da Folha Online
O ex-presidente iraquiano Saddam Hussein será executado até o domingo, após ser condenado à morte pelo assassinato de 148 pessoas em 1982, disse hoje a rede de televisão americana "NBC", informou a agência Efe.
Saddam será enforcado antes do começo da Festa do Sacrifício muçulmana, que começa neste fim de semana, disse a "NBC", que citou como fonte de sua informação um militar americano de alta patente que pediu para não ser identificado.
No começo da noite desta quinta-feira, contudo, a agência France Presse informou que a Casa Branca acreditava que a execução do ex-ditador iraquiano "poderia ser" no sábado, de acordo com um alto responsável da administração americana que também pediu anonimato.
O funcionário disse ter recebido de seus compatriotas em Bagdá sinais de que a sentença de morte não seria aplicada "esta noite [de quinta-feira], horário dos Estados Unidos, nem amanhã, hora do Iraque. Talvez seja outro dia".
Contudo, destacou que a conclusão da execução de Saddam Hussein será decidida pelo governo iraquiano.
"É uma decisão que pertence ao governo do Iraque", assegurou.
No sábado começa a festa muçulmana do Hadj. Neste dia, cada chefe de família muçulmano deve sacrificar uma ovelha, em memória do patriarca Ibrahim (Abraão) que, segundo o Corão, estava a ponto de enforcar seu filho Ismael por ordem de Deus, quando este lhe enviou uma ovelha consagrada ao sacrifício para salvar seu filho.
Repúdio
Tanto o premiê italiano, Romano Prodi, quanto o ministro das Relações Exteriores da Itália, Massimo D'Alema, repudiaram a condenação de Saddam à morte.
Um dos advogados de Saddam Hussein, Giovanni Di Stefano, afirmou hoje em entrevista televisiva que pediu aos Estados Unidos que não entreguem o ex-presidente iraquiano, que consta como prisioneiro de guerra americano, às autoridades iraquianas para ser executado.
Di Stefano disse no canal via satélite "Sky" que os Estados Unidos "têm em suas mãos" o futuro de Hussein e que pode negar-se a entregar o ex-ditador ao Iraque "por não ter tido um julgamento justo".
O advogado italiano afirmou que enviou este pedido à Comissão de Direitos Humanos dos Estados Unidos e que considerou o processo contra Saddam "um julgamento político".
Di Stefano anunciou que verá o ex-ditador iraquiano em 4 de janeiro, após a autorização das autoridades americanas, desmentindo, portanto, que a execução de Saddam fosse ocorrer antes dessa data.
Além disso, o advogado afirmou que o ex-ditador iraquiano "é um homem forte, que sofreu muito" e que "está preparado para morrer".
sexta-feira, dezembro 29, 2006
terça-feira, dezembro 26, 2006
Frank Stanton, pioneiro da radiodifusão, morre aos 98 anos
"O chefe do departamento legal era uma das pessoas mais corretas e justas que conheci. Quando ele disse que aquele era o caminho a seguir, nós o seguimos", afirmou, sobre a lista negra da CBS sob o macarthismo
Holcomb B. Noble
The New York Times
Frank Stanton, uma figura central no desenvolvimento das transmissões de televisão nos Estados Unidos e o porta-voz mais articulado e persuasivo do setor durante suas quase três décadas como presidente da CBS, morreu na madrugada em sua casa em Boston, disse Winifred Williams, sua assistente de longa data, na segunda-feira.
Ele tinha 98 anos e enfrentava problemas de saúde, ela disse.
Stanton foi o braço direito de William S. Paley, o lendário magnata que construiu o império da Columbia Broadcasting System a partir de um punhado de emissoras de rádio em dificuldades, em 1928.
De 1946 a 1973, os dois homens formaram aquela que provavelmente foi a maior equipe na história da radiodifusão, tornando a CBS, por algum tempo, a mais poderosa empresa de comunicações do mundo, assim como a de maior prestígio.
Foi sob Stanton e Paley que a CBS, misturando programação de entretenimento com jornalismo de alta qualidade e pitadas de alta cultura, ganhou sua reputação de "Rede Tiffany".
Atuando tanto como um brilhante construtor de corporação quanto como um executivo de mentalidade tecnológica, Stanton - todos o chamavam de "doutor" - teve um papel central na ascensão da CBS. Ele o fez apesar de um relacionamento com Paley freqüentemente estremecido e objeto de perplexidade para aqueles ao redor deles.
Em sua biografia de Paley de 1990, "In All His Glory", Sally Bedell Smith escreveu: "Em temperamento, os dois homens eram opostos: Paley, o homem de charme ilimitado, superficialmente caloroso, mas basicamente impiedoso e ensimesmado; Stanton, um suíço reservado cuja sagacidade nos negócios, decência e humor moderado o tornava querido pelos colegas."
"Paley tinha uma curiosidade inquieta, facilmente saciável, enquanto Stanton sondava mais profundamente e era interessado em uma maior variedade de assuntos", continuou Smith. "Paley agia de acordo com os instintos; Stanton de acordo com o cérebro. Paley podia ser desorganizado e imprevisível. Stanton era disciplinado e sistemático. Mas o relacionamento deles funcionava - em grande parte devido à paciência e diligência de Stanton."
Stanton não se sentia à vontade no glamouroso turbilhão social que Paley dominava. Os dois homens não socializavam. Smith escreveu que Paley se ressentia da recusa de Stanton de convidá-lo à sua casa, chamando seu associado de "um homem frio e fechado".
Stanton era admirado por políticos, empresários e demais radiodifusores como um executivo com princípios e altas aspirações. O setor freqüentemente se voltava a ele para que liderasse batalhas contra o envolvimento do governo na programação de rádio e televisão.
Armado com estatísticas e um conhecimento enciclopédico sobre seu assunto, Stanton aparecia perante o Congresso ou falava com o presidente ou membro do Congresso ao telefone, defendendo de forma graciosa e persuasiva a posição do setor, geralmente com sucesso.
Durante os primórdios da televisão, quando Paley se agarrava à idéia de que o rádio continuaria sendo o meio principal da CBS, Stanton percebeu que a prosperidade da empresa dependeria da televisão e da diversificação em áreas como o disco long-play, o LP, cujo crescimento ele guiou após seu desenvolvimento por Peter Goldmark.
Em 1946, Stanton se tornou o "homem do futuro" da CBS, traçando seu crescimento às vezes doloroso como rede de televisão. Sua visão era clara sobre em que direção o meio devia seguir.
"A televisão, como o rádio", disse Stanton em 1948, "deve ser um meio para a maioria dos americanos, não para quaisquer grupos pequenos ou especiais; portanto, sua programação deve ter um padrão de acordo com o que a audiência majoritária gosta e deseja".
Frank Nicholas Stanton nasceu em 20 de março de 1908, em Muskegon, Michigan, o mais velho de dois filhos de Frank Cooper Stanton, um professor de mecânica e marcenaria, e de Helen Schmidt. Após a mudança de sua família para Dayton, Ohio, quando ele era garoto, Frank aprendeu eletrônica na bancada de seu pai.
O jovem Frank se especializou em zoologia e psicologia na Universidade Wesleyana de Ohio, formando-se em 1930 e visando a tornar-se um médico. Mas achando a faculdade de medicina cara demais, ele aceitou uma bolsa para estudar psicologia pela Estadual de Ohio, onde se formou em 1932. Um ano antes, ele se casou com Ruth Stephenson, que conheceu na escola dominical quando ambos tinham 14 anos.
Enquanto buscava um doutorado, estudando formas de medir a audiência de massa do rádio, ele inventou um precursor do audímetro da Nielsen. O aparelho podia ser instalado dentro de um aparelho de rádio para registrar que programas os ouvintes estavam sintonizando. Paul Kersten, um executivo da CBS, ficou tão impressionado com o projeto que acabou oferecendo um emprego de US$ 55 por semana para Stanton em seu departamento de pesquisa, composto de dois homens. Um dia depois de receber seu doutorado, em 1935, Stanton e sua esposa subiram em seu Ford Modelo A e seguiram para Nova York.
A pesquisa de Stanton dos hábitos dos ouvintes de rádio era tão sofisticada que a CBS começou a usá-la para atrair anunciantes e segmentos da audiência, para selecionar programas e determinar seu conteúdo, assim como para persuadir executivos de rádio a trocar suas afiliadas da NBC para a CBS.
Em 1938, Stanton tornou-se diretor de pesquisa da CBS com cem funcionários. Juntamente com o cientista social Paul Lazarsfeld, ele inventou um dispositivo chamado analisador de programa. Ele permitia à CBS monitorar simultaneamente as respostas de cem ouvintes a um programa de rádio específico, medindo o que gostavam e o que não gostavam. A CBS usou o analisador por meio século.
Notando que uma emissora da CBS podia melhorar sua audiência transmitindo programas semelhantes um após o outro, Stanton persuadiu a rede a adotar a prática. A programação em bloco acabou se tornando norma no setor.
Stanton permaneceu na rede durante a Segunda Guerra Mundial ao mesmo tempo em que servia como consultor do secretário de Guerra, do Escritório de Informação de Guerra e do Escritório de Fatos e Números. Em 1945 ele se tornou vice-presidente e gerente-geral da CBS.
A presidência da rede lhe foi oferecidda com o retorno de William Paley da Europa, onde serviu como coronel do Exército no Escritório de Informação de Guerra. A primeira opção de Paley para o cargo, Kersten, recusou, citando problemas de saúde, mas recomendou Stanton, que foi convidado por Paley à sua propriedade em Long Island. Após o jantar, eles deram uma caminhada sob a chuva e Paley surpreendeu seu convidado ao dizer casualmente: "A propósito, Frank, eu quero que você comande a empresa". Paley lhe disse que queria se ver livre dos problemas cotidianos de dirigir a CBS.
Stanton estava considerando deixar a CBS para se tornar sócio em uma empresa de pesquisa de opinião com George Gallup e Elmo Roper, que acabaram se tornando gigantes no campo. Mas ele aceitou a oferta de Paley e, em 1946, tornou-se presidente da CBS aos 38 anos.
Como presidente, Stanton reorganizou a CBS em divisões diferentes para rádio, televisão e laboratórios. Programação e entretenimento eram domínio de Paley, apesar de Stanton ter sido responsável pela transferência do maior astro do rádio da CBS nos anos 40, Arthur Godfrey, para a televisão e por arriscar com um humorista com problemas de alcoolismo, Jackie Gleason. Um projeto de Stanton que foi aclamado pela crítica, o teleteatro "Playhouse 90", foi cancelado por Pailey quando sua audiência despencou.
"Eu acho que se houvesse algo que quisesse fazer na empresa e o propusesse, havia uma boa chance de ir em frente e fazê-lo", teria dito Stanton, segundo Smith.
Mas sua liberdade não era total. Uma pessoa que ele não podia controlar era Edward R. Murrow, o jornalista mais célebre da CBS. Murrow tinha laços estreitos com Paley e, para ressentimento de Stanton, repetidamente o contornava para discutir seus planos ou problemas diretamente com Paley.
Murrow considerava Stanton um analista de números que sabia pouco sobre telejornalismo, e tendia a culpar Stanton, e não Paley, quando o departamento executivo o atrapalhava.
Quando o aclamado programa semanal de Murrow, "See it Now", começou a perder patrocinadores, Paley interveio e, sem objeção de Stanton, reduziu o programa para entre 8 e 10 exibições por ano antes de tirá-lo do ar em 1958.
O enfraquecimento de Murrow pareceu apenas elevar a posição de Stanton como uma força a ser considerada na CBS News.
Como presidente da rede, Stanton concentrava-se atentamente na poderosa divisão de jornalismo. Ele criou um conselho executivo de revisão para manter uma política para a separação da editorialização e das políticas para notícias. Ele combinou os departamentos de notícias e assuntos públicos. Ele aumentou o orçamento do departamento de notícias e no final prolongou o noticiário noturno de 15 para 30 minutos. Ele criou o programa semanal de notícias investigativas e documentários "CBS Reports".
Em agosto de 1958, a rede mergulhou em um escândalo após um participante do altamente popular "The $64,000 Question" revelar que ele e outros recebiam as respostas. Investigações policiais e parlamentares foram abertas.
Promovendo sua própria investigação (sem consultar Paley, que estava na Espanha), Stanton pressionou o executivo responsável pelo programa a pedir demissão e cancelou os demais programas de perguntas e respostas da emissora.
Stanton via a diversificação como necessária para o crescimento da CBS. Sob seu comando, a rede começou a adquirir empresas, a publicar revistas e livros, produzir espetáculos na Broadway, incluindo o grande sucesso "My Fair Lady", e comprou o time de beisebol do New York Yankees (a performance dos Yankees não foi boa sob o comando da CBS e a equipe foi vendida para um grupo de investidores liderado por George Steinbrenner).
Stanton supervisionou o desenvolvimento do símbolo mais famoso da rede, o olho da CBS, desenhado por William Golden. E foi o principal responsável por conduzir à criação da sede da CBS, o arranha-céu de Manhattan conhecido como "Black Rock". Stanton persuadiu Paley a comprar o terreno, na 6ª Avenida com a Rua 52, escolheu Eero Saarinen como arquiteto e lutou com Paley em prol do austero desenho estilo internacional de Saarinen, com seu exterior preto.
Paley queria que o prédio fosse cor-de-rosa (quando Saarinen morreu, seu designer chefe, Kevin Roche, concluiu o prédio, que foi inaugurado com aclamação em 1964).
Quando lidava com o governo, Stanton podia contar com uma longa lista de amigos poderosos em Washington, incluindo Harry S. Truman e Lyndon B. Johnson. Mas, apesar da influência, ele e Paley, como outros radiodifusores, não resistiram às caçadas anticomunistas do final dos anos 40 e início dos 50.
Em 1950, para tranqüilizar anunciantes e grupos de pressão, Stanton aprovou a exigência de que os funcionários da CBS fizessem um voto de lealdade aos Estados Unidos. No ano seguinte, com aprovação de Paley, Stanton criou um escritório de segurança composto por ex-agentes do FBI para investigar as inclinações políticas de seus funcionários. Redatores, diretores e outros freqüentemente eram colocados em listas negras, com aprovação da CBS.
Em 1999, quando a divisão de Nova York da Academia Nacional de Artes e Ciências da Televisão concedeu-lhe um prêmio por seus esforços em prol da Primeira Emenda, Stanton disse que a lista negra foi necessária para afastar a pressão de anunciantes e afiliadas que ameaçavam abandonar a CBS e possivelmente seu fechamento. Mas ele reconheceu que a resposta da rede à pressão pode não ter sido a melhor.
"Eu não tive a sabedoria, nem ninguém mais", disse Stanton. "O chefe do departamento legal era uma das pessoas mais corretas e justas que conheci. Quando ele disse que aquele era o caminho a seguir, nós o seguimos."
Com a proximidade da eleição presidencial de 1960, Stanton persuadiu o Congresso a suspender o artigo de "tempo igual" na Lei Federal de Comunicações. Isto possibilitou às emissoras a transmissão dos debates entre o candidato democrata, John F. Kennedy, e seu adversário republicano, o vice-presidente Richard M. Nixon, sem a inclusão dos candidatos dos partidos pequenos. Os debates sinalizaram a chegada da televisão como força dominante na política presidencial.
Stanton suportou grande parte das críticas quando Washington fez objeção à cobertura da guerra do Vietnã pela CBS, apesar de ter negado a história contada com freqüência de que o presidente Johnson telefonou para a casa dele para xingá-lo pela exibição da reportagem de Morley Safer, que mostrava marines incendiando cabanas de camponeses em Cam Ne.
