terça-feira, novembro 07, 2006

Entrevista: produtor Jack Wall fala sobre Video Games Live no Brasil

por Théo Azevedo

Divulgação

Nos dias 12 e 19, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, recebem o Video Games Live, um concerto que faz uma homenagem à trilha sonora dos games, indo dos clássicos às criações mais modernas.

O show foi idealizado por Tommy Tallarico e Jack Wall, veteranos da indústria do entretenimento eletrônico e, após visitar os Estados Unidos e o Canadá, escolheu o Brasil para dar início a sua turnê mundial, que deve passar ainda por Austrália e Japão.

É a chance dos brasileiros ouvirem um repertório que, acompanhados de luzes e performances, inclui músicas de "Mario", "Zelda", "Halo", "Metal Gear Solid", "Warrcraft", "Myst", "Castlevania", "Medal of Honor", "Sonic", "Kingdom Hearts", "Tron", "Final Fantasy", "Advent Rising", "Beyond Good & Evil" e "God of War", com um espaço retrô reservado a "Pong", "Donkey Kong", "Dragon's Lair", "Tetris", "Frogger", "Gauntlet", "Space Invaders" e "Outrun".

Com duas horas de duração, o concerto inclui ainda projeção de imagens em um telão de 300 polegadas sincronizadas com performances de cosplayers.

O UOL Jogos entrevistou Jack Wall, maestro do Video Games Live, e produtor de mais de trinta trilhas de games, incluindo "Myst", "Splinter Cell" e "Jade Empire".

UOL Jogos - O Brasil é o primeiro país em 2006, exceto Estados Unidos e Canadá, a receber o Video Games Live. Há algo especial entre o país e a música dos games?

Jack Wall -
É exatamente como eu vejo. Recebemos mais e-mails do Brasil que de qualquer outro país!! O que eu mais quero no Brasil, onde nunca estive, é conhecer as pessoas, a cultura e conferir a reação dos fãs. Seria sensacional comparar tal experiência com as que vimos nos Estados Unidos e Canadá.

UOL Jogos - Há algo sendo preparado especialmente para as apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro?

Jack Wall -
Trabalhamos com o editor da revista EGM [Fabio Santana] em um "set list" especial para o Brasil. Nosso repertório já é forte, mas nós incluímos algumas canções que não tocávamos há bastante tempo, simplesmente porque soubemos o quanto são populares no Brasil. Por exemplo, nós vamos tocar os temas de "Tomb Raider" e "Liberi Fatali", uma canção muito popular de "Final Fantasy" e que ainda não tocamos em lugar algum. A primeira vez será no Brasil.

UOL Jogos - Fale um pouco como funciona a montagem de uma apresentação da Video Games Live.

Jack Wall -
O mais interessante é que não importa aonde vamos, sempre usamos músicos locais. Como organizador e diretor musical do show, é muito divertido trabalhar com diferentes grupos. Nos Estados Unidos, fizemos de tudo para contratar músicos de várias cidades, como Philadelphia e Chicago, para trabalhar de mãos dadas com orquestras bastante prestigiadas, como a LA Philharmonic, a Hollywood Bowl Orchestra, a Houston Symphony e a Indianapolis Symphony Orchestra. Nós planejamos repetir a dose no próximo ano, agora que as organizações sinfônicas conhecem mais sobre o Video Games Live.

O Brasil marca algumas estréias para nós. No Rio de Janeiro, contratamos a Orquestra Petrobras Sinfônica. Imagine uma companhia de petróleo patrocinando a cultura! É algo que você nunca veria nos Estados Unidos! Soubemos muitas coisas boas sobre a orquestra e estamos ansiosos para trabalhar com ela.

Em São Paulo, vamos trabalhar com a Orquestra Sinfônica de Campinas-Unicamp. A idade dos músicos gira entre 14 e 20 anos. Soube que eles estão muito animados em participar do Video Games Live. Nós os escolhemos justamente por essa vontade, de tocar músicas que eles amam e que cresceram ouvindo. Vai ser muito divertido trabalhar com músicos jovens neste show. Eles estão ensaiando as músicas já há algum tempo e eu vou ter diversos ensaios com eles para aprimorar cada performance.

