segunda-feira, agosto 01, 2005

Kaiser Chiefs acerta ao pular anos 80

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL


Esta banda, Kaiser Chiefs, pode até não ser perfeita, mas há um ótimo motivo para adorá-los até a morte: para eles, os anos 80 não existiram.
O disco, "Employment", é quase um oásis no meio dessas pragas que são as festas que "resgatam" o brega daquela época, as bandas que começam e param no Gang of Four, e DJs que têm como referência única o Duran Duran.
Porque o Kaiser Chiefs começa nos anos 60, com o mod Kinks, passa pelo The Jam do final dos 70 e pula para o britpop dos anos 90. Tudo bem britânico -na verdade, o CD é tão britânico que dá até vontade de tomar chá com leite.
O grupo, um quinteto de Leeds, está com a moral lá em cima. Foram indicados ao Mercury Prize e são, segundo as casas de apostas inglesas, os favoritos para levar o prêmio -o mais prestigioso da música pop do Reino Unido.
Não à toa, "Employment" lembra tanto "Parklife" ou "Modern Life Is Rubish", do Blur, ou "Supergrass" ou "His and Hers", do Pulp. O disco foi produzido por Stephen Street, o homem por trás de discos de Blur, Smiths, Morrissey, Graham Coxon etc.
O álbum já soltou quatro hits e colocou o Kaiser Chiefs nos principais festivais europeus e numa turnê com o Foo Fighters.
À parte as referências roqueiras, há até toques aqui e ali de eletrônica, como em "Everyday I Love You Less and Less", que abre o disco. A faixa é bem mod, com um vocal pop, mas tem também teclado sujo, meio electro; é perfeita para as pistas de rock.
"I Predict a Riot" dá ainda ao início do álbum o cheiro antigo, anos 70. Quase punk, a canção lembra The Jam, e foi a música que fez a banda começar a ser tocada nas rádios européias, no final do ano passado.
A partir daí os anos 90 tomam conta do álbum. A primeira surpresa vem com "Modern Way", faixa que traz com elegância e fôlego o britpop para os anos 90. Em "Na Na Na Na Naa", vem o recado: "Isso não mexe comigo/ Não mexe comigo em nada/ (...) Não é o tipo de coisa que eu gosto/ (...) Ela não mexe comigo/ Ela não é o tipo de garota que eu gosto".
Até músicas menos imediatas, como as semibaladas "You Can Have It All" e "What Did I Ever Give You" têm a sua graça; as melodias lembram algumas das canções mais ensolaradas -e inspiradas- do Oasis.
Há momentos mais fracos, como "Saturday Night", que não tem tempero nenhum. Já "Born to Be a Dancer" parece ser a mais planejada, polida e ensaiada do disco, feita cuidadosamente para ser acompanhada por assobios e batidas de pé; é bem besta. Mas são coisas que não tiram o brilho do álbum, que garante uma bela e renovada diversão.

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