sexta-feira, novembro 10, 2006

Underworld faz dance "improvisada" no Brasil

THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

A ausência de estrofes e refrãos, canções em que a dinâmica das batidas é mais relevante do que melodia e acordes, artistas sem uma imagem, um rosto para vender. A dance music entortou alguns padrões estabelecidos pelo pop, e um dos mais conflitantes, ainda hoje, é o caráter "ao vivo" das apresentações. A dupla inglesa Underworld vem ao país atiçar mais um pouco essa discussão.

Após Daft Punk, Kraftwerk, Prodigy, Chemical Brothers, o Underworld é o último dos grandes da eletrônica a chegar às pistas brasileiras. O duo toca, na próxima quarta, num campo de pólo em Indaiatuba (80 km de São Paulo), em festa promovida pelo Sirena, e, no dia 18, no festival Creamfields, no Rio.

Apresentação de dance music normalmente conta apenas com dois ou três nerds atrás de laptops ou equipamentos eletrônicos. Como a música é sincronizada com efeitos de luz e imagens, há pouco espaço para improvisações. Não é o caso do Underworld, afirma à Folha o vocalista e músico Karl Hyde.

"O show é todo improvisado: as músicas, as projeções, as luzes. Não temos set list nem costumamos ensaiar. Tudo é manipulado na hora e produzimos a performance de acordo com a resposta do público."

No palco, o Underworld (Hyde e o produtor Rick Smith) é acompanhado pelo DJ Darren Price. O show chega a durar até três horas, mas, em São Paulo, o duo tocará por duas horas (das 20h às 22h).

Com quatro discos de estúdio, além de coletâneas, o Underworld ficou conhecido no planeta pela faixa "Born Slippy", música-tema do filme "Trainspotting" (96). A canção, entoada até em arquibancadas de futebol, transformou-se num hino hedonista, celebração de uma juventude niilista.

"Essa música é, na verdade, como um grito de socorro", diz Hyde, que a compôs numa época em que passava por problemas com o álcool. "Não acho que seja hedonista, pelo menos não era a intenção."

E foi "Born Slippy" que levantou "Trainspotting" ou foi "Trainspotting" que levantou "Born Slippy"? "Funcionam juntos. Não dá para escolher um sem pensar no outro. Além disso, a partir dali começamos a colaborar com Danny [Boyle, cineasta]. Já fizemos cinco filmes com ele e acabamos de fazer mais um, "Sunshine", que será lançado no ano que vem."

O Underworld tem apelo variado, vide faixas como "Two Months Off", "Jumbo" e "Rez". "Somos ecléticos, ouvimos reggae, erudito, trilhas sonoras, música indígena... Nossas canções não são puramente eletrônicas ou puramente dance music. Em todos os álbuns há faixas para a pista e para serem ouvidas em outros lugares."

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