Sociedade moderna caminha para uma economia de coletivismo digital, conhecida como Web 2.0, dizem acadêmicos
No "novo mundo", grupos e indivíduos são mais livres do Estado e das corporações hierarquizadas próprios do período industrial anterior
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Há algumas semanas, para comemorar dez anos no ar, a revista eletrônica "Slate" reformulou seu site. Uma das novidades era um mecanismo cada vez mais popular nas publicações on-line: a lista das reportagens mais lidas do dia. Para surpresa da editora Rachel Larimore, o campeão da quarta-feira dia 28 de junho era um artigo intitulado "So Tired" (Tão Cansado), de Paul Boutin.
O fato de um texto do jornalista especializado em novas tecnologias ser o campeão de audiência não a espantava -uma autoridade no assunto, freqüentemente Boutin está na lista dos dez mais de diversos sites. O problema era a data: "So Tired" foi escrito e colocado no ar pela primeira vez em julho de 2004.
Qual o segredo?
O artigo tinha sido "postado" (colocado à disposição) por um leitor saudoso no novíssimo site Digg, com 300 mil usuários registrados e 8,5 milhões de visitantes únicos por mês. O internauta visita o agregador de notícias e submete um texto, não necessariamente inédito nem de autoria própria. A peça recebe uma avaliação dos visitantes. A mais bem-votada vai para o alto de uma lista de notícias na página inicial do Digg.
No final do ano passado, o jornalista aposentado John Seigenthaler resolveu dar uma olhada em seu próprio verbete na enciclopédia virtual aberta Wikipedia. Fundador do Freedom Forum First Amendment Center na Universidade Vanderbilt e ex-editor de opinião do jornal "USA Today", ele estava curioso para saber o que estava escrito sobre ele. No final do texto, encontrou os seguintes parágrafos:
"John Seigenthaler Sr. foi assistente do Procurador-Geral Robert Kennedy nos anos 60. Por um breve período, foi suspeito de ter participado diretamente dos assassinatos tanto de John quanto de seu irmão, Bobby. Nada foi provado." Demorou mais de um mês para que a versão corrigida fosse mantida no ar (não, o jornalista não assassinou JFK ou seu irmão; Seigenthaler ainda não descobriu o autor da piada).
Bem-vindo à Web 2.0. Os dois casos acima, embora extremos, são exemplos da transição pela qual o processo de produção na sociedade contemporânea passa, segundo acadêmicos renomados como Yochai Benkler, da Universidade Yale. De uma sociedade industrial, ou "a sociedade do fim do milênio passado", como disse à Folha Benkler, a uma economia de coletivismo digital.
Nesse admirável mundo novo, que agrega preferências e comportamentos de milhões de pessoas, a mercadoria não é mais material, mas a informação. O lucro vem quase exclusivamente de publicidade e do apoio do Estado e de fundações. Os indivíduos e grupos são mais livres e independentes do tipo de Estado e das corporações hierarquizadas que definiram o período industrial. São recompensados por incentivos não-monetários e atuam de maneira descentralizada.
A "Bíblia" desse novo pensamento é "The Wealth of Networks - How Social Production Transforms Markets and Freedom", "A Riqueza das Redes -Como a Produção Social Transforma Mercados e a Liberdade", livro que o professor de Yale lançou neste ano. O título remete de propósito à "Riqueza das Nações", de Adam Smith (1723-1790), pai da economia moderna e um dos principais teóricos do liberalismo econômico. Nele, Benkler defende que estamos ingressando no sistema de "produção compartilhada por uma comunidade" ("commons-based peer production", em inglês).
"A célebre "mão invisível" assumiu agora a forma de uma nova autonomia, a das forças de oferta e demanda que se contrapõe no universo das redes digitais", escreve Gilson Schwartz, professor de economia da ECA-USP e diretor da Cidade do Conhecimento (leia texto ao lado). Os melhores exemplos disso são sites como os já citados Digg e Wikipedia, mas também o Slashdot, del.icio.us e o popular YouTube, cujo slogan é "seja você mesmo sua própria emissora".
Neles, teoricamente, qualquer um pode contribuir com o conteúdo, e um sistema de pesos e balanços entre os próprios pares controla a qualidade (Teoricamente, pois empresas têm sido obrigadas a restringir seu acesso total por conta de vandalismo digital.)
É a Web 2.0, termo que, por coincidência, é tema de um texto do próprio Paul Boutin, aquele do artigo de 2004 da "Slate". Um tanto idealista? É o que acha também Jaron Lanier, um dos principais críticos de Benkler. Em artigo publicado no site Edge.org, o teórico de tecnologia da Universidade da Califórnia em Berkeley rebatizou o movimento de "maoísmo digital".
Segundo disse à Folha, Lanier acha que o ato de rejeitar a expressão individual e a criatividade para fazer parte de uma massa sem rosto lembra perigosamente a Revolução Cultural que teve início no governo do líder comunista chinês. Questionado se não era só uma picuinha entre Berkeley (berço da contracultura) e Palo Alto (a sede do Vale do Silício), cidades californianas que são opostos complementares, Lanier riu. "Pode ser. Mas que é um pensamento perigoso, isso é."
sábado, setembro 30, 2006
Com John Lennon se protestava melhor
Filme sobre o músico desperta nostalgia de um pacifismo hoje anestesiado nos EUA
Eusebio Val
Em Nova York
É um bonito presente para cinqüentões nostálgicos e um puxão de orelha indireto na geração de hoje por sua passividade materialista. O excelente documentário "The US vs. John Lennon" (Os EUA contra John Lennon) traz recordações, felizes e amargas ao mesmo tempo, para os que se envolveram no movimento contra a Guerra do Vietnã no final dos anos 1960 e início dos 70. O filme faz um apanhado do ativismo antibélico do desafortunado Beatle e do assédio a que foi submetido pelo paranóico governo Nixon.
No filme, dirigido por David Leaf e John Scheinfeld e distribuído pela mesma companhia que distribuiu "Fahrenheit 9/11", combinam-se valiosas imagens de arquivo com entrevistas atuais com ativistas, intelectuais e jornalistas, tudo isso temperado por canções que foram hinos daquela juventude idealista e contestadora. A viúva do cantor, Yoko Ono, tem um papel de destaque, mas sempre se mostra discreta.
Lennon aparece como uma figura valente, íntegra, divertida e provocadora. São antológicas suas respostas durante seus protestos na cama pela paz, de pijama e junto com Yoko, e o humor com que suportou a via crúcis que o governo o fez passar quando ameaçou deportá-lo. Um jornalista lhe pergunta: "Você disse que teve problemas a vida toda. Por quê?" "Tenho essa cara. As pessoas nunca gostaram da minha cara", zomba Lennon.
Mas em outro momento admite estar "aterrorizado" depois de saber que o FBI, sob o comando do sinistro Edgar Hoover, grampeou seu telefone e vigiava seus movimentos. No filme intervêm personagens díspares como o ex-líder dos Panteras Negras Bobby Seale ou um dos homens de Nixon no escândalo Watergate, George Gordon Liddy. Também falam George McGovern, o candidato presidencial democrata derrotado em 1972 e o mítico apresentador de TV Walter Cronkite. O ensaísta Noam Chomsky faz sua análise e o escritor Gore Vidal não pode evitar uma contundente comparação com a época atual: "Lennon representava a vida e os senhores Nixon e Bush representam a morte".
