificar se tamanho nesse caso é documento -ou seja, inteligência-, eles precisariam superar a limitação imposta pelo registro fóssil.
Os programas de computador desenvolvidos por Zollikofer permitem reconstituir virtualmente ossos altamente fragmentados e extrair deles medidas precisas. Esse tipo de informação é crucial para calcular o volume do cérebro.
O grupo reconstituiu os crânios de três crianças neandertais fossilizadas: um recém-nascido, desenterrado na Rússia, um bebê de um ano e meio e um outro de dois anos, achados numa caverna na Síria.
A comparação permitiu estimar o volume cerebral do neandertal no momento do parto em 399 centímetros cúbicos, mais ou menos o mesmo de um humano moderno. O período de gestação também era provavelmente similar.
Depois, os cientistas simularam o parto do recém-nascido com base na reconstituição virtual de uma mulher neandertal.
Por fim, o grupo calculou a taxa de crescimento do cérebro do neandertal. Concluiu que, apesar de uma taxa inicial mais alta de crescimento do crânio que a dos humanos, o cérebro do neandertal continuava a crescer -ou seja, os brutamontes também tinham infância estendida, como o H. sapiens, e à custa de uma mãe grande e de amadurecimento lento.
"À luz da hipótese das limitações energéticas da mãe, nossos resultados sugerem que a história de vida dos neandertais era tão lenta quanto a dos humanos modernos", escrevem os autores.

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