Em 1971, Stanton foi ameaçado de prisão por sua defesa da divisão de jornalismo. A CBS exibiu uma reportagem investigativa de uma hora chamada "A venda do Pentágono", sobre uma campanha de US$ 30 milhões do Departamento de Defesa para melhorar sua imagem, e o Comitê de Comércio Interestadual e Internacional da Câmara exigiu que material que foi cortado do programa lhe fosse entregue. Ele queria ver se a CBS foi tendenciosa ao deliberadamente não usar material que poderia ter sido favorável ao Pentágono.
Ao receber a intimação em seu escritório para obtenção do material, Stanton recusou-se a cumpri-la e foi convocado perante o comitê. Ele argumentou que o comitê estava violando os direitos de liberdade de expressão e liberdade de imprensa segundo a Primeira Emenda.
"Se jornalistas forem informados que suas anotações, filmes e fitas estarão sujeitos a análise compulsória para que o governo determine se as notícias foram satisfatoriamente editadas", ele disse, "o alcance, natureza e vigor de suas reportagens estarão inevitavelmente reduzidos".
O comitê votou por citá-lo por desacato. Mas após um debate acalorado no plenário, a Câmara rejeitou a citação do comitê.
Quando o governo Nixon começou a atacar as emissoras por sua cobertura da guerra, geralmente era Stanton quem respondia. "Stanton era a porta corta-fogo entre a presidência e os repórteres que cobriam a Casa Branca", disse Robert Pierpoint, um ex-correspondente da CBS na Casa Branca.
Por anos como presidente, Stanton acreditava que seria promovido como executivo-chefe da CBS -quando Paley atingiu a idade de 65 anos em 1966.
Afinal, Paley tinha lhe prometido. De fato, Stanton estava tão convencido que rejeitou a oportunidade de se tornar reitor da Universidade das Califórnia e recusou as ofertas do presidente Johnson para torná-lo secretário da Saúde, Educação e Bem-Estar Social ou subsecretário de Estado.
Mas Paley recuou de sua promessa e permaneceu como executivo-chefe além de sua idade de aposentadoria, e o relacionamento entre os dois nunca mais foi o mesmo. Em 1967, Stanton assinou um novo contrato, que exigia sua renúncia como presidente em 1971 para se tornar vice-presidente e permanecer no cargo até sua aposentadoria, aos 65 anos, em 1973.
Após sua aposentadoria, Stanton foi presidente e diretor operacional chefe da Cruz Vermelha Nacional Americana por seis anos. Ele serviu nos conselhos diretores da Fundação Rockefeller, da Instituição Carnegie, Instituto de Pesquisa de Stanford e do Lincoln Center. Ele também foi o primeiro não formado em Harvard no século 20 a servir no conselho da Universidade de Harvard, e passou grande parte do restante de sua vida em Cambridge, Massachusetts, trabalhando em projetos para Harvard. Ele foi membro do conselho diretor da CBS até atingir a idade de aposentadoria em 1978, e então se tornou um consultor com alto salário até 1987, apesar de raramente ser consultado.
Apesar de todas suas realizações como arquiteto da CBS, Stanton deixou a rede desiludido, decepcionado e com pesar, afirmando que ela era "apenas outra empresa com carpetes sujos".
Quando se aposentou em 1973, ele deixou Black Rock discretamente, recusando-se a permitir que Paley lhe desse uma festa. Sua palavras de despedida foram citadas por Lillian Ross na revista "The New Yorker": "Eu acho que chegarei em casa a tempo do noticiário das sete".
Holcomb B. Noble
The New York Times
Frank Stanton, uma figura central no desenvolvimento das transmissões de televisão nos Estados Unidos e o porta-voz mais articulado e persuasivo do setor durante suas quase três décadas como presidente da CBS, morreu na madrugada em sua casa em Boston, disse Winifred Williams, sua assistente de longa data, na segunda-feira.
Ele tinha 98 anos e enfrentava problemas de saúde, ela disse.
Stanton foi o braço direito de William S. Paley, o lendário magnata que construiu o império da Columbia Broadcasting System a partir de um punhado de emissoras de rádio em dificuldades, em 1928.
De 1946 a 1973, os dois homens formaram aquela que provavelmente foi a maior equipe na história da radiodifusão, tornando a CBS, por algum tempo, a mais poderosa empresa de comunicações do mundo, assim como a de maior prestígio.
Foi sob Stanton e Paley que a CBS, misturando programação de entretenimento com jornalismo de alta qualidade e pitadas de alta cultura, ganhou sua reputação de "Rede Tiffany".
Atuando tanto como um brilhante construtor de corporação quanto como um executivo de mentalidade tecnológica, Stanton - todos o chamavam de "doutor" - teve um papel central na ascensão da CBS. Ele o fez apesar de um relacionamento com Paley freqüentemente estremecido e objeto de perplexidade para aqueles ao redor deles.
Em sua biografia de Paley de 1990, "In All His Glory", Sally Bedell Smith escreveu: "Em temperamento, os dois homens eram opostos: Paley, o homem de charme ilimitado, superficialmente caloroso, mas basicamente impiedoso e ensimesmado; Stanton, um suíço reservado cuja sagacidade nos negócios, decência e humor moderado o tornava querido pelos colegas."
"Paley tinha uma curiosidade inquieta, facilmente saciável, enquanto Stanton sondava mais profundamente e era interessado em uma maior variedade de assuntos", continuou Smith. "Paley agia de acordo com os instintos; Stanton de acordo com o cérebro. Paley podia ser desorganizado e imprevisível. Stanton era disciplinado e sistemático. Mas o relacionamento deles funcionava - em grande parte devido à paciência e diligência de Stanton."
Stanton não se sentia à vontade no glamouroso turbilhão social que Paley dominava. Os dois homens não socializavam. Smith escreveu que Paley se ressentia da recusa de Stanton de convidá-lo à sua casa, chamando seu associado de "um homem frio e fechado".
Stanton era admirado por políticos, empresários e demais radiodifusores como um executivo com princípios e altas aspirações. O setor freqüentemente se voltava a ele para que liderasse batalhas contra o envolvimento do governo na programação de rádio e televisão.
Armado com estatísticas e um conhecimento enciclopédico sobre seu assunto, Stanton aparecia perante o Congresso ou falava com o presidente ou membro do Congresso ao telefone, defendendo de forma graciosa e persuasiva a posição do setor, geralmente com sucesso.
Durante os primórdios da televisão, quando Paley se agarrava à idéia de que o rádio continuaria sendo o meio principal da CBS, Stanton percebeu que a prosperidade da empresa dependeria da televisão e da diversificação em áreas como o disco long-play, o LP, cujo crescimento ele guiou após seu desenvolvimento por Peter Goldmark.
Em 1946, Stanton se tornou o "homem do futuro" da CBS, traçando seu crescimento às vezes doloroso como rede de televisão. Sua visão era clara sobre em que direção o meio devia seguir.
"A televisão, como o rádio", disse Stanton em 1948, "deve ser um meio para a maioria dos americanos, não para quaisquer grupos pequenos ou especiais; portanto, sua programação deve ter um padrão de acordo com o que a audiência majoritária gosta e deseja".
Frank Nicholas Stanton nasceu em 20 de março de 1908, em Muskegon, Michigan, o mais velho de dois filhos de Frank Cooper Stanton, um professor de mecânica e marcenaria, e de Helen Schmidt. Após a mudança de sua família para Dayton, Ohio, quando ele era garoto, Frank aprendeu eletrônica na bancada de seu pai.
O jovem Frank se especializou em zoologia e psicologia na Universidade Wesleyana de Ohio, formando-se em 1930 e visando a tornar-se um médico. Mas achando a faculdade de medicina cara demais, ele aceitou uma bolsa para estudar psicologia pela Estadual de Ohio, onde se formou em 1932. Um ano antes, ele se casou com Ruth Stephenson, que conheceu na escola dominical quando ambos tinham 14 anos.
Enquanto buscava um doutorado, estudando formas de medir a audiência de massa do rádio, ele inventou um precursor do audímetro da Nielsen. O aparelho podia ser instalado dentro de um aparelho de rádio para registrar que programas os ouvintes estavam sintonizando. Paul Kersten, um executivo da CBS, ficou tão impressionado com o projeto que acabou oferecendo um emprego de US$ 55 por semana para Stanton em seu departamento de pesquisa, composto de dois homens. Um dia depois de receber seu doutorado, em 1935, Stanton e sua esposa subiram em seu Ford Modelo A e seguiram para Nova York.
A pesquisa de Stanton dos hábitos dos ouvintes de rádio era tão sofisticada que a CBS começou a usá-la para atrair anunciantes e segmentos da audiência, para selecionar programas e determinar seu conteúdo, assim como para persuadir executivos de rádio a trocar suas afiliadas da NBC para a CBS.
Em 1938, Stanton tornou-se diretor de pesquisa da CBS com cem funcionários. Juntamente com o cientista social Paul Lazarsfeld, ele inventou um dispositivo chamado analisador de programa. Ele permitia à CBS monitorar simultaneamente as respostas de cem ouvintes a um programa de rádio específico, medindo o que gostavam e o que não gostavam. A CBS usou o analisador por meio século.
Notando que uma emissora da CBS podia melhorar sua audiência transmitindo programas semelhantes um após o outro, Stanton persuadiu a rede a adotar a prática. A programação em bloco acabou se tornando norma no setor.
Stanton permaneceu na rede durante a Segunda Guerra Mundial ao mesmo tempo em que servia como consultor do secretário de Guerra, do Escritório de Informação de Guerra e do Escritório de Fatos e Números. Em 1945 ele se tornou vice-presidente e gerente-geral da CBS.
A presidência da rede lhe foi oferecidda com o retorno de William Paley da Europa, onde serviu como coronel do Exército no Escritório de Informação de Guerra. A primeira opção de Paley para o cargo, Kersten, recusou, citando problemas de saúde, mas recomendou Stanton, que foi convidado por Paley à sua propriedade em Long Island. Após o jantar, eles deram uma caminhada sob a chuva e Paley surpreendeu seu convidado ao dizer casualmente: "A propósito, Frank, eu quero que você comande a empresa". Paley lhe disse que queria se ver livre dos problemas cotidianos de dirigir a CBS.
Stanton estava considerando deixar a CBS para se tornar sócio em uma empresa de pesquisa de opinião com George Gallup e Elmo Roper, que acabaram se tornando gigantes no campo. Mas ele aceitou a oferta de Paley e, em 1946, tornou-se presidente da CBS aos 38 anos.
Como presidente, Stanton reorganizou a CBS em divisões diferentes para rádio, televisão e laboratórios. Programação e entretenimento eram domínio de Paley, apesar de Stanton ter sido responsável pela transferência do maior astro do rádio da CBS nos anos 40, Arthur Godfrey, para a televisão e por arriscar com um humorista com problemas de alcoolismo, Jackie Gleason. Um projeto de Stanton que foi aclamado pela crítica, o teleteatro "Playhouse 90", foi cancelado por Pailey quando sua audiência despencou.
"Eu acho que se houvesse algo que quisesse fazer na empresa e o propusesse, havia uma boa chance de ir em frente e fazê-lo", teria dito Stanton, segundo Smith.
Mas sua liberdade não era total. Uma pessoa que ele não podia controlar era Edward R. Murrow, o jornalista mais célebre da CBS. Murrow tinha laços estreitos com Paley e, para ressentimento de Stanton, repetidamente o contornava para discutir seus planos ou problemas diretamente com Paley.
Murrow considerava Stanton um analista de números que sabia pouco sobre telejornalismo, e tendia a culpar Stanton, e não Paley, quando o departamento executivo o atrapalhava.
Quando o aclamado programa semanal de Murrow, "See it Now", começou a perder patrocinadores, Paley interveio e, sem objeção de Stanton, reduziu o programa para entre 8 e 10 exibições por ano antes de tirá-lo do ar em 1958.
O enfraquecimento de Murrow pareceu apenas elevar a posição de Stanton como uma força a ser considerada na CBS News.
Como presidente da rede, Stanton concentrava-se atentamente na poderosa divisão de jornalismo. Ele criou um conselho executivo de revisão para manter uma política para a separação da editorialização e das políticas para notícias. Ele combinou os departamentos de notícias e assuntos públicos. Ele aumentou o orçamento do departamento de notícias e no final prolongou o noticiário noturno de 15 para 30 minutos. Ele criou o programa semanal de notícias investigativas e documentários "CBS Reports".
Em agosto de 1958, a rede mergulhou em um escândalo após um participante do altamente popular "The $64,000 Question" revelar que ele e outros recebiam as respostas. Investigações policiais e parlamentares foram abertas.
Promovendo sua própria investigação (sem consultar Paley, que estava na Espanha), Stanton pressionou o executivo responsável pelo programa a pedir demissão e cancelou os demais programas de perguntas e respostas da emissora.
Stanton via a diversificação como necessária para o crescimento da CBS. Sob seu comando, a rede começou a adquirir empresas, a publicar revistas e livros, produzir espetáculos na Broadway, incluindo o grande sucesso "My Fair Lady", e comprou o time de beisebol do New York Yankees (a performance dos Yankees não foi boa sob o comando da CBS e a equipe foi vendida para um grupo de investidores liderado por George Steinbrenner).
Stanton supervisionou o desenvolvimento do símbolo mais famoso da rede, o olho da CBS, desenhado por William Golden. E foi o principal responsável por conduzir à criação da sede da CBS, o arranha-céu de Manhattan conhecido como "Black Rock". Stanton persuadiu Paley a comprar o terreno, na 6ª Avenida com a Rua 52, escolheu Eero Saarinen como arquiteto e lutou com Paley em prol do austero desenho estilo internacional de Saarinen, com seu exterior preto.
Paley queria que o prédio fosse cor-de-rosa (quando Saarinen morreu, seu designer chefe, Kevin Roche, concluiu o prédio, que foi inaugurado com aclamação em 1964).
Quando lidava com o governo, Stanton podia contar com uma longa lista de amigos poderosos em Washington, incluindo Harry S. Truman e Lyndon B. Johnson. Mas, apesar da influência, ele e Paley, como outros radiodifusores, não resistiram às caçadas anticomunistas do final dos anos 40 e início dos 50.
Em 1950, para tranqüilizar anunciantes e grupos de pressão, Stanton aprovou a exigência de que os funcionários da CBS fizessem um voto de lealdade aos Estados Unidos. No ano seguinte, com aprovação de Paley, Stanton criou um escritório de segurança composto por ex-agentes do FBI para investigar as inclinações políticas de seus funcionários. Redatores, diretores e outros freqüentemente eram colocados em listas negras, com aprovação da CBS.
Em 1999, quando a divisão de Nova York da Academia Nacional de Artes e Ciências da Televisão concedeu-lhe um prêmio por seus esforços em prol da Primeira Emenda, Stanton disse que a lista negra foi necessária para afastar a pressão de anunciantes e afiliadas que ameaçavam abandonar a CBS e possivelmente seu fechamento. Mas ele reconheceu que a resposta da rede à pressão pode não ter sido a melhor.
"Eu não tive a sabedoria, nem ninguém mais", disse Stanton. "O chefe do departamento legal era uma das pessoas mais corretas e justas que conheci. Quando ele disse que aquele era o caminho a seguir, nós o seguimos."