"The US vs. John Lennon", que poderá ser visto em todos os EUA a partir da próxima semana, estreou de forma restrita. No cinema da Broadway em que esteve "La Vanguardia", o público recebeu com suspiros de satisfação as cenas culminantes do documentário. Theresa Hammond, professora de contabilidade no Boston College, saiu impressionada. "Foi muito mais informativo e emocionante do que eu esperava", declarou. "Sabia que Lennon foi um pacifista, mas desconhecia seu envolvimento e a dignidade que demonstrou. Há diversas entrevistas muito boas. Falam inclusive com Gordon Liddy, que dá a interpretação direitista da história."
"Você vê paralelos com a situação atual?" "Oh, sim, vejo muitos. É tão triste! Não temos muita gente dessa estatura opondo-se à guerra do Iraque. George Clooney e outros fizeram alguma coisa, mas não com a mesma intensidade."
"Por que acredita que o movimento pacifista não decolou desta vez?" "Creio que o principal é que não existe o serviço militar obrigatório. A maioria, da classe média para cima, não se sentiu afetada."
"O filme me trouxe recordações daquele período", salientou Robert Sands, um cinegrafista de 54 anos que vivia no mesmo bairro que Lennon e costumava vê-lo na rua ou nos restaurantes junto com Yoko e o pequeno Sean. "O mais importante é comprovar que John Lennon exerceu realmente muita influência naquela época. No início foi por causa dos Beatles, mas depois conseguiu situar-se ele próprio em um pedestal para o público. O filme mostra a força de um artista na sociedade e como as idéias acabam sendo mais fortes que as espadas."
"Hoje há muito materialismo", prosseguiu Sands. "Na época havia muito mais interesse por valores espirituais e sociais. Hoje os jovens parecem hipnotizados por coisas materiais, por roupas, pelos iPods. Gore Vidal faz uma das afirmações mais duras do filme, quando diz que o patriotismo é o último recurso dos sem-vergonhas."
Uma vida curta
John Winston Lennon nasceu em 9 de outubro de 1940 em Liverpool, Inglaterra, durante um bombardeio da aviação nazista. Membro fundador dos Beatles junto com Paul McCartney e co-líder da banda, Lennon morreu assassinado em Nova York em 8 de dezembro de 1980. Mark D. Chapman disparou contra ele no vestíbulo do Edifício Dakota, diante do Central Park, onde morava o cantor, com uma pistola calibre 38.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Eusebio Val
Em Nova York
É um bonito presente para cinqüentões nostálgicos e um puxão de orelha indireto na geração de hoje por sua passividade materialista. O excelente documentário "The US vs. John Lennon" (Os EUA contra John Lennon) traz recordações, felizes e amargas ao mesmo tempo, para os que se envolveram no movimento contra a Guerra do Vietnã no final dos anos 1960 e início dos 70. O filme faz um apanhado do ativismo antibélico do desafortunado Beatle e do assédio a que foi submetido pelo paranóico governo Nixon.
No filme, dirigido por David Leaf e John Scheinfeld e distribuído pela mesma companhia que distribuiu "Fahrenheit 9/11", combinam-se valiosas imagens de arquivo com entrevistas atuais com ativistas, intelectuais e jornalistas, tudo isso temperado por canções que foram hinos daquela juventude idealista e contestadora. A viúva do cantor, Yoko Ono, tem um papel de destaque, mas sempre se mostra discreta.
Lennon aparece como uma figura valente, íntegra, divertida e provocadora. São antológicas suas respostas durante seus protestos na cama pela paz, de pijama e junto com Yoko, e o humor com que suportou a via crúcis que o governo o fez passar quando ameaçou deportá-lo. Um jornalista lhe pergunta: "Você disse que teve problemas a vida toda. Por quê?" "Tenho essa cara. As pessoas nunca gostaram da minha cara", zomba Lennon.
Mas em outro momento admite estar "aterrorizado" depois de saber que o FBI, sob o comando do sinistro Edgar Hoover, grampeou seu telefone e vigiava seus movimentos. No filme intervêm personagens díspares como o ex-líder dos Panteras Negras Bobby Seale ou um dos homens de Nixon no escândalo Watergate, George Gordon Liddy. Também falam George McGovern, o candidato presidencial democrata derrotado em 1972 e o mítico apresentador de TV Walter Cronkite. O ensaísta Noam Chomsky faz sua análise e o escritor Gore Vidal não pode evitar uma contundente comparação com a época atual: "Lennon representava a vida e os senhores Nixon e Bush representam a morte".
"The US vs. John Lennon", que poderá ser visto em todos os EUA a partir da próxima semana, estreou de forma restrita. No cinema da Broadway em que esteve "La Vanguardia", o público recebeu com suspiros de satisfação as cenas culminantes do documentário. Theresa Hammond, professora de contabilidade no Boston College, saiu impressionada. "Foi muito mais informativo e emocionante do que eu esperava", declarou. "Sabia que Lennon foi um pacifista, mas desconhecia seu envolvimento e a dignidade que demonstrou. Há diversas entrevistas muito boas. Falam inclusive com Gordon Liddy, que dá a interpretação direitista da história."
"Você vê paralelos com a situação atual?" "Oh, sim, vejo muitos. É tão triste! Não temos muita gente dessa estatura opondo-se à guerra do Iraque. George Clooney e outros fizeram alguma coisa, mas não com a mesma intensidade."
"Por que acredita que o movimento pacifista não decolou desta vez?" "Creio que o principal é que não existe o serviço militar obrigatório. A maioria, da classe média para cima, não se sentiu afetada."
"O filme me trouxe recordações daquele período", salientou Robert Sands, um cinegrafista de 54 anos que vivia no mesmo bairro que Lennon e costumava vê-lo na rua ou nos restaurantes junto com Yoko e o pequeno Sean. "O mais importante é comprovar que John Lennon exerceu realmente muita influência naquela época. No início foi por causa dos Beatles, mas depois conseguiu situar-se ele próprio em um pedestal para o público. O filme mostra a força de um artista na sociedade e como as idéias acabam sendo mais fortes que as espadas."
"Hoje há muito materialismo", prosseguiu Sands. "Na época havia muito mais interesse por valores espirituais e sociais. Hoje os jovens parecem hipnotizados por coisas materiais, por roupas, pelos iPods. Gore Vidal faz uma das afirmações mais duras do filme, quando diz que o patriotismo é o último recurso dos sem-vergonhas."
