Alienação - A alienação é sempre ligada, em Sartre, à objetivação. Em "O Ser e o Nada", é o olhar do outro que me objetiva, que faz de mim algo ao não me tomar a não ser como uma exterioridade; na "Crítica da Razão Dialética", a objetivação se define mais precisamente como materialização. É a matéria que constitui o fundamento real da alienação.
Angústia - Sentimento que não se relaciona a nenhum objeto que se pode encontrar no mundo, mas apenas dentro de si mesmo, isto é, na própria liberdade. Ela pode ser definida como a consciência da própria liberdade, especialmente nas situações mais triviais. Por exemplo, quando decidiu não mais comer pão, Sartre disse: "Não é sem uma pequena angústia que descobri uma vez mais ontem pela manhã que eu era livre para cortar o pedaço de pão que a empregada colocara perto de mim e livre também para levar o pedaço à minha boca. Nada no mundo podia me impedir de fazê-lo a não ser eu mesmo." ("Carnets de la Drôle de Guerre"). A mesma angústia sob forma de vertigem pode ser sentida pelo medo do precipício, quando tomo consciência de que, "se madame me força a salvar minha vida, nada me impede de me precipitar no abismo", que sou absolutamente livre para viver ou morrer. ("O Ser e o Nada"). Com essa concepção de angústia, Sartre se separa de um racionalismo que concede apenas à razão o poder de conduzir à verdade. Em "A Náusea", é precisamente essa disposição que revela a Antoine Roquentin a contingência da existência e a compreensão da existência humana.
Contingência - A contingência se opõe à necessidade de qualificar a existência. Presa à sua nudez, a existência possui uma característica supérflua, que suscita a náusea. É precisamente esse sentimento que invade Roquentin quando as coisas se apresentam a ele, desprovidas de sua utilidade e de seu significado. Assim, no jardim público, a raiz de uma árvore se torna "uma massa negra e disforme, inteiramente bruta"; então, é sua própria existência que se revela.
Engajamento - É a atitude do indivíduo que toma consciência de sua responsabilidade total diante de sua situação histórica e social e decide agir para modificá-la ou denunciá-la. Em certo sentido, o engajamento é um modo de ser pois, pelo próprio fato de existir, eu me engajo, eu estou dentro do mundo ao lado de outros ou, como diz Sartre, estou "em situação". De qualquer forma, essa situação não é um sofrimento que sofro: para cada um dos meus atos, eu escolho livremente minha situação. Minha liberdade e minha responsabilidade são, então, totais, como sublinha Sartre em "O Existencialismo É um Humanismo": Nossa responsabilidade é muito maior do que podemos pensar, pois ela envolve a humanidade inteira". O engajamento é igualmente uma obrigação moral para aquele que, recusando o conforto da atitude contemplativa ou de má-fé, atrai as conseqüências éticas e políticas de seu ser-em-situação. É particularmente o caso do intelectual e do escritor, que, por terem o poder de revelar o mundo, devem se engajar.
Liberdade - Que o homem é livre é uma evidência cuja contestação revela má-fé. Essa liberdade significa negativamente que o homem não é uma coisa e que suas ações, assim como suas "paixões", não revelam de modo nenhum um princípio transcendente, tal como a natureza, a sociedade, o corpo ou o inconsciente psíquico. Positivamente, a liberdade descreve não uma faculdade ou propriedade, mas o ser do homem enquanto ligação eterna com o projeto que lhe é próprio. O homem não escolheu nascer e, de certa forma, sua situação não depende dele; da mesma forma, não pode renunciar à sua liberdade e "nós estamos condenados a ser livres" ("Cadernos por uma Moral"). A liberdade do homem se encontra na menor de suas escolhas empíricas, em seus gostos e vontades, em seu trato de características que levam a uma escolha original que explicita a psicanálise existencial ("O Ser e o Nada"). Assim, a responsabilidade humana é muito maior que a má-fé quer admitir, e, se a liberdade pode ser um fim, ela é igualmente um fardo.
Psicanálise existencial - Sartre opõe à psicanálise freudiana uma psicanálise existencial. Uma e outra têm como objetivo "decifrar os comportamentos empíricos do homem" e partem da convicção de "que não há um gosto, um ato humano, que não seja revelador". Mesmo assim, como a interpretação das condutas muitas vezes são insignificantes, se Freud busca descobrir os complexos inconscientes que os determinam, Sartre recusa categoricamente a hipótese de um inconsciente psíquico. Sartre substitui a hipótese de inconsciente pela idéia de que todo homem é habitado por um projeto original, escolhido livremente, por qual se esforça para realizar seu desejo de ser e que se manifesta nos menores aspectos de sua existência: "O projeto original que se exprime em cada uma de nossas tendência empíricas observáveis é o projeto de ser; ou, se preferirmos, cada tendência empírica é com o projeto original de ser em uma forma de expressão e saciedade simbólica, como as tendências conscientes, em Freud, em ligação aos complexos e à libido original". ("O Ser e o Nada").
Razão dialética - A razão dialética é a razão que torna inteligível toda forma de totalização, quer dizer, toda unificação em curso (seja um simples ato, uma vida humana ou mesmo a história). A razão dialética é, então, a "lógica viva da ação". Ela é, nesse sentido, uma razão prática, por oposição à razão analítica, a que é utilizada pelas ciências positivas, que é uma razão observadora situada no exterior de quem a observa.
Transcendência - Não se trata da transcendência de Deus, no sentido de que Deus está "exterior" ao mundo. Conforme a etimologia latina do termo -construído a partir de "trans" (do outro lado) e "scando" (subir)- a transcendência sartriana designa o movimento da consciência de se conduzir sempre além dela mesma e daquilo que é. A consciência não prende o objeto tal como ele é, mas a apreende em sua incompletude, ultrapassando-a até que não seja mais.
terça-feira, junho 21, 2005
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