da reportagem local
Diminuição no número de funcionários, pressão por resultados, individualização e altas taxas de desemprego, tudo isso está fazendo do ambiente de trabalho um lugar propício ao surgimento de chefes que se sentem à vontade para submeter seus empregados a condições constrangedoras. Nesse cenário, não se salva nem a Organização Internacional do Trabalho, que deveria lutar contra todo tipo de violência no ambiente profissional
>Especializada em seguros para empresas, a Chubb Seguros registrou, no primeiro semestre deste ano, um aumento de 67% na procura por sua apólice de responsabilidade de executivos. Esse produto cobre custos judiciais e eventuais punições que uma empresa tenha de pagar em razão de falhas de seus altos funcionários. Ao pesquisar os motivos desse crescimento, a Chubb notou que o interesse das empresas ao contratá-la era o de se prevenir contra o assédio moral, a perseguição sistemática de uma pessoa por outra no ambiente de trabalho. "O seguro de responsabilidade de executivos vem apresentando um crescimento significativo. A área de reclamações na administração de pessoas é uma das que mais vêm sendo procuradas", diz Renato Rodrigues, gerente do seguro de responsabilidade de executivos da Chubb.
Para Lélio Bentes, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, a explicação para isso é que "não tem havido, por parte das empresas, uma preocupação em melhorar as condições de trabalho junto com a introdução de inovações tecnológicas e gerenciais". Segundo Margarida Barreto, uma das maiores especialistas brasileiras em assédio moral, "as empresas acham que ouvidoria e estatuto resolvem o problema, mas não resolvem". Durante seu mestrado e doutorado em psicologia do trabalho, ela se dedicou a pesquisar o número de brasileiros que sofreram algum tipo de violência no trabalho e quais foram as conseqüências dessa humilhação. Descobriu um universo que envolve atribuição de erros imaginários, boatos sobre a saúde e a família, difamação, colocação de apelidos e pressão intensa para produzir dentro de uma longa jornada de trabalho.
O universo da pesquisa de Margarida envolveu 42 mil trabalhadores de empresas públicas e privadas, governos e ONGs. Desse número, 10 mil pessoas (23,8%) declararam já ter sofrido algum tipo de violência psicológica e humilhação no trabalho. "O mais freqüente, no Brasil, é a humilhação de cima para baixo, de um subordinado por um chefe. Com a introdução de novas práticas de gestão, nos últimos 20 anos, caracterizadas pela pressão exagerada, as marcas de personalidade dos agressores afloraram e tiveram ambiente propício para se desenvolverem", diz ela.
Entre as vítimas, os dados revelam que 63% são mulheres e 37% são homens. Cerca de 70% dos homens assediados pensaram em cometer suicídio, 90% das mulheres sofreram de pensamentos fixos e perda de memória, 70% dos homens e 50% das mulheres tiveram depressão.
O trabalho de Margarida também mostrou que o tempo que uma pessoa suporta o assédio varia de acordo com o setor. Na iniciativa privada e nas ONGs, o assédio dura entre seis e 12 meses. Nos órgãos públicos, 60% dos casos duram mais de 37 meses. A duração da violência, o número de pessoas afetadas, os dramas em comum e a abrangência dos setores onde atua denunciam: ninguém está imune.
Ruy Braga, professor se sociologia da Universidade de São Paulo e especialista em sociologia do trabalho, afirma que o único caminho encontrado pelas empresas para se adequar às mudanças do mercado foi alterar sua organização interna. Tendo de cortar despesas, elas diminuíram os níveis hierárquicos, concentraram funções e criaram metas. "Surgiu a administração por estresse, por meio de metas", diz Braga.
Segundo Luiz Carlos Campos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, algumas empresas não cumprem seus códigos de ética porque seria preciso transparência em todos os níveis da administração. "Se as normas fossem cumpridas, alguns [presidentes de empresas] seriam os primeiros a serem punidos", diz. A advogada Adriana Calvo concorda: "As empresas têm medo de criar uma política de combate à violência psicológica porque não sabem, realmente, o tamanho da sujeira que está debaixo do tapete".
José Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas, diz que a vítima costuma ser "criativa, solidária e crítica" e o agressor, "um narcisista, alguém que gosta de pegar outro para reforçar sua autoridade".
Se conhecer as características de quem sofre e de que violenta é simples, provar a agressão, porém, é bem difícil. O advogado Mário Gonçalves Júnior diz que nunca defendeu um caso em que a humilhação fosse fácil de definir: "A violência é sub-reptícia, a pessoa acredita que o problema é com ela". Para ter certeza de que vale a pena entrar com uma ação, ele recomenda que a pessoa saiba discernir o que é pressão cotidiana do que é humilhação continuada.
Tratar bem os empregados, no entanto, não é bom só para eles. Marcos Piccini, da consultoria Hay Group, pesquisou 185 empresas brasileiras e descobriu que o lucro das 35 que melhor tratavam seus funcionários era 38% maior que o da média. "Há uma crescente preocupação em acabar com lideranças autoritárias, mas as empresas apenas "engatinham" quando o assunto é gestão de pessoas", conclui.