Uma vida curta
John Winston Lennon nasceu em 9 de outubro de 1940 em Liverpool, Inglaterra, durante um bombardeio da aviação nazista. Membro fundador dos Beatles junto com Paul McCartney e co-líder da banda, Lennon morreu assassinado em Nova York em 8 de dezembro de 1980. Mark D. Chapman disparou contra ele no vestíbulo do Edifício Dakota, diante do Central Park, onde morava o cantor, com uma pistola calibre 38.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
quinta-feira, setembro 28, 2006
jane's addiction
If I were you
I'd better watch out
When was the last time
You did anything
Not for me
Or anyone else
Just because
Just because
Yeah
Oh, you really should have known
hey you
You really should have known
Just because
Just because
You've got the most
Ahh, but nobody loves you
Nobody has to
Just because
You
You really should have known
Ohh, you
I think you really should have known
Just because
Just because
Oh yeah
Oh, you better watch out
When we first met
And we passed around gifts
That was a long time, ago
And you're feeling fit
Yeah you
Oh, you really should have known
Yeah you
Oh, you really should have known
Just because
Just because
Just because
Oh yeah
Oh, you better watch out
I'd better watch out
When was the last time
You did anything
Not for me
Or anyone else
Just because
Just because
Yeah
Oh, you really should have known
hey you
You really should have known
Just because
Just because
You've got the most
Ahh, but nobody loves you
Nobody has to
Just because
You
You really should have known
Ohh, you
I think you really should have known
Just because
Just because
Oh yeah
Oh, you better watch out
When we first met
And we passed around gifts
That was a long time, ago
And you're feeling fit
Yeah you
Oh, you really should have known
Yeah you
Oh, you really should have known
Just because
Just because
Just because
Oh yeah
Oh, you better watch out
segunda-feira, setembro 25, 2006
"Se queriam alguém direito, pegaram a pessoa errada".
Keith Richards aparece bêbado no set de "Piratas do Caribe 3"
Publicidade
da Ansa, em Londres
O guitarrista Keith Richards, da banda britânica Rolling Stones, apareceu totalmente alcoolizado no set de filmagem da produção "Piratas do Caribe 3", e teve que ser ajudado pelo diretor do filme para poder atuar.
Richards atua como pai do personagem de Johnny Depp na terceira parte do filme. Segundo informou hoje a revista especializada "Empire", ele não se lembra das gravações devido ao excesso de álcool.
Bill Nighy, que atua como Davy Jones no filme, contou que Richards estava tão bêbado quando os produtores o chamaram para atuar, que teve de ser ajudado pelo diretor Gore Verbinski.
Após ser acusado de falta de profissionalismo, o músico de 62 anos gritou a todos: "Se queriam alguém direito, pegaram a pessoa errada".
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da Ansa, em Londres
O guitarrista Keith Richards, da banda britânica Rolling Stones, apareceu totalmente alcoolizado no set de filmagem da produção "Piratas do Caribe 3", e teve que ser ajudado pelo diretor do filme para poder atuar.
Richards atua como pai do personagem de Johnny Depp na terceira parte do filme. Segundo informou hoje a revista especializada "Empire", ele não se lembra das gravações devido ao excesso de álcool.
Bill Nighy, que atua como Davy Jones no filme, contou que Richards estava tão bêbado quando os produtores o chamaram para atuar, que teve de ser ajudado pelo diretor Gore Verbinski.
Após ser acusado de falta de profissionalismo, o músico de 62 anos gritou a todos: "Se queriam alguém direito, pegaram a pessoa errada".
sábado, setembro 23, 2006
Jornalistas são presos nos EUA por se recusarem a divulgar fontes
Julián Castillo San Francisco (EUA), 23 set (EFE).- A confidencialidade das fontes jornalísticas voltou a sofrer um duro golpe nos Estados Unidos quando dois redatores do jornal "San Francisco Chronicle" foram presos por se recusarem a entregar perante a justiça as fontes que forneceram o depoimento do jogador de beisebol Barry Bonds.
Os jornalistas Lance Williams e Mark Fainaru-Wada, responsáveis pelos artigos sobre o escândalo dos Laboratórios Balco, onde uma nova versão dos esteróides sintéticos era fabricada e distribuída, foram condenados a 18 meses de prisão por se negarem a divulgar suas fontes.
Williams e Fainaru-Wada foram categóricos diante do juiz Jeffrey White, encarregado do caso, quando explicaram suas convicções profissionais e o direito que tinham de acordo com a Constituição.
Mas White respondeu que "ninguém está acima da lei" e que, segundo a denúncia dos promotores federais, eles tinham violado a lei ao publicar depoimentos secretos de Bonds e outros atletas de elite que falaram a um grande júri sobre o possível consumo de esteróides e outras substâncias proibidas.
Os dois jornalistas responderam desde o princípio que preferiam ser presos a traírem suas fontes e seus valores morais e profissionais.
White disse que o tribunal acreditava que os jornalistas reconsiderariam sua posição quando enfrentassem a dura realidade de perder a liberdade.
Williams e Fainaru-Wada publicaram uma série de artigos e um livro baseado em transcrições dos depoimentos de Bonds, Jason Giambi e de outros jogadores para o júri de instrução que investigava a Balco, empresa que supostamente produzia suplementos nutricionais, mas na verdade era um grupo que comercializava esteróides.
Diretores da Balco já cumpriram alguns meses de prisão e estão em liberdade condicional, enquanto o treinador pessoal de Bonds, Greg Anderson, também está preso, por motivo similar ao dos repórteres.
Anderson não quer depor contra Bonds, porque ou mente ou se envolve diretamente no caso do consumo de substâncias proibidas.
"Não tem por que ter um tratamento diferenciado para Anderson ou para os jornalistas", afirmou Michael Rains, advogado de Bonds, que continua competindo normalmente na Liga de Beisebol americana. "Em ambos os casos eles se negam a declarar perante a justiça".
Mas Williams disse que sua obrigação era manter a promessa que fez às pessoas que ajudaram a conseguir a informação e que não trairia sua palavra.
"Como se supõe, mantenho minhas promessas quando as pessoas me ajudam e confiam na minha palavra", disse Williams no tribunal.
"Ficarei desesperado por nosso país, pois se formos muito longe nesta direção, ninguém mais falará com os jornalistas".
Promotores federais pediram ao juiz White que ordene a prisão dos repórteres enquanto durarem os trabalhos do júri que investiga o vazamento à imprensa ou até que estes aceitem depor.
Todas as partes concordaram em suspender a aplicação da sentença do juiz White até que se conheça a decisão judicial da apelação apresentada na Corte Federal de Apelações.
Em agosto, White reconheceu que a decisão da Corte Suprema de Justiça em 1972, quando estabeleceu que "ninguém", incluindo os jornalistas, estavam acima da lei quando o assunto era depor perante um grande júri federal, o deixava de mãos atadas no caso de Williams e Fainaru-Wada.
Por sua parte, Phil Bronstein, vice-presidente executivo do "San Francisco Chronicle", que esteve ao lado dos dois jornalistas o tempo todo, disse que era uma tragédia prender dois profissionais que fizeram um excelente trabalho.
"Precisamos de uma lei federal que proteja os jornalistas com urgência, para que não tenham que revelar suas fontes de informação", ressaltou Bronstein
Os jornalistas Lance Williams e Mark Fainaru-Wada, responsáveis pelos artigos sobre o escândalo dos Laboratórios Balco, onde uma nova versão dos esteróides sintéticos era fabricada e distribuída, foram condenados a 18 meses de prisão por se negarem a divulgar suas fontes.
Williams e Fainaru-Wada foram categóricos diante do juiz Jeffrey White, encarregado do caso, quando explicaram suas convicções profissionais e o direito que tinham de acordo com a Constituição.
Mas White respondeu que "ninguém está acima da lei" e que, segundo a denúncia dos promotores federais, eles tinham violado a lei ao publicar depoimentos secretos de Bonds e outros atletas de elite que falaram a um grande júri sobre o possível consumo de esteróides e outras substâncias proibidas.
Os dois jornalistas responderam desde o princípio que preferiam ser presos a traírem suas fontes e seus valores morais e profissionais.
