quinta-feira, novembro 23, 2006

Consumo internacional de cocaína: Nova York cheira mais que a concorrência

Markus Becker

Pesquisadores têm analisado rios na Europa e nos Estados Unidos em busca de traços de consumo de cocaína. O resultado: o uso da cocaína é provavelmente muito maior do que o anteriormente imaginado - e os nova-iorquinos são os maiores consumidores de coca de todos.

No ano passado, um estudo instigado pela "Spiegel Online" ganhou as manchetes: peritos analisaram os rios da Alemanha em busca de vestígios de uma substância produzida pelo corpo humano durante o consumo de cocaína e os resultados foram abundantes. Os números extrapolados revelaram, entre outras coisas, que os moradores em torno da bacia de drenagem do Rio Reno, perto de Düsseldorf, consumiam cerca de 11 toneladas de cocaína por ano. O valor de rua: cerca de 1,64 bilhão de euros.

Agora os peritos do Instituto de Pesquisa Biomédica e Farmacêutica (Ibmp) de Nuremberg expandiram seu método para outros países da União Européia e para os Estados Unidos. Os resultados são semelhantes aos de 2005: as estimativas oficiais anteriores para uso de cocaína, que dependem altamente de estatísticas policiais, são aparentemente baixas demais.

Por exemplo, em Nova York, as equipes do Ibmp analisaram o Rio Hudson e encontraram subprodutos de um consumo projetado de cocaína que totaliza 16,4 toneladas por ano. Há aproximadamente 3,4 milhões de pessoas com idades entre 15 e 65 anos na bacia do Hudson. Segundo o "Relatório Mundial de Drogas" da ONU, 2,8% dos americanos nesta faixa etária usam cocaína pelo menos uma vez por ano. Isto significaria que cerca de 95 mil pessoas são responsáveis por um consumo anual de 16,4 toneladas de cocaína pura -uma taxa per capita de 172 gramas por ano.

Fortes variações

Mas o "Relatório Mundial de Drogas" diz que o usuário médio, pelo menos na Europa Ocidental e Central, consome apenas 35 gramas de cocaína pura por ano. A menos que o apetite médio do americano seja consideravelmente maior, as estimativas atuais de consumo geral provavelmente são baixas demais. Ou há mais cocainômanos do que o refletido nas estatísticas oficiais, ou eles cheiram bem mais pó por ano do que é suposto.

E há mais. O diretor do Ibmp, Fritz Sörgel, disse que há várias outras informações fornecidas por seu estudo:

-Boa notícia para a Alemanha: o consumo de cocaína, segundo seus dados,
estagnou.


-Nova York mantém seu reinado como Capital Mundial da Cocaína. É possível quase ficar tentado a censurar os nova-iorquinos por desperdiçarem a droga. Em nenhum outro lugar os pesquisadores encontraram uma cocaína tão pura quanto encontram no Rio Hudson.

-A Europa está avançando no consumo de cocaína, com a Espanha liderando bravamente. Os britânicos e italianos também exibiram um apetite ávido por cheirar.

Mas os detalhes variam de cidade para cidade. No Potomac de Washington, os químicos do Ibmp encontraram traços de um consumo per capita anual de 73 gramas de cocaína, enquanto a Baía de San Francisco indica um uso anual de pouco mais que 40 gramas por pessoa.

Na Europa, o padrão é semelhante. Segundo as atuais estimativas da União Européia, cerca de 1% da população da Alemanha entre 18 e 59 anos consome cocaína pelo menos uma vez por ano. Com base nas medições do Ibmp, isto significa que o usuário médio de cocaína em Nuremberg consome meras seis gramas por ano, enquanto em Mannheim o número fica próximo de 55 gramas.

Fritz Sörgel, o diretor do Ibmp, disse que discrepâncias significativas entre medições individuais são resultado de dois fatores. Primeiro, os pesquisadores obtiveram suas amostras em épocas diferentes do ano e em momentos diferentes do dia. Segundo, as medições nem sempre foram realizadas na mesma distância das saídas de esgoto. Eles não retiraram as amostras diretamente das usinas de tratamento, onde o subproduto benzoilecgonina é decomposto em cerca de 80%, mas sim examinaram a água após seu despejo de volta ao rio. Dependendo da distância ao ponto de reentrada, a água da usina de tratamento de esgoto é mais (ou menos) diluída pelo restante da água do rio.

"Quadro Geral Confiável"


"Mas as várias medições em diferentes estações, momentos do dia e distâncias dos pontos de entrada devem resultar em um quadro geral confiável", disse Sörgel. Além disso, os resultados nos Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Reino Unido, Holanda, Áustria e República Tcheca espelham aproximadamente o ranking estabelecido de países.

"Nós ainda não estamos lidando com um método científico estabelecido para a determinação exata do consumo nacional de cocaína", destacou Sörgel em uma entrevista para a "Spiegel Online". Sua equipe está apenas dando os primeiros passos para fornecer base científica para os atuais levantamentos.

De fato, uma oportunidade para comparar os resultados não está distante: o Centro Europeu de Monitoramento de Drogas (Emcdda) apresentará seu mais recente relatório anual em Bruxelas, na quinta-feira. Mas tais pesquisas têm uma ponto fraco crucial: como a cocaína é uma droga ilegal, os resultados de pesquisas voluntárias geralmente apresentam tendência de ficar abaixo da realidade. Consumidores pesados em particular são difíceis de se alcançar com este método e mostram "uma tendência de atenuação", escreveu o Escritório Federal de Investigação Criminal (BKA) da Alemanha em seu "Relatório Anual da Situação dos Narcóticos de 2004". As autoridades devem portanto esperar "uma atenuação não insignificante dos números reais" em
tais pesquisas.

Quão grande? A resposta pode estar nos rios.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Nenhum comentário: