segunda-feira, julho 25, 2005

"Odeio as bandas tradicionais", diz líder do Cake

da Folha de S. Paulo

O grupo existe há mais de dez anos, seus discos alcançaram o topo das paradas, mas, mesmo assim, John McCrea, vocalista e líder do Cake, se considera um outsider no mundo do pop.

Se não se sentia dentro da turma na época do grunge, quando o Cake apareceu, no início dos anos 90, McCrea afirma estar ainda mais fora de lugar hoje, quando o rock é dominado por bandas de garagem ou por figurões como U2 e Dave Matthews Band.

"Começamos quando o grunge ainda existia. Parecia que tudo tinha que ser grande. As bandas grunge agiam como se não dessem importância, mas era o contrário, pois o som que faziam era grandioso. Achávamos que se fizéssemos uma música menos sofisticada seríamos mais subversivos e rebeldes num país como os EUA. Era uma reação à indústria", disse McCrea à Folha, por telefone, de Chicago.

"Nos anos 70 havia os grandes grupos de hard rock; nos 80 vieram as bandas de metal exageradas; nos 90 tivemos o grunge. Agora, não quero citar nomes, mas odeio essas bandas de rock tradicionais, formadas apenas por caras brancos... Não fazemos parte de nenhum movimento. Somos outsiders."

Não é coisa que se espera ouvir de uma banda que vendeu milhões de cópias de discos, puxados por músicas como "The Distance", "Never There" e o cover "I Will Survive", de Gloria Gaynor.

"É ambíguo, porque de um lado tivemos certo sucesso, mas não nos sentimos parte de nada relacionado à indústria. Por exemplo: hoje a maioria das bandas soa como Strokes ou Interpol, e nós nunca fizemos parte de nada ou parecemos nada."

Toda essa conversa é motivada pela turnê que a banda realiza no Brasil em agosto. É a segunda vez que o Cake vem ao país -a primeira foi em 1999, durante o Free Jazz, no Rio e em São Paulo, quando tiveram a participação de Tom Zé. O último disco do Cake, "Pressure Chief", saiu em outubro de 2004. Como todos os outros, foi produzido pela própria banda.

"É engraçado, pois um pintor nunca chama alguém para lhe dizer que tom de vermelho usar ou como segurar o pincel. Mas, com música, sempre há alguém que vai ao estúdio para te dizer como tocar. Nós gostamos de controlar o que fazemos", diz McCrea. McCrea não concorda quando chamam suas letras de irônicas.

"Duas coisas: as pessoas têm problemas para definir ironia. 'Never There' é irônica? Não. 'The Distance' é irônica? Acho que não. 'I Will Survive' é irônica? Não. Para mim são apenas como sátiras, no máximo. E talvez por termos um som que não é sofisticado, de fidelidade baixa, muita gente pensa: 'Eles não podem estar falando sério, deve ser uma piada'. Mas nós temos mais ódio e motivação em nossas músicas do que várias dessas bandas plastificadas de hard rock e punk. Aquilo é uma raiva fabricada; a nossa é real."

McCrea fala sério mesmo quando o assunto é sua versão de "I Will Survive", em que eles transformaram o hino disco de Gaynor num "downtempo" pessimista.

"Muita gente nos EUA não entende a disco ou acha que é ruim. Eu adoro disco music e adoro essa canção. Tentamos substituir o ponto de vista feminino da música por um masculino. Menos vulnerável e mais raivoso."

McCrea é o tipo de cara que diz fazer música ainda com uma certa raiva juvenil, mas que considera sua carreira "normal, um trabalho como outro qualquer".

OS SHOWS

Porto Alegre
Quando: 3 de agosto, 23h
Onde: Bar Opinião (r. José do Patrocínio, 834)
Quanto: R$ 50
Informações: (0/xx/51) 3299-0900

Goiânia
Quando: 4 de agosto, 22h
Onde: Go Music Festival (autódromo internacional de Goiânia)
Quanto: R$ 70
Informações: (0/xx/62) 281-0491 ou www.gomusic.com.br

São Paulo
Quando: 5 de agosto, 24h
Onde: hotel Unique (av. Brigadeiro Luís Antônio, 4.700)
Quanto: de R$ 120 a R$ 300 (área vip)
Ingressos: (0/xx/11) 6846-6000 ou www.ticketmaster.com.br

Curitiba
Quando: 6 de agosto, 1h
Onde: Curitiba Master Hall (r. Itajubá, 143)
Quanto: R$ 80
Informações: (0/xx/41) 3248-1001

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