White disse que o tribunal acreditava que os jornalistas reconsiderariam sua posição quando enfrentassem a dura realidade de perder a liberdade.
Williams e Fainaru-Wada publicaram uma série de artigos e um livro baseado em transcrições dos depoimentos de Bonds, Jason Giambi e de outros jogadores para o júri de instrução que investigava a Balco, empresa que supostamente produzia suplementos nutricionais, mas na verdade era um grupo que comercializava esteróides.
Diretores da Balco já cumpriram alguns meses de prisão e estão em liberdade condicional, enquanto o treinador pessoal de Bonds, Greg Anderson, também está preso, por motivo similar ao dos repórteres.
Anderson não quer depor contra Bonds, porque ou mente ou se envolve diretamente no caso do consumo de substâncias proibidas.
"Não tem por que ter um tratamento diferenciado para Anderson ou para os jornalistas", afirmou Michael Rains, advogado de Bonds, que continua competindo normalmente na Liga de Beisebol americana. "Em ambos os casos eles se negam a declarar perante a justiça".
Mas Williams disse que sua obrigação era manter a promessa que fez às pessoas que ajudaram a conseguir a informação e que não trairia sua palavra.
"Como se supõe, mantenho minhas promessas quando as pessoas me ajudam e confiam na minha palavra", disse Williams no tribunal.
"Ficarei desesperado por nosso país, pois se formos muito longe nesta direção, ninguém mais falará com os jornalistas".
Promotores federais pediram ao juiz White que ordene a prisão dos repórteres enquanto durarem os trabalhos do júri que investiga o vazamento à imprensa ou até que estes aceitem depor.
Todas as partes concordaram em suspender a aplicação da sentença do juiz White até que se conheça a decisão judicial da apelação apresentada na Corte Federal de Apelações.
Em agosto, White reconheceu que a decisão da Corte Suprema de Justiça em 1972, quando estabeleceu que "ninguém", incluindo os jornalistas, estavam acima da lei quando o assunto era depor perante um grande júri federal, o deixava de mãos atadas no caso de Williams e Fainaru-Wada.
Por sua parte, Phil Bronstein, vice-presidente executivo do "San Francisco Chronicle", que esteve ao lado dos dois jornalistas o tempo todo, disse que era uma tragédia prender dois profissionais que fizeram um excelente trabalho.
"Precisamos de uma lei federal que proteja os jornalistas com urgência, para que não tenham que revelar suas fontes de informação", ressaltou Bronstein
Mais do que samba e bossa nova: o Brasil na Popkomm 2006
O Brasil não é somente o maior país da América do Sul e o berço do carnaval. "Brasil" se tornou uma tendência mundial. Segundo o ministro Gilberto Gil, o país quer se tornar o líder mundial em matéria de música.
Verde grama e amarelo canário é a combinação de cores que mais se encontra: em bonés de beisebol, biquínis, canetas e em bandeirinhas sobre capôs. As cores alegres e vivas do Brasil invadiram a Europa – e também a área de feira da Popkomm. Elas são encontradas nas camisetas dos funcionários da feira e até mesmo impressas sobre o piso, indicando o caminho para o refúgio brasileiro.
Primeiro parceiro fora da Europa
Pavilhão brasileiro na Popkomm, em BerlimBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Pavilhão brasileiro na Popkomm, em BerlimComparando com outros espaços do Centro Internacional de Convenções (ICC) de Berlim, o pavilhão 16 é pequeno. Ele engloba uma área de 200 metros quadrados e se parece justamente com aquilo que poderia se chamar de um templo da música pop: circular, guarnecido de colunas e pintado, do teto aos assentos, em um branco virginal. Neste cenário, o Brasil se apresenta como primeiro parceiro não-europeu da Popkomm.
Não se trata somente de música: catálogos turísticos de praias com coqueirais e areias brancas estão espalhados nos estandes, um ao lado do outro, e no bar são servidos café espesso grátis e salgadinhos brasileiros.
Mais do que qualquer outro país, o Brasil consegue faturar com a associações que desperta no exterior. Devido à sua relativa estabilidade política dentro da América do Sul, o Brasil avança como um procurado destino de viagem. A animação das festas de carnaval, mulheres bonitas e bons jogadores de futebol: o Brasil comercializa não somente férias e música, mas um estilo de vida – a alegria absoluta de viver. Da esperada selva tropical, entretanto, pouco se nota no Popkomm, cuja atmosfera, acompanhada de suaves sons de bossa nova, parece quase caseira se comparada aos padrões da feira.
"A música brasileira é multifacetada"
Cacau Brasil: de olho em público internacionalBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Cacau Brasil: de olho em público internacional "A Popkomm é uma boa oportunidade para encontrar outros artistas e apresentar minha música a um público internacional", afirma Cacau Brasil. De fato, ele não se parece com aquilo que se poderia chamar de uma estrela brasileira: ele usa óculos e tem um ar pensativo, caprichos de estrela lhe passam ao largo. Em sua música, ele une elementos brasileiros tradicionais com a música pop moderna.
Isto é típico da cena musical brasileira, explica Iris Vobbe, funcionária da Popkomm e conhecedora do Brasil. "A música brasileira é bastante multifacetada, o espectro vai do samba, passando pelo reggae e pelo funk, até o rock", afirma Vobbe. Os diferentes estilos misturam-se entre si e com influências de diferentes países. Segundo Vobbe, esta é uma das razões para o boom da música brasileira nos Estados Unidos e na Europa.
Identidade através da música
Gilberto Gil quer transformar o Brasil em potência musicalBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Gilberto Gil quer transformar o Brasil em potência musicalA peculiaridade de misturar estilos tem tradição no Brasil. Estrela da música e atual ministro brasileiro da Cultura, Gilberto Gil explicou em Berlim, na última quarta-feira (20/09), que "a música brasileira é mais do que samba e bossa nova. Com mais de 350 diferentes estilos musicais, ela é a principal expressão cultural da cultura do meu país".
Ele gostaria de ver esta tradição cultural também dando retorno econômico. "Cerca de 80% da música que hoje é ouvida por 190 milhões de brasileiros provêm de ritmos locais", diz Gil. O país quer aproveitar este sucesso também de forma internacional e, com isto, transforma-se num dos países mundialmente mais importantes na produção musical.
As chances para tal são boas. Michel Nicolau, coordenador da iniciativa para a promoção de exportações "Música do Brasil" estima que as firmas brasileiras terão, durante a Popkomm, um faturamento de 150 mil dólares. E isto é somente o começo. "A feira não serve somente para a divulgação da música junto aos consumidores, mas também para procurar contatos e para agendar shows e festivais", explica Vobbe. Nicolau espera o faturamento de 300 mil dólares adicionais depois da feira.
Verde grama e amarelo canário é a combinação de cores que mais se encontra: em bonés de beisebol, biquínis, canetas e em bandeirinhas sobre capôs. As cores alegres e vivas do Brasil invadiram a Europa – e também a área de feira da Popkomm. Elas são encontradas nas camisetas dos funcionários da feira e até mesmo impressas sobre o piso, indicando o caminho para o refúgio brasileiro.
