MÁRVIO DOS ANJOS
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Os Strokes passaram por São Paulo anteontem. Recepcionados por Mundo Livre S/A, trouxeram junto Kings of Leon, Arcade Fire e M.I.A. Pena que estava difícil ouvir alguma coisa.
Porque num festival de música (de rock, principalmente), ao ar livre, com público grande, o som tem que ser alto. Tudo bem, não precisa ser MUITO ALTO, mas, pelo menos, ALTO. E o sistema de som montado na versão paulistana do Tim Festival não satisfez as 24 mil pessoas que foram à Arena Skol Anhembi.
Segundo a organização do evento, a questão está relacionada com as próprias bandas, já que cada artista levava seu técnico de som, que comandou os equipamentos.
"Não está dando para ouvir nada. Falta pegada nesse som", afirmou Rodrigo Lotsch, 24, bastante irritado, durante o show dos canadenses Arcade Fire. Lotsch estava na platéia "comum", onde o volume do som não atrapalhava as conversas.
Mesmo os que não eram "comuns" -os que estavam perto do palco- reclamaram. Fãs acotovelados na grade entre a platéia e os VIPs chiaram muito durante o show do septeto canadense. As reclamações diminuíram já no show do Kings of Leon. Quando os Strokes entraram, o som ficou um pouco melhor.
A idéia de separar o público entre os "comuns" e os "VIPs" (os primeiros pagaram R$ 100 pelo ingresso; os outros, R$ 250) mostrou-se inoportuna. Num espaço amplo como o Anhembi, pega mal negar à platéia mais ardorosa a proximidade do palco -um clássico de qualquer show de rock-, em nome de um cercadinho VIP superlotado.
Alguns nem tão VIPs, porém, conseguiram dar a sorte de chegar lá. Foi o caso de Patricia Juttel, 16, de São Bento do Sul (SC), a uma hora de Florianópolis, pegou uma excursão que saiu de Curitiba e, no Anhembi, viu uma pessoa distribuir seis ingressos para a área privilegiada. "Não estou acreditando que estou aqui. Vim para ver os Strokes. Duro está aturar a M.I.A. A coreografia é horrível."
Os shows
Diferentemente do que aconteceu no Rio, o Tim paulistano era, basicamente, um evento roqueiro. Assim, a mistura de ragga-electro-funk carioca de M.I.A. foi recebida com frieza e, até, indignação. Algumas pessoas aplaudiram, muitas chegaram a ensaiar vaias à cantora cingalesa. Apenas o hit "Bucky Done Gun" empolgou e fez a molecada rebolar.
Se o som não ajudou, o Arcade Fire ganhou o público na simpatia e na frenética performance, com gente correndo pelo palco, batendo nas caixas de som, trocando de instrumentos... As canções, quase todas épicas, como "Rebellion (Lies)", "Neighborhood" e "Power Out", comandaram corinhos de parte da platéia. Muito bom, mas não foi como a experiência arrebatadora vista pelos cariocas.
Já o quarteto Kings of Leon, que no Rio foi tido como decepção, mostrou que honra a nobreza de seu nome. Mais segura, a família Followill fez seu melhor show brasileiro, com o vocal áspero de Caleb, aparentemente em transe, brilhando sobre guitarras rústicas e vibrantes. O massacre sulista teria sido o melhor show da noite, se ela tivesse terminado ali.
Porque depois vieram os Strokes. As músicas são hits diretos, público e banda estavam empolgados, e as canções apareciam quase exatamente iguais às versões em disco.
Não foi um show histórico como o do MAM-RJ -muito por culpa da qualidade do som e de Julian Casablancas estar gripado-, mas deve ficar na memória de quem estava lá.
"Is This It", o primeiro álbum, foi tocado por inteiro -e acompanhado em gritaria pela platéia. A banda se mexe pouco no palco -não é falta de entusiasmo; eles deixam tudo na música. Julian Casablancas tem um ar blasé, mas mostrou não ser mais o inseguro vocalista de dois anos atrás.
Ao final, após a destruidora "Reptilia", Fabrizio Moretti foi ao microfone. "Boa noite, meus irmãos brasileiros!" Definitivamente.
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