Katherine Keliher, 9 anos, de Lakeville, Minnesota, poderia dormir uma hora a mais se quisesse todo dia pela manhã. Mas ela prefere acordar cedo, se sentar diante do computador e passar o tempo trocando mensagens instantâneas com suas melhores amigas, cinco garotas que ela logo veria na escola.
"Nós apenas conversamos, tipo: 'O que você fará hoje?' e coisas assim", disse Katherine.
Sua mãe, Judy Keliher, disse que não está buscando privar Katherine de seu acesso às mensagens. "Para alunos da quarta série isto é fundamental", disse ela, entendendo que videogames, celulares, iPods e outros dispositivos de alta tecnologia fazem parte de crescer em um mundo digital. Mas Judy está preocupada com a quantidade de tempo que seus filhos, incluindo Matthew, 14 anos, gastam nisto.
Então ela está buscando impor algum controle. Ela disse que permite apenas um computador em casa e que limita o tempo dos filhos diante dele. "Eu não gosto que fiquem em casa e sedentários, não às custas de fazer outras coisas que precisam ser feitas", disse Judy, 43 anos, que é divorciada e trabalha em período integral como gerente de uma loja de software. "Eu coloco isto sob o prisma de um estilo de vida mais saudável."
Em entrevistas e pesquisas, muitos pais dizem que seus filhos gastam tempo demais diante de computadores e com celulares. Alguns pais temem que muitas horas sedentárias ao computador podem levar a ganho de peso, ou que tanta mensagem instantânea acabe prejudicando o aprendizado de traquejos sociais cara à cara. Alguns se queixam mais do que nunca de ter que competir pela atenção de seus filhos.
Um relatório sobre adolescentes e tecnologia, divulgado neste mês pelo Projeto Pew para Internet e Vida Americana revelou que o uso de computadores por adolescentes aumentou significativamente. Mais da metade dos usuários adolescentes de Internet se conectam diariamente, em comparação a 42% em 2000, disse o relatório; 81% destes usuários jogam videogames, em comparação a 52% em 2000. Mensagem instantânea se tornou "a espinha dorsal da comunicação digital do vida cotidiana dos adolescentes", usada por 75% dos adolescentes online, disse o relatório. "Os pais estão realmente lutando com isto", disse David Walsh, presidente do Instituto Nacional de Mídia e Família, uma organização educacional sem fins lucrativos em Minneapolis, que deu início a um programa neste ano para ajudar as famílias a reduzir o tempo diante das telas e aumentar a atividade física. "À medida que os aparelhos continuam evoluindo, eles consomem mais e mais o tempo de nossas crianças."
Avanços tecnológicos já produziram conflitos de geração antes, é claro, seja um aparelho de televisão, um rádio transistorizado ou um computador pessoal. Os jovens acham as coisas mais recentes excitantes e libertadoras. Os pais se preocupam que estejam se tornando uma distração e prejudicando o desenvolvimento acadêmico e social. O mesmo acontece hoje. Só que agora não é apenas uma única maravilha tecnológica que preocupa os pais, mas uma maré aparentemente constante e cada vez mais sofisticada delas.
À medida que novos dispositivos tecnológicos surgem -a Apple apresentou recentemente um iPod que executa vídeo- os jovens não estão necessariamente descartando a mídia antiga. Uma pesquisa entre jovens de 8 a 18 anos, realizada pela Kaiser Family Foundation neste ano, revelou que a quantidade de conteúdo de mídia à qual os jovens estão expostos diariamente aumentou em mais de uma hora nos últimos cinco anos, para oito horas e meia.
Mas como estão fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo, os jovens estão condensando isto em uma média de seis horas e meia por dia, incluindo três horas assistindo televisão, quase duas horas escutando música, mais de uma hora no computador fora o tempo gasto com lição de casa (mais do que o dobro da média de 27 minutos em 1999) e menos de uma hora jogando videogames.
Nem o relatório da Kaiser nem o da Pew encontraram evidência de uma catástrofe iminente. O relatório Pew apontou, por exemplo, que apesar do grande interesse por tecnologia, os adolescentes ainda passam mais tempo socializando com amigos pessoalmente do que pelo telefone ou por e-mail ou mensagens instantâneas. E à medida que os adolescentes envelhecem, revelou o relatório, eles tendem a perder o interesse em distrações como jogos online e ficam mais inclinados a usar a Internet em busca de informação.