Primeiro parceiro fora da Europa
Pavilhão brasileiro na Popkomm, em BerlimBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Pavilhão brasileiro na Popkomm, em BerlimComparando com outros espaços do Centro Internacional de Convenções (ICC) de Berlim, o pavilhão 16 é pequeno. Ele engloba uma área de 200 metros quadrados e se parece justamente com aquilo que poderia se chamar de um templo da música pop: circular, guarnecido de colunas e pintado, do teto aos assentos, em um branco virginal. Neste cenário, o Brasil se apresenta como primeiro parceiro não-europeu da Popkomm.
Não se trata somente de música: catálogos turísticos de praias com coqueirais e areias brancas estão espalhados nos estandes, um ao lado do outro, e no bar são servidos café espesso grátis e salgadinhos brasileiros.
Mais do que qualquer outro país, o Brasil consegue faturar com a associações que desperta no exterior. Devido à sua relativa estabilidade política dentro da América do Sul, o Brasil avança como um procurado destino de viagem. A animação das festas de carnaval, mulheres bonitas e bons jogadores de futebol: o Brasil comercializa não somente férias e música, mas um estilo de vida – a alegria absoluta de viver. Da esperada selva tropical, entretanto, pouco se nota no Popkomm, cuja atmosfera, acompanhada de suaves sons de bossa nova, parece quase caseira se comparada aos padrões da feira.
"A música brasileira é multifacetada"
Cacau Brasil: de olho em público internacionalBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Cacau Brasil: de olho em público internacional "A Popkomm é uma boa oportunidade para encontrar outros artistas e apresentar minha música a um público internacional", afirma Cacau Brasil. De fato, ele não se parece com aquilo que se poderia chamar de uma estrela brasileira: ele usa óculos e tem um ar pensativo, caprichos de estrela lhe passam ao largo. Em sua música, ele une elementos brasileiros tradicionais com a música pop moderna.
Isto é típico da cena musical brasileira, explica Iris Vobbe, funcionária da Popkomm e conhecedora do Brasil. "A música brasileira é bastante multifacetada, o espectro vai do samba, passando pelo reggae e pelo funk, até o rock", afirma Vobbe. Os diferentes estilos misturam-se entre si e com influências de diferentes países. Segundo Vobbe, esta é uma das razões para o boom da música brasileira nos Estados Unidos e na Europa.
Identidade através da música
Gilberto Gil quer transformar o Brasil em potência musicalBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Gilberto Gil quer transformar o Brasil em potência musicalA peculiaridade de misturar estilos tem tradição no Brasil. Estrela da música e atual ministro brasileiro da Cultura, Gilberto Gil explicou em Berlim, na última quarta-feira (20/09), que "a música brasileira é mais do que samba e bossa nova. Com mais de 350 diferentes estilos musicais, ela é a principal expressão cultural da cultura do meu país".
Ele gostaria de ver esta tradição cultural também dando retorno econômico. "Cerca de 80% da música que hoje é ouvida por 190 milhões de brasileiros provêm de ritmos locais", diz Gil. O país quer aproveitar este sucesso também de forma internacional e, com isto, transforma-se num dos países mundialmente mais importantes na produção musical.
As chances para tal são boas. Michel Nicolau, coordenador da iniciativa para a promoção de exportações "Música do Brasil" estima que as firmas brasileiras terão, durante a Popkomm, um faturamento de 150 mil dólares. E isto é somente o começo. "A feira não serve somente para a divulgação da música junto aos consumidores, mas também para procurar contatos e para agendar shows e festivais", explica Vobbe. Nicolau espera o faturamento de 300 mil dólares adicionais depois da feira.
sexta-feira, setembro 22, 2006
Pobreza cai, mas ainda atinge 42,6 milhões de brasileiros, diz FGV
CLARICE SPITZ
da Folha Online, no Rio
O nível de pobreza teve uma queda significativa durante os três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda atinge 42,570 milhões de brasileiros, segundo pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
A pesquisa, coordenada por Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, mostra que a pobreza, que atingia 28,2% dos brasileiros em 2003, passou a englobar 22,77% em 2005 --ou 42,570 milhões de pessoas. Esse é o menor patamar desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1992.
O levantamento foi feito a partir dos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada, e considera pobre todo brasileiro com renda individual de até R$ 121 por mês.
A queda expressiva dos últimos anos deve-se, segundo a FGV, ao crescimento do emprego e da renda, à elevação da concessão de benefícios sociais como o Bolsa-Família, ao aumento de gastos previdenciários e aos reajustes do salário mínimo.
A FGV compara a redução à ocorrida após 1993, quando o Plano Real derrubou os índices de pobreza de patamares de 35% para 28%.
O levantamento mostra que a pobreza caiu 19,18% entre 2003 e 2005 e 18,24% entre 1993 a 1995 --anos que podem ser considerados como o auge do Plano Real.
Nos quatro primeiros anos do governo FHC, a queda da pobreza foi de 5,1% ao ano. Já os três primeiros anos de Lula promoveram uma redução de 5,2% ao ano na pobreza.
da Folha Online, no Rio
O nível de pobreza teve uma queda significativa durante os três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda atinge 42,570 milhões de brasileiros, segundo pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
A pesquisa, coordenada por Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, mostra que a pobreza, que atingia 28,2% dos brasileiros em 2003, passou a englobar 22,77% em 2005 --ou 42,570 milhões de pessoas. Esse é o menor patamar desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1992.
O levantamento foi feito a partir dos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada, e considera pobre todo brasileiro com renda individual de até R$ 121 por mês.
A queda expressiva dos últimos anos deve-se, segundo a FGV, ao crescimento do emprego e da renda, à elevação da concessão de benefícios sociais como o Bolsa-Família, ao aumento de gastos previdenciários e aos reajustes do salário mínimo.
A FGV compara a redução à ocorrida após 1993, quando o Plano Real derrubou os índices de pobreza de patamares de 35% para 28%.
O levantamento mostra que a pobreza caiu 19,18% entre 2003 e 2005 e 18,24% entre 1993 a 1995 --anos que podem ser considerados como o auge do Plano Real.
Nos quatro primeiros anos do governo FHC, a queda da pobreza foi de 5,1% ao ano. Já os três primeiros anos de Lula promoveram uma redução de 5,2% ao ano na pobreza.
Elite chinesa busca dar um impulso em seus filhos na estrada para o sucesso
Howard W. French em Xangai
Toda quarta-feira, neste verão, Rose Lei levou sua filha, Angelina, 5, a um complexo de golfe fora do centro de Xangai, para uma aula particular de duas horas por US$ 200 (em torno de R$ 440) com um profissional escocês.
Mas agora que começou o ano escolar, a pequena Angelina terá que cortar as aulas de golfe, limitando-se a sessões de finais de semana em uma pista local. Além de sua rotina escolar puxada, ela freqüentará a FasTracKids, uma academia para crianças a partir de 4 anos que se anuncia como um programa de MBA infantil.
Ariana Lindquist/The New York Times
Crianças chinesas em uma aula da FasTracKids, onde cursam uma espécie de MBA infantil
Lei, 35, ex-especialista de tecnologia da informação e mulher de um próspero executivo de propaganda em jornal, é parte de uma nova geração de pais afluentes que está buscando cuidadosamente formas de cimentar o lugar de seus filhos na elite em rápido crescimento.
Há uma geração, quando as pessoas ainda se vestiam de uma só cor e era geralmente ilegal adquirir grande riqueza privada, a rota ao sucesso era entrar para a organização jovem do Partido Comunista ou uma das melhores universidades.
