segunda-feira, outubro 17, 2005
do tonnetti.
I
Ó Pedro Pedreira Pedrudo Pedrada! Ó Deus, tu, ingrato! Por que fostes haver de deixar esta Pedra em meu caminho? Me enviaste a esse ninho de não-seres para ver que a única luz sou eu?! Ó Todo poderoso, e os fizeste à tua imagem e semelhança, e os fizeste para não ver que não veêm e me enviaste caolho e eis que agora sou Rei, mas de que me adianta ser rei de um bando de nazarenos? Ó grande Míope, Sr. de tudo e de todos. criador do não-céu e da Nãe-Terra, e de todos os estrábicos! Eu, sendo Tu, só mesmo assim PrOfETA.
II
Todo amor é possível na cidade dos não-homens
e os amantes, correm um para o outro, numa cena lírico-romantica
até que chegue
a primeira baforada de fumaça
que saiu dum caminhão
ou dum outro
auto-(i)móvel qualquer.
A fumaça é preta,
tão preta que acaba
por acabar com todo nosso romantismo
os coraçõezinhos tossem apressados
e, perdidos um do outro,
vão,
na névoa de ferrugem.
Correm, agora, para pegar o ônibus.
III
Os cachorros latem fino porque seus donos um dia se sentiram incomodados. O vizinho mandou reclamar. Logo veio o síndico. Recomendou o veterinário uma cirurgia. O dono acatou. Calou-se a Sociedade Protetora dos Animais proferindo seguinte nota: não cuidamos mais de animais, somente de seres homens. Então, calou-se o cão.
Hoje, de revolta, latem fino, cada vez mais, os não-cachorros; mais cachorros que os não-homens, mais homens os não-cachorros.
IV
E são como formigas que agem. Se entopem em buracos, e vão e vem, aos montes, e não pensam. E não pensando ficam de 3 à 4 horas por dia e, se se propusessem a ser monges ou brâmanes teriam tempo suficiente para, neste grosso espaço de tempo, alcançar o Nirvana. Iriam longe, voariam ao limpo e ao uno, ao nada e nada mais, ao nada e somente isto. Mas não, ao contrário, ficam não muito além de si mesmos neste processo diário de locomoção, onde o pensamento é não pensar, e, por sorte, ficam ali, pouco mais adiante de seus próprios narizes ou umbigos. Ou nem isso.
V
A rua é sem saída. É fechada a veia por onde deveria circular a vida. E a via que devia, circular não vai.
Estamos sem saída.
VI
Na cidade dos não-homens
as pessoas não-tem-nomes.
Quer dizer... nomes até eles tem, mas não os reivindicam. E é por motivo prático: para facilitar o fluxo desumano - Não-humano - abrem mão do que não
se deve abrir e, para não se distraírem com um chamado enquanto vão de um lado para o outro, esquecem-se de si.
Mas EU, Deus, ditador
desta historieta,
para facilitar - não ao fluxo, mas ao meu povo/público santo - devo de alguma maneira chamar aqueles não-homens
por nomes.
talvez deva-os chamar todos Severinos, como queria um tal João;
OK. OK. se-ve-ri-no não!
pois é Coisa de peão.
Um nome ideal, devo buscá-lo. E qual será mais ideal do que Pedro, nosso cristão?
Pois bem Pedro:
- Que tu és Pedra, e sobre ti, edificarei a minha empresa!
Nasce assim a cidade dos pedros não-pedros: das Pedras: A cidade dos Não-homens.
VII
E você leitor? - ou seria mais adequado não-leitor? Ou leitor não sendo?
O que fazes aí lendo em frente a este computador? Não sabes que te cansa a vista esta empreitada?
O que fazes aí, ainda? estás sentado, inerte em frente a este computador, esta máquina, esta pedra, e não fazes nada, enquanto esperas somente que seus músculos definhem.
Pois Eu Lhe direi o que fazer! Por que não olha e não sai pra fora de sua casca, de seu cubículo? Olhe a sua volta. O que vê? Pessoas? decrépitas pessoas? Fracassados, Infelizes e toda sorte de Desgraçados? Ou estás só?! então, desgraçado talvez sejas tu, infeliz! Agora ouça o que lhe direi: pois resta-lhe ainda uma solução:
...então vai, criatura! Levanta-te! Vai ver o Sol! (E Se não houver Sol vai ver a chuva, vá se molhar. Se não houver chuva ou frio ou noite, vai mesmo assim, levanta-te, e vai sentir a Bunda pra ver que ainda estás vivo!)
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Um comentário:
agora eu vou lá. ver o chão molhado e o céu que nem sei se está estrelado. passei a noite inteira dentro de um escritório com a janela aberta e a cortina fechada. sentindo apenas o vento refrescante. tenha uma boa semana. adorei o escrito. =*
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