domingo, agosto 20, 2006

Um pouco de rebeldia, Caio, por favor

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fui editora do Folhateen, caderno jovem da Folha, por dois anos. Nesse meio tempo, cansei de ouvir adolescentes declarando-se fãs de músicas do passado. Tinha desde o pessoal que curtia rockão, tipo Led Zeppelin ou Creedence -com o argumento de que esses, sim, é que faziam música "com o coração", e não eram vendidos à "indústria cultural"- até a garotada fã dos nomões da MPB (tipo Caetano Veloso e Gil).
Com algum esforço, dava para entendê-los. O primeiro verdadeiro susto que levei com esse improvável gosto passadista dos teens foi quando conheci uma garota de 14 anos cuja banda preferida era o Jesus and Mary Chain, um grupo oitentista que só era conhecido do pessoal indie... nos próprios anos 80!.
O segundo vem agora, ao saber do sucesso explosivo desse jovem saxofonista cujo repertório é o mais clássico e manjado dentro da nossa música popular tradicional.
"Jovem Brazilidade", de Caio Mesquita, não é exatamente ruim. É só muito quadradão. Não traz nenhum indício, por exemplo, de que tenha sido gravado neste século e não no anterior. De cara, "Samba de Verão" já mostra que os arranjos não sairão muito do básico. "Lilás" surge ainda mais kitsch que a versão original, e "Carinhoso" e "Papel Machê" estão abaixo da linha do aceitável.
No geral, o disco evoca a imagem daqueles músicos que tocam aos domingos em restaurante tradicional -o pianista de paletó puído, a flautista de vestido cor-de-rosa... Cenário que deveria fazer um garoto de 16 anos, no mínimo, sair correndo.

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