Agora a competição começa cedo, e a ênfase não é em ideologia, mas nos talentos e experiências que as crianças vão precisar para vida de elite que se espera delas. Além do treinamento em golfe desde pequenos, que se tornou muito popular, pais afluentes estão inscrevendo seus filhos em toda espécie de cursos, desde balé e música até hipismo, patim no gelo, esqui e pólo.
O intenso interesse em cursos de estilo de vida fala não só da preocupação dos pais com o futuro dos filhos, mas também de uma sensação geral de insegurança social entre os novos ricos chineses.
"Essas pessoas são ricas financeiramente, mas não têm modos básicos e não gostam muito dessa fama", disse Wang Lianyi, especialista em estudos comparativos culturais da Academia Chinesa de Ciências Chinesas em Pequim. Dos 35 milhões de chineses que viajaram ao exterior no ano passado, disse ele, muitos ficaram chocados em descobrir que eram considerados mal educados.
Para tratar dessa questão, alguns dos novos ricos, como Lei, estão enviando seus filhos para longas estadias no exterior. Londres e Nova York são escolhas particularmente populares, porque as crianças têm a vantagem de aprender inglês com sotaque ocidental.
Outros estão se inscrevendo em escolas de boas maneiras que surgem aqui e ali na China com a promessa de treinar os jovens para se tornarem damas e cavalheiros na mais alta tradição ocidental.
O mais famoso desses programas é dirigido por uma mulher japonesa franca, June Yamada, que cobra cerca de US$ 900 (em torno de R$ 2.000) por um curso de duas semanas que inclui uma breve estadia em um hotel de cinco estrelas.
Os adolescentes têm que se banhar antes do jantar, tomar chá da tarde, usar roupa formal e reaprender a andar, comer, dançar e a lidar educadamente com membros do sexo oposto.
"Não ensino a eles o que fazer e o que não fazer, ensino as meninas a serem mulheres e os meninos a serem homens", disse Yamada, ex-colunista da moda que também publicou um livro sobre etiqueta. "Provavelmente somos a escola mais cara de Xangai, mas ninguém está reclamando, e os clientes continuam voltando, então devemos estar fazendo alguma coisa certa."
Yamada disse que insistia que ao menos um dos pais participasse das aulas com os filhos, "porque se o pai está cuspindo sementes de melancia ou ossos de galinha em casa, de que servem todas as coisas finas que estamos ensinando?"
É difícil dizer quantos chineses têm dinheiro para contratar tamanha atenção para os filhos, mas as poucas pesquisas e evidências indicam que o número está em expansão. Gao Ruxi, da Universidade Jiao Tong Xangai, conduziu uma pesquisa em 2003 que mostrou que 15,4% dos 17 milhões de habitantes da cidade -cerca de 2,6 milhões- eram ricos os suficiente para terem uma casa e um carro.
Outro relatório, de um pequeno grupo de pesquisa chinês chamado Horizon, estimou que em 2003 havia 569.000 famílias ou indivíduos em Xangai com bens de ao menos US$ 62.500 (aproximadamente R$ 138.000).
A FasTracKids começou em Xangai em 2004 e desde então abriu mais duas filiais na cidade e outra em Guangzhou e está planejando uma quinta em Hangzhou.
As sessões após o colégio são feitas em salas de aula vivamente decoradas, onde menos de uma dúzia de crianças, em geral de 4 ou 5 anos, aprendem com até três professores. O programa enfatiza o aprendizado científico, a resolução de problemas e, o que mais atrai muitos pais, a assertividade.
"Pais como eu estão preocupados com a China se tornando uma sociedade cada vez mais competitiva", disse Zhong Yu, 36, supervisor de manufatura cuja esposa é contadora em uma firma internacional e cujo filho de 7 anos, Yiming, foi inscrito nas aulas de MBA infantil. "Todos os dias vemos histórias nos jornais de graduados que não conseguem bons empregos. A educação na China já é boa nas principais matérias, mas quero que meu filho tenha mais criatividade, porque o conhecimento básico não é mais suficiente."
Yu disse que, apesar dos altos salários, ele e sua mulher tinham empregos muito exigentes, com pouco tempo de lazer, e que para eles o importante era que seu filho tivesse uma vida melhor que a deles.
Até certo ponto, a tendência é movida por uma conjunção de afluência crescente e a política de apenas um filho da China, que força os pais a concentrarem toda sua energia e recursos em uma única criança. Mas especialistas dizem que há mais por trás disso, que reflete um temor de uma nova espécie de selva, na qual toda a sociedade está correndo para progredir.
"No topo da pirâmide estarão os graduados excepcionalmente fortes das principais universidades americanas e européias, que se tornaram uma espécie de 'cidadãos internacionais'", disse Qiu Huadong, autor e editor da revista que escreveu sobre a nova elite. "Eles trabalham vários anos na China e depois vão ao exterior por um tempo, mudando de local a cada dois ou três anos. Na base da pirâmide estarão os que não conseguiram tal educação extraordinária, suando e sangrando para a China e a globalização."
Especialistas dizem que, para muitos, as escolas de boas maneiras, os intercâmbios para estudar idiomas no exterior e aulas de esportes como golfe e pólo são reflexos de uma sensação de insegurança social.
"Os americanos respeitam as pessoas que vieram do nada e fizeram alguma coisa, e eles também respeitam os ricos", disse Wang. "Na China, as pessoas em geral não respeitam os ricos, porque há uma sensação forte de que não têm ética. Esses novos ricos não querem só dinheiro, querem que as pessoas os respeitem no futuro."
De fato, alguns dos novos afluentes ampliaram sua busca pela respeitabilidade inscrevendo seus filhos também em atividades de caridade.
Shan Lei, dona-de-casa de 31 anos e ex-especialista em investimento cujo marido é executivo de fretes, disse que a família havia investido US$ 100.000 (em torno de R$ 220.000) em um título de clube de golfe e que a filha tinha começado a estudar o esporte, junto com piano e patinação artística. Eles também conseguiram inserir em sua agenda o trabalho voluntário com órfãos de Aids.
"Golfe é o esporte classes mais altas, mas quero que ela reconheça que existe diversidade social", disse Lei, que não é parente de Rose Lei. "Quero que ela se preocupe com os outros na sociedade."
Não há dúvidas que a força motora para a maior parte dos pais é pensar no desafio que seus filhos enfrentarão para terem sucesso em uma sociedade cada vez mais competitiva.
"Minha infância foi completamente diferente da que minha filha está passando", disse Rose Lei. "Não tínhamos coisas como FasTracKids ou golfe, e por isso queremos que ela tenha essas oportunidades." Perguntada se tinha outros motivos, como garantir a entrada da filha para as fileiras da classe afluente da China, ela não titubeou. "Sim, isso é muito importante", disse ela.
Tradução: Deborah Weinberg
Toda quarta-feira, neste verão, Rose Lei levou sua filha, Angelina, 5, a um complexo de golfe fora do centro de Xangai, para uma aula particular de duas horas por US$ 200 (em torno de R$ 440) com um profissional escocês.
Mas agora que começou o ano escolar, a pequena Angelina terá que cortar as aulas de golfe, limitando-se a sessões de finais de semana em uma pista local. Além de sua rotina escolar puxada, ela freqüentará a FasTracKids, uma academia para crianças a partir de 4 anos que se anuncia como um programa de MBA infantil.
