quinta-feira, dezembro 29, 2005

Banda homenageia brasileiro morto no metrô de Londres

LÚCIO RIBEIRO
Colunista da Folha de S. Paulo

O prolífico rock inglês deixa 2005 para trás suspirando com ares apaixonados por mais uma banda de sua nova safra, o "diferente" quarteto de Londres chamado Guillemots, um dos mais cintilantes nomes das listas de "fique de olho em 2006" que circulam neste final de ano.

O "diferente" diz respeito ao Brasil: o guitarrista tem o improvável nome de Magrão, e o Guillemots já virou a grande aposta por causa do recém-lançado single "Trains to Brazil", homenagem ao mineiro Jean Charles de Menezes, que foi morto em julho em um trem do metrô de Londres pela polícia inglesa, fruto do "combate ao terrorismo". "Trains to Brazil" foi lançado como single no último dia 5 e se encontra em alta rotação nas rádios inglesas. O vídeo da música está entre os mais pedidos da MTV2 européia.

"Na verdade, 'Trains to Brazil' não foi composta para retratar o incidente com o brasileiro", disse Magrão, ou MC Lord Magrão, em entrevista à Folha. "A gente estava gravando a música quando tudo aconteceu, e todo mundo ficou mal por causa da história. Como a música fala de bomba e tem uma linha forte que diz 'Quanto tempo vai levar para que eles nos explodam', achei uma trilha sonora perfeita para a merda que estava acontecendo. A música foi composta pelo vocalista há três anos e tinha outro nome. Pedi para ele mudar, como uma homenagem, e ele deixou", falou Magrão, que até 2000 vivia na zona leste de SP.

O Guillemots foi formado no ano passado e surgiu forte na cena neste ano, quando em setembro lançou o EP "I Saw Such Things in My Sleep", pelo pequeno selo Fantastic Plastic. Aí começou a correria de gravadoras atrás da banda, querendo fechar contrato com os responsáveis pela linda música "Made Up Love Song # 43", que estava tocando bastante nas rádios.

"Foi uma coisa sem noção. Até o ano passado eu não conseguia achar uma banda para tocar. Agora eu me vejo na TV, me ouço no rádio, meus shows lotam e várias gravadoras estão atrás de nós", diz Magrão, que não quer dar seu nome verdadeiro. "Não precisa."

Magrão conta que saiu da ZL paulistana para Londres por volta de 2000, para tentar viver de música na Inglaterra. "Mas não tinha como. Meu estilo é mais experimental, ruídos. Nada pop. Aqui é difícil. Então já estava com tudo pronto para procurar a sorte em Berlim. Aí resolvi responder um último anúncio de um cara procurando banda, nos classificados do 'New Musical Express'", conta o guitarrista. "Pedia alguém para uma banda de rock, que não precisava tocar muito, mas ter estilo e ser criativo. Respondi dizendo que tirava som até de máquina de escrever. Assim conheci o Fyfe."

O Guillemots é uma miscelânea. Além do brasileiro MC Lord Magrão na guitarra, tem o fundador e vocalista inglês Fyfe Dangerfield, a contrabaixista canadense Aristazabal Hawkes e o baterista escocês Rica Caol. A banda acaba de assinar contrato com a Polydor, braço do gigante conglomerado Universal Music. "Estamos assinados, mas com os pés no chão. Temos que ir devagar."

No futuro próximo, a banda tem shows marcados para EUA e Japão, além de convites antecipados para participar de vários festivais de verão europeus. E as gravações do primeiro disco, que devem começar logo nos primeiros meses de 2006.

No CD, além do "hit" "Trains to Brazil", deve ter ainda uma linda canção chamada "São Paulo", que costuma fechar os já famosos shows da banda na Inglaterra. "Essa saiu de um improviso, depois de uma conversa nossa sobre o dia-a-dia numa cidade grande, cada um de um lugar, com sua experiência. Aí ela ficou com a cara de São Paulo."

O ano de 2006 promete ser bom para o grupo de Magrão. Para garantir, sua banda deve entrar no ano novo segurando nas mãos um exemplar da importante revista "Mojo", que diz: "Guillemots, a mais notável banda do Reino Unido hoje".

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