Com a proximidade da eleição presidencial de 1960, Stanton persuadiu o Congresso a suspender o artigo de "tempo igual" na Lei Federal de Comunicações. Isto possibilitou às emissoras a transmissão dos debates entre o candidato democrata, John F. Kennedy, e seu adversário republicano, o vice-presidente Richard M. Nixon, sem a inclusão dos candidatos dos partidos pequenos. Os debates sinalizaram a chegada da televisão como força dominante na política presidencial.
Stanton suportou grande parte das críticas quando Washington fez objeção à cobertura da guerra do Vietnã pela CBS, apesar de ter negado a história contada com freqüência de que o presidente Johnson telefonou para a casa dele para xingá-lo pela exibição da reportagem de Morley Safer, que mostrava marines incendiando cabanas de camponeses em Cam Ne.
Em 1971, Stanton foi ameaçado de prisão por sua defesa da divisão de jornalismo. A CBS exibiu uma reportagem investigativa de uma hora chamada "A venda do Pentágono", sobre uma campanha de US$ 30 milhões do Departamento de Defesa para melhorar sua imagem, e o Comitê de Comércio Interestadual e Internacional da Câmara exigiu que material que foi cortado do programa lhe fosse entregue. Ele queria ver se a CBS foi tendenciosa ao deliberadamente não usar material que poderia ter sido favorável ao Pentágono.
Ao receber a intimação em seu escritório para obtenção do material, Stanton recusou-se a cumpri-la e foi convocado perante o comitê. Ele argumentou que o comitê estava violando os direitos de liberdade de expressão e liberdade de imprensa segundo a Primeira Emenda.
"Se jornalistas forem informados que suas anotações, filmes e fitas estarão sujeitos a análise compulsória para que o governo determine se as notícias foram satisfatoriamente editadas", ele disse, "o alcance, natureza e vigor de suas reportagens estarão inevitavelmente reduzidos".
O comitê votou por citá-lo por desacato. Mas após um debate acalorado no plenário, a Câmara rejeitou a citação do comitê.
Quando o governo Nixon começou a atacar as emissoras por sua cobertura da guerra, geralmente era Stanton quem respondia. "Stanton era a porta corta-fogo entre a presidência e os repórteres que cobriam a Casa Branca", disse Robert Pierpoint, um ex-correspondente da CBS na Casa Branca.
Por anos como presidente, Stanton acreditava que seria promovido como executivo-chefe da CBS -quando Paley atingiu a idade de 65 anos em 1966.
Afinal, Paley tinha lhe prometido. De fato, Stanton estava tão convencido que rejeitou a oportunidade de se tornar reitor da Universidade das Califórnia e recusou as ofertas do presidente Johnson para torná-lo secretário da Saúde, Educação e Bem-Estar Social ou subsecretário de Estado.
Mas Paley recuou de sua promessa e permaneceu como executivo-chefe além de sua idade de aposentadoria, e o relacionamento entre os dois nunca mais foi o mesmo. Em 1967, Stanton assinou um novo contrato, que exigia sua renúncia como presidente em 1971 para se tornar vice-presidente e permanecer no cargo até sua aposentadoria, aos 65 anos, em 1973.
Após sua aposentadoria, Stanton foi presidente e diretor operacional chefe da Cruz Vermelha Nacional Americana por seis anos. Ele serviu nos conselhos diretores da Fundação Rockefeller, da Instituição Carnegie, Instituto de Pesquisa de Stanford e do Lincoln Center. Ele também foi o primeiro não formado em Harvard no século 20 a servir no conselho da Universidade de Harvard, e passou grande parte do restante de sua vida em Cambridge, Massachusetts, trabalhando em projetos para Harvard. Ele foi membro do conselho diretor da CBS até atingir a idade de aposentadoria em 1978, e então se tornou um consultor com alto salário até 1987, apesar de raramente ser consultado.
Apesar de todas suas realizações como arquiteto da CBS, Stanton deixou a rede desiludido, decepcionado e com pesar, afirmando que ela era "apenas outra empresa com carpetes sujos".
Quando se aposentou em 1973, ele deixou Black Rock discretamente, recusando-se a permitir que Paley lhe desse uma festa. Sua palavras de despedida foram citadas por Lillian Ross na revista "The New Yorker": "Eu acho que chegarei em casa a tempo do noticiário das sete".
segunda-feira, dezembro 25, 2006
Réveillon do Rio terá 16 minutos de fogos e custará R$ 5 milhões
da Folha Online
A cidade do Rio de Janeiro se prepara para a tradicional festa de Réveillon no próximo dia 31, promovida pela Prefeitura do Rio, que desembolsará R$ 5 milhões neste ano. São esperados 583 mil turistas para a virada na praia de Copacabana.
O espetáculo pirotécnico, que ficará por conta da empresa News Fireworks do Brasil, participante do consórcio vencedor, terá 16 minutos e custará R$ 1,8 milhão. Serão cerca de 19 mil bombas, totalizando 24 toneladas de pólvora detonadas de oito balsas que serão posicionadas a 360 metros da areia, em frente a vários pontos de Copacabana.
O palco principal será instalado no canteiro central da avenida Atlântica, entre as ruas Figueiredo Magalhães e Santa Clara. Serão 36 torres de som espalhadas do Leme ao Posto 6, com doze caixas em cada uma delas.
A festa começa às 18h com o DJ André Paulo, sucedido pelas orquestras Tabajara e, depois, Cuba Libre. O cantor Eduardo Dusek fará a contagem regressiva para a virada.
O Rio também terá um palco de eventos na praia de Ipanema (posto 8), onde se apresentarão a banda Black Eyed Peas, o cantor norte-americano John Legend, o pianista Sérgio Mendes, além de DJ Malboro e a escola Grande Rio.
Outros seis palcos espalhados pela cidade têm programadas atrações como Lecy Brandão, Swing e Simpatia, Perla e as escolas de samba São Clemente e Imperatriz Leopodinense. A prefeitura espera receber 1,3 milhão de pessoas nesses pontos.
Além de Copacabana e Ipanema, as outras atrações acontecem nos palcos Barra da Tijuca (Quebra Mar), Ilha do Governador (praia da Bica), Paquetá (praia da Moreninha), Pedra de Guaratiba (praia da Brisa), Sepetiba (praia Dona Luisa) e Penha (praça Santa Emiliana). Veja a programação completa no site da Riotur.
A cidade do Rio de Janeiro se prepara para a tradicional festa de Réveillon no próximo dia 31, promovida pela Prefeitura do Rio, que desembolsará R$ 5 milhões neste ano. São esperados 583 mil turistas para a virada na praia de Copacabana.
O espetáculo pirotécnico, que ficará por conta da empresa News Fireworks do Brasil, participante do consórcio vencedor, terá 16 minutos e custará R$ 1,8 milhão. Serão cerca de 19 mil bombas, totalizando 24 toneladas de pólvora detonadas de oito balsas que serão posicionadas a 360 metros da areia, em frente a vários pontos de Copacabana.
O palco principal será instalado no canteiro central da avenida Atlântica, entre as ruas Figueiredo Magalhães e Santa Clara. Serão 36 torres de som espalhadas do Leme ao Posto 6, com doze caixas em cada uma delas.
A festa começa às 18h com o DJ André Paulo, sucedido pelas orquestras Tabajara e, depois, Cuba Libre. O cantor Eduardo Dusek fará a contagem regressiva para a virada.
O Rio também terá um palco de eventos na praia de Ipanema (posto 8), onde se apresentarão a banda Black Eyed Peas, o cantor norte-americano John Legend, o pianista Sérgio Mendes, além de DJ Malboro e a escola Grande Rio.
Outros seis palcos espalhados pela cidade têm programadas atrações como Lecy Brandão, Swing e Simpatia, Perla e as escolas de samba São Clemente e Imperatriz Leopodinense. A prefeitura espera receber 1,3 milhão de pessoas nesses pontos.
Além de Copacabana e Ipanema, as outras atrações acontecem nos palcos Barra da Tijuca (Quebra Mar), Ilha do Governador (praia da Bica), Paquetá (praia da Moreninha), Pedra de Guaratiba (praia da Brisa), Sepetiba (praia Dona Luisa) e Penha (praça Santa Emiliana). Veja a programação completa no site da Riotur.
sábado, dezembro 23, 2006
"Se Deus não existe, tudo é permitido"? ("Irmãos Karamazov", Fiódor Dostoiévski)
NÃO
Uma ética humana
A FRASE , acima convertida em pergunta, é do século 19, mas a resposta "não" a ela somente se torna possível no século 18. Parece um paradoxo, mas me explico. Até o tempo das "Luzes", a esmagadora maioria dos pensadores ocidentais concordaria com o enunciado devido a Dostoiévski, isto é, com a idéia de que o ateu é imoral. Quem não acredita no Criador não seria capaz de respeitar nenhuma regra ética.
Assim, por volta de 1650, o bispo anglicano John Bramhall, um dos críticos mais ásperos do inglês Thomas Hobbes (que, por sinal, não era ateu), acusa o filósofo de não crer em Deus: "Hobbes acaba com o céu", diz ele, "e, pior: com o inferno".
Gosto muito desse "pior", que dá a chave do enigma. A acusação de ateísmo na verdade oculta o que realmente importa. O problema, para o fiel Bramhall, não é tanto se o céu existe. É que precisa haver um inferno, para que a multidão parva obedeça. Anos depois, quando o libertino conde Rochester agoniza, o pastor o convence, no leito de morte, a dizer-se arrependido. O conde não crê em Deus, mas é persuadido pelo argumento de que, se um grande do reino morrer sem os sacramentos, o populacho não será mais contido pelo medo do inferno.
Com as "Luzes", isso muda. A idéia de que, para ser moral, seria preciso acreditar em Deus (isto é, no Deus que amedronta, que pune: o Deus do inferno) é contestada em nome de uma ética humana, que possa valer mesmo sem o medo do castigo eterno.
Talvez seja Kant quem deu o passo decisivo para tanto, quando formulou um princípio cujo legado pode ser assim simplificado: a cada ação que cometo, estou reconhecendo o direito (ou o dever) de todo ser humano a também cometê-la.
Isso -que em "kantês" significa cada ser humano se tornar legislador ético- implica que, se desobedeço aos sinais de trânsito, se procuro levar vantagem em tudo, confiro a todos os meus semelhantes os mesmos direitos. Ora, é óbvio que, assim, o convívio social seria impossível. Provavelmente, teremos vidas sórdidas, sofridas, cruéis e curtas se agirmos dessa maneira. Por conseguinte, a cada ação que eu pratique, devo refletir muito bem se quero autorizar todos os outros a praticá-la. Se sim, ótimo. Se não, devo rever minha posição.
A partir dessa teoria, que resumi em linguagem que já não é kantiana, fica possível uma ética somente dos humanos entre si. Não é mais imprescindível a Revelação, menos ainda a punição por toda a eternidade. O conteúdo dos mandamentos não depende mais de Deus. Pode ser constituído em nosso próprio mundo. A moral e a ética deixam de apelar a uma transcendência, ao poder do Altíssimo, e se constroem neste mundo imanente, o nosso, o único que conhecemos.
Não quer dizer que essa idéia de uma ética sem o medo a Deus se tenha tornado unanimidade. Muitos ainda acham que Deus é necessário para explicar o que é certo e errado (nós não seríamos capazes disso) ou para punir quem se desvie do bom caminho (idem, ibidem). Mas, se hoje a conduta ética dos ateus ou indiferentes não tem nada a dever à dos religiosos e sobretudo à dos intolerantes, é porque essa tese moderna de uma ética humana tem valor e validade.
É importante concluir com duas notas. A primeira é que uma ética assim inspirada em Kant (mas que altera algumas de suas teses) é capaz de evoluir. No século 18, possivelmente ela admitiria a pena de morte; hoje, provavelmente, não. Muitas questões ficam em aberto, como aborto e eutanásia. O crucial é a forma da escolha ética (que cada um seja desafiado a enunciar seus valores, sob a condição de reconhecê-los como universais ou, pelo menos, recíprocos), mais que um conteúdo fixado de vez por todas.
A segunda e curiosa conclusão é que uma ética assim humana não é necessariamente atéia. Posso ou não acreditar em Deus, mas eu ser ou não ético deixa de estar subordinado ao medo de um Deus assustador. Uns serão éticos, mesmo não acreditando n'Ele. Por sua vez, outros cultuarão um Deus da justiça e do amor, mais que da repressão e do castigo. A crença em Deus ganha, em vez de perder, quando Ele corta o vínculo preferencial com o inferno e o medo.
RENATO JANINE RIBEIRO, 57, é professor titular de ética e filosofia política da USP. É autor, entre outros livros, de "Ética na Política" (Sesc) e de "A Sociedade contra o Social" (Cia. das Letras).
Uma ética humana
A FRASE , acima convertida em pergunta, é do século 19, mas a resposta "não" a ela somente se torna possível no século 18. Parece um paradoxo, mas me explico. Até o tempo das "Luzes", a esmagadora maioria dos pensadores ocidentais concordaria com o enunciado devido a Dostoiévski, isto é, com a idéia de que o ateu é imoral. Quem não acredita no Criador não seria capaz de respeitar nenhuma regra ética.
Assim, por volta de 1650, o bispo anglicano John Bramhall, um dos críticos mais ásperos do inglês Thomas Hobbes (que, por sinal, não era ateu), acusa o filósofo de não crer em Deus: "Hobbes acaba com o céu", diz ele, "e, pior: com o inferno".
Gosto muito desse "pior", que dá a chave do enigma. A acusação de ateísmo na verdade oculta o que realmente importa. O problema, para o fiel Bramhall, não é tanto se o céu existe. É que precisa haver um inferno, para que a multidão parva obedeça. Anos depois, quando o libertino conde Rochester agoniza, o pastor o convence, no leito de morte, a dizer-se arrependido. O conde não crê em Deus, mas é persuadido pelo argumento de que, se um grande do reino morrer sem os sacramentos, o populacho não será mais contido pelo medo do inferno.
Com as "Luzes", isso muda. A idéia de que, para ser moral, seria preciso acreditar em Deus (isto é, no Deus que amedronta, que pune: o Deus do inferno) é contestada em nome de uma ética humana, que possa valer mesmo sem o medo do castigo eterno.
Talvez seja Kant quem deu o passo decisivo para tanto, quando formulou um princípio cujo legado pode ser assim simplificado: a cada ação que cometo, estou reconhecendo o direito (ou o dever) de todo ser humano a também cometê-la.
Isso -que em "kantês" significa cada ser humano se tornar legislador ético- implica que, se desobedeço aos sinais de trânsito, se procuro levar vantagem em tudo, confiro a todos os meus semelhantes os mesmos direitos. Ora, é óbvio que, assim, o convívio social seria impossível. Provavelmente, teremos vidas sórdidas, sofridas, cruéis e curtas se agirmos dessa maneira. Por conseguinte, a cada ação que eu pratique, devo refletir muito bem se quero autorizar todos os outros a praticá-la. Se sim, ótimo. Se não, devo rever minha posição.
A partir dessa teoria, que resumi em linguagem que já não é kantiana, fica possível uma ética somente dos humanos entre si. Não é mais imprescindível a Revelação, menos ainda a punição por toda a eternidade. O conteúdo dos mandamentos não depende mais de Deus. Pode ser constituído em nosso próprio mundo. A moral e a ética deixam de apelar a uma transcendência, ao poder do Altíssimo, e se constroem neste mundo imanente, o nosso, o único que conhecemos.