Ariana Lindquist/The New York Times
Crianças chinesas em uma aula da FasTracKids, onde cursam uma espécie de MBA infantil
Lei, 35, ex-especialista de tecnologia da informação e mulher de um próspero executivo de propaganda em jornal, é parte de uma nova geração de pais afluentes que está buscando cuidadosamente formas de cimentar o lugar de seus filhos na elite em rápido crescimento.
Há uma geração, quando as pessoas ainda se vestiam de uma só cor e era geralmente ilegal adquirir grande riqueza privada, a rota ao sucesso era entrar para a organização jovem do Partido Comunista ou uma das melhores universidades.
Agora a competição começa cedo, e a ênfase não é em ideologia, mas nos talentos e experiências que as crianças vão precisar para vida de elite que se espera delas. Além do treinamento em golfe desde pequenos, que se tornou muito popular, pais afluentes estão inscrevendo seus filhos em toda espécie de cursos, desde balé e música até hipismo, patim no gelo, esqui e pólo.
O intenso interesse em cursos de estilo de vida fala não só da preocupação dos pais com o futuro dos filhos, mas também de uma sensação geral de insegurança social entre os novos ricos chineses.
"Essas pessoas são ricas financeiramente, mas não têm modos básicos e não gostam muito dessa fama", disse Wang Lianyi, especialista em estudos comparativos culturais da Academia Chinesa de Ciências Chinesas em Pequim. Dos 35 milhões de chineses que viajaram ao exterior no ano passado, disse ele, muitos ficaram chocados em descobrir que eram considerados mal educados.
Para tratar dessa questão, alguns dos novos ricos, como Lei, estão enviando seus filhos para longas estadias no exterior. Londres e Nova York são escolhas particularmente populares, porque as crianças têm a vantagem de aprender inglês com sotaque ocidental.
Outros estão se inscrevendo em escolas de boas maneiras que surgem aqui e ali na China com a promessa de treinar os jovens para se tornarem damas e cavalheiros na mais alta tradição ocidental.
O mais famoso desses programas é dirigido por uma mulher japonesa franca, June Yamada, que cobra cerca de US$ 900 (em torno de R$ 2.000) por um curso de duas semanas que inclui uma breve estadia em um hotel de cinco estrelas.
Os adolescentes têm que se banhar antes do jantar, tomar chá da tarde, usar roupa formal e reaprender a andar, comer, dançar e a lidar educadamente com membros do sexo oposto.
"Não ensino a eles o que fazer e o que não fazer, ensino as meninas a serem mulheres e os meninos a serem homens", disse Yamada, ex-colunista da moda que também publicou um livro sobre etiqueta. "Provavelmente somos a escola mais cara de Xangai, mas ninguém está reclamando, e os clientes continuam voltando, então devemos estar fazendo alguma coisa certa."
Yamada disse que insistia que ao menos um dos pais participasse das aulas com os filhos, "porque se o pai está cuspindo sementes de melancia ou ossos de galinha em casa, de que servem todas as coisas finas que estamos ensinando?"
É difícil dizer quantos chineses têm dinheiro para contratar tamanha atenção para os filhos, mas as poucas pesquisas e evidências indicam que o número está em expansão. Gao Ruxi, da Universidade Jiao Tong Xangai, conduziu uma pesquisa em 2003 que mostrou que 15,4% dos 17 milhões de habitantes da cidade -cerca de 2,6 milhões- eram ricos os suficiente para terem uma casa e um carro.
Outro relatório, de um pequeno grupo de pesquisa chinês chamado Horizon, estimou que em 2003 havia 569.000 famílias ou indivíduos em Xangai com bens de ao menos US$ 62.500 (aproximadamente R$ 138.000).
A FasTracKids começou em Xangai em 2004 e desde então abriu mais duas filiais na cidade e outra em Guangzhou e está planejando uma quinta em Hangzhou.
As sessões após o colégio são feitas em salas de aula vivamente decoradas, onde menos de uma dúzia de crianças, em geral de 4 ou 5 anos, aprendem com até três professores. O programa enfatiza o aprendizado científico, a resolução de problemas e, o que mais atrai muitos pais, a assertividade.
"Pais como eu estão preocupados com a China se tornando uma sociedade cada vez mais competitiva", disse Zhong Yu, 36, supervisor de manufatura cuja esposa é contadora em uma firma internacional e cujo filho de 7 anos, Yiming, foi inscrito nas aulas de MBA infantil. "Todos os dias vemos histórias nos jornais de graduados que não conseguem bons empregos. A educação na China já é boa nas principais matérias, mas quero que meu filho tenha mais criatividade, porque o conhecimento básico não é mais suficiente."
Yu disse que, apesar dos altos salários, ele e sua mulher tinham empregos muito exigentes, com pouco tempo de lazer, e que para eles o importante era que seu filho tivesse uma vida melhor que a deles.
Até certo ponto, a tendência é movida por uma conjunção de afluência crescente e a política de apenas um filho da China, que força os pais a concentrarem toda sua energia e recursos em uma única criança. Mas especialistas dizem que há mais por trás disso, que reflete um temor de uma nova espécie de selva, na qual toda a sociedade está correndo para progredir.
"No topo da pirâmide estarão os graduados excepcionalmente fortes das principais universidades americanas e européias, que se tornaram uma espécie de 'cidadãos internacionais'", disse Qiu Huadong, autor e editor da revista que escreveu sobre a nova elite. "Eles trabalham vários anos na China e depois vão ao exterior por um tempo, mudando de local a cada dois ou três anos. Na base da pirâmide estarão os que não conseguiram tal educação extraordinária, suando e sangrando para a China e a globalização."
Especialistas dizem que, para muitos, as escolas de boas maneiras, os intercâmbios para estudar idiomas no exterior e aulas de esportes como golfe e pólo são reflexos de uma sensação de insegurança social.
"Os americanos respeitam as pessoas que vieram do nada e fizeram alguma coisa, e eles também respeitam os ricos", disse Wang. "Na China, as pessoas em geral não respeitam os ricos, porque há uma sensação forte de que não têm ética. Esses novos ricos não querem só dinheiro, querem que as pessoas os respeitem no futuro."
De fato, alguns dos novos afluentes ampliaram sua busca pela respeitabilidade inscrevendo seus filhos também em atividades de caridade.
Shan Lei, dona-de-casa de 31 anos e ex-especialista em investimento cujo marido é executivo de fretes, disse que a família havia investido US$ 100.000 (em torno de R$ 220.000) em um título de clube de golfe e que a filha tinha começado a estudar o esporte, junto com piano e patinação artística. Eles também conseguiram inserir em sua agenda o trabalho voluntário com órfãos de Aids.
"Golfe é o esporte classes mais altas, mas quero que ela reconheça que existe diversidade social", disse Lei, que não é parente de Rose Lei. "Quero que ela se preocupe com os outros na sociedade."
Não há dúvidas que a força motora para a maior parte dos pais é pensar no desafio que seus filhos enfrentarão para terem sucesso em uma sociedade cada vez mais competitiva.
"Minha infância foi completamente diferente da que minha filha está passando", disse Rose Lei. "Não tínhamos coisas como FasTracKids ou golfe, e por isso queremos que ela tenha essas oportunidades." Perguntada se tinha outros motivos, como garantir a entrada da filha para as fileiras da classe afluente da China, ela não titubeou. "Sim, isso é muito importante", disse ela.