UOL Jogos - Como foi a escolha do repertório para o Video Games Live?

Jack Wall -
Tommy [Tallarico] e eu selecionamos o repertório baseado na popularidade dos títulos - queríamos que o interesse abrangesse todos os perfis possíveis. Então, escolhemos os jogos que mais pessoas poderiam conhecer e gostar. Em segundo lugar, asseguramos que todas as músicas do repertório, independentemente do game ser popular ou não, fossem da maior qualidade. Grandes e memoráveis temas com brilhante orquestração. Por último, incluímos alguns títulos que as pessoas podem não conhecer, mas que sintam como se fosse um tesouro enterrado que estamos trazendo à superfície. Nós achamos que é importante, artisticamente falando, ter canções que podem não ter se transformando em sucesso comercial, mas que são sucessos de crítica.

UOL Jogos - Você acha que um concerto como o Video Games Live é só para os fanáticos por games ou também para quem simplesmente aprecia a boa música?

Jack Wall -
Gostamos de pensar que o concerto é para todos. É como nós planejamos nosso show: para aqueles que conhecem o jogo dos pés à cabeça, mas também para os pais e amantes da música que vêm para conferir, afinal, qual é a discussão por trás dos videogames.

UOL Jogos - Tommy Tallarico gosta de subir ao palco para apresentar o show. No Brasil, será assim também?

Jack Wall -
Sem dúvidas! Meu parceiro Tommy Tallarico é mesmo o grande "mestre de cerimônias" do show. Teremos um tradutor para que o Tommy consiga falar ao público e isso será muito divertido. Normalmente, eu falo algumas vezes também, então vamos ver. Queremos apenas que o concerto mantenha o ritmo e não fique devagar por causa da tradução.

UOL Jogos - Atualmente, você acha que o som tem recebido a devida atenção no desenvolvimento de games?

Jack Wall -
Na verdade, penso que a maioria dos produtores sabe que tudo é essencial para criar games bons, populares e que vendam bem. Eles não gostam de deixar nada de lado. Então, a música e o som estão se tornando mais importantes juntos com os outros aspectos. Eu gosto de pensar que o Video Games Live é uma "vitrine" para todos os grandes jogos. Quem não conhece games tão bem costuma ficar bastante surpreso com o nível de qualidade que vê no show.

Estou trabalhando em dois grandes projetos - um é "Mass Effect" e o outro é "Army of Two". Posso dizer que a música é muito importante para os produtores desses games.

UOL Jogos - O que faz a trilha sonora de um game ser inesquecível?

Jack Wall -
Eu acho que, em sua maioria, é a popularidade misturada à qualidade e o quão memoráveis são estes temas, feitos para momentos importantes do jogo. Se as pessoas gostam da música, elas começam a perguntar por ela fora do game. É quando você fica sabendo se realizou com sucesso o seu trabalho como compositor.

UOL Jogos - O que você espera da nova geração de consoles?

Jack Wall -
Períodos de desenvolvimento mais longos [risos]!! Na verdade, quero mesmo é jogar vários desses games. Acho que os novos consoles vão tornar os games mais acessíveis às pessoas que não costumam jogar muito. Elas verão gráficos sensacionais e vão querer um console e talvez experimentar os games. Eu vejo a indústria se expandindo para audiências muito maiores. Isso é muito bom para o mercado e, certamente, para o futuro do Video Games Live.

UOL Jogos - Você conhece a música brasileira? Se sim, do que mais gosta?

Jack Wall -
Sim!!! Estou morrendo de vontade de sentar em um barzinho para escutar boa música brasileira. Anos atrás, eu trabalhava em um restaurante na Philadelphia, onde cresci, e havia música do Brasil nas noites de sexta e sábado. A banda era ótima e o ambiente melhor ainda. Muito ritmo e som maravilhoso.

Eu acho que [Tom] Jobim é algo de que eu me lembro ter tocado muito - é claro que "Garota de Ipanema", um clássico dos anos 60. Pode soar batido para muitos, mas a canção pintava um grande quadro, fazendo desejar ir ao Brasil. Imagine... uma música que faz você querer viajar. Isso é poderoso!

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