quinta-feira, julho 21, 2005

Kassin mostra música feita com videogame

Produtor carioca apresenta hoje em São Paulo um projeto no qual os sons são criados a partir de jogo eletrônico portátil

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com apenas 30 anos, o produtor carioca Alexandre Kassin já conta com um dos mais respeitáveis currículos de nossa história musical recente. Também instrumentista (toca guitarra, teclado, bateria e especialmente baixo) e autor de remixes, Kassin soma colaborações com músicos tão variados como Los Hermanos, Caetano Veloso, Marisa Monte, Fernanda Abreu, Lenine, Bebel Gilberto, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Orquestra Imperial e Jards Macalé. E são só alguns exemplos.
Atualmente, entre tantos outros planos, prepara-se para lançar o disco de estréia de um novo projeto solo, chamado de Artificial, onde cria sons a partir do pequeno videogame Game Boy. Com esse projeto, vem hoje a São Paulo para um show no pequeno e disputado bar Milo Garage (r. Minas Gerais, 203, Higienópolis, tel.0/ xx/11/3129-8027) -seu primeiro show após voltar da Espanha, onde se apresentou no conceituado festival Sónar, exatamente com o Artificial. O disco será lançado no começo do mês que vem pela gravadora de Kassin, a Ping Pong.
Ao lado do também produtor Berna Ceppas, Kassin é dono do estúdio Monaural, que produz, além de discos, trilhas para publicidade, TV e cinema. Mas talvez seu projeto mais consistente seja ao lado dos músicos Moreno Veloso (filho de Caetano) e Domenico Lancelotti. Juntos, criaram o projeto +2, onde revezam-se como protagonistas e coadjuvantes, criando coletivamente os sons para as canções e voz de cada um. Primeiro veio Moreno +2, depois Domenico +2. O próximo será Kassin +2, a ser lançado ainda neste ano.

Leia, a seguir, entrevista com o produtor Alexandre Kassin.


Folha - Como surgiu este projeto de fazer música com videogame?
Alexandre Kassin - Eu fui fazer uma viagem para o Japão um tempo atrás com o plano de ficar apenas um mês. Acabei ficando seis. Nessa mesma época, eu tinha comprado um programa que acessa o chip de som do Game Boy, como se fosse um sintetizador -um lance primitivo, mas que funciona muito bem. Aí, aconteceu que o único instrumento que levei na viagem foi esse Game Boy. Como fiquei lá muito mais tempo do que planejava, fui fazendo o disco do Artificial. Criei todos os sons de bateria eletrônica e baixo com o Game Boy e coloquei uns acordes de teclado. Ficou legal, mas não dava uma sensação de algo que se pudesse ouvir muito. Então resolvi fazer um falso álbum pop, imaginei que ia ficar mais do mal ainda se fosse cantado. Fiz umas letras estúpidas em inglês e cantei tudo em falsete, tipo Prince. O som gera uma estranheza, mas ficou algo divertido, interessante. Quando me apresentei no Sónar, foi uma loucura, todo mundo dançou. Aí eu vi que funciona.

Folha - Seus trabalhos são sempre variados entre si, você trabalha com artistas de estilos diferentes. Existe alguma preferência ou seleção?
Kassin - Isso é um reflexo do meu próprio gosto. É claro que tem coisas que eu gosto mais, mas acho que escolhi trabalhar com produção para não fazer a mesma coisa todo dia. Gosto de coisas distintas, até acho que faço pouco. Queria produzir um disco de pagode, por exemplo, ia ser um grande aprendizado. Adoraria trabalhar também com funk carioca, com o DJ Marlboro, que é amigo meu. O que me move é isso, conhecer coisas que não enfrentei antes. Produzir artistas como Caetano em um dia e Totonho no outro é o que me dá vontade de seguir fazendo.

Folha - Depois de Moreno +2 e Domenico +2, como vai o Kassin +2?
Kassin - O disco sai até o fim do ano. Nós já gravamos baixo e bateria em todas as faixas, falta colocar as guitarras, as vozes e acrescentar outros detalhes. No meu disco eu resolvi fazer uma coisa ensaiada, queria que fosse a banda tocando, quente. Nos outros a gente fez tudo praticamente no estúdio, gravando. O disco segue a linha do trio: os três são diferentes, mas são parecidos. As idéias mudam, mas o jeito de a gente se relacionar é o mesmo. Acho que a nossa amizade transparece na música.

Folha - E o que vem agora, depois da conclusão da trilogia?
Kassin - A gente tem muito essa dúvida também. Talvez a solução seja seguir como apenas +2. Não dá para voltar à trilogia do início nem tocar as músicas só de um -agora todo mundo já tem música nova, quem vai ao show quer ouvir músicas de todos. Assim continua sendo bem livre e continua sendo nosso.

Folha - Como aconteceu de trabalhar com Caetano Veloso e Jorge Mautner? Como foi?
Kassin - O Caetano gostava muito da produção dos discos do Moreno e do Domenico, aí me chamou para produzir o disco dele com o Mautner, "Eu Não Peço Desculpa". Tanto que a banda desse disco é quase a mesma dos discos do +2. Eu e o Caetano nos demos muito bem trabalhando juntos, foi incrível. Ele tem aquela visão de quem já fez muito, via coisas que eu não via, foi uma complementação boa. E eu estou querendo agora fazer um disco solo do Mautner. Eu já toco de vez em quando com ele, ao vivo, ele tem um monte de composições boas. O cara é um grande mestre, eu queria ser aluno em um colégio em que ele fosse professor.

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