segunda-feira, agosto 01, 2005

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DJ canadense Tiga traz seu set eclético a SP em setembro
THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

Se alguém criar um "dream team" da música eletrônica, a chance de o mirrado Tiga ser escalado é grande. Pois este DJ canadense é titular de outro "time dos sonhos": é o auto-intitulado "Electro-Punk-Funk-All Star-Team". Ele conta melhor essa história -"pela primeira vez".

"Adoro futebol, jogo três vezes por semana em Montréal, mas sinto falta quando viajo. Então resolvi formar um time com outros DJs, como James Murphy [LCD Soundsystem], David e Stephen Dewaele [2ManyDJs], Headman e DJ Hell. Já jogamos duas vezes: a última, durante o Sónar, na Espanha. Ganhamos de um time de ingleses com um gol meu!"

Tiga adora futebol, adora o Brasil e adora falar sobre música. A conversa com a Folha é motivada por sua vinda ao país. Tocará em São Paulo, no Espaço das Américas, em 9 de setembro, e, no dia seguinte, no Brasília Music Festival, no estádio Mané Garrincha.

Antes de entrar em campo, as apresentações. Quando se fala em clubes e festas de música eletrônica, é comum vir à mente a imagem de um DJ tocando músicas das quais não fazemos a mínima idéia de seus nomes, quase iguais entre si e com batidas repetitivas --coisa muito chata às vezes. Há gente que tenta fugir disso, dar uma cara às suas canções e seus sets. Principalmente Tiga.

Quando ele toca, pode-se ouvir electro, o funk de M.I.A., rock, faixas obscuras de tecno, disco. Quando ele produz, saem coisas como os remixes de "Shake Yer Dix" (da Peaches), "E-Talking" (Soulwax), "Hot in Herre" (do rapper Nelly) e "Washing Up" (Thomas Anderson) e canções próprias, como "Sunglasses at Night" e "Pleasure from the Bass". São músicas que povoaram as pistas no mundo todo.

Caso especial é "Washing Up", o hit da hora que vem sendo tocado por todo mundo, desde os ingleses James Lavelle e Carl Cox aos belgas 2ManyDJs, passando pelo carioca Maurício Lopes.

Disputado por estrelas pop para mexer em suas canções, Tiga conta os segredos para realizar um remix. "Há alguns truques. Primeiro, deve-se escolher uma canção que tenha alguma falha, algo que tenha de ser corrigido. Não dá para remixar uma música perfeita. Segundo, dar algo pessoal à faixa, mesmo se for apenas um sussurro, pois assim lembrarão de você. Terceiro, testá-la. Toco muito como DJ, então consigo testar a canção nas pistas. Se ela não levanta o público, é porque não está boa."

Ele dá exemplo. "Sobre o remix de "Washing Up': a original é muito boa, mas não perfeita. Então mantive as melhores partes e adicionei alguns elementos. Na primeira vez que a toquei, em Portugal, a reação foi boa, mas vi que uma batida de bateria poderia ser mais forte, que a parada no meio da canção estava muito longa... Então fiz rearranjos. Na outra noite, toquei na Rússia e foi incrível. O público não mente."

E quais as canções perfeitas, que Tiga não ousaria colocar as mãos? ""Ashes to Ashes" [Bowie], ou "Enjoy the Silence" [Depeche Mode]. Se o New Order pedisse para remixar "Blue Monday", diria não."

Tiga é comumente chamado de DJ de electro, algo que ele considera reducionista. "O que acontece é que minhas primeiras músicas de sucesso eram electro, mas vejo o electro mais como um estilo do tecno." Mas ele diz evitar o purismo. "Adoro o tecno puro. Adoro ouvir Richie Hawtin ou Marco Carola tocarem, mas não a noite toda. Fico entediado depois de uns 45 minutos com esse purismo. Há tanta música por aí, um bom DJ tem que achar um jeito de misturar essas influências. É isso o que acho interessante na gastronomia, na literatura..."

Tiga apareceu há cerca de cinco anos, junto com outros nomes do electro do selo alemão International DeeJay Gigolos. "Havia muito hype na época, mas porque era uma música diferente. É a velha história: os que têm qualidade, ficam. Já o electroclash de Nova York, Los Angeles e Londres veio com uns dois anos de atraso."

Em janeiro, o canadense lança seu primeiro disco. Tendo discotecado em dezenas de países, lembra histórias curiosas: "Já toquei com um cara fantasiado de Robin Hood na cabine. Aquilo foi ridículo. Na Dinamarca, um louco subiu na cabine e me mordeu na bunda, como um cachorro. E ficou quase um minuto ali. Tirei as calças e estava inflamada. Parece engraçado, mas doeu muito."

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