Não quer dizer que essa idéia de uma ética sem o medo a Deus se tenha tornado unanimidade. Muitos ainda acham que Deus é necessário para explicar o que é certo e errado (nós não seríamos capazes disso) ou para punir quem se desvie do bom caminho (idem, ibidem). Mas, se hoje a conduta ética dos ateus ou indiferentes não tem nada a dever à dos religiosos e sobretudo à dos intolerantes, é porque essa tese moderna de uma ética humana tem valor e validade.
É importante concluir com duas notas. A primeira é que uma ética assim inspirada em Kant (mas que altera algumas de suas teses) é capaz de evoluir. No século 18, possivelmente ela admitiria a pena de morte; hoje, provavelmente, não. Muitas questões ficam em aberto, como aborto e eutanásia. O crucial é a forma da escolha ética (que cada um seja desafiado a enunciar seus valores, sob a condição de reconhecê-los como universais ou, pelo menos, recíprocos), mais que um conteúdo fixado de vez por todas.
A segunda e curiosa conclusão é que uma ética assim humana não é necessariamente atéia. Posso ou não acreditar em Deus, mas eu ser ou não ético deixa de estar subordinado ao medo de um Deus assustador. Uns serão éticos, mesmo não acreditando n'Ele. Por sua vez, outros cultuarão um Deus da justiça e do amor, mais que da repressão e do castigo. A crença em Deus ganha, em vez de perder, quando Ele corta o vínculo preferencial com o inferno e o medo.
RENATO JANINE RIBEIRO, 57, é professor titular de ética e filosofia política da USP. É autor, entre outros livros, de "Ética na Política" (Sesc) e de "A Sociedade contra o Social" (Cia. das Letras).
"Se Deus não existe, tudo é permitido"? ("Irmãos Karamazov", Fiódor Dostoiévski)
SIM
O mundo estilhaçado e a morte libertadora
"SE DEUS não existe e a alma é mortal, tudo é permitido" é um enunciado profundamente racional. Não se trata do lamento de uma mente frágil. Os Karamazov são especialistas na pureza da razão teórica e prática. Movimentam-se em direção aos exageros da "função razão": o objetivo é fundamentar o mundo pela sua decomposição e posterior reconstrução conceitual abstrata. Só que eles não encontram esse fundamento. Ao contrário, percebem a realidade despedaçada do mundo. O "tudo é permitido" emerge dos estilhaços do mundo.
A razão de Ivan Karamazov (muito próxima da que o ceticismo e a sofística conhecem) percebe a vacuidade de qualquer imperativo ético universal: o mundo é estilhaçado pela liberdade que a morte nos garante. Sem Deus, perde-se a forma absoluta do juízo moral: estamos sós no universo como animais ferozes que babam enquanto vagam pelo deserto e contemplam a solidão dos elementos. A morte, que devolverá a humanidade ao pó, é o fundamento último do nosso direito cósmico ao gozo do mal.
Esse ciclo nos liberta da única forma verdadeira de responsabilidade, a infinita. A moral é mera convenção e não está escrita na poeira das estrelas. O filósofo Karamazov descreve o impasse ético por excelência: por trás do blablablá socioconstrutivista do respeito ao "outro", o niilismo ri da razão. Na crítica à teoria utilitarista do meio (social) em "Crime e Castigo", Dostoiévski já apontara o caráter "científico" da revolução niilista fundamentada nas ciências sociais: se tudo é construído, toda desconstrução é racionalmente permitida. Além de desconstruir, sabemos construir? O homem pode ser a forma do homem?
A modernidade achou que sim. Kant pensou que, com seu risível imperativo categórico, nos salvaria, fundando a racionalidade pura da moral. Conseguiu apenas a exclusão cotidiana de toda forma de homem possível. A miserável ética utilitarista (a ética do mundo possível), síntese da alma prática que só calcula, busca na universal obsessão humana pelo prazer a fundamentação de uma ética para homens, cuja forma universal são os merceeiros ingleses (Marx). O humanismo rousseauniano apostou na educação para a felicidade e virou auto-ajuda.
Contra a fé em Kant e na economia, Dostoiévski descreve nos "Demônios" a trindade que funda o projeto do homem pelo homem: o jovem melancólico sem subjetividade (Nicolai, o existencialista elegante), o pai e professor preguiçoso e "sensível" (Stiépan, o amante das modas revolucionárias em educação, poesia e ciência) e o filho niilista cínico (Piotr, o patrono dos jacobinos, dos marxistas e dos cientistas da economia prática, esses burocratas da violência).
Entender esse enredo como desespero de uma alma religiosa é senso comum banal. A banalização é um dos modos corriqueiros de a modernidade lidar com o que não conhece (e ela conhece muito pouco de tudo, mas é tagarela e ama o superficial, como diria Tocqueville). A falácia comum é a suposição de que o intelecto teológico necessariamente teme o sofrimento. O único medo em Dostoiévski é aquele mesmo de Cervantes: "O medo tem muitos olhos e vê coisas no subsolo". O erro de Nietzsche quando reduz a religião ao ressentimento se transformou em "papo cabeça".
O argumento dos Karamazov é um diagnóstico, não uma oração pela salvação do homem: o sentimento real de que deslizamos aceleradamente sobre fina casca de gelo mortal é prova sublime do seu caráter profético. A história aqui nos basta. Dostoiévski anuncia a comédia trágica daqueles que deixaram de acreditar em Deus e, por isso mesmo, passaram a acreditar em qualquer reforma barata.
Contrariamente ao que pensava a risível crítica moderna da religião, o contato com Deus fortalece o intelecto nas mais íntimas estruturas lógicas e práticas de sua natureza.
LUIZ FELIPE PONDÉ, 47, filósofo, é professor do programa de pós-graduação em ciências da religião do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da FAAP. É autor de, entre outros títulos, "Crítica e Profecia, Filosofia da Religião em Dostoiévski" (ed. 34).
O mundo estilhaçado e a morte libertadora
"SE DEUS não existe e a alma é mortal, tudo é permitido" é um enunciado profundamente racional. Não se trata do lamento de uma mente frágil. Os Karamazov são especialistas na pureza da razão teórica e prática. Movimentam-se em direção aos exageros da "função razão": o objetivo é fundamentar o mundo pela sua decomposição e posterior reconstrução conceitual abstrata. Só que eles não encontram esse fundamento. Ao contrário, percebem a realidade despedaçada do mundo. O "tudo é permitido" emerge dos estilhaços do mundo.
A razão de Ivan Karamazov (muito próxima da que o ceticismo e a sofística conhecem) percebe a vacuidade de qualquer imperativo ético universal: o mundo é estilhaçado pela liberdade que a morte nos garante. Sem Deus, perde-se a forma absoluta do juízo moral: estamos sós no universo como animais ferozes que babam enquanto vagam pelo deserto e contemplam a solidão dos elementos. A morte, que devolverá a humanidade ao pó, é o fundamento último do nosso direito cósmico ao gozo do mal.
Esse ciclo nos liberta da única forma verdadeira de responsabilidade, a infinita. A moral é mera convenção e não está escrita na poeira das estrelas. O filósofo Karamazov descreve o impasse ético por excelência: por trás do blablablá socioconstrutivista do respeito ao "outro", o niilismo ri da razão. Na crítica à teoria utilitarista do meio (social) em "Crime e Castigo", Dostoiévski já apontara o caráter "científico" da revolução niilista fundamentada nas ciências sociais: se tudo é construído, toda desconstrução é racionalmente permitida. Além de desconstruir, sabemos construir? O homem pode ser a forma do homem?
A modernidade achou que sim. Kant pensou que, com seu risível imperativo categórico, nos salvaria, fundando a racionalidade pura da moral. Conseguiu apenas a exclusão cotidiana de toda forma de homem possível. A miserável ética utilitarista (a ética do mundo possível), síntese da alma prática que só calcula, busca na universal obsessão humana pelo prazer a fundamentação de uma ética para homens, cuja forma universal são os merceeiros ingleses (Marx). O humanismo rousseauniano apostou na educação para a felicidade e virou auto-ajuda.
Contra a fé em Kant e na economia, Dostoiévski descreve nos "Demônios" a trindade que funda o projeto do homem pelo homem: o jovem melancólico sem subjetividade (Nicolai, o existencialista elegante), o pai e professor preguiçoso e "sensível" (Stiépan, o amante das modas revolucionárias em educação, poesia e ciência) e o filho niilista cínico (Piotr, o patrono dos jacobinos, dos marxistas e dos cientistas da economia prática, esses burocratas da violência).
Entender esse enredo como desespero de uma alma religiosa é senso comum banal. A banalização é um dos modos corriqueiros de a modernidade lidar com o que não conhece (e ela conhece muito pouco de tudo, mas é tagarela e ama o superficial, como diria Tocqueville). A falácia comum é a suposição de que o intelecto teológico necessariamente teme o sofrimento. O único medo em Dostoiévski é aquele mesmo de Cervantes: "O medo tem muitos olhos e vê coisas no subsolo". O erro de Nietzsche quando reduz a religião ao ressentimento se transformou em "papo cabeça".
O argumento dos Karamazov é um diagnóstico, não uma oração pela salvação do homem: o sentimento real de que deslizamos aceleradamente sobre fina casca de gelo mortal é prova sublime do seu caráter profético. A história aqui nos basta. Dostoiévski anuncia a comédia trágica daqueles que deixaram de acreditar em Deus e, por isso mesmo, passaram a acreditar em qualquer reforma barata.
Contrariamente ao que pensava a risível crítica moderna da religião, o contato com Deus fortalece o intelecto nas mais íntimas estruturas lógicas e práticas de sua natureza.
LUIZ FELIPE PONDÉ, 47, filósofo, é professor do programa de pós-graduação em ciências da religião do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da FAAP. É autor de, entre outros títulos, "Crítica e Profecia, Filosofia da Religião em Dostoiévski" (ed. 34).
pffff...
Daniela Mercury critica lei "antijabá" e compara download a assalto (!!!)
DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online
Daniela Mercury, 41, atira para todos os lados. Seus próximos passos, por exemplo, vão de se apresentar com Fatboy Slim (com quem já gravou) e Shakira a homenagear Renato Russo em Salvador. Isso sem contar a recente gravação de "A Certain Softness" de Paul McCartney, que virou "Essa Ternura" e pode ser conferida no novo álbum/DVD "Balé Mulato Ao Vivo".
"É esse meu ecletismo...", começa a explicar a baiana, que ainda promete gravar um documentário sobre o axé music para lançar daqui "um, dois anos". Neste mês, a cantora aproveitou para se submeter a uma bateria de entrevistas de divulgação de seu novo álbum/DVD, gravado em setembro em Salvador.
No meio da maratona, Daniela Mercury topou falar com a Folha Online, por telefone, sobre temas polêmicos: lei "antijabá" ("Não vai resolver nada"), download de músicas na internet sem cobrança de direitos autorais ("Por que, então, não estamos roubando os carros, assaltando supermercados?"), 2º governo Lula ("Sou contra a reeleição"), atuação de Gilberto Gil no Ministério da Cultura ("Todo mundo é muito duro com ele") e, por que não, axé music ("O axé é um filho da tropicália").
Folha Online - O axé music ainda se sustenta hoje?
Daniela Mercury - Ninguém consegue definir claramente o que é o axé. Eu considero que o axé só se tornou o gênero que se tornou --inclusive, fui porta-voz dessa música, consegui levá-la para o sul e sudeste do país-- pela originalidade do samba-reggae. O axé é uma mistura, e eu continuo a misturar. É a música branca e negra de Salvador. Enfim, é com esse universo bem amplo que o axé se faz pós-tropicalista, completamente canibalista. Mas com uma característica que nos define, que é de tocarmos uma música mais dançante, forte ritmicamente. O axé music é um filho da tropicália, do Clube da Esquina, do Chico Buarque e da música internacional também.
Folha Online - Quando você decidiu misturar música eletrônica com axé recebeu crítica de fãs. Achavam que você queria se desvencilhar do gênero.
Daniela - Minha música eletrônica tinha a música brasileira como base rítmica. Mas eu pedia aos DJs, por exemplo, que buscassem seu próprio swing. O que tem swing me interessa. O mundo que tem swing me interessa. Se é para escolher um gênero, eu prefiro escolher o axé, já que sou precursora dele, e para mim ele é extremamente amplo. Agora, para as pessoas quem lêem minha carreira achando que eu quero me afastar do axé... eu não tenho preocupação de estar ou não afastada do axé, sou uma pessoa livre, tenho uma carreira de liberdade, inovações. Quero cantar de tudo. Se eu tiver tesão de cantar, eu canto.
Folha Online - Como você avalia os quatro anos de Gilberto Gil, de quem já foi backing vocal no início da carreira, no Ministério da Cultura?
Daniela - Acho que Gil fez coisas extremamente importantes. Todo mundo é muito duro, a imprensa tem sido muito dura com ele. Gil sempre desejou atuar nessa área política com a melhor das intenções. Claro que isso não salva ele das confusões da política. Mas acho que ele tem pelo menos duas coisas espetaculares na sua atuação. Uma foi a democratização das verbas para produção cinematográfica no Brasil, mesmo com aquela briga toda.
Outra é que nunca o Minc teve tanta presença. Nunca um ministro, seja lá como for, seja com suas performances, conseguiu chamar tanta atenção para a cultura brasileira. Também sou da área social e sei quanto a área social sofre no Brasil. Vamos sentir falta dele no ministério. Acredito que não estejam nos planos dele continuar como ministro. Só sei que qualquer ministro que entrar agora vai ter um trabalho duro.
Folha Online - Você apoiou bastante o Minc durante o governo Lula, mas não votou no Lula para reeleição...
Daniela Não, não votei. Não sou a favor de reeleição. Sou a favor de alternância no governo. E votei para o Lula quatro vezes, fiquei triste com essa primeira gestão dele. Fiquei decepcionada com a gestão do PT, na verdade. Fiquei chocada com tantos escândalos. Mas espero profundamente que o Brasil tenha quatro anos de gestão de Lula como a gente esperou que seria o primeiro mandato.
Folha Online - Anulou o voto?
Daniela - Não anulei, não. Votei, mas não declaro voto, por conta de ser embaixadora do ministério e trabalhar na área social. Nem quero me meter em política. Quero trabalhar com todos os governadores nessa área social
Folha Online - Há um projeto de lei que quer transformar o "jabá" em crime. O que você acha?
Daniela - (risos) Quer mesmo que eu responda sobre isso?
Folha Online - Quero.
Daniela - Acho que o capitalismo está em tudo. Tudo é negócio. A cultura não pode se afastar do que ela gera em termos econômicos. Precisa ver o que é preciso ser feito para não deixar as rádios e televisões sem sobreviver, mas ao mesmo tempo achar algum formato que seja respeitoso com o cidadão brasileiro.
É uma questão muito complexa. Não vou entrar no detalhamento porque vamos ficar aqui horas. Acredito que é preciso se pensar no assunto, mas não acho que vá se resolver essa questão com lei. É uma questão do comportamento do mercado. Quando um deixa de fazer, outro faz. E se as rádios precisam dessa verba para sobreviver --que eu não sei nem como chamar --, é ideal que isso esteja claro, transparente.
Folha Online - Você é contra ou a favor um projeto de lei que puna o "jabá"?
Daniela - (silêncio)...acho utópico, não adianta. É uma questão muito mais ampla, que não se limita ao jabá. Há várias formas de troca. Não vai conseguir se resolver com uma lei isso. Não vejo sentido numa lei como essa, não vai resolver nada, não vai ajudar em nada. Talvez o que ajudasse fosse uma forma de se controlar a quantidade de discos vendidos no Brasil.
Folha Online - O "jabá" é um problema para o artista?
