quarta-feira, fevereiro 14, 2007

"O vinil já era!"

Cinco perguntas para Dave Clarke
DJ/produtor lança coletânea de remixes e diz que o vinil morreu
13.02.07 18:45

Cinco perguntas para Dave Clarke
"Estou otimista e empolgado com relação ao futuro da música. Os dinossauros estão perdendo seu domínio, o DJ superstar está morrendo e tem uma porrada de música ótima por aí. E o MySpace permite que artista fale com artista sem barreiras."

O ícone do techno britânico, Dave Clarke, admite que começou o ano rejuvenescido por estar tirando suas primeiras férias longas em muitos e muitos anos. Mas ele confessa que o que realmente tem o estimulado é a constante transformação tanto da cena dos clubes quanto da indústria musical, com a digitalização sendo um assunto de especial interesse.

"O vinil está morto, não há futuro comercial sustentável para ele", ele afirma. "Haverá lançamentos em sete polegadas para a ocasional guitar band e o vinil continuará existindo em Berlim e na Alemanha por um tempo mas em todos os outros lugares ele já era."

Uma coletânea de remixes seus acaba de sair do forno: Dave Clarke Presents Remixes & Rarities (1992 - 2005). Inclui versões suas para faixas de Slam, Fischerspooner, Laurent Garnier, Gary Numan e Chemical Brothers, entre vários outros.

Quais são as implicações para o mundo dos DJs se o vinil desaparecer?

Se adapte e sobreviva é a mensagem evolutiva... isso pode ser aplicado à tecnologia. A maioria dos DJs que conheço já tem a muita música em CD então não vai ser o fim do mundo. Os perdedores serão os caras com a cabeça enfiada na areia. Nos últimos cinco anos venho trabalhando para implementar uma solução digital, passando toda minha música para esse formato. Também faz sentido ecologicamente. Tento ser o mais "verde" possível dentro do meu trabalho. Agora não preciso mais queimar toneladas desnecessárias de carbono carregando 30 quilos de vinil toda semana. O vinil é ecologicamente irresponsável, CDs são melhores e HDs são ainda melhores levando em conta peso e manufatura. Não há mais necessidade de discos serem transportados até a loja ou se serem entregues pelo carteiro. Quem ganha é o meio-ambiente e o DJ por ter que aprender novas habilidades

E sets feitos no laptop, com programas como Ableton Live, onde dá para encaixar as batidas perfeitamente e sem esforço. Que impacto esse processo está tendo no papel do DJ?

Sempre houve DJs sem habilidade, aqueles que levantam os braços depois que fingem equalizar algo ou colocam CDs mixados para não precisar tocar no pitch. Isto não mudará apesar da democratização da tecnologia musical. Alguns DJs falam todos felizes sobre o Ableton e alguns desses DJs não sabiam mixar antes e agora não precisam mais, mas eles são comerciais e não representam nada. Alguns outros DJs estão criando novas e empolgantes paisagens musicais sonoras. Minha escolha pessoal é o Serato porque permite mixagens precisas. Na minha visão, o Ableton é uma ferramenta de produção e não de DJ.

O quanto você se vê como uma marca? O quanto você tem que levar em conta o que o nome Dave Clarke representa?


Não me vejo nem um pouco como uma marca, mas outras pessoas vêem. O que eu represento é música inovadora e empolgante, do tipo que não toca na BBC, e toco isso para público que tem a mente aberta. Eu também tenho grande prazer em lancer artistas apenas pela sua música e não porque eles tem o mesmo empresário que eu.

Falando de álbuns de música eletrônica, parece que o gênero segue sendo dominado por singles com pouquíssimos títulos sobrevivendo ao teste do tempo, com exceção de nomes com Leftfield, Underworld, Orbital e The Prodigy. Por que tão poucos grandes álbuns aparecem?

Quase todos os álbuns de música eletrônica eram lixo, particularmente porque era uma maneira de muitos artistas honestos finalmente serem pagos por alguns grandes singles mas também porque era uma maneira de vários artistas desonestos terem seu álbum feito por produtores de talento (e que nem sempre levavam crédito). Álbuns foram feitos principalmente para artistas de rock mas mesmo agora todo o conceito de álbum está de saída porque a maioria das pessoas não tem capacidade de manter a atenção por um álbum inteiro. O que é uma pena, porque é assim que você aprende a amar as faixas menos óbvias.

Os downloads digitais estão transformando a indústria musical muito rapidamente. O futuro da música é gratuito?

Essa é difícil. Eu ainda gosto de comprar música apesar de que sei que boa parte do dinheiro nunca vai chegar no artista. Mas cada vez mais percebo que não posso encontrar essa música numa loja, mesmo que eu encomende, então eu compro online. Não acredito que música deveria ser gratuita, a não ser que o artista assim o queira. Música tem um valor. O artista mostrou dedicação e deveria ser recompensado. Se um pedreiro pirateia música será que ele acredita que seus serviços deveriam ser fornecidos de graça? Downloads gratuitos é por causa das gravadoras terem abusado da ganância por tanto tempo mas, ironicamente, é o artista que também sofre.

Jonty Skrufff

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