"Eu não acho que seja uma crise", disse Elizabeth Hartigan, editora administrativa do "L.A. Youth", um jornal e site de Internet para estudantes colegiais de Los Angeles. "A gravidez na adolescência é uma crise."
Para muitos jovens, disse Hartigan, equipamentos de alta tecnologia não são um problema porque suas famílias não podem comprar algo além de um aparelho de televisão. Outros simplesmente não estão tão interessados.
Ariel Edwards-Levy, 16 anos, uma redatora do "L.A. Youth", concordou que o uso do computador é "uma atividade sedentária", e se você permitir que se torne obsessiva, se torna um problema".
"Mas alguns pais não entendem que é uma mídia diferente", disse ela. "É em grande parte apenas uma ferramenta, e pode ser usada muito bem. Os recursos online são fantásticos. Você pode conhecer pessoas e reencontrar pessoas."
Muitos pais dizem que estão limitando o tempo diante das telas, checando a navegação de seus filhos na Internet e usando filtros para bloquear material questionável. Outra estratégia é manter apenas um computador em casa e colocá-lo em uma área comum, como a sala de estar, para melhor monitorar os hábitos online de seus filhos.
Paula Hagan Bennett, uma advogada da área da Baía de San Francisco, disse que usa uma série de métodos para administrar como e quando seus quatro meninos -com idades de 16, 14, 12 e 5 anos- se conectam. Para os dois filhos mais velhos isto significa controlar o uso dos celulares. Bennett, 48 anos, insiste que as chamadas sejam para contatar os pais, não os amigos, e não devem durar mais do que três minutos.
Para o de 12 anos significa limitar o tempo diante da tela do computador e desativar a função de mensagem instantânea. Ele ficou insatisfeito com isto, mas ela disse que vê a mensagem instantânea como a maioria das conversas por celular entre os jovens. "É um desperdício de tempo, porque na maior parte do tempo eles não falam sobre nada."
Para seu filho de 5 anos, a tecnologia ainda não é um problema, mas Bennett disse que na rica Marin County, onde ela vive, ela tem visto crianças pequenas assistindo "Barney" em aparelhos portáteis de DVD no banco traseiro dos carros.
Linda Folsom, uma produtora de mídia dos parques temáticos da Walt Disney Company, decidiu se ater ao "modo mãe fiscalizadora" em vez de impor restrições à sua filha de 14 anos, Alana, que "tende a estar constantemente na mensagem instantânea".
Enquanto faz sua lição de casa, Alana escreve um parágrafo, responde uma mensagem instantânea, então volta à lição de casa, disse sua mãe. "Ela diz que a mensagem instantânea está ligada ao projeto no qual está trabalhando", disse Linda. "Mas se escuto risinhos, eu intervenho: 'Não me parece lição de casa'."
Linda, 46 anos, e seu marido, Scott, 57 anos, um líder da Associação de Pais e Mestres em Los Angeles, disseram não ter motivos para restringir Alana porque ela tem obtido boas notas e tem se comportado bem. Mas eles insistem que ela jante com eles à mesa e que pratique seu clarinete e jogue futebol.
Alana considera sua conversa instantânea inofensiva. "É apenas conversa mole", disse ela. E é divertido poder falar com cinco amigos ao mesmo tempo. Mas ela disse que sabe quando é hora de trocar mensagens: "Eu estou fazendo lição de casa. Me deixem em paz".
"Quando ela começa a controlar você em vez de você controlar ela, então é melhor parar", disse Alana. Linda disse que sente que a tecnologia está lhe tirando a companhia da filha. Houve um tempo, ela disse, em que pai, mãe e filha escutavam a mesma música no carro. "Agora ela liga o iPod e fica no seu próprio mundo musical."
Alguns pais parecem estar entendendo a mensagem. Quando o Instituto Nacional de Mídia e Família buscou neste ano algumas centenas de famílias em Minnesota e Iowa para participarem em um projeto de pesquisa, que pedia a redução do tempo que alunos da terceira a quinta série passavam diante de um computador ou televisão, 1.300 famílias se inscreveram.
Judy Keliher é uma das participantes. Ela achou que o projeto ajudaria sua filha Katherine a "tomar consciência do tempo que gasta diante da tela".
Mas enquanto os pais tentam monitorar os hábitos de seus filhos, alguns dizem que também há a necessidade de ser realista. "Nós pais temos a tendência de reagir um pouco exageradamente a isto", disse Scott Folsom. "Este é o playground virtual. Faz parte de crescer."
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