Daniela - Olha, o jabá pode ser muito bom para uns, e muito ruim para outros. É um caminho muito fácil para muita gente, e um caminho difícil para outras. Porque o "jabá", pelo que me conste, ele não determina nem que o artista vai tocar na rádio. É uma questão muito mais ampla que uma lei.
Folha Online - O que você acha do MP3 e da possibilidade de baixarem suas músicas gratuitamente na internet?
Daniela - Gosto da liberdade da internet, e acho que temos que pensá-la como instrumento de divulgação, gosto dessa possibilidade da democratização da música, da arte. Mas como essas pessoas que fazem download e compram disco pirata se sentiriam se tivessem um grupo de cem pessoas envolvidas no trabalho, dependendo daquilo, e não fossem contemplados? Mais uma questão ética para o mundo.
Aí falam: "pela liberdade, pela democracia, temos direito de tudo". Por que então a gente não está roubando os carros, assaltando supermercados? Se é para todo mundo ter direito a tudo, então vamos quebrar tudo. É preciso encontrar alguma maneira de as pessoas receberem pelo que fazem. Se elas fizessem um carro e botassem no meio da rua para cada um pegar e levar, como ia pagar o ferro, os empregados? Alguma coisa tem que ser recolhida para se viabilizar uma indústria cultural que é importantíssima para o mundo. A desonestidade, o download, a pirataria feitos deste jeito sucatearam todo o mercado de disco do Brasil.
Folha Online - Em 2005, o Vaticano cancelou sua participação em um concerto de Natal após você participar de uma campanha pelo uso de preservativo. O Papa Bento 16 promete vir ao Brasil em maio próximo. Você cantaria para ele?
Daniela - Olha, o Vaticano não está mais fazendo concerto de Natal mais. Cancelou para sempre. Ele [Bento 16] deu uma declaração de que não gosta de música pop, ele gosta de música erudita. Portanto, agora o concerto será transferido para Mônaco. Será de musica instrumental, para ninguém falar nada, nem abrir a boca (risos). Depois de 14 anos com concertos de artistas pop de todo o mundo, sou uma das culpadas pelo evento não acontecer mais.
Então não acredito que ele vá querer que eu cante se vier para cá, já que sou uma artista popular. E outra: já canto na igreja desde pequena, canto para Deus todo dia, já basta. [O caso] serviu para eu ver que não há dialogo com o Vaticano.
DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online
Daniela Mercury, 41, atira para todos os lados. Seus próximos passos, por exemplo, vão de se apresentar com Fatboy Slim (com quem já gravou) e Shakira a homenagear Renato Russo em Salvador. Isso sem contar a recente gravação de "A Certain Softness" de Paul McCartney, que virou "Essa Ternura" e pode ser conferida no novo álbum/DVD "Balé Mulato Ao Vivo".
"É esse meu ecletismo...", começa a explicar a baiana, que ainda promete gravar um documentário sobre o axé music para lançar daqui "um, dois anos". Neste mês, a cantora aproveitou para se submeter a uma bateria de entrevistas de divulgação de seu novo álbum/DVD, gravado em setembro em Salvador.
No meio da maratona, Daniela Mercury topou falar com a Folha Online, por telefone, sobre temas polêmicos: lei "antijabá" ("Não vai resolver nada"), download de músicas na internet sem cobrança de direitos autorais ("Por que, então, não estamos roubando os carros, assaltando supermercados?"), 2º governo Lula ("Sou contra a reeleição"), atuação de Gilberto Gil no Ministério da Cultura ("Todo mundo é muito duro com ele") e, por que não, axé music ("O axé é um filho da tropicália").
Folha Online - O axé music ainda se sustenta hoje?
Daniela Mercury - Ninguém consegue definir claramente o que é o axé. Eu considero que o axé só se tornou o gênero que se tornou --inclusive, fui porta-voz dessa música, consegui levá-la para o sul e sudeste do país-- pela originalidade do samba-reggae. O axé é uma mistura, e eu continuo a misturar. É a música branca e negra de Salvador. Enfim, é com esse universo bem amplo que o axé se faz pós-tropicalista, completamente canibalista. Mas com uma característica que nos define, que é de tocarmos uma música mais dançante, forte ritmicamente. O axé music é um filho da tropicália, do Clube da Esquina, do Chico Buarque e da música internacional também.
Folha Online - Quando você decidiu misturar música eletrônica com axé recebeu crítica de fãs. Achavam que você queria se desvencilhar do gênero.
Daniela - Minha música eletrônica tinha a música brasileira como base rítmica. Mas eu pedia aos DJs, por exemplo, que buscassem seu próprio swing. O que tem swing me interessa. O mundo que tem swing me interessa. Se é para escolher um gênero, eu prefiro escolher o axé, já que sou precursora dele, e para mim ele é extremamente amplo. Agora, para as pessoas quem lêem minha carreira achando que eu quero me afastar do axé... eu não tenho preocupação de estar ou não afastada do axé, sou uma pessoa livre, tenho uma carreira de liberdade, inovações. Quero cantar de tudo. Se eu tiver tesão de cantar, eu canto.
Folha Online - Como você avalia os quatro anos de Gilberto Gil, de quem já foi backing vocal no início da carreira, no Ministério da Cultura?
Daniela - Acho que Gil fez coisas extremamente importantes. Todo mundo é muito duro, a imprensa tem sido muito dura com ele. Gil sempre desejou atuar nessa área política com a melhor das intenções. Claro que isso não salva ele das confusões da política. Mas acho que ele tem pelo menos duas coisas espetaculares na sua atuação. Uma foi a democratização das verbas para produção cinematográfica no Brasil, mesmo com aquela briga toda.
Outra é que nunca o Minc teve tanta presença. Nunca um ministro, seja lá como for, seja com suas performances, conseguiu chamar tanta atenção para a cultura brasileira. Também sou da área social e sei quanto a área social sofre no Brasil. Vamos sentir falta dele no ministério. Acredito que não estejam nos planos dele continuar como ministro. Só sei que qualquer ministro que entrar agora vai ter um trabalho duro.
Folha Online - Você apoiou bastante o Minc durante o governo Lula, mas não votou no Lula para reeleição...
Daniela Não, não votei. Não sou a favor de reeleição. Sou a favor de alternância no governo. E votei para o Lula quatro vezes, fiquei triste com essa primeira gestão dele. Fiquei decepcionada com a gestão do PT, na verdade. Fiquei chocada com tantos escândalos. Mas espero profundamente que o Brasil tenha quatro anos de gestão de Lula como a gente esperou que seria o primeiro mandato.
Folha Online - Anulou o voto?
Daniela - Não anulei, não. Votei, mas não declaro voto, por conta de ser embaixadora do ministério e trabalhar na área social. Nem quero me meter em política. Quero trabalhar com todos os governadores nessa área social
Folha Online - Há um projeto de lei que quer transformar o "jabá" em crime. O que você acha?
Daniela - (risos) Quer mesmo que eu responda sobre isso?
Folha Online - Quero.
Daniela - Acho que o capitalismo está em tudo. Tudo é negócio. A cultura não pode se afastar do que ela gera em termos econômicos. Precisa ver o que é preciso ser feito para não deixar as rádios e televisões sem sobreviver, mas ao mesmo tempo achar algum formato que seja respeitoso com o cidadão brasileiro.
É uma questão muito complexa. Não vou entrar no detalhamento porque vamos ficar aqui horas. Acredito que é preciso se pensar no assunto, mas não acho que vá se resolver essa questão com lei. É uma questão do comportamento do mercado. Quando um deixa de fazer, outro faz. E se as rádios precisam dessa verba para sobreviver --que eu não sei nem como chamar --, é ideal que isso esteja claro, transparente.
Folha Online - Você é contra ou a favor um projeto de lei que puna o "jabá"?
Daniela - (silêncio)...acho utópico, não adianta. É uma questão muito mais ampla, que não se limita ao jabá. Há várias formas de troca. Não vai conseguir se resolver com uma lei isso. Não vejo sentido numa lei como essa, não vai resolver nada, não vai ajudar em nada. Talvez o que ajudasse fosse uma forma de se controlar a quantidade de discos vendidos no Brasil.
Folha Online - O "jabá" é um problema para o artista?
Daniela - Olha, o jabá pode ser muito bom para uns, e muito ruim para outros. É um caminho muito fácil para muita gente, e um caminho difícil para outras. Porque o "jabá", pelo que me conste, ele não determina nem que o artista vai tocar na rádio. É uma questão muito mais ampla que uma lei.
Folha Online - O que você acha do MP3 e da possibilidade de baixarem suas músicas gratuitamente na internet?
Daniela - Gosto da liberdade da internet, e acho que temos que pensá-la como instrumento de divulgação, gosto dessa possibilidade da democratização da música, da arte. Mas como essas pessoas que fazem download e compram disco pirata se sentiriam se tivessem um grupo de cem pessoas envolvidas no trabalho, dependendo daquilo, e não fossem contemplados? Mais uma questão ética para o mundo.
Aí falam: "pela liberdade, pela democracia, temos direito de tudo". Por que então a gente não está roubando os carros, assaltando supermercados? Se é para todo mundo ter direito a tudo, então vamos quebrar tudo. É preciso encontrar alguma maneira de as pessoas receberem pelo que fazem. Se elas fizessem um carro e botassem no meio da rua para cada um pegar e levar, como ia pagar o ferro, os empregados? Alguma coisa tem que ser recolhida para se viabilizar uma indústria cultural que é importantíssima para o mundo. A desonestidade, o download, a pirataria feitos deste jeito sucatearam todo o mercado de disco do Brasil.
Folha Online - Em 2005, o Vaticano cancelou sua participação em um concerto de Natal após você participar de uma campanha pelo uso de preservativo. O Papa Bento 16 promete vir ao Brasil em maio próximo. Você cantaria para ele?
Daniela - Olha, o Vaticano não está mais fazendo concerto de Natal mais. Cancelou para sempre. Ele [Bento 16] deu uma declaração de que não gosta de música pop, ele gosta de música erudita. Portanto, agora o concerto será transferido para Mônaco. Será de musica instrumental, para ninguém falar nada, nem abrir a boca (risos). Depois de 14 anos com concertos de artistas pop de todo o mundo, sou uma das culpadas pelo evento não acontecer mais.
Então não acredito que ele vá querer que eu cante se vier para cá, já que sou uma artista popular. E outra: já canto na igreja desde pequena, canto para Deus todo dia, já basta. [O caso] serviu para eu ver que não há dialogo com o Vaticano.
quarta-feira, dezembro 20, 2006
O trabalho inacabado
Por Leneide Duarte-Plon
Sem Lacan a teoria de Freud teria hoje um papel limitado, diz o psicanalista austríaco August Ruhs
Viena viu nascer a psicanálise numa época de efervescência cultural extraordinária, o final do século XIX. Hoje, um dos mais famosos museus da cidade fica no número 19 da rua Berggasse, na casa onde Freud morou e trabalhou até deixar Viena, em 1938, para se refugiar do nazismo em Londres.
“Talvez se possa dizer que as histéricas austríacas eram mais favoráveis à descoberta de Freud do que as histéricas francesas da Salpêtrière. Mas todas foram importantes, pois foi uma doente que levou Freud a interromper o tratamento com hipnose e lhe disse: ‘Deixe-me tranqüila, não me toque, escute-me’”, comenta o psicanalista e psiquiatra austríaco August Ruhs, diretor-adjunto da Clínica Universitária de Psicanálise e de Psicoterapia de Viena, sobre o caldo de cultura científica e literária que favoreceu a descoberta da psicanálise por Freud.
Mas a psicanálise não teria hoje a importância que adquiriu se o psicanalista francês Jacques Lacan não tivesse feito uma conferência em Viena, em 1955, defendendo um “retorno a Freud”, revigorando o movimento psicanalítico. Para marcar os 50 anos dessa conferência e os 150 anos do nascimento do pai da psicanálise, Ruhs organizou na capital austríaca um colóquio com alguns dos mais respeitados psicanalistas austríacos e com os psicanalistas franceses Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, autores do “Dicionário da Psicanálise”.
Segundo Ruhs, sem a conferência de Lacan na cidade, 50 anos atrás, a psicanálise estaria hoje limitada ao papel que ela tem nos países anglo-saxões, bem menos importante que na França, no Brasil e na Argentina, onde ela mais profundamente se implantou: “Um dos enormes impactos de Lacan sobre a psicanálise foi o de alargar seu campo de relações com a filosofia e com outras ciências humanas. Se existe hoje tal produção de publicações nessas disciplinas é sobretudo graças a Lacan e à renovação teórica que ele possibilitou”.
*
O berço da psicanálise poderia ter sido outra cidade ?
August Ruhs : É uma pergunta que se faz sempre. Geralmente, essa questão é centrada nos personagens da descoberta, isto é, Freud e seu colega Breuer, que teve um papel importante, porque foi com ele que se deu a passagem da hipnose catártica à hipnose investigativa. Ou então Charcot, que teve uma grande influência sobre Freud. Então tudo fica centralizado nos homens, mas a gente esquece a quem se deve realmente a psicanálise: aos doentes.
Talvez se possa dizer que as histéricas austríacas eram mais favoráveis à descoberta de Freud do que as histéricas francesas da Salpêtrière. Mas todas foram importantes, pois foi uma doente que levou Freud a interromper o tratamento com hipnose e lhe disse: “Deixe-me tranqüila, não me toque, escute-me”. E foi essa escuta que levou Freud a descobrir os desejos inconscientes camuflados pelo grande espetáculo da histérica. E talvez a cidade de Viena era propícia porque Freud nutria essa lenda de um “landsome hero” (herói solitário), um titã incompreendido por todos, o que não era verdade, pois em torno dele havia uma cultura que ia na mesma direção que ele, não em medicina, é certo, mas em literatura e nas artes.
Sobretudo Arthur Schnitzler, que Freud reconhecia como sendo seu “alter ego”, de quem ele dizia: “Ele vai pelo mesmo caminho”. Então, era uma cultura que favorecia, inclusive por causa dos doentes que estavam lá naquele momento.
Qual é a importância para a história da psicanálise do simpósio sobre os 50 anos da conferência de Lacan, em Viena, pregando um “retorno a Freud”?
Ruhs: Para a história da psicanálise, essa comemoração da conferência de Lacan centrada num retorno a Freud fez parte das grandes festividades de 2006, quando se festejaram os 150 anos de Freud. Este simpósio significou “não esqueçamos de Freud”, mas também: não esqueçamos que a psicanálise é algo como um trabalho sempre inacabado, o que supõe uma volta às origens para beber na fonte e para que as inovações possam ser mantidas no eixo da descoberta freudiana.
A psicanálise tem e terá sempre desafios a enfrentar, ela deve estar sempre em evolução a fim de poder responder às mudanças que acontecem na sociedade. Por isso, ela não pode perder seus princípios, isto é, deve continuar a buscar os motivos secretos e internos de cada manifestação do psiquismo humano e ao mesmo tempo não deve se perder no passado para não ser superada pelos acontecimentos.
Se Lacan não tivesse proposto esse retorno a Freud, qual teria sido o destino da psicanálise?
Ruhs: Ela não estava ameaçada, mas ela teria evoluído para o que se tornou o modelo anglo-americano. Seria mais medicalizada e teria perdido muito de sua característica de ser aberta a outras disciplinas. Ela teria ficado restrita à função terapêutica porque um dos enormes impactos de Lacan sobre a psicanálise foi o de alargar seu campo de relações com a filosofia e com outras ciências humanas. Se existe tal produção de publicações nessas disciplinas é sobretudo graças a Lacan e à renovação teórica que ele possibilitou, sobretudo com sua concepção tópica em termos de imaginário, simbólico e real, critérios que Freud não tinha e, sendo assim, a expressão do inconsciente pôde ser enriquecida por conceitos lacanianos.