Tradução: Deborah Weinberg
Motorista atropela a si mesmo nos Estados Unidos
Um motorista americano bêbado, que jogou seu carro em direção a uma gangue de motociclistas, foi atropelado pelo próprio veículo depois de sair dele. O homem de 50 anos estava na Highway 4, perto de Concord, Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, de acordo com a agência Ananova.
Depois do homem ter jogado seu carro contra os motociclistas, ele saiu do veículo com um taco de sinuca na mão, e caminhou em direção a dois deles que haviam saído da estrada. O carro, que estava sem freio de mão, rolou pela rodovia atropelando o motorista e jogando-o para o meio da estrada. Os motociclistas ainda salvaram o homem de ser atropelado novamente.
De acordo com a polícia, ainda não se sabe a motivação para a briga interrompida pelo incidente.
Depois do homem ter jogado seu carro contra os motociclistas, ele saiu do veículo com um taco de sinuca na mão, e caminhou em direção a dois deles que haviam saído da estrada. O carro, que estava sem freio de mão, rolou pela rodovia atropelando o motorista e jogando-o para o meio da estrada. Os motociclistas ainda salvaram o homem de ser atropelado novamente.
De acordo com a polícia, ainda não se sabe a motivação para a briga interrompida pelo incidente.
Conselho obriga pessoas a queimar as mãos na Índia
Um conselho local do norte da Índia obrigou cerca de cem pessoas a queimar as mãos com óleo fervendo para descobrir o autor de um roubo, informou a rede de televisão local NDTV.
O "panchayat" (conselho local) do povoado de Ranpur, no estado indiano do Rajastão, decidiu, após o desaparecimento de alguns sacos de trigo em uma escola, que a melhor forma de identificar o responsável pelo roubo era obrigando os suspeitos a pegar um anel dentro de um recipiente cheio de óleo fervendo.
Segundo a crença medieval local, o ladrão acabaria com todo o seu braço queimado, ao passo que os inocentes só sofreriam leves queimaduras nos dedos. Quase cem suspeitos, todos eles membros de uma tribo local, sofreram queimaduras em suas mãos e dedos tentando provar sua inocência.
Todos ficaram tão traumatizados e com tanto medo de serem isolados e rejeitados pela sua comunidade que sequer se atreveram a apresentar uma denúncia, informou a rede de televisão. "Todos tivemos que tomar um banho e depois, por turnos, tirar o anel do recipiente com óleo quente", declarou Jagdish, uma das vítimas, que acrescentou que, "na hora, não doeu muito", embora tenha ficado com "graves queimaduras". "Disseram-nos que era um costume do povo", disse Mangilal, outro dos afetados, que contou que foram os professores da escola que os submeteram à provação.
Após a divulgação do ocorrido, a Polícia deteve os culpados, entre eles as pessoas que integravam o tribunal local. Além disso, autoridades suspenderam de seus cargos os membros da administração local que não denunciaram os fatos.
No entanto, muitas das vítimas ainda sentem medo e não querem depor contra os membros do "panchayat" responsáveis por seus ferimentos, que são de uma casta superior.
EFE
Agência Efe - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da Agência Efe S/A.
O "panchayat" (conselho local) do povoado de Ranpur, no estado indiano do Rajastão, decidiu, após o desaparecimento de alguns sacos de trigo em uma escola, que a melhor forma de identificar o responsável pelo roubo era obrigando os suspeitos a pegar um anel dentro de um recipiente cheio de óleo fervendo.
Segundo a crença medieval local, o ladrão acabaria com todo o seu braço queimado, ao passo que os inocentes só sofreriam leves queimaduras nos dedos. Quase cem suspeitos, todos eles membros de uma tribo local, sofreram queimaduras em suas mãos e dedos tentando provar sua inocência.
Todos ficaram tão traumatizados e com tanto medo de serem isolados e rejeitados pela sua comunidade que sequer se atreveram a apresentar uma denúncia, informou a rede de televisão. "Todos tivemos que tomar um banho e depois, por turnos, tirar o anel do recipiente com óleo quente", declarou Jagdish, uma das vítimas, que acrescentou que, "na hora, não doeu muito", embora tenha ficado com "graves queimaduras". "Disseram-nos que era um costume do povo", disse Mangilal, outro dos afetados, que contou que foram os professores da escola que os submeteram à provação.
Após a divulgação do ocorrido, a Polícia deteve os culpados, entre eles as pessoas que integravam o tribunal local. Além disso, autoridades suspenderam de seus cargos os membros da administração local que não denunciaram os fatos.
No entanto, muitas das vítimas ainda sentem medo e não querem depor contra os membros do "panchayat" responsáveis por seus ferimentos, que são de uma casta superior.
EFE
Agência Efe - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da Agência Efe S/A.
ONGs antidrogas atacam bebida "Cocaína"
Fonte: INVERTIA
Organizações antidrogas britânicas atacaram nesta quinta-feira a empresa americana fabricante de uma nova bebida energética chamada Cocaine ("Cocaína").
O produto está sendo considerado pelos consumidores uma alternativa legal à droga. A Cocaine é feita com doses altas de cafeína.
A fabricante afirma que o nome do produto é "engraçado", mas críticos afirmam que a bebida é uma maneira cínica de promover o consumo de drogas e levar os jovens ao vício. "É uma bebida energética, e tem um nome divertido. Assim que as pessoas olham para a lata, sorriem", afirmou o inventor da bebida, Jamie Kirby, ao jornal Daily Mail. Segundo ele, a Cocaine é 350% mais forte que um Red Bull.
Mas David Reynes, do órgão nacional anti-drogas, afirma: "Essa é uma tática bem cínica de explorar o uso de drogas para benefício próprio".
A bebida que tem 280 miligramas de cafeína é produzida pela companhia Redux Beverages, sediada em Las Vegas, nos Estados Unidos. Segundo o site da empresa, o único jeito de conseguir mais cafeína de uma vez só é consumir um café expresso.
"O fato é que, subliminarmente, eles estão tornando a imagem da droga como algo legal. E é isso que as crianças querem ser", afirmou David Reynes. "As crianças vão beber Cocaine e inevitavelmente vão juntar as coisas. A bebida em si é inócua, mas estará remetendo ao uso de cocaína", declarou.
A empresa vem recebendo diversas reclamações sobre a bebida no Reino Unido e em outros países da Europa. Os principais consumidores do produto são adolescentes, segundo o Daily Mirror.
Organizações antidrogas britânicas atacaram nesta quinta-feira a empresa americana fabricante de uma nova bebida energética chamada Cocaine ("Cocaína").
O produto está sendo considerado pelos consumidores uma alternativa legal à droga. A Cocaine é feita com doses altas de cafeína.
A fabricante afirma que o nome do produto é "engraçado", mas críticos afirmam que a bebida é uma maneira cínica de promover o consumo de drogas e levar os jovens ao vício. "É uma bebida energética, e tem um nome divertido. Assim que as pessoas olham para a lata, sorriem", afirmou o inventor da bebida, Jamie Kirby, ao jornal Daily Mail. Segundo ele, a Cocaine é 350% mais forte que um Red Bull.
Mas David Reynes, do órgão nacional anti-drogas, afirma: "Essa é uma tática bem cínica de explorar o uso de drogas para benefício próprio".
A bebida que tem 280 miligramas de cafeína é produzida pela companhia Redux Beverages, