Quinto Andar ataca a hipocrisia
O coletivo dos MCs De Leve e Shawlin e dos DJs Bruno Marcus e Castro estréia com o CD “Piratão” e proclama que a pirataria é a saída contra as grandes gravadoras
Por Alexandre Matias
“O Quinto Andar é uma cooperativa não-hierárquica em forma de rede de trabalhadores autônomos. Entendemos que os produtos culturais (sejam eles músicas, textos, filmes, etc.) são de crucial importância na formação dos seres, não podendo estar reféns da lógica de lucro que determina a banalização e a padronização de conteúdo e forma. Constataremos que esses produtos tratados como mercadoria perpetuam a mentalidade conformista do consumo e a crença absurda de que o atual modelo de organização econômica e social não é apenas o me-lhor, como único e inevitável.”
Quinto
Assim, o coletivo de hip hop Quinto Andar se explica na contracapa de seu disco de estréia, “Piratão”, lançado em parceria com a revista de Lobão, “Outracoisa”, que lançou os primeiros discos de BNegão e Mombojó. Mas a prática passa longe do sermão de revolucionário engravatado que funciona como bula e apresentação no encarte. Basta passar os olhos pelos títulos de algumas músicas (“Rap do Calote”, “Melô dos Vacilão”) para ver uma pequena discrepância entre discurso e prática.
Pequena pois é só uma questão de semântica – quem conhece o teor das discussões levantadas pelo grupo sabe que, ao falar sério de um lado e escrachar do outro, acertam em pregos diferentes com a mesma martelada. Afinal, foi através da livre distribuição das próprias músicas on-line que o núcleo de Niterói, formado pelos MCs De Leve e Shawlin e pelos produtores Bruno Marcus e DJ Castro, começou a se expandir pelo Brasil, reunindo nomes de outras cidades, como Belo Horizonte e São Paulo. “A festa Zoeira já era em outra cidade”, cutuca De Leve, contando a história do grupo a partir da pioneira festa de hip hop na Lapa, no fim dos anos 90. “Depois disso começou toda aquela história de música na internet.” “Aí a gente foi lançar a coletânea da Zoeira em Belo Horizonte”, emenda o DJ Castro, “quando a gente conheceu o Matéria-Prima, que estava super afinado com a gente”. E o antigo integrante Marechal (cuja estréia solo é aguardada) fez a conexão com São Paulo.
“Piratão” é centrado no núcleo carioca do coletivo, embora conte com participações especiais. Mas o que impressiona na estréia do grupo é o ataque frontal à hipocrisia crescente que domina a máquina cultural brasileira, melhor personificada na faixa “Melô do Piratão”, que defende a pirataria como solução para os problemas da música nacional. “Junte-se a nós na campanha a favor da pirataria, porque os sanguessugas da indústria fonográfica estão matando a música brasileira/ A indústria precisa dos músicos, mas os músicos não precisam da indústria”, cantam, depois de posar de camelô anunciando que “tem Proibidão, Acústico e Ao Vivo/ Disco solo do Leandro que não saiu quando ele era vivo/ Tem disco-bomba se quiser/ E também Bruno e Marrone”, numa espécie de “Arrombou a Festa” do contra.
“A saída é chutar o balde como nós fizemos, não ter medo de botar a cara e criticar as paradas, não ficar fazendo lobby, apertando a mão de todo mundo e sorrindo pra talvez conseguir ter os 15 segundos de fama no Gugu, no Faustão ou na Luciana Gimenez”, sintetiza Bruno. “A gravadora é a máfia, morou?”, continua Castro. “A pirataria são os anticorpos, contra o câncer que são as megaempresas monopolizando a arte.” “A pirataria ajuda a música a ser difundida, pois ninguém compra CD pelo preço cobrado hoje”, completa o MC Shawlin. “Além de ajudar a música, dá empregos a pessoas que poderiam estar roubando, traficando ou trabalhando muito mais duro pela mesma miséria.”
domingo, junho 19, 2005
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