segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A era do álbum está chegando ao fim", diz DJ Spooky, que fez palestra na Feira Música Brasil no Recife

MARCELO SOARES
Enviado especial ao Recife


O produtor, DJ e escritor Paul D. Miller, autor do livro "Rhythm Science" e mais conhecido por DJ Spooky That Subliminal Kid, foi um dos palestrantes do evento Feira Música Brasil, que acontece em Recife.

Na sua conferência realizada na última quinta (8), Miller falou sobre troca de fragmentos de culturas entre diferentes cantos do mundo, anacronismo das leis de copyright e novas formas de transformar antigas expressões musicais por meio de colagens e efeitos. Ele nos concedeu entrevista por e-mail, pois teve que sair correndo para o aeroporto para mais um compromisso ao redor do mundo.

Miller confrontou a moral "bizarra e anacrônica" da lei de copyright norte-americana a partir da teoria do fluxo de informação --principalmente pela Internet. Para ele, a possibilidade de troca sem intuito comercial subverte a hegemonia do propriedade sobre a música.

"É praticamente impossível você conseguir controlar a sua obra hoje em dia --seja na questão da livre circulação como também no uso de elementos para se fazer uma nova música", argumentou Miller na conferência.

Para ele, até é possível que um autor de uma música consiga coibir o uso de samplers de sua obra em um novo remix de um DJ qualquer, principalmente se a colagem tiver um intuito comercial. "Mas nada impede que amigos DJs montem em casa uma nova música a partir de elementos de uma canção mais antiga, mostre aos seus amigos e façam intercâmbio entre eles, sem ter a finalidade do lucro", exemplifica.

Paul acredita que se gasta muito dinheiro nos EUA para se coibir este tipo de música. "A cultura do DJ tem a ver com intercâmbios culturais e colagens", diz. Ou seja, o que ele entende como criatividade, as leis de copyright taxam como crime.

Depois da palestra Miller respondeu a perguntas enviadas pelo UOL por email enquanto se preparava para deixar o país.

UOL - Você acredita que a tendência da música contemporânea será a colagem de diferentes estilos num futuro próximo?
DJ Spooky - Tudo que rodeia a música hoje em dia --software, hardware, sistemas de som etc.-- demonstra que a era do álbum está chegando ao final. A possibilidade de baixar música pela Internet, o iPod, a livre circulação de vídeos no You Tube, tudo isso evidencia como música e geografia, está subvertendo todas as normas comuns do século 20. E isso está acima da tendência da colagem. Isso significa que tudo que fazemos hoje em dia está conectado, de uma forma ou de outra, ao software.

UOL - Como você observa o impacto das novas tecnologias no meio musical? Eles tendem a ser aceitas ou recusadas pela maioria dos músicos?
DJ Spooky - As pessoas querem produzir com mais facilidade e rapidez --e a tecnologia veio também para reduzir custos. Músicos abraçam a tecnologia porque eles saem ganhando em criatividade. Meu livro aborda este tema: por que a criatividade é a linguagem que vem traduzindo e atravessando aspectos da modernidade.

UOL - Por que a atual lei norte-americana de direitos autorais está obsoleta?
DJ Spooky - Ela pune a criatividade. Acredito em pessoas que enxergam o sampler como algo que veio para pôr fim a esse tipo de mentalidade medíocre. Ou seja, a música mixada pode ser tão importante quanto a original se conservada a sua essência. Isso é muito importante. E existem diversos artistas ao redor do mundo que pensam como eu: DJ Drama, DJ Krush, Coldcut e todos os MCs de hip hop, incluindo a Nação Zumbi também.

UOL - Qual o conceito de videoscracht?
DJ Spooky - Vídeoscratch vai ser a forma de trabalhar ruídos e imagens semelhante ao que se faz com a música há alguns anos. Se você quer fazer "apenas música", vai querer ter acesso a todas as possibilidades: sons legais, imagens interessantes, contextos climáticos. Tudo isso pode ser combinado de forma harmoniosa. Isso é o que os DJs vêm fazendo há algum tempo --nós estamos apenas modernizando o conceito de música com imagem.

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