>Especializada em seguros para empresas, a Chubb Seguros registrou, no primeiro semestre deste ano, um aumento de 67% na procura por sua apólice de responsabilidade de executivos. Esse produto cobre custos judiciais e eventuais punições que uma empresa tenha de pagar em razão de falhas de seus altos funcionários. Ao pesquisar os motivos desse crescimento, a Chubb notou que o interesse das empresas ao contratá-la era o de se prevenir contra o assédio moral, a perseguição sistemática de uma pessoa por outra no ambiente de trabalho. "O seguro de responsabilidade de executivos vem apresentando um crescimento significativo. A área de reclamações na administração de pessoas é uma das que mais vêm sendo procuradas", diz Renato Rodrigues, gerente do seguro de responsabilidade de executivos da Chubb.
Para Lélio Bentes, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, a explicação para isso é que "não tem havido, por parte das empresas, uma preocupação em melhorar as condições de trabalho junto com a introdução de inovações tecnológicas e gerenciais". Segundo Margarida Barreto, uma das maiores especialistas brasileiras em assédio moral, "as empresas acham que ouvidoria e estatuto resolvem o problema, mas não resolvem". Durante seu mestrado e doutorado em psicologia do trabalho, ela se dedicou a pesquisar o número de brasileiros que sofreram algum tipo de violência no trabalho e quais foram as conseqüências dessa humilhação. Descobriu um universo que envolve atribuição de erros imaginários, boatos sobre a saúde e a família, difamação, colocação de apelidos e pressão intensa para produzir dentro de uma longa jornada de trabalho.
O universo da pesquisa de Margarida envolveu 42 mil trabalhadores de empresas públicas e privadas, governos e ONGs. Desse número, 10 mil pessoas (23,8%) declararam já ter sofrido algum tipo de violência psicológica e humilhação no trabalho. "O mais freqüente, no Brasil, é a humilhação de cima para baixo, de um subordinado por um chefe. Com a introdução de novas práticas de gestão, nos últimos 20 anos, caracterizadas pela pressão exagerada, as marcas de personalidade dos agressores afloraram e tiveram ambiente propício para se desenvolverem", diz ela.
Entre as vítimas, os dados revelam que 63% são mulheres e 37% são homens. Cerca de 70% dos homens assediados pensaram em cometer suicídio, 90% das mulheres sofreram de pensamentos fixos e perda de memória, 70% dos homens e 50% das mulheres tiveram depressão.
O trabalho de Margarida também mostrou que o tempo que uma pessoa suporta o assédio varia de acordo com o setor. Na iniciativa privada e nas ONGs, o assédio dura entre seis e 12 meses. Nos órgãos públicos, 60% dos casos duram mais de 37 meses. A duração da violência, o número de pessoas afetadas, os dramas em comum e a abrangência dos setores onde atua denunciam: ninguém está imune.
Ruy Braga, professor se sociologia da Universidade de São Paulo e especialista em sociologia do trabalho, afirma que o único caminho encontrado pelas empresas para se adequar às mudanças do mercado foi alterar sua organização interna. Tendo de cortar despesas, elas diminuíram os níveis hierárquicos, concentraram funções e criaram metas. "Surgiu a administração por estresse, por meio de metas", diz Braga.
Segundo Luiz Carlos Campos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, algumas empresas não cumprem seus códigos de ética porque seria preciso transparência em todos os níveis da administração. "Se as normas fossem cumpridas, alguns [presidentes de empresas] seriam os primeiros a serem punidos", diz. A advogada Adriana Calvo concorda: "As empresas têm medo de criar uma política de combate à violência psicológica porque não sabem, realmente, o tamanho da sujeira que está debaixo do tapete".
José Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas, diz que a vítima costuma ser "criativa, solidária e crítica" e o agressor, "um narcisista, alguém que gosta de pegar outro para reforçar sua autoridade".
Se conhecer as características de quem sofre e de que violenta é simples, provar a agressão, porém, é bem difícil. O advogado Mário Gonçalves Júnior diz que nunca defendeu um caso em que a humilhação fosse fácil de definir: "A violência é sub-reptícia, a pessoa acredita que o problema é com ela". Para ter certeza de que vale a pena entrar com uma ação, ele recomenda que a pessoa saiba discernir o que é pressão cotidiana do que é humilhação continuada.
Tratar bem os empregados, no entanto, não é bom só para eles. Marcos Piccini, da consultoria Hay Group, pesquisou 185 empresas brasileiras e descobriu que o lucro das 35 que melhor tratavam seus funcionários era 38% maior que o da média. "Há uma crescente preocupação em acabar com lideranças autoritárias, mas as empresas apenas "engatinham" quando o assunto é gestão de pessoas", conclui.
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