Maior fenômeno do pop latino-americano, cantor colombiano Juanes chega ao Brasil depois de "piorar" imagem; músico entrou no mercado nacional com "Para tu Amor", balada incluída na trilha da novela "Páginas da Vida"
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A MEDELLÍN
A atriz Graziella Massafera, ex-"Big Brother", gira a maçaneta, entra no banheiro e liga o chuveiro. A água escorre pelo seu corpo. Junto com ela, a espuma que a moça espalha pelas costas e pelas pernas.
É de revirar o estômago, de tão açucarado e clichê, não?
Pois foi com essa cena, exibida na novela global "Páginas da Vida", que Juanes, 34, entrou no mercado brasileiro, no embalo da melada "Para tu Amor".
O cantor colombiano é o artista de idioma espanhol mais famoso no mundo hoje. Seus três álbuns juntos venderam mais de 10 milhões de cópias. Na estante, ele acumula 12 Grammys. Ou seja, está longe de ser uma novidade.
Há sete anos, quando estreou a carreira solo com o álbum "Fijate Bien", podia-se dizer que era um roqueiro de personalidade. Aliando o passado experimental numa banda de heavy metal com a tradição da música folclórica colombiana, Juanes virou referência criativa no pop latino-americano.
Só que, então, veio o sucesso. Um punhado de prêmios e turnês em estádios lotados na Europa e nos EUA. Bastaram para que o artista não resistisse aos apelos da indústria fonográfica. Nos anos seguintes, lançou dois álbuns bem mais comerciais, "Un Dia Normal" (2002) e "Mi Sangre" (2004), que acaba de ser relançado aqui, pegando carona no sucesso da novela.
Em outras palavras, Juanes precisou literalmente piorar, aproximar-se do estereótipo de cantor latino e brega, para chamar a atenção do público brasileiro e da gravadora, que enfim resolveu "trabalhar" a imagem do artista por aqui.
É uma pena. Trata-se de um cantor e compositor interessante e original, preocupado em criar algo novo a partir de uma tradição musical rica -a de gêneros da região, como a cumbia, o vallenato, a chacarera e a música guasca.
Hoje, vê-se claramente que ele terá de se defender muito para que não o transformem num novo Ricky Martin.
A Folha visitou a casa em que Juanes vive, no luxuoso bairro de Las Palmas, no alto de um dos lados do vale onde está localizada Medellín.
Para o músico, a atual fase se explica por conta das transformações pelas quais a Colômbia tem passado. "Quando lancei o disco "Fijate Bien", as coisas aqui estavam sombrias, e eu não sabia qual seria o meu futuro. Por isso é um disco tão triste. Hoje me sinto melhor, e a Colômbia também está melhor. Essa sensação de que os nossos problemas podem ter uma solução se reflete no meu otimismo", explica.
Juanes se refere, especialmente, ao local onde nasceu. Há dois anos, Medellín, famosa por ser uma das cidades mais perigosas da América e sede do Cartel de Medellín, vive um momento de euforia. Investimentos do governo municipal em educação, urbanismo e segurança fizeram com que a violência caísse rapidamente. A experiência, reconhecida internacionalmente, chamou a atenção até do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que cogita importar dela soluções para o Estado.
Uma das conseqüências desse processo foi, justamente, o fato de que um dos artistas mais exitosos da Colômbia quisesse trocar sua casa em Miami para voltar à cidade natal. Há dois anos, Juanes criou uma fundação para ajudar as crianças vítimas de minas deixadas pela guerrilha e pelos paramilitares no interior do país. Por conta de seu ativismo, há quem o compare, para o bem e para o mal, ao irlandês Bono, do U2.
Drogas
Apesar da relativa tranqüilidade que vem sendo alcançada em alguns centros urbanos, a guerra e o narcotráfico seguem sendo problemas crônicos da Colômbia. Com relação a eles, Juanes tem uma posição progressista. "A solução é descriminalizar a droga. Ela gera tudo isso, os paramilitares, as guerrilhas, as mortes entre famílias. O mundo inteiro consome, e é a Colômbia quem paga. Com sangue. Com humilhação", diz.
Mas ele admite que tal solução não será fácil. "Somos uma sociedade moralista, ainda não estamos preparados."
Quarto álbum
O novo disco de Juanes, "La Vida Es un Ratico", ficará pronto no segundo semestre. Trabalhando com o argentino Gustavo Santaolalla -produtor de boas bandas latino-americanas, como a mexicana Cafe Tacuba e o argentino/uruguaio Bajofondo Tango Club-, Juanes diz que está fazendo um álbum mais autoral. "Vai se parecer muito com o primeiro, será bem mais roqueiro e terá muita música colombiana e latino-americana." O cantor deve também vir pessoalmente lançá-lo por aqui. Tomara que alguém o avise para, pelo menos, ficar longe das telenovelas.
segunda-feira, abril 09, 2007
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