Na Argentina, Oasis recupera a glória do passado
THIAGO NEY
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Buenos Aires
Parece que estamos em 1996 outra vez, tamanha a euforia causada na Argentina pela passagem do Oasis, na semana passada. O grupo se apresenta no Brasil hoje, no estacionamento do Credicard Hall, em São Paulo, com os 14.600 ingressos já esgotados.
Principal nome do britpop (rótulo que serviu para aglomerar as bandas que reergueram o rock britânico no início dos anos 90, como Blur, Pulp, Supergrass), o Oasis tocou para 45 mil pessoas na última sexta-feira, no Campo Argentino de Pólo, no bairro Palermo, em Buenos Aires. O guitarrista mexicano Santana se apresentou no mesmo local no dia anterior e reuniu "apenas" um público de 12 mil.
A Oasismania argentina começou horas antes, a poucos quilômetros dali. No início da tarde de sexta, uma megastore na av. Santa Fé foi fechada para uma entrevista coletiva com Liam e seu irmão Noel Gallagher, mais o baixista Andy Bell e o guitarrista Gem Archer, além de uma sessão de autógrafos com cem fãs do grupo.
Mas, além dos cem fãs que haviam sido sorteados previamente, apareceram no local mais de duas mil pessoas. Parte da avenida teve de ser interditada, e um grupo de seguranças particulares, acompanhado da polícia, fizeram barreiras na entrada da loja.
Notavam-se duas coisas:
1) Havia pouca gente "velha"; a maioria dos que estavam ali eram adolescentes que provavelmente engatinhavam quando o Oasis lançou seus dois primeiros --e melhores-- discos, "Definitely Maybe" (1994) e "(What's the Story) Morning Glory" (95);
2) Havia muita referência a futebol; garotos com camiseta do Manchester City (o time de coração dos Gallagher), do Boca Juniors, do River Plate, da seleção inglesa, da seleção argentina. Uma garota chegou a levar uma bola para ser autografada...
Britpop é dinheiro no banco
Na entrevista coletiva, Noel estava um tanto lacônico, enquanto Liam mostrava bom humor. No meio de algumas perguntas estúpidas ("Noel, também tenho um irmão mais novo. Você pode me dar uns conselhos?"), o vocalista tirava sarro. "Blur e Gorillaz são música para crianças", sobre o que achava das bandas de Damon Albarn. Em certo momento, alguém pede para que Liam cite o "maior legado" deixado pelo britpop. "A minha conta bancária..."
Após a entrevista e a sessão de autógrafos, a polícia tem trabalho para conter os fãs que tentam chegar perto da banda. Antes de entrar em uma das duas vans à disposição do Oasis, Noel Gallagher acena. Os gritos aumentam.
Maradona, cigarros e álcool
À noite, no campo de pólo, antes dos britânicos, três grupos argentinos se apresentam. O público gosta, mas é a partir das 21h45 que a temperatura sobe. Até às 23h30, quando deixa o palco, o Oasis toca 20 canções, sendo sete do último disco, o elogiado "Don't Believe the Truth". Muito mais do que em 1998 e em 2001, quando estiveram no Brasil, eles confiam no material que têm.
"Turn Up the Sun" e "Lyla", por exemplo, que iniciam o show, fazem a massa pular tanto que um dos organizadores vai ao microfone. Pede para o público "acalmar". "A banda vai continuar tocando, mas queremos que se divirtam sem que nada aconteça." Liam volta ao microfone, o Oasis toca "Bring It On Down" (canção "esquecida" de 1994) e ninguém parece ter se acalmado. (Menos de dez minutos depois, alguns começam a atirar tênis no palco...)
Tirando alguns "gracias" e "cheers", a banda pouco fala. Mas após "Morning Glory", ouvimos Liam: "A próxima é para Diego Maradona". E iniciam "Cigarettes & Alcohol"... Dá para não gostar de um cara desses?
Após a saída de Alan White há alguns anos, o Oasis tornou-se um quarteto, e na bateria sentam-se "convidados". O da vez é Zak Starkey, filho de Ringo Starr. Starkey não é nada parecido com o pai: bate duro, ensaia até alguns solos e dá mais força ao Oasis.
Na entrevista à Folha, na semana passada, após cutucar Stones, U2 e até a seleção inglesa de futebol, Liam disse que o show do Oasis é "sem frescura. Rock and roll direto". E é isso mesmo. O palco é simples, com pouquíssimos adereços. A banda não faz discursos; é uma música atrás da outra.
A bonitona "Songbird" é acompanhada por aplausos; em "Mucky Fingers", Noel encarna um Lou Reed. Eles encerram com "My Generation", cover do Who. Mas, pouco antes vem "Rock and Roll Star", a primeira canção do primeiro disco deles. Perfeita.
Oasis
Quando: hoje, a partir das 21h
Onde: estacionamento do Credicard Hall (av. Nações Unidas, 17.955, Santo Amaro, SP; tel. 0/xx/11 6846-6000)
Quanto: ingressos esgotados
quarta-feira, março 15, 2006
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