quarta-feira, junho 15, 2005

drumba no Lov.e - game over.

DJ paulistano Marky e clube Lov.e anunciam separação
THIAGO NEY
da Folha de S. Paulo

Acontece amanhã a separação da mais consistente união da cena eletrônica de São Paulo: após sete anos, Marky deixará de comandar sua noite Vibe no Lov.e.

O fim do relacionamento, que deixa um gosto amargo para ambos, é simbólico: Marky é o mais conhecido DJ brasileiro, tanto aqui como lá fora, enquanto o Lov.e, que dá/deu espaço para estilos como tecno, house, electro, breaks, funk carioca, rock e o próprio drum'n'bass, é o clube-referência da cidade.

Marky é o único DJ a ter tocado na casa desde a sua abertura, em 1998, comandando a noite Vibe às quintas-feiras. A relação, dizem os dois lados, estava desgastada.

"É difícil para uma noite se sustentar durante cinco anos, imagina sete anos...", diz Marky. "As pessoas se cansam mesmo. Desde que o Lov.e abriu, muitas coisas mudaram. O público mudou e a própria identidade da música eletrônica mudou bastante."

Segundo Flávia Ceccato, proprietária do Lov.e, o clube tomou a decisão de encerrar a noite de d'n'b porque ela já não atraía tanto público. Segundo Ceccato, no auge da popularidade, entre 1999 e 2001, a Vibe chegava a receber 800 pessoas por noite. Nos últimos meses, o número não passava de 250, "com sorte".

"Estava desgastante tanto para o Marky quanto para a casa. É estranho, pois você vai num Skol Beats e a tenda de drum'n'bass é uma loucura, mas essas pessoas não iam ao clube. Não é uma coisa isolada, pois mesmo em Londres o d'n'b já não está tão em alta."

"Não tenho certeza se era apenas a Vibe que não estava recebendo público suficiente...", afirma Marky. "O drum'n'bass atrai público, sim. Atrai inclusive o maior número de pessoas de toda a música eletrônica. Um exemplo simples é a quantidade de gente que vai às tendas de d'n'b em festivais grandes como [os britânicos] Homelands, Glastonbury, Global Gathering e o Skol Beats. O que atrai ou repele o público de uma festa é a administração da festa. Se um trabalho decente e profissional for feito, o público vem. Não tem segredo."

A rusga entre as duas partes acontece porque, para o clube, a noite vinha perdendo público porque não se reformulava, enquanto o DJ diz que o Lov.e não promovia a festa como deveria. Em recente entrevista à revista "Beatz", Marky disse que o carioca Marlboro, que tem uma residência às quartas no clube paulistano, recebia mais atenção.

"A noite do Marlboro ganha mais visibilidade, sim, principalmente porque se trata de um projeto novo. Vamos ver se essa festa dura sete anos também."

Para Ceccato, "Marlboro não tem nada a ver com isso". "É que grande parte do público, principalmente as mulheres, acabou migrando para outros estilos, como rap, funk carioca e breaks. E o d'n'b não conseguiu recuperar."

A empresária não decidiu quem ficará com as noites de quinta do Lov.e. Marky afirma que levará a Vibe para outro clube. "Vamos reformular a Vibe e prosseguir a residência em outro lugar maior e mais novo. A festa vai continuar."

Nenhum comentário: