domingo, junho 05, 2005

enquanto isso lá no rio...



Diversões eletrônicas
Por Fernanda Cardoso

"As selvagens meninas do Voz del Fuego e seu figurino impecável, os preguiçosos-panças do John Merrick Experience, os trabalhadores e românticos obstinados dos Ouvintes e o nosso tecnólogo Professor Pardal Fzero, do Gerador Zero". Assim Jenner,do JME define o Efeito Coletivo. As quatro bandas se reuniram com o intuito de movimentar a cena de música eletrônica no Rio de Janeiro e já estão chamando a atenção de bastante gente. Além disso, os caras ainda produzem programas de webradio e estão preparando alguns remixes para o CD do Nervoso. Confira a entrevista feita com Jenner, integrante do John Merrick Experience.

O que é e como surgiu o Efeito Coletivo?

O Efeito Coletivo surgiu em Setembro de 2004, mas na verdade sempre foi um sonho, que começou em 1988, quando deixei minha banda de punk rock e mergulhei no mundo das gravações caseiras, drum-machines, sequencers, synths e os indecifráveis computadores Amiga 500. Em realidade, o John Merrick Experience (duo que faço parte) tinha o conceito de ser uma banda aberta (sem formação) que aglutinasse todos os amigos. Um tanto quanto utópico e hoje até inimaginável, lembrar que os Planet Hemp Marcelo D2 e Formigão faziam parte do núcleo central. O Efeito Coletivo é talvez uma evolução desse conceito – juntamos quatro trabalhos de música eletrônica (John Merrick Experience, Ouvintes, Gerador Zero e Voz Del Fuego) por entender que as afinidades precisam vencer as distâncias – a troca de informação é fundamental num cenário quase inexistente de música eletrônica no Rio de Janeiro -um pouco fartos, é verdade, da glamourização da cena DJ. E assim, tomamos contato e estreitamos papos com outros artistas da produção caseira, como Peixe Kru (Rio), Ladrão (Juiz de Fora), Diversitrônica (Recife), Colortronic (Rio), FLU (POA/Rio), Edu K (POA) e Pato de Borracha (Lisboa), entre muitos outros.

Fale um pouco das bandas que fazem parte do Efeito Coletivo.

Somos quatro trabalhos bem distintos, mas a cada dia cresce mais a admiração dentro do grupo. Não raro as críticas são duras e até poderia dizer que há uma competição saudável que excita nossa criatividade, cada qual com suas esquisitices. Muitas esquisitices... Recentemente, defini o Efeito Coletivo assim: “As selvagens meninas do Voz del Fuego e seu figurino impecável, os preguiçosos-panças do John Merrick Experience, os trabalhadores e românticos obstinados dos Ouvintes e o nosso tecnólogo Professor Pardal Fzero, do Gerador Zero". E, no momento, é a forma mais objetiva que consigo descrever cada um de nós.

São várias pessoas diferentes vindo de projetos diferentes. Quem faz o que?

O grande tesouro do Efeito Coletivo é a bagagem técnica de seus membros. Nenhuma pergunta técnica fica sem solução. Vez ou outra o pessoal de outras bandas também envia perguntas e tira dúvidas. Temos um e-mail que funciona como uma circular ou memorando. Dava um livro. O mundo de coisas pertinentes e impertinentes que passam por lá é, na verdade, um excelente raio-X do que somos. Assim, todos fazemos tudo. Nesse baralho só tem coringa.

Qual a intenção de vocês ao montar o coletivo?

Nossa intenção principal é dar força a uma cena que não existe aqui no Rio, trocar informações, participar nos trabalhos dos outros (em gravações, remixes, composições). Juntamos também para dar maior visibilidade e reduzir custos de produção, já que nossos equipamentos somados nos tornam plenamente independentes (com folga). É escolher o
espaço, resolver a questão financeira e nos plugamos o Efeito Coletivo.

O Efeito Coletivo já foi também um programa de rádio. Fale um pouco sobre isso?

Fui convidado pelo Nervoso a criar um programa de uma hora dentro do América Perdida, programa que ele apresentava na Rádio Viva Rio AM. Assim, estendi o convite aos colegas do Efeito Coletivo. O resultado são 14 programas, até o fim da Radio Viva Rio. Esses programas estão disponíveis online na página www.efeitocoletivo.com. Eles foram produzidos em casa, onde mostramos a cara da produção caseira nacional e a TramaVirtual foi uma ferramenta fundamental, pois de lá eram garimpadas a maioria das músicas executadas nos programas. E, por ser gravado, tínhamos sempre a chance de enviar um e-mail para os artistas falando da sua inclusa ona programação e assim (por efeito multiplicador) criamos uma boa rede de contato. Com o fim da RádioViva Rio AM, resolvemos que cada projeto do coletivo faria um programa de Webradio e assim nasceu o Misturinha (John Merrick Experience), Bit Bang! (Gerador Zero), Hay Banda! (Voz Del Fuego) e Gengibre S/A (Ouvintes). Os programas têm diferentes perfis e estão todos disponíveis para download, streaming e podcast no site do Efeito Coletivo. À frente do Misturinha, que está na 16ª edição, minha idéia é deixar os convidados livres em suas escolhas e eu tento seguir a vibe. Recebemos um convite para uma rádio FM aqui no Rio o qual estamos negociando.

Como são os shows e onde vocês costumam se apresentar?

Nossos shows têm muito de improviso, é sempre uma grande gargalhada escalar a ordem de apresentação dos trabalhos, todos querem sempre reverenciar o outro e assim, a luta é sempre por quem vai abrir o show, seguindo a linha subliminar anti-narcísica. Tocamos juntos em três oportunidades apenas: Superdemo Digital e mais duas vezes no sebo descolado da Lapa Plano B. No próximo dia 23 de junho estaremos no Espaço Cultural Constituição (Rua da Constituição, 34 – Centro - Rio de Janeiro/RJ). O que é interessante frisar é que nunca repetimos o set.

Quais as vantagens de se associar a outras bandas?

As vantagens são muitas e é até difícil enumerá-las, já que delas têm surgido grandes e verdadeiras amizades. Penso que estamos num período muito complicado da indústria musical e todo e qualquer diálogo acerca desse assunto se faz necessário. Há uns anos, os artistas sonhavam em gravar discos e publicá-los. Com a disseminação dos MP3s e pirataria, essa não me parece ser a grande questão de quem não está nessa sem ser
por vaidade. Esse é um papo muito longo e pouco conclusivo, mas tem sido uma boa questão a ser tratada, assim como a necessidade de se impor níveis de profissionalismo, já que é uma prática tão comum no Brasil tocar de graça ou por duas ou três cervejas. Fiz até um manifesto numa circular interna contra "esmolar palco".

Quais as outras atividades vocês promovem?

No momento estamos produzindo remixes para o disco do Nervoso (Saudades de Minhas Lembranças), que tem vários outros artistas convidados, nossos programas de Web-rádio e alguns shows. Infelizmente, a situação é a seguinte: Peter trabalha na Editora da EMI, Maurice e Fábio Zero trabalham numa empresa que desenvolve Ringtones e, até o fechamento dessa, todos os outros estão desempregados correndo atrás.

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