Que tipo de arquivo restou dessa conferência de Lacan em Viena?
Ruhs: Nenhum vestígio dessa conferência chegou até nós. Apenas duas ou três pessoas que ainda estão vivas ouviram Lacan em Viena. Uma pessoa se lembra que teve de traduzir o texto, mas desistiu depois de algumas frases. Uma outra diz que era um pouco tedioso, ninguém compreendeu nada. E a terceira pessoa, senhor Arnold, citado por Lacan entre as pessoas que ele encontrou, não se lembrava de nada quando o entrevistei.
Lacan fez essa conferência em francês?
Ruhs: Segundo uma pessoa presente, ele fez a conferência em francês e parece que o texto integral foi distribuído pelos presentes. Mas os vestígios desse texto foram destruídos quando puseram abaixo a casa da clínica de psiquiatria para construir um novo prédio do hospital geral, e os arquivistas me disseram que muitos textos também foram jogados no lixo. Alguém salvou uns papéis, mas o discurso de Lacan desapareceu.
Como o senhor vê a psicanálise na Áustria hoje? Quantos psicanalistas existem e como eles se situam na sociedade vienense?
Ruhs: Aqui existe uma tendência de dizer “Freud, sim, mas a psicanálise, não”. Como se Freud fosse um grande homem, interessante, fumante de charutos, um grande colecionador de estatuetas, mas sua obra fosse considerada atualmente pela maioria das pessoas como uma disciplina um pouco esdrúxula, que não é verdadeiramente uma ciência. Há muitos preconceitos. E sobretudo, atualmente, há um movimento, inclusive na Áustria, na direção de uma biologização da vida, uma espécie de atemporalidade, no sentido de desprezar as condições do meio na formação do sujeito e de propagar as idéias vindas da genética. Por isso, há um enfraquecimento da psicanálise.
E também, e isso é puramente austríaco, uma lei de 1991 levou ao reconhecimento de cerca de 15 escolas de psicoterapia -a psicanálise é apenas uma delas. Esqueceram que ela era a disciplina originária, ou uma das duas ou três disciplinas pioneiras. Os princípios para a formação dos psicoterapeutas vêm da psicanálise.
Quantos psicanalistas exercem a psicanálise na Áustria?
Ruhs: Existem entre 500 a 700 psicanalistas.
Como os psicanalistas austríacos reagiram aos ataques feitos no “Livro Negro da Psicanálise”?
Ruhs: Eles não conhecem o livro que aqui não saiu ainda.
O senhor acha que ele será traduzido em alemão?
Ruhs: Acho que não pois o que vem da França se espalha em círculos específicos e esses são contra esse livro. As pessoas que estariam de acordo com esse livro não o leram. Os livros de psiquiatria que vêm da França não são muito divulgados.
.
Leneide Duarte-Plon
É jornalista e vive em Paris.
Sem Lacan a teoria de Freud teria hoje um papel limitado, diz o psicanalista austríaco August Ruhs
Viena viu nascer a psicanálise numa época de efervescência cultural extraordinária, o final do século XIX. Hoje, um dos mais famosos museus da cidade fica no número 19 da rua Berggasse, na casa onde Freud morou e trabalhou até deixar Viena, em 1938, para se refugiar do nazismo em Londres.
“Talvez se possa dizer que as histéricas austríacas eram mais favoráveis à descoberta de Freud do que as histéricas francesas da Salpêtrière. Mas todas foram importantes, pois foi uma doente que levou Freud a interromper o tratamento com hipnose e lhe disse: ‘Deixe-me tranqüila, não me toque, escute-me’”, comenta o psicanalista e psiquiatra austríaco August Ruhs, diretor-adjunto da Clínica Universitária de Psicanálise e de Psicoterapia de Viena, sobre o caldo de cultura científica e literária que favoreceu a descoberta da psicanálise por Freud.
Mas a psicanálise não teria hoje a importância que adquiriu se o psicanalista francês Jacques Lacan não tivesse feito uma conferência em Viena, em 1955, defendendo um “retorno a Freud”, revigorando o movimento psicanalítico. Para marcar os 50 anos dessa conferência e os 150 anos do nascimento do pai da psicanálise, Ruhs organizou na capital austríaca um colóquio com alguns dos mais respeitados psicanalistas austríacos e com os psicanalistas franceses Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, autores do “Dicionário da Psicanálise”.
Segundo Ruhs, sem a conferência de Lacan na cidade, 50 anos atrás, a psicanálise estaria hoje limitada ao papel que ela tem nos países anglo-saxões, bem menos importante que na França, no Brasil e na Argentina, onde ela mais profundamente se implantou: “Um dos enormes impactos de Lacan sobre a psicanálise foi o de alargar seu campo de relações com a filosofia e com outras ciências humanas. Se existe hoje tal produção de publicações nessas disciplinas é sobretudo graças a Lacan e à renovação teórica que ele possibilitou”.
*
O berço da psicanálise poderia ter sido outra cidade ?
August Ruhs : É uma pergunta que se faz sempre. Geralmente, essa questão é centrada nos personagens da descoberta, isto é, Freud e seu colega Breuer, que teve um papel importante, porque foi com ele que se deu a passagem da hipnose catártica à hipnose investigativa. Ou então Charcot, que teve uma grande influência sobre Freud. Então tudo fica centralizado nos homens, mas a gente esquece a quem se deve realmente a psicanálise: aos doentes.
Talvez se possa dizer que as histéricas austríacas eram mais favoráveis à descoberta de Freud do que as histéricas francesas da Salpêtrière. Mas todas foram importantes, pois foi uma doente que levou Freud a interromper o tratamento com hipnose e lhe disse: “Deixe-me tranqüila, não me toque, escute-me”. E foi essa escuta que levou Freud a descobrir os desejos inconscientes camuflados pelo grande espetáculo da histérica. E talvez a cidade de Viena era propícia porque Freud nutria essa lenda de um “landsome hero” (herói solitário), um titã incompreendido por todos, o que não era verdade, pois em torno dele havia uma cultura que ia na mesma direção que ele, não em medicina, é certo, mas em literatura e nas artes.
Sobretudo Arthur Schnitzler, que Freud reconhecia como sendo seu “alter ego”, de quem ele dizia: “Ele vai pelo mesmo caminho”. Então, era uma cultura que favorecia, inclusive por causa dos doentes que estavam lá naquele momento.
Qual é a importância para a história da psicanálise do simpósio sobre os 50 anos da conferência de Lacan, em Viena, pregando um “retorno a Freud”?
Ruhs: Para a história da psicanálise, essa comemoração da conferência de Lacan centrada num retorno a Freud fez parte das grandes festividades de 2006, quando se festejaram os 150 anos de Freud. Este simpósio significou “não esqueçamos de Freud”, mas também: não esqueçamos que a psicanálise é algo como um trabalho sempre inacabado, o que supõe uma volta às origens para beber na fonte e para que as inovações possam ser mantidas no eixo da descoberta freudiana.
A psicanálise tem e terá sempre desafios a enfrentar, ela deve estar sempre em evolução a fim de poder responder às mudanças que acontecem na sociedade. Por isso, ela não pode perder seus princípios, isto é, deve continuar a buscar os motivos secretos e internos de cada manifestação do psiquismo humano e ao mesmo tempo não deve se perder no passado para não ser superada pelos acontecimentos.
Se Lacan não tivesse proposto esse retorno a Freud, qual teria sido o destino da psicanálise?
Ruhs: Ela não estava ameaçada, mas ela teria evoluído para o que se tornou o modelo anglo-americano. Seria mais medicalizada e teria perdido muito de sua característica de ser aberta a outras disciplinas. Ela teria ficado restrita à função terapêutica porque um dos enormes impactos de Lacan sobre a psicanálise foi o de alargar seu campo de relações com a filosofia e com outras ciências humanas. Se existe tal produção de publicações nessas disciplinas é sobretudo graças a Lacan e à renovação teórica que ele possibilitou, sobretudo com sua concepção tópica em termos de imaginário, simbólico e real, critérios que Freud não tinha e, sendo assim, a expressão do inconsciente pôde ser enriquecida por conceitos lacanianos.
Que tipo de arquivo restou dessa conferência de Lacan em Viena?
Ruhs: Nenhum vestígio dessa conferência chegou até nós. Apenas duas ou três pessoas que ainda estão vivas ouviram Lacan em Viena. Uma pessoa se lembra que teve de traduzir o texto, mas desistiu depois de algumas frases. Uma outra diz que era um pouco tedioso, ninguém compreendeu nada. E a terceira pessoa, senhor Arnold, citado por Lacan entre as pessoas que ele encontrou, não se lembrava de nada quando o entrevistei.
Lacan fez essa conferência em francês?
Ruhs: Segundo uma pessoa presente, ele fez a conferência em francês e parece que o texto integral foi distribuído pelos presentes. Mas os vestígios desse texto foram destruídos quando puseram abaixo a casa da clínica de psiquiatria para construir um novo prédio do hospital geral, e os arquivistas me disseram que muitos textos também foram jogados no lixo. Alguém salvou uns papéis, mas o discurso de Lacan desapareceu.
Como o senhor vê a psicanálise na Áustria hoje? Quantos psicanalistas existem e como eles se situam na sociedade vienense?
Ruhs: Aqui existe uma tendência de dizer “Freud, sim, mas a psicanálise, não”. Como se Freud fosse um grande homem, interessante, fumante de charutos, um grande colecionador de estatuetas, mas sua obra fosse considerada atualmente pela maioria das pessoas como uma disciplina um pouco esdrúxula, que não é verdadeiramente uma ciência. Há muitos preconceitos. E sobretudo, atualmente, há um movimento, inclusive na Áustria, na direção de uma biologização da vida, uma espécie de atemporalidade, no sentido de desprezar as condições do meio na formação do sujeito e de propagar as idéias vindas da genética. Por isso, há um enfraquecimento da psicanálise.
E também, e isso é puramente austríaco, uma lei de 1991 levou ao reconhecimento de cerca de 15 escolas de psicoterapia -a psicanálise é apenas uma delas. Esqueceram que ela era a disciplina originária, ou uma das duas ou três disciplinas pioneiras. Os princípios para a formação dos psicoterapeutas vêm da psicanálise.
Quantos psicanalistas exercem a psicanálise na Áustria?
Ruhs: Existem entre 500 a 700 psicanalistas.
Como os psicanalistas austríacos reagiram aos ataques feitos no “Livro Negro da Psicanálise”?
Ruhs: Eles não conhecem o livro que aqui não saiu ainda.
O senhor acha que ele será traduzido em alemão?
Ruhs: Acho que não pois o que vem da França se espalha em círculos específicos e esses são contra esse livro. As pessoas que estariam de acordo com esse livro não o leram. Os livros de psiquiatria que vêm da França não são muito divulgados.
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Leneide Duarte-Plon
É jornalista e vive em Paris.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
piada.
Câmara e Senado fecham acordo para elevar salários para R$ 24.500
Publicidade
ANDREZA MATAIS
da Folha Online, em Brasília
Líderes partidários da Câmara e do Senado fecharam um acordo hoje para reajustar os salários dos deputados e senadores. Após o encontro, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP), confirmou que o Congresso deve equiparar o salário dos parlamentares aos vencimentos dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), de R$ 24.500.
Hoje, os parlamentares recebem R$ 12,847,20. A mudança --que representa um aumento salarial de 90,7%-- vale para os salários dos parlamentares que assumirem seus mandatos em fevereiro de 2007.
O reajuste vai ser concedido por ato conjunto das Mesas da Câmara e do Senado e não vai ser submetido à discussão nos plenários do Congresso. Somente o PSOL se pronunciou contra a decisão.
O último aumento salarial significativo dos parlamentares ocorreu em 2003, quando a categoria elevou a remuneração de R$ 8.280 para R$ 12.720 --na época, teto salarial dos ministros do STF. Desde então, houve outro aumento de 1%, que elevou os salários para R$ 12.847,20.
O reajuste deve representar um gasto extra anual de pelo menos R$ 1,66 bilhão aos cofres públicos --já que Estados e municípios seguem o aumento federal, no chamado "efeito cascata".
Para minimizar o impacto do reajuste, os parlamentares disseram que o aumento será concedido sem a ampliação das despesas das duas Casas. É que eles pretendem fazer cortes em despesas administrativas da Câmara e do Senado para garantir que a equiparação fique dentro do orçamento.
Aldo disse que na Câmara os cortes --que devem somar R$ 150 milhões-- serão feitos na área administrativa, como reformas dos apartamentos funcionais e na construção de prédios para acomodar os parlamentares. Ele adiantou também que não deve haver cortes nas verbas indenizatórias dos parlamentares.
Foi derrotada, na reunião dos integrantes das Mesas Diretoras e líderes partidários das duas Casas, a proposta que elevaria os salários os parlamentares para R$ 16.500 --uma correção da inflação no período.
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ANDREZA MATAIS
da Folha Online, em Brasília
Líderes partidários da Câmara e do Senado fecharam um acordo hoje para reajustar os salários dos deputados e senadores. Após o encontro, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP), confirmou que o Congresso deve equiparar o salário dos parlamentares aos vencimentos dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), de R$ 24.500.
Hoje, os parlamentares recebem R$ 12,847,20. A mudança --que representa um aumento salarial de 90,7%-- vale para os salários dos parlamentares que assumirem seus mandatos em fevereiro de 2007.
O reajuste vai ser concedido por ato conjunto das Mesas da Câmara e do Senado e não vai ser submetido à discussão nos plenários do Congresso. Somente o PSOL se pronunciou contra a decisão.
O último aumento salarial significativo dos parlamentares ocorreu em 2003, quando a categoria elevou a remuneração de R$ 8.280 para R$ 12.720 --na época, teto salarial dos ministros do STF. Desde então, houve outro aumento de 1%, que elevou os salários para R$ 12.847,20.
O reajuste deve representar um gasto extra anual de pelo menos R$ 1,66 bilhão aos cofres públicos --já que Estados e municípios seguem o aumento federal, no chamado "efeito cascata".
Para minimizar o impacto do reajuste, os parlamentares disseram que o aumento será concedido sem a ampliação das despesas das duas Casas. É que eles pretendem fazer cortes em despesas administrativas da Câmara e do Senado para garantir que a equiparação fique dentro do orçamento.
Aldo disse que na Câmara os cortes --que devem somar R$ 150 milhões-- serão feitos na área administrativa, como reformas dos apartamentos funcionais e na construção de prédios para acomodar os parlamentares. Ele adiantou também que não deve haver cortes nas verbas indenizatórias dos parlamentares.
Foi derrotada, na reunião dos integrantes das Mesas Diretoras e líderes partidários das duas Casas, a proposta que elevaria os salários os parlamentares para R$ 16.500 --uma correção da inflação no período.
quarta-feira, dezembro 06, 2006
"O videoclipe não pertence mais à televisão"
diz diretor da MTV
MARINA CAMPOS MELLO
Da Redação
A MTV do Brasil decidiu acabar com o tipo de programa que foi pioneira em exibir: os de videoclipes. "O videoclipe não pertence mais à televisão. Ele está ligado ao mundo digital e outras mídias atendem melhor a essa demanda.", disse Zico Góes, diretor de programação da MTV em coletiva nesta terça-feira (5).
