quinta-feira, dezembro 01, 2005

Com internet, independentes viram febre.

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Crise na indústria musical? Que crise? Quem tem ouvidos no som e olhos na tela do computador sabe que nunca a música viveu tempos tão vibrantes. Ninguém mais se espanta hoje se o pequeno grupo carioca ForFun ter em seu site tantas visitas únicas quanto a megabanda inglesa Oasis. Ninguém fala "Não acredito" quando ouve que o veterano grupo americano Pearl Jam só está tocando aqui nesta semana porque um grupo de fãs brasileiros armou o barraco virtual e mandou insistentes pedidos on-lines para o quarteto de Seattle descer à América do Sul pela primeira vez.
Quando em 1999 o programa de troca de músicas Napster tomou de assalto a indústria de entretenimento, estava anunciada a "sede oficial da revolução da nova música". Agora que 2005 está acabando, o programa MySpace está mais que consagrado como a "nova nova nova nova sede da revolução da nova música". Até que no ano que vem outro programa surja e faça o MySpace parecer tão antigo quanto um gramofone.
O MySpace, conhecido como o "Orkut dos Artistas" porque junta amizade, bandas e MP3s, assombra as inter-relações virtuais com o mundo real e faz de bandas como o grupelho inglês Arctic Monkeys os novos Beatles indies.
Há dois anos, o Arctic Monkeys fizeram umas musiquinhas no quarto de sua casa, em Sheffield. Sem ter coisa melhor que fazer, postaram em site, entraram no MySpace, fizeram novos amiguinhos na internet, anunciaram seus showzinhos em botecos.
Em outubro último, depois de lotar shows em Londres e Nova York sem ter nada lançado oficialmente, soltaram no mercado inglês um single, "I Bet that You Look Good on the Dancefloor". Foram direto para o primeiro lugar das paradas, desbancaram o popular e aparatado Sugababes do trono e fizeram pensar os caras que financiaram o terceiro álbum do Coldplay -como uma bandinha daquelas conseguiram o que o milionário grupo de Chris Martin, que gastou semanalmente cerca de R$ 200 mil de aluguel de estúdio para fazer o novo disco, não conseguiu?
No Brasil, o site TramaVirtual, braço "esperto" na internet da gravadora "convencional" Trama, uma espécie de MySpace com mais música e menos amizade, abriga bandas pequenas sem contrato e também cria aqui seus mitos modernos. O exemplo reluzente é o paulistano Cansei de Ser Sexy, que graças a ações na internet já tocou em megafestival e ganhou página de destaque no jornal britânico "The Observer".
Os sucessos de MySpace e TramaVirtual é tamanho que os sites já lançam CDs "reais" no mercado de discos. Como disse o título de reportagem recente do diário inglês "Guardian", "Click your mouse and say "Yeah'!".

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