RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
Humanos e chimpanzés normalmente não se consideram mutuamente atraentes em termos sexuais nem seriam capazes de ter filhotes férteis. Mas nem sempre foi assim entre os ancestrais evolutivos desses dois primatas.
Uma análise detalhada do genoma das duas espécies indica que a separação definitiva entre suas linhagens ocorreu 1 milhão de anos mais tarde do que se imaginava. Além disso, os genes revelam uma longa história de cruzamentos entre hominídeos e os ancestrais dos chimpanzés.
A hipótese foi levantada para tentar compatibilizar o que se conhece do registro fóssil com os dados genéticos.
A duração do período de intercâmbio sexual entre ancestrais de humanos e de macacos promete polêmica. Os genes indicariam que as linhagens do homem e do chimpanzé se dividiram entre 6,3 milhões e 5,4 milhões de anos atrás, mas que antes disso houve troca de genes entre indivíduos híbridos por 4 milhões de anos.
O estudo está na edição de hoje da revista científica britânica "Nature", assinado por pesquisadores do grupo de Eric Lander, do Instituto Broad da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, de Cambridge, nordeste dos EUA.
Comparando o genoma (conjunto do material genético) das espécies é possível ver quais áreas são mais antigas e se preservaram e quais foram mudando ao longo do tempo, sinal da "especiação" (desenvolvimento de novas espécies a partir de uma ancestral).
Os dados surpreenderam, pois os fósseis conhecidos --deve-se admitir que são poucos-- contam outra história. São candidatos a ancestrais de humanos (diretos ou indiretos), como os fósseis chamados Toumaï (Sahelanthropus tchadensis) e Homem do Milênio (Orrorin tugenensis), que teriam mais de 6 milhões de anos.
"É possível que Toumaï seja mais recente do que previamente imaginado", disse um dos autores do estudo, Nick Patterson, em comunicado divulgado pelo Instituto Broad. "Mas se a datação for correta, o fóssil Toumaï precederia a separação entre homem e chimpanzé. O fato de que ele tem características humanas sugere que a especiação entre homem e chimpanzé pode ter ocorrido durante um longo período com episódios de hibridação", diz.
A observação que levou os cientistas a especularem sobre isso foi a idade recente da separação evolutiva medida a partir do cromossomo sexual X. David Pilbeam, paleoantropólogo que participou da descrição do Sahelanthropus em 2002, classificou o trabalho de Reich como "tremendamente estimulante e importante", mas fez ressalvas quanto às implicações para interpretações de alguns restos fósseis.
"Acho bastante provável que Sahelanthropus, Orrorin e Ardipithecus sejam hominídeos, com base em evidências de bipedalismo [postura ereta sobre dois pés] e morfologia dentária", disse.
Pilbeam também disse não acreditar que quadrúpedes possam ter tido descendentes férteis ao se acasalar com primatas bípedes.
"Provavelmente a diferença entre seus programas de desenvolvimento embrionário era muito grande.", disse.
O paleontólogo Dan Lieberman, também de Harvard, é mais pragmático: "Meu problema é imaginar um hominídeo e um chimpanzé olhando um para o outro como parceiros adequados --para não ser muito grosso".
Pilbeam elogiou a maneira com que os geneticistas autores do estudo apresentaram suas idéias, sem tentar desqualificar trabalhos anteriores.
"Eles não entraram nessa para arranjar briga, marcar pontos ou buscar publicidade", disse. A razão: "Eles não são paleoantropólogos nem paleoprimatólogos."
Uma análise detalhada do genoma das duas espécies indica que a separação definitiva entre suas linhagens ocorreu 1 milhão de anos mais tarde do que se imaginava. Além disso, os genes revelam uma longa história de cruzamentos entre hominídeos e os ancestrais dos chimpanzés.
A hipótese foi levantada para tentar compatibilizar o que se conhece do registro fóssil com os dados genéticos.
A duração do período de intercâmbio sexual entre ancestrais de humanos e de macacos promete polêmica. Os genes indicariam que as linhagens do homem e do chimpanzé se dividiram entre 6,3 milhões e 5,4 milhões de anos atrás, mas que antes disso houve troca de genes entre indivíduos híbridos por 4 milhões de anos.
O estudo está na edição de hoje da revista científica britânica "Nature", assinado por pesquisadores do grupo de Eric Lander, do Instituto Broad da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, de Cambridge, nordeste dos EUA.
Comparando o genoma (conjunto do material genético) das espécies é possível ver quais áreas são mais antigas e se preservaram e quais foram mudando ao longo do tempo, sinal da "especiação" (desenvolvimento de novas espécies a partir de uma ancestral).
Os dados surpreenderam, pois os fósseis conhecidos --deve-se admitir que são poucos-- contam outra história. São candidatos a ancestrais de humanos (diretos ou indiretos), como os fósseis chamados Toumaï (Sahelanthropus tchadensis) e Homem do Milênio (Orrorin tugenensis), que teriam mais de 6 milhões de anos.
"É possível que Toumaï seja mais recente do que previamente imaginado", disse um dos autores do estudo, Nick Patterson, em comunicado divulgado pelo Instituto Broad. "Mas se a datação for correta, o fóssil Toumaï precederia a separação entre homem e chimpanzé. O fato de que ele tem características humanas sugere que a especiação entre homem e chimpanzé pode ter ocorrido durante um longo período com episódios de hibridação", diz.
A observação que levou os cientistas a especularem sobre isso foi a idade recente da separação evolutiva medida a partir do cromossomo sexual X. David Pilbeam, paleoantropólogo que participou da descrição do Sahelanthropus em 2002, classificou o trabalho de Reich como "tremendamente estimulante e importante", mas fez ressalvas quanto às implicações para interpretações de alguns restos fósseis.
"Acho bastante provável que Sahelanthropus, Orrorin e Ardipithecus sejam hominídeos, com base em evidências de bipedalismo [postura ereta sobre dois pés] e morfologia dentária", disse.
Pilbeam também disse não acreditar que quadrúpedes possam ter tido descendentes férteis ao se acasalar com primatas bípedes.
"Provavelmente a diferença entre seus programas de desenvolvimento embrionário era muito grande.", disse.
O paleontólogo Dan Lieberman, também de Harvard, é mais pragmático: "Meu problema é imaginar um hominídeo e um chimpanzé olhando um para o outro como parceiros adequados --para não ser muito grosso".
Pilbeam elogiou a maneira com que os geneticistas autores do estudo apresentaram suas idéias, sem tentar desqualificar trabalhos anteriores.
"Eles não entraram nessa para arranjar briga, marcar pontos ou buscar publicidade", disse. A razão: "Eles não são paleoantropólogos nem paleoprimatólogos."
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