THOMAS PAPPON
da BBC, em Londres.
Os Mutantes deram o pontapé inicial de sua aguardada turnê internacional com o pé direito.
O show no centro cultural Barbican, na noite chuvosa de segunda-feira (22) em Londres, o primeiro em 33 anos dos Mutantes com os irmãos Serginho e Arnaldo Baptista e o baterista Dinho, foi um triunfo.
O grupo tocou todas as músicas mais importantes dos cinco primeiros discos e várias faixas em inglês do álbum "Technicolor" e conquistou a platéia com seu alto astral – como nos velhos tempos.
A noite começou nervosa. O promotor do Barbican, Bryn Ormrod, subiu ao palco, pediu desculpas pelo atraso e anunciou que Serginho Dias Baptista iria testar a guitarra, enquanto os técnicos faziam os últimos acertos no som geral.
Serginho subiu ao palco, vestido de mosqueteiro, com colante bege e uma longa echarpe branca. Ele tentou tirar som da guitarra, mas nada aconteceu. Três técnicos, todos ajoelhados no palco, tentaram solucionar o problema. Os minutos passaram, Serginho desistiu, deu de ombros e voltou para a coxia.
"Eletricidade"
Podia-se sentir no ar a eletricidade da expectativa do público – que lotou o Barbican. Não havia um assento vazio (a lotação da sala, segundo a assessoria do local, é de 3.000 lugares).
Mais alguns minutos se passaram, o promotor voltou ao palco e anunciou os Mutantes. O público foi ao delírio, vendo Arnaldo e Serginho entrando, fantasiados e sorridentes.
O grupo abriu com "Dom Quixote" e "Caminhante Noturno", com pequenos problemas no som da guitarra. Arnaldo, à esquerda do palco, sentado aos teclados, Serginho à direita, e, no centro, a ‘novata’ Zélia Duncan, que, no começo, não parecia muito à vontade.
Ela não é Rita Lee, nem tentou ser. Cantou o vocal principal em poucas músicas, serviu como uma presença central feminina no palco, interagindo mais com os músicos da banda do que com o público.
A banda, aliás, além de Zélia, Dinho, Serginho e Arnaldo, tinha um tecladista, uma percussionista, um baixista, um músico que tocou teclados, violão, flauta doce, flauta e cello, além e dois vocalistas, um homem e uma mulher, nos backing vocals.
Ninguém gritou “Rita”, Zélia foi bastante aplaudida quando anunciada e Serginho e Arnaldo pareciam se entender muito bem com ela.
Arranjos originais
Os Mutantes optaram por arranjos originais, substituindo as orquestrações mais complicadas por gravações ou samplers, como em "Dom Quixote", e preservando as harmonias vocais – sempre distintas, um dos grandes fortes do grupo.
Serginho comandou a banda e os vocais e mostrou porque era tido como o maior guitarrista de sua geração em vários solos.
Arnaldo, discreto no teclado e vocais, irradiava carisma e alegria por estar ali. Cantou "Dia 36", que ficou impecável. Mas bom mesmo foi ouvir as vozes de Serginho e Arnaldo, juntas. É como visitar o bairro da Pompéia, São Paulo, em 1969.
À medida que a banda relaxava e ganhava confiança, o público se animava mais ainda.
Mandaram bem em "Ave Gengis Khan", "Desculpe, Babe" (em inglês), "Technicolor", "Virgínia", "Cantor de Mambo", "El Justiciero" (com uma brincadeira de Serginho, dizendo que o primeiro-ministro britânico Tony Blair iria chamar "el justiciero" George W. Bush para acabar com o crime na Grã-Bretanha), "Minha Menina" (bem conhecida do público britânico, graças ao sucesso de uma versão recente feita pelo grupo The Bees), "Baby" (sensacional), "Le Premier Bonheur Du Jour", "Dois Mil e Um" e "Top Top".
À altura de "Ando Meio Desligado", "Bat Macumba" (com participação do cantor neo-folk americano Davendra Banhart, nos backing vocals) e "Panis et Circensis", o Barbican era uma farra só: todo mundo de pé, pessoas dançando, cantando junto e gritando "we love you".
Nos camarins, Serginho e Dinho contaram do sufoco dos ensaios e da ansiedade com o primeiro show depois de tantos anos. O clima era de alívio e felicidade. Os Mutantes conquistaram o público, como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se nunca tivessem sumido.
E esse foi só o primeiro show. Fiquei pensando como vai ser o quarto ou quinto, quando estarão nos Estados Unidos. Vão estar tinindo, provavelmente fazendo justiça às palavras da revista "Time Out" na semana passada, que os chamou de "a maior banda psicodélica de todos os tempos".
quarta-feira, maio 24, 2006
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