20.07.05
do rraurl.com
“Pânico moral” é o conceito sociológico que pode ser aplicado a uma comunidade que apresenta uma reação diante de grupos que fogem do “padrão”. Considera-se que a mídia amplia e exagera episódios ou fenômenos bem além do seu significado real, contribuindo dessa forma para a construção do "Pânico moral". Isso não lembra alguma coisa?
Quem achava que capas de revista e programas no melhor estilo “mundo cão” não iriam surtir efeito, a prova vem sendo mostrada no calendário de festas e raves. Palavras como “suspensa”, “cancelada” são cada vez mais presentes.
A triste lista cresce com uma regularidade que incomoda. Como já bem apontou a coluna Bate-Estaca (link abaixo), os núcleos Circuito, SP Groove, The Influence e Odisséia já mudaram seus rumos. As duas primeiras mantêm as datas pré-acertadas, mas a Circuito vai ser indoor. Isso porque os locais onde iriam rolar as festas ao ar livre não foram cedidos pelos proprietários - eles estão receosos com a possibilidade de ver seu imóvel, também utilizado para outros tipos de evento, figurando entre as “temíveis” raves, mesmo conhecendo e confiando em quem aluga o local. Allex S, nome por trás da SP Groove, conta que a festa vai rolar no dia 17 de setembro mas ainda sem local divulgado: “Tô trabalhando para manter a data. Até porque a festa tá toda pronta, line up, etc. Mas o local e formato ainda não foi definido”, diz. Já os núcleos Odisséia, Influence e Wicked (do interior paulista) e Techno Route cogitam dar um tempo ou realizar eventos indoor.
Outra rave cancelada foi a Magikland, de trance psicodélico. O comunicado oficial da organização levanta um dos pontos mais delicados dessa situação: o fornecimento de alvarás e licenças. Segundo o núcleo, “a Magikland solicitou a documentação necessária para a realização do evento, mas devido aos últimos acontecimentos, as prefeituras locais negaram os pedidos de alvará mesmo com toda a documentação necessária sendo fornecida”. E aí a coisa pega.
O rraurl.com consultou o advogado Fábio Tofic sobre uma possível proibição das raves. Ele é taxativo: “É inconstitucional. Fere o direito à reunião e à liberdade de expressão, por exemplo”. Juntando o comunicado da Magikland e o parecer do Dr. Fábio, uma perversa conclusão vem à tona: as ações policiais – e sua repercussão na mídia – conseguem inviabilizar um modelo de divertimento que existe há cerca de 10 anos no país. Após todo esse tempo, o cenário é composto não só por jovens querendo festa, mas por empresas profissionais devidamente registradas nos órgãos competentes. Se esse quadro não sofrer um revés, a ilegalidade receberá festas cada vez menos equipadas para atender à segurança do público. Isso é preocupante.
Os núcleos e a entrada de drogas
Segundo matéria do jornal Folha de São Paulo, a própria organização da rave Tribe & Psychogarden, que no começo de julho recebeu um público de 10.000 pessoas e foi notícia por conta de uma ação do DENARC que levou à detenção de 44 frequentadores, sendo 12 por tráfico, enviou um ofício ao órgão policial “pedindo que fosse fiscalizada a presença de drogas no local”. O rraurl.com procurou a organização da rave para ouvi-los sobre os acontecimentos da última festa. Através da sua assessoria, o núcleo informou que não iria dar declarações. O site também procurou o Denarc mas até o fechamento desse texto, não tivemos uma resposta.
Se o intuito da atuação do Denarc é coibir o consumo de drogas, a apuração do rraurl mostra que todos os núcleos ouvidos estão dispostos a colaborar. Não é de se espantar, afinal, a profissionalização das festas de música eletrônica é inegável. Paralelamente a essa disposição, organizadores pensam em como é possível aumentar o controle na entrada do público e coibir o uso de entorpecentes.
A próxima edição ao ar livre da Circuito vai contar com uma novidade. Uma espécie de regulamento da festa será impresso no verso do ingresso. Esse regulamento vai prever que, caso alguém for pego portando ou consumindo substância ilegal, será encaminhado à delegacia mais próxima. Só entra quem concorda e assina.
Por falar em quem entra, ninguém ouvido pelo rraurl ignora o consumo de drogas nas festas. Porém, não se pode inviabilizar o trabalho de um todo como conseqüência do comportamento de uma parcela irresponsável. Conscientizar usuários, fornecer informação e encarar o problema de forma séria é um caminho que não pode ser ignorado.
Prejuízo
Ainda é cedo para medir o impacto econômico que esse rolo todo implica. Mas alguns números são imediatos. Para fazer sua próxima edição no Lago, a Circuito contaria com uma equipe de 90 pessoas. Como a rave foi transferida para o espaço 220, esse número cai para 40. Se for para falar em empregos que deixam de ser gerados, vale lembrar que muitas raves foram canceladas e não tem previsão de retorno. As que ainda mantém suas atividades optaram por versões reduzidas, indoor.
As agências contam que os cancelamentos ainda não interferiram na rotina de negócios. Isso pode ser explicado pelo próprio profissionalismo dos núcleos, com raves organizadas com antecedência cada vez maior. “Muita gente que ia fazer festa desistiu. Isso vai dar pra começar a sentir daqui 1 mês ou 2”, aponta Tamy Punder, da Eletronika. “Mas essa situação é ruim por também diminuir a possibilidade de venda de artistas internacionais para esse tipo de evento”, completa Marco Oliveira, da Clunk.
André dos Santos
terça-feira, julho 26, 2005
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