Além de identificar cores e números, papagaio criado em cativeiro parece entender quanto vale zero
Ao longo de 28 anos de pesquisa, cientistas dos Estados Unidos já ensinaram um papagaio cinza africano (Psittacus erithacus) a identificar, em inglês, variados objetos, cores e números, com ajuda de métodos da psicologia social infantil. Recentemente, Alex, como é conhecido o pássaro, realizou a façanha de perceber a ausência de um determinado número de elementos e expressá-la vocalmente sem que fosse treinado para isso. De acordo com a líder dos experimentos, esta é a primeira vez que um animal domina o conceito de zero. No entanto, a interpretação dos resultados é controversa.
Os experimentos numéricos feitos com Alex consistiam em fazer a ele perguntas sobre a quantidade de objetos de uma mesma cor apresentados em uma bandeja. Clique na imagem para assistir a um vídeo narrado em inglês que mostra algumas das proezas do pássaro (formato mov, 3 MB)
Entre setembro de 2003 e junho de 2004, a equipe de Irene Pepperberg, professora de psicologia da Universidade Brandeis, submeteu Alex a um estudo de compreensão numérica. Para verificar se a ave sabia contar, os pesquisadores apresentavam bandejas com grupos de objetos misturados e faziam perguntas para que o animal selecionasse determinado conjunto de elementos semelhantes. Por exemplo, quando mostravam ao papagaio um suporte com quatro cubos verdes, cinco vermelhos e seis azuis (foto), questionavam: "Que cor quatro?". Logo, Alex respondia: "Verde". Questões desse gênero foram repetidas sucessivamente. As respostas com o nome de uma cor foram predominantemente corretas.
Às vezes Alex dizia o nome de frutas ou brinquedos, para demonstrar que estava entediado com o excesso de repetições. Porém, em certa ocasião ele falou o número cinco. Vendo que na bandeja exposta não havia cinco objetos de uma mesma cor, Pepperberg ficou intrigada com a resposta e decidiu perguntar: "Que cor cinco?". O papagaio cinza reagiu de forma inédita naquele estudo: "Nenhum". Para descobrir se ele não havia falado aquilo por acaso, a professora passou a mesclar perguntas cujas respostas eram 'nenhum' em outras séries de provas numéricas, e continuou a observar resultados corretos na maioria das vezes (mais de 80%).
Alex, entretanto, não inventou a palavra 'nenhum'. Ele já tinha sido treinado para dizê-la em um estudo de semelhanças e diferenças entre objetos, quando nem a forma nem a cor das coisas fossem iguais ou distintas. "Mas ele nunca havia sido condicionado a usar 'nenhum' para designar a ausência de quantidade dos objetos", gaba-se Pepperberg.
Segundo a pesquisadora, que publicou os resultados dos experimentos numéricos com Alex em um artigo no Journal of Comparative Psychology, a noção que a ave tem do zero surpreende, pois este número não dispõe de uma realidade concreta, sendo de difícil compreensão até mesmo por humanos. "A competência numérica tem como prerrogativa a existência de alguma coisa para ser enumerada", explica Pepperberg. "Talvez por isso as crianças percebam o zero depois de outros conceitos numéricos".
Ainda assim, a interpretação desses resultados deve ser discutida. "Embora se trate do uso do termo 'nenhum' em uma tarefa numérica, a palavra não foi usada no sentido de 'zero cardinal'. Isso só aconteceria se perguntassem, por exemplo, 'quantos cubos azuis?' – e não houvesse nenhum", contrapõe Eduardo Ottoni, etólogo da Universidade de São Paulo. "Alex respondeu 'nenhum' no sentido de ausência, o que ele já sabia fazer antes."
Desta forma, os próximos passos da equipe de Pepperberg envolvem testes que verifiquem até que ponto Alex compreende o zero, além do ensino dos números a outros dois papagaios da mesma espécie mantidos em laboratório. Os métodos usados com a Psittacus erithacus baseiam-se em um procedimento denominado "modelo/rival". A técnica conta com a atuação de dois pesquisadores e baseia-se no tratamento de crianças com déficits de atenção, partindo do princípio de que os papagaios são seres altamente sociais, assim como os humanos.
Lia Brum
Ciência Hoje On-line
sexta-feira, agosto 05, 2005
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Um comentário:
nenhum! nenhum! nenhum! :D
eu lembro desse lance cara, desse papagaio..
mas eu também não podia deixar de escrever:
FALAR ATÉ PAPAGAIO FALA, QUERO VER ESCREVER! HAHAHAHAHAHAHA!!!
abç!
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