quarta-feira, agosto 03, 2005

Gamal


   Aquilo que une os cineastas e os filmes desta mostra marginal, e suas fronteiras, como preconizado por Joris Ivens, são o desejo e a necessidade de se fazer filmes a qualquer preço. Isso implica em concessões estéticas e ideológicas que fazem com que cineastas como Bressane, Candeias, Sganzerla, Carlão, Ivan Cardoso, entre outros marginais e fronteiriços, acabem dialogando entre si, em pé de igualdade com a anarquia, a liberdade e a efervescência criativa.
   Gamal, o delírio do sexo é um desses filmes. A trajetória do personagem é a de um delírio marginal, de contracultura, e a maneira como essa trajetória foi realizada evidencia a preocupação de inserir a obra em um contexto de latinidade barroca. João Batista de Andrade mistura as tendências de fazer longas a qualquer preço, como o Neo-Realismo Italiano e a Nouvelle Vague francesa, sem perder, porém, sua brasilidade.
As ruas de São Paulo, as estradas, praças, não são as mesmas da Roma do pós-guerra, ou as de Paris do final dos anos 50, mas servem de cenário para que Gamal descarregue toda sua ira contra o sistema. Um sistema no qual as pessoas se vêem impedidas de praticar seus instintos. Na floresta da Praça da República, cercada de cimento e aço, o selvagem Gamal exerce seu ato de desespero. O espírito rebelde prevalece.
   Assim, Gamal é um filme feito a todo custo, contra a falta de dinheiro, a censura ideológica ou estética. Realizado em condições de guerrilha, por um cineasta que expôs sua cinefilia desde o primeiro plano rodado, Gamal reflete este desejo inconsciente de marginalidade. Com o tempo João Batista mudou e, assim, mudaram os seus filmes. Ele começou a rodar fitas com custo, longe das fronteiras e da marginalidade.
Paulo Allegrini

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