ADRIANA FERREIRA SILVA
da Folha de S.Paulo
Com milhões de vídeos, de piadas a registros históricos, o www.youtube.com está entre os grandes hits da internet atualmente. Segundo o site, em um só dia são 40 milhões de visitantes e 35 mil novos vídeos. De carona nessa onda, videomakers, músicos, atores e outros tantos entusiastas começam a criar vídeos especialmente para serem veiculados no site.
Além de divulgação, os artistas também estão utilizando o endereço para experimentar linguagens audiovisuais; já os amadores querem mesmo é tirar uma chinfra.
Há quem consiga atuar em todas essas frentes, como o DJ e produtor George M. Ele criou uma página no YouTube para difundir seu projeto de música eletrônica, o Las Bibas from Vizcaya, que se tornou um estrondoso sucesso na rede.
Mais de 100 mil pessoas já assistiram aos vídeos na página do Las Bibas, e dezenas de outras criaram histórias inspiradas nas de George.
O que ele fez de tão especial? Simples: capturou cenas de videoclipes e de novelas globais, como "Vale Tudo" (1988) e "América" (2005), tirou o som, inseriu dublagens absurdas e músicas do Las Bibas. Seu principal hit é a versão para um diálogo entre Heleninha (Renata Sorrah) e Odete Roitman (Beatriz Segall) com falas impublicáveis (veja no quadro à esquerda).
George, 34, vai direto ao ponto: "É publicidade para vender o CD. Meu trabalho é com música. Os vídeos são caseiros." O retorno, diz ele, surpreendeu. "As pessoas cobram vídeos novos. Vou fazer uma trilogia para acabar com essa história", conta. Para os fãs, ele adianta que as cenas do próximo capítulo incluem uma interpretação "hilária" para um colóquio com Joana Fomm e Sônia Braga em "Dancin" Days".
No Brasil, o YouTube se popularizou, principalmente, como um arquivo do lado B da televisão, com cenas de novelas como essas, resgatadas por "garimpeiros" como George M.; e gafes cometidas ao vivo por famosos, como a que mostra o jornalista Fernando Vanucci apresentando seu programa com um jeitão meio chapado.
"Coisas como o YouTube são muito benéficas, porque revertem a passividade do espectador", defende a pesquisadora de linguagens audiovisuais Renata Gomez, 30. "A possibilidade da produção televisiva ser revista e comentada, como no caso do [Fernando] Vanucci, já interfere na criação."
Além de funcionar como uma espécie de "TV comentada em escala global", Gomez afirma que o YouTube está sendo descoberto pelos artistas brasileiros, apesar de existir uma certa resistência ao site.
"Os cineastas têm preconceito com o digital, por conta da baixa definição", diz ela. "Também há a paranóia de ter o trabalho usurpado, o que é um pouco ingênuo."
Quem está aproveitando o YouTube como espaço de criação são artistas experimentais, que utilizam a rede para divulgar e distribuir as obras, ou jovens em início de carreira.
O jornalista Pedro Bayeux, por exemplo, transformou sua página no making of do documentário "Rec Beat e o Hipertexto", com registros do festival de música pernambucano deste ano. "Coloquei para rolar uma interatividade com as pessoas", conta Bayeux, 26.
Antes, ele realizou o filme "Gamer BR", que também está na rede www.pirex.com.br. Desta vez, adotou o YouTube por ser mais "democrático" e ter "fácil acesso", afirma.
O artista Leonardo Castro, 27, inseriu trabalhos de vídeo abstratos, feitos a partir de imagens da internet, arquivos etc., como parte de uma pesquisa sobre videoarte. "O YouTube é mais conhecido e é mais fácil de distribuir o vídeo", diz.
Mais descompromissada, a DJ Polly se "especializou" em curtas caseiros, realizados para o site. "Para mim, acabou blog. Não tenho mais saco para nada. Só para o YouTube."
segunda-feira, agosto 14, 2006
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