Os clipes, que de acordo com o diretor "derrubam a audiência", ocuparão a periferia da programação: até o final deste ano, deixam de ser exibidos os programas "MTV Lab", "Chapa Coco" e o "Disk MTV" --o "Disk" é exibido pelo canal desde o dia de sua inauguração no Brasil, em 1990. Para os que se sentirem órfãos, a MTV ainda exibirá seqüências de videoclipes durante a madrugada, a partir das 2h.
Mas nas demais faixas da programação, o espaço do clipe será reduzido e raramente os vídeos serão exibidos na íntegra: "O clipe só entrará na programação se estiver 'a serviço' do programa", como no caso do 'Top Top'", exemplifica Góes. A idéia da emissora é que os espectadores passem a assistir aos vídeos pelo "MTV Overdrive", o canal de banda larga da emissora.
Overdrive
O "Overdrive" brasileiro, aliás, é uma das grandes apostas da emissora. O site estreou em setembro, tem 7 mil clipes e já é o segundo "Overdrive" mais acessado do mundo --só perde para o americano. A MTV, que agora se autodefine simplesmente como um "canal" e não um "canal de TV", também anunciou o lançamento da rádio "MTV FM", que tem estréia prevista para janeiro e será transmitida inicialmente em São Paulo.
As mudanças na MTV acontecem depois da expansão da banda larga e do You Tube no Brasil e do avanço de novos canais em UHF --MixTV e PlayTV--, que também disputam o público jovem. A MTV, no entanto, diz não se preocupar com os "concorrentes": "Na prática, não temos concorrentes. O novo projeto editorial se preocupa com os espectadores que já são nossos", diz André Mantovani, diretor-geral da MTV, exibindo gráficos que põem a MTV em primeiro lugar entre seu público-alvo [os jovens de classe A/B de 15 a 29 anos], com grande distância dos outros dois canais. Em 2006, a audiência da emissora cresceu 12% nesse segmento.
Segundo Zico Góes, a "nova MTV" surge em razão das mudanças na forma em que esse jovem se comunica e consome as novas mídias. Para Góes, a tecnologia e a facilidade de acesso ajudaram a pulverizar a produção e o consumo de música e de videoclipes. "Em um ambiente em que há abundância de ofertas, alguém tem que organizar o que é produzido, e esse é um dos papéis da MTV", explica.
Nova programação
Neste contexto, a MTV inaugura uma faixa de documentários e trará mais informação musical, seja em programas jornalísticos, seja em programas de auditório, para que o espectador consiga encontrar sozinho o que quer. Além de informação, virão no lugar dos clipes, programas mais "televisivos". "Hoje funciona melhor para a TV formatos mais longos. O videoclipe não é mais uma forma interessante de se contar histórias. Ninguém fica esperando passar o clipe que quer. É mais fácil achá-lo na internet" diz Góes. Assim a MTV estréia uma faixa de séries de ficção e reality-shows.
A programação do verão já traz amostras do que vai dominar a grade do canal, como a série de ficção "Casal Neura" --derivada do "Neura MTV"--, em que os apresentadores Marina e Cazé interpretam os conflitos de um casal à beira-mar. Outra atração que estréia no início do ano que vem é o reality "As Quebradeiras", em que a MTV acompanha um grupo de meninas da "pá-virada" em férias na praia. O canal também exibe o reality americano "8th & Ocean", inédito no Brasil, que mostra o cotidiano de jovens modelos de uma agência de Miami. "Chá das Minas" é o novo programa de debates do canal, em que um grupo de meninas discute assuntos do universo feminino com Penélope Nova, Luisa Micheletti e André Vasco.
MARINA CAMPOS MELLO
Da Redação
A MTV do Brasil decidiu acabar com o tipo de programa que foi pioneira em exibir: os de videoclipes. "O videoclipe não pertence mais à televisão. Ele está ligado ao mundo digital e outras mídias atendem melhor a essa demanda.", disse Zico Góes, diretor de programação da MTV em coletiva nesta terça-feira (5).
Os clipes, que de acordo com o diretor "derrubam a audiência", ocuparão a periferia da programação: até o final deste ano, deixam de ser exibidos os programas "MTV Lab", "Chapa Coco" e o "Disk MTV" --o "Disk" é exibido pelo canal desde o dia de sua inauguração no Brasil, em 1990. Para os que se sentirem órfãos, a MTV ainda exibirá seqüências de videoclipes durante a madrugada, a partir das 2h.
Mas nas demais faixas da programação, o espaço do clipe será reduzido e raramente os vídeos serão exibidos na íntegra: "O clipe só entrará na programação se estiver 'a serviço' do programa", como no caso do 'Top Top'", exemplifica Góes. A idéia da emissora é que os espectadores passem a assistir aos vídeos pelo "MTV Overdrive", o canal de banda larga da emissora.
Overdrive
O "Overdrive" brasileiro, aliás, é uma das grandes apostas da emissora. O site estreou em setembro, tem 7 mil clipes e já é o segundo "Overdrive" mais acessado do mundo --só perde para o americano. A MTV, que agora se autodefine simplesmente como um "canal" e não um "canal de TV", também anunciou o lançamento da rádio "MTV FM", que tem estréia prevista para janeiro e será transmitida inicialmente em São Paulo.
As mudanças na MTV acontecem depois da expansão da banda larga e do You Tube no Brasil e do avanço de novos canais em UHF --MixTV e PlayTV--, que também disputam o público jovem. A MTV, no entanto, diz não se preocupar com os "concorrentes": "Na prática, não temos concorrentes. O novo projeto editorial se preocupa com os espectadores que já são nossos", diz André Mantovani, diretor-geral da MTV, exibindo gráficos que põem a MTV em primeiro lugar entre seu público-alvo [os jovens de classe A/B de 15 a 29 anos], com grande distância dos outros dois canais. Em 2006, a audiência da emissora cresceu 12% nesse segmento.
Segundo Zico Góes, a "nova MTV" surge em razão das mudanças na forma em que esse jovem se comunica e consome as novas mídias. Para Góes, a tecnologia e a facilidade de acesso ajudaram a pulverizar a produção e o consumo de música e de videoclipes. "Em um ambiente em que há abundância de ofertas, alguém tem que organizar o que é produzido, e esse é um dos papéis da MTV", explica.
Nova programação
Neste contexto, a MTV inaugura uma faixa de documentários e trará mais informação musical, seja em programas jornalísticos, seja em programas de auditório, para que o espectador consiga encontrar sozinho o que quer. Além de informação, virão no lugar dos clipes, programas mais "televisivos". "Hoje funciona melhor para a TV formatos mais longos. O videoclipe não é mais uma forma interessante de se contar histórias. Ninguém fica esperando passar o clipe que quer. É mais fácil achá-lo na internet" diz Góes. Assim a MTV estréia uma faixa de séries de ficção e reality-shows.
A programação do verão já traz amostras do que vai dominar a grade do canal, como a série de ficção "Casal Neura" --derivada do "Neura MTV"--, em que os apresentadores Marina e Cazé interpretam os conflitos de um casal à beira-mar. Outra atração que estréia no início do ano que vem é o reality "As Quebradeiras", em que a MTV acompanha um grupo de meninas da "pá-virada" em férias na praia. O canal também exibe o reality americano "8th & Ocean", inédito no Brasil, que mostra o cotidiano de jovens modelos de uma agência de Miami. "Chá das Minas" é o novo programa de debates do canal, em que um grupo de meninas discute assuntos do universo feminino com Penélope Nova, Luisa Micheletti e André Vasco.
terça-feira, dezembro 05, 2006
Download This Song
It's 2006, the consumer’s still pissed
Won't take it anymore so I’m writing a list
Don't try to resist this paradigm shift
The music revolution cannot be dismissed
$18.98 Iggy Pop CD?
What if I can get it from my sister for free?
It’s all about marketing Clive Davis, see?
If fans buy the shirt then they get the mp3
Music was a product now it is a service
Major record labels why are you trying to hurt us?
Epic’s up in my face like, “Don’t steal our songs Lars,”
While Sony sells the burners that are burning CD-R’s
So Warner, EMI, hear me clearly
Universal Music, update your circuitry
They sue little kids downloading hit songs
They think that makes sense
When they know that it’s wrong
Hey Mr. Record Man
The joke’s on you
Running your label
Like it was 1992
Hey Mr. Record Man,
Your system can’t compete
It’s the New Artist Model
File transfer complete
Download this song!
Download this song!
Download this song!
I know I'm rhyming fast, but the message is clear
You don’t need a million dollars to launch a career
If your style is unique and you practice what you preach
Minor Threat and Jello both have things to teach!
I've got G5 production, concept videos
Touring with a laptop, rocking packed shows
The old-school major deal? It makes no sense
Indentured servitude, the costs are too immense!
Their finger’s in the dam but the crack keeps on growing
Can’t sell bottled water when it’s freely flowing
Record sales slipping, down 8 percent
Increased download sales, you can't prevent
Satellite radio and video games
Changed the terrain, it will never be same
Did you know in ten years labels won't exist?
Goodbye DVD’s, and compact disks!
Hey Mr. Record Man,
What's wrong with you
Still living off your catalogue
From 1982
Hey Mr. Record Man,
Your system can't compete
It's the new artist model
File transfer complete
Download this song!
Download this song!
Download this song!
You know, we just wanted a level playing field.
You’ve overcharged us for music for years, and now we’re
Just trying to find a fair balance. I hate to say it, but…
Welcome to the future.
Download this song!
Download this song!
Download this song!
Hey Mr. Record Man
The joke’s on you
Running your label
Like it was 1992
Hey Mr. Record Man,
Your system can’t compete
It’s the New Artist Model
File transfer complete
domingo, dezembro 03, 2006
Vai morrer... vai morrer...
Pinochet sofre infarto e se encontra em estado "grave" em hospital
SANTIAGO, 3 dez (AFP) - O ex-ditador chileno Augusto Pinochet sofreu um infarto cardíaco e foi levado de emergência para o Hospital Militar de Santiago na madrugada deste domingo, onde se encontra em estado "grave", informou à AFP o porta-voz da família, general Guillermo Garín.
"O hospital entregará um comunicado às nove da manhã (locais, 10h00 de Brasília) com informações mais completas", disse Garín, que chegou ao hospital para conhecer a situação.
Pinochet, que em 25 de novembro passado completou 91 anos, sofreu um infarto do miocárdio e um edema pulmonar agudo, informaram fontes médicas.
O ex-presidente (1973-1990) foi internado na unidade coronariana do hospital, localizado ao leste de Santiago, e seu estado é "grave mas em condições de estabilidade", destacou um primeiro comunicado.
Sua esposa, Lucía Hiriart, ao lado de dois de seus cinco filhos, estavam no hospital, aguardando um novo boletim médico.
"A saúde do meu pai está grave", disse a filha mais velha do ex-ditador, Lucía Pinochet Hiriart, enquanto Pinochet estava na unidade hospitalar à qual foi levado de ambulância de sua casa, no bairro La Dehesa, às 02h00 locais (04h00 de Brasília).
"Estamos nas mãos de Deus e dos médicos", completou o caçula, Marco Antonio Pinochet Hiriart.
O transporte ocorreu sob estrita vigilância policial, pois o general Pinochet se encontra em prisão domiciliar desde segunda-feira passada, quando o juiz Víctor Montiglio o acusou em um processo por dois assassinatos atribuídos à "Caravana da Morte", uma comitiva militar que percorreu o Chile no início da ditadura.
SANTIAGO, 3 dez (AFP) - O ex-ditador chileno Augusto Pinochet sofreu um infarto cardíaco e foi levado de emergência para o Hospital Militar de Santiago na madrugada deste domingo, onde se encontra em estado "grave", informou à AFP o porta-voz da família, general Guillermo Garín.
"O hospital entregará um comunicado às nove da manhã (locais, 10h00 de Brasília) com informações mais completas", disse Garín, que chegou ao hospital para conhecer a situação.
Pinochet, que em 25 de novembro passado completou 91 anos, sofreu um infarto do miocárdio e um edema pulmonar agudo, informaram fontes médicas.
O ex-presidente (1973-1990) foi internado na unidade coronariana do hospital, localizado ao leste de Santiago, e seu estado é "grave mas em condições de estabilidade", destacou um primeiro comunicado.
Sua esposa, Lucía Hiriart, ao lado de dois de seus cinco filhos, estavam no hospital, aguardando um novo boletim médico.
"A saúde do meu pai está grave", disse a filha mais velha do ex-ditador, Lucía Pinochet Hiriart, enquanto Pinochet estava na unidade hospitalar à qual foi levado de ambulância de sua casa, no bairro La Dehesa, às 02h00 locais (04h00 de Brasília).
"Estamos nas mãos de Deus e dos médicos", completou o caçula, Marco Antonio Pinochet Hiriart.
O transporte ocorreu sob estrita vigilância policial, pois o general Pinochet se encontra em prisão domiciliar desde segunda-feira passada, quando o juiz Víctor Montiglio o acusou em um processo por dois assassinatos atribuídos à "Caravana da Morte", uma comitiva militar que percorreu o Chile no início da ditadura.
Outras mostras na área cultural recebem menos incentivo fiscal
DA REPORTAGEM LOCAL
O Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o maior do gênero no país, custou R$ 1,4 milhão neste ano. Pela Lei Rouanet, captou R$ 900 mil do R$ 1,4 milhão autorizado -pouco mais da metade dos R$ 2,6 milhões autorizados pelo MinC à Motorola.
Apresentado por dez dias e com itinerância em mais quatro cidades, o festival paulista exibiu 400 filmes para mais de 30 mil pessoas com entrada franca. "Não chega a ser um ótimo negócio, mas ninguém trabalha de graça", afirma Zita Carvalhosa, organizadora da mostra sobre os valores gastos.
Outro evento de grande porte da área, o Festival Internacional de Cinema do Rio, teve R$ 2,4 milhões (menos que o da Motorola) autorizados para captação neste ano, segundo Vilma Lustosa, diretora de marketing do festival.
Foram exibidos 400 filmes durante 15 dias em mais de 30 locais. Lustosa considerou "elevado" o gasto do Motomix.
Há alguns meses, o MinC autorizou um incentivo fiscal de R$ 9,4 milhões para que a mexicana CIE (Corporação Interamericana de Entretenimento) trouxesse ao Brasil a trupe canadense Cirque du Soleil.
Apesar dos incentivos, os ingressos para espetáculo foram vendidos entre R$ 50 (meia-entrada) e R$ 370 (VIPs).
A operação foi feita por meio da Lei Rouanet, criada em 1991 para que empresas e pessoas físicas incentivem a cultura destinando parte de seus impostos a esse tipo de atividade.
Em abril, quando o caso veio a público pela Folha, o MinC exigiu um plano para que parte dos ingressos fosse mais acessível ou gratuita. A resposta foi considerada insatisfatória, e um novo incentivo para o espetáculo acabou negado.
O Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o maior do gênero no país, custou R$ 1,4 milhão neste ano. Pela Lei Rouanet, captou R$ 900 mil do R$ 1,4 milhão autorizado -pouco mais da metade dos R$ 2,6 milhões autorizados pelo MinC à Motorola.
Apresentado por dez dias e com itinerância em mais quatro cidades, o festival paulista exibiu 400 filmes para mais de 30 mil pessoas com entrada franca. "Não chega a ser um ótimo negócio, mas ninguém trabalha de graça", afirma Zita Carvalhosa, organizadora da mostra sobre os valores gastos.
