segunda-feira, janeiro 29, 2007

Chega de modernidade

Luiz Felipe Pondé defende em novo livro a "dúvida conservadora" e contesta a idéia de que os problemas humanos são políticos e sociais


Rodrigo Paiva/Folha Imagem
Luiz Felipe Pondé, professor da PUC e da Faap, vai lançar "Do Pensamento no Deserto"


RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma briga antiga vai ganhar um novo "round" com o lançamento em breve do livro "Do Pensamento no Deserto" (Edusp), reunião de ensaios do filósofo Luiz Felipe Pondé, 47.
Trata-se da peleja entre o pensamento conservador e a modernidade, entendida como a crença na promessa de que a razão humana, de que a ciência, daria conta da realidade e seria capaz de reformar a vida e a sociedade, visando à melhoria do homem.
Contra essa certeza iluminista (que determina a vida no Ocidente desde pelo menos o fim do século 18), levantou-se desde logo o que o professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) chama de "dúvida conservadora". Embora o pensamento conservador tenha tido representantes nobres no Brasil -Pondé cita, entre outros, o crítico Otto Maria Carpeaux e o escritor Nelson Rodrigues-, os problemas que ele coloca raramente são tratados com rigor acadêmico no Brasil.
É o que esse professor de filosofia procura fazer nos dez ensaios de seu novo livro, que tratam de temas como a ciência e a bioética, as literaturas de Fiódor Dostoiévski e Franz Kafka e os entraves do mundo universitário. "Do Pensamento no Deserto" ainda não tem data para ser lançado, mas deve sair neste semestre, diz Pondé.
Na entrevista a seguir ele explica o que é a dúvida conservadora e ajuda a entender declarações como o elogio à Idade Média ("foi tão boa"), o desprezo à busca da felicidade ("existem coisas muito mais importantes"), a crítica à modernidade ("uma adolescente, uma menina de 14 anos, que chega a um lugar e começa a organizar") e a afirmação da existência do mal ("é óbvio que o mal existe; o que talvez a gente possa pôr em dúvida é se existe o bem").


FOLHA - O problema do conservadorismo é a modernidade?
LUIZ FELIPE PONDÉ -
Conservadorismo significa, sem dúvida nenhuma, uma desconfiança enorme em relação à modernidade, compreendida como a crença na razão como instrumento suficiente para o conhecimento. "Conservador" é um termo que não é claro. Mas é razoavelmente correto você pensar que o termo indica desconfiança e mal-estar com relação à suficiência da razão, desconfiança com a idéia de que você possa jogar fora a tradição religiosa, contrariedade à idéia de ruptura -de que o ser humano possa inventar tudo a partir de hoje-, e está também na idéia de que a natureza humana é alguma coisa da qual você deve se aproximar com cuidado e que sempre subentende um certo mistério. FOLHA - Há também uma desconfiança em relação à idéia de autonomia moral e de possibilidade de melhoria coletiva do ser humano?
PONDÉ -
Esse é um ponto central. Aquilo que os ingleses chamam de "melhoristas". Uma desconfiança com a capacidade de o ser humano se auto-inventar e se auto-aperfeiçoar. Isso porque o ser humano é um animal essencialmente orgulhoso. É isso que o define. Outra característica é uma desconfiança em relação à idéia de que os problemas humanos são políticos e sociais. O problema humano é sempre moral.

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