Outro evento de grande porte da área, o Festival Internacional de Cinema do Rio, teve R$ 2,4 milhões (menos que o da Motorola) autorizados para captação neste ano, segundo Vilma Lustosa, diretora de marketing do festival.
Foram exibidos 400 filmes durante 15 dias em mais de 30 locais. Lustosa considerou "elevado" o gasto do Motomix.
Há alguns meses, o MinC autorizou um incentivo fiscal de R$ 9,4 milhões para que a mexicana CIE (Corporação Interamericana de Entretenimento) trouxesse ao Brasil a trupe canadense Cirque du Soleil.
Apesar dos incentivos, os ingressos para espetáculo foram vendidos entre R$ 50 (meia-entrada) e R$ 370 (VIPs).
A operação foi feita por meio da Lei Rouanet, criada em 1991 para que empresas e pessoas físicas incentivem a cultura destinando parte de seus impostos a esse tipo de atividade.
Em abril, quando o caso veio a público pela Folha, o MinC exigiu um plano para que parte dos ingressos fosse mais acessível ou gratuita. A resposta foi considerada insatisfatória, e um novo incentivo para o espetáculo acabou negado.
Motorola leva R$ 2,5 mi em verba cultural
Incentivo da Lei Rouanet destinado a quatro festivais resultou em apenas um evento, mais caro que mostra tradicional de SP
Festival patrocinado pela empresa produziu "vídeos de bolso" para celulares e instalações; Motorola diz ter incentivado novos talentos
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Cultura (MinC) autorizou uma captação de R$ 2,6 milhões pela Lei Rouanet, de incentivo à cultura, para um festival multimídia que promoveu a Motorola durante três dias em setembro deste ano em São Paulo.
Do autorizado, R$ 2,5 milhões foram realizados. A Motorola poderá abater o gasto de seu Imposto de Renda.
No pedido aprovado pelo MinC, feito pela empresa de promoções Divina Comédia, os R$ 2,5 milhões deveriam ter sido divididos em quatro eventos, em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Mas, segundo a própria Motorola, "a verba para este projeto foi totalmente utilizada em São Paulo". A Divina Comédia diz que os festivais em outras cidades ainda podem ocorrer.
Na semana passada, sem que as contas desse festival tivessem sido prestadas, o MinC aprovou mais um pedido de incentivo para novo festival da Motorola, dessa vez de R$ 1,48 milhão, ainda condicionado ao recebimento de documentos relacionados à solicitação.
Em 2006, a Motorola usou o festival para promoção de sua marca com apresentações de "vídeos de bolso", instalações, VJs e eventos musicais em dois museus (MIS e Mube).
Como comparação, o tradicional e maior festival de curta-metragens do país, o de São Paulo, custou R$ 1,4 milhão neste ano. Já o Festival Internacional de Cinema do Rio teve incentivo de R$ 2,4 milhões.
A Motorola defende o festival "como incentivo a novos talentos" e diz que prestará contas dos gastos ao MinC em janeiro. A Divina Comédia afirma que os custos são justificados pela produção dos filmes e realização do evento.
Os 40 vídeos apresentados no festival Motomix Art Music (nome do evento em 2006) são formatados para exibição nas pequenas telas de telefones celulares, como os da Motorola. Alguns dos vídeos mostrados no festival podem ser "baixados" do site da empresa.
Bandas internacionais
Toda a parte relativa a vídeos, instalações e performance do Motomix Art Music teve a entrada franca entre os dias 14 e 16 de setembro.
Mas os últimos dias do festival, 16 e 17 (estendido excepcionalmente), contaram com uma série de shows de bandas internacionais famosas, como Franz Ferdinand e Annie, com ingressos vendidos a R$ 120,00 e realizados em outro local.
Pela Lei Rouanet, apenas a parte relativa a eventos multimídia, de vídeo e performance poderia obter incentivos fiscais na proporção de 100%. No caso das bandas internacionais, o incentivo seria de 30%.
Segundo a assessoria de imprensa da Motorola, os shows das bandas com ingressos a R$ 120,00 não fizeram parte do pedido ao MinC e não utilizaram as verbas incentivadas.
"A Motorola fez um investimento próprio para trazer bandas internacionais. Por política da empresa, o valor não é divulgado", informa a Motorola.
Lucas Bambozzi, um dos curadores do Motomix, disse não ter conhecimento de como o dinheiro foi gasto e se os custos eram compatíveis com a verba.
No site do MinC, o projeto da Motorola (Pronac 056974) é assim sintetizado: "Realização de mostra de filmes de curta-metragens nacionais, produzidos nos últimos cinco anos, dirigidos por cineastas com até 25 anos de idade, seguidos de palestras/workshops e eventos musicais". Não há especificação sobre quais "eventos musicais" receberiam o incentivo.
Festival patrocinado pela empresa produziu "vídeos de bolso" para celulares e instalações; Motorola diz ter incentivado novos talentos
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Cultura (MinC) autorizou uma captação de R$ 2,6 milhões pela Lei Rouanet, de incentivo à cultura, para um festival multimídia que promoveu a Motorola durante três dias em setembro deste ano em São Paulo.
Do autorizado, R$ 2,5 milhões foram realizados. A Motorola poderá abater o gasto de seu Imposto de Renda.
No pedido aprovado pelo MinC, feito pela empresa de promoções Divina Comédia, os R$ 2,5 milhões deveriam ter sido divididos em quatro eventos, em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Mas, segundo a própria Motorola, "a verba para este projeto foi totalmente utilizada em São Paulo". A Divina Comédia diz que os festivais em outras cidades ainda podem ocorrer.
Na semana passada, sem que as contas desse festival tivessem sido prestadas, o MinC aprovou mais um pedido de incentivo para novo festival da Motorola, dessa vez de R$ 1,48 milhão, ainda condicionado ao recebimento de documentos relacionados à solicitação.
Em 2006, a Motorola usou o festival para promoção de sua marca com apresentações de "vídeos de bolso", instalações, VJs e eventos musicais em dois museus (MIS e Mube).
Como comparação, o tradicional e maior festival de curta-metragens do país, o de São Paulo, custou R$ 1,4 milhão neste ano. Já o Festival Internacional de Cinema do Rio teve incentivo de R$ 2,4 milhões.
A Motorola defende o festival "como incentivo a novos talentos" e diz que prestará contas dos gastos ao MinC em janeiro. A Divina Comédia afirma que os custos são justificados pela produção dos filmes e realização do evento.
Os 40 vídeos apresentados no festival Motomix Art Music (nome do evento em 2006) são formatados para exibição nas pequenas telas de telefones celulares, como os da Motorola. Alguns dos vídeos mostrados no festival podem ser "baixados" do site da empresa.
Bandas internacionais
Toda a parte relativa a vídeos, instalações e performance do Motomix Art Music teve a entrada franca entre os dias 14 e 16 de setembro.
Mas os últimos dias do festival, 16 e 17 (estendido excepcionalmente), contaram com uma série de shows de bandas internacionais famosas, como Franz Ferdinand e Annie, com ingressos vendidos a R$ 120,00 e realizados em outro local.
Pela Lei Rouanet, apenas a parte relativa a eventos multimídia, de vídeo e performance poderia obter incentivos fiscais na proporção de 100%. No caso das bandas internacionais, o incentivo seria de 30%.
Segundo a assessoria de imprensa da Motorola, os shows das bandas com ingressos a R$ 120,00 não fizeram parte do pedido ao MinC e não utilizaram as verbas incentivadas.
"A Motorola fez um investimento próprio para trazer bandas internacionais. Por política da empresa, o valor não é divulgado", informa a Motorola.
Lucas Bambozzi, um dos curadores do Motomix, disse não ter conhecimento de como o dinheiro foi gasto e se os custos eram compatíveis com a verba.
No site do MinC, o projeto da Motorola (Pronac 056974) é assim sintetizado: "Realização de mostra de filmes de curta-metragens nacionais, produzidos nos últimos cinco anos, dirigidos por cineastas com até 25 anos de idade, seguidos de palestras/workshops e eventos musicais". Não há especificação sobre quais "eventos musicais" receberiam o incentivo.
Morre na Holanda cantora do grupo Shocking Blue.
HAIA, 2 dez (AFP) - Mariska Veres, a cantora do grupo holandês Shocking Blue, que alcançou sucesso mundial em 1970 com sua canção "Venus", faleceu neste sábado de câncer, aos 59 anos, informou a imprensa local.
Em 1970, "Venus" liderou as paradas americanas, mas o sucesso não se repetiu e, em 1974, o Shocking Blue se dissolveu.
Ainda assim, a música foi número um da Billboard americana outras duas vezes: em 1981, na versão da banda Stars, e em 1986, interpretada pelo grupo feminino Bananarama.
No final da década de 80, o Shocking Blue também serviu de inspiração para o grupo "grunge" Nirvana, que fez uma versão da música "Love buzz" em seu albúm de estréia, "Bleach".
Em 1970, "Venus" liderou as paradas americanas, mas o sucesso não se repetiu e, em 1974, o Shocking Blue se dissolveu.
Ainda assim, a música foi número um da Billboard americana outras duas vezes: em 1981, na versão da banda Stars, e em 1986, interpretada pelo grupo feminino Bananarama.
No final da década de 80, o Shocking Blue também serviu de inspiração para o grupo "grunge" Nirvana, que fez uma versão da música "Love buzz" em seu albúm de estréia, "Bleach".
"Musical" é arma em guerra da TV
LUCAS NEVES
da Folha de S.Paulo
A TV Globo foi buscar em uma escola secundária de Albuquerque, no árido estado norte-americano do Novo México, a resposta à ducha de água fria que levou da Record (que exibia "Titanic") no último domingo.
Mostrado das 15h25 às 18h30, o filme cravou média de 15 pontos no Ibope, contra 22 da Globo. Mas, em seus 18 minutos finais, a fita campeã de bilheteria deixou o "Domingão do Faustão" para trás.
A emissora carioca nega a intenção de revide, mas não será por acaso que incluiu na programação do início da tarde de hoje "High School Musical", telefilme da Disney que é fenômeno de audiência nos Estados Unidos (37 milhões de espectadores) e na TV paga brasileira (500 mil, número alto para o segmento). Os protagonistas são arquétipos da fauna escolar ianque: o líder do time de basquete (Troy) e a novata nerd (Gabriella).
Eles se conhecem em uma festa de Réveillon, cantam juntos uma balada romântica num videokê e se reencontram quando, na volta do recesso, (surpresa!) a garota entra para a sala de Troy. Bastará que a professora de teatro abra os testes de elenco de um novo musical para que eles reeditem o dueto (e, óbvio, coloram de vez sua amizade).
Antes disso, enfrentarão a oposição de suas respectivas "tribos": a equipe de basquete teme que, às vésperas da decisão da liga intercolegial, os trinados distraiam o capitão, e o clube de ciências não quer ceder a garota para frivolidades dramatúrgicas. Nos interstícios, tome refrão "chiclete de ouvido" e coreografia grupal...
Estratégia
A Central Globo de Comunicação nega que a escalação do filme para a tarde de hoje esteja relacionada ao "susto" dado pela concorrente na semana passada. Segundo a CGCom, "a escolha de exibição de filmes [...] faz parte de uma estratégia de programação [...] de longo prazo". E completa: "Toda estratégia de programação deve ter agilidade em sua essência".
Ágil está sendo a Disney, que prepara uma versão brasileira do filme e, para isso, negocia a exibição de um concurso "caça-talentos" no "Caldeirão do Huck". Segundo a Globo, a exibição do filme hoje seria um "abre-alas" para a seletiva.
A gigante do entretenimento certamente espera repetir aqui o frenesi causado nos EUA, onde o elenco acaba de dar a partida em uma turnê orçada em US$ 8,5 milhões (R$ 18,5 mi) que passará por 40 cidades nos próximos dois meses. O show itinerante visa "alimentar" a fixação dos fãs até o lançamento de "High School Musical 2", previsto para o meio de 2007.
Na rede virtual de relacionamentos Orkut, onde os brasileiros são maioria, a gurizada já está ganha: há mais de mil comunidades dedicadas ao filme.
A maior delas, criada por um internauta paulistano, tem cerca de 41 mil membros. Boa parte deles deverá incluir na lista de presentes de Natal o DVD do programa, cuja versão em português chega às lojas na próxima quarta-feira, dia 6.
Já a nova tiragem do CD com a trilha sonora mira os irmãos mais velhos da legião de aficionados: uma das canções ganha releitura da banda Ludov. Esperteza pouca é bobagem...
da Folha de S.Paulo
A TV Globo foi buscar em uma escola secundária de Albuquerque, no árido estado norte-americano do Novo México, a resposta à ducha de água fria que levou da Record (que exibia "Titanic") no último domingo.
Mostrado das 15h25 às 18h30, o filme cravou média de 15 pontos no Ibope, contra 22 da Globo. Mas, em seus 18 minutos finais, a fita campeã de bilheteria deixou o "Domingão do Faustão" para trás.
A emissora carioca nega a intenção de revide, mas não será por acaso que incluiu na programação do início da tarde de hoje "High School Musical", telefilme da Disney que é fenômeno de audiência nos Estados Unidos (37 milhões de espectadores) e na TV paga brasileira (500 mil, número alto para o segmento). Os protagonistas são arquétipos da fauna escolar ianque: o líder do time de basquete (Troy) e a novata nerd (Gabriella).
Eles se conhecem em uma festa de Réveillon, cantam juntos uma balada romântica num videokê e se reencontram quando, na volta do recesso, (surpresa!) a garota entra para a sala de Troy. Bastará que a professora de teatro abra os testes de elenco de um novo musical para que eles reeditem o dueto (e, óbvio, coloram de vez sua amizade).
Antes disso, enfrentarão a oposição de suas respectivas "tribos": a equipe de basquete teme que, às vésperas da decisão da liga intercolegial, os trinados distraiam o capitão, e o clube de ciências não quer ceder a garota para frivolidades dramatúrgicas. Nos interstícios, tome refrão "chiclete de ouvido" e coreografia grupal...
Estratégia
A Central Globo de Comunicação nega que a escalação do filme para a tarde de hoje esteja relacionada ao "susto" dado pela concorrente na semana passada. Segundo a CGCom, "a escolha de exibição de filmes [...] faz parte de uma estratégia de programação [...] de longo prazo". E completa: "Toda estratégia de programação deve ter agilidade em sua essência".
Ágil está sendo a Disney, que prepara uma versão brasileira do filme e, para isso, negocia a exibição de um concurso "caça-talentos" no "Caldeirão do Huck". Segundo a Globo, a exibição do filme hoje seria um "abre-alas" para a seletiva.
A gigante do entretenimento certamente espera repetir aqui o frenesi causado nos EUA, onde o elenco acaba de dar a partida em uma turnê orçada em US$ 8,5 milhões (R$ 18,5 mi) que passará por 40 cidades nos próximos dois meses. O show itinerante visa "alimentar" a fixação dos fãs até o lançamento de "High School Musical 2", previsto para o meio de 2007.
Na rede virtual de relacionamentos Orkut, onde os brasileiros são maioria, a gurizada já está ganha: há mais de mil comunidades dedicadas ao filme.
A maior delas, criada por um internauta paulistano, tem cerca de 41 mil membros. Boa parte deles deverá incluir na lista de presentes de Natal o DVD do programa, cuja versão em português chega às lojas na próxima quarta-feira, dia 6.
Já a nova tiragem do CD com a trilha sonora mira os irmãos mais velhos da legião de aficionados: uma das canções ganha releitura da banda Ludov. Esperteza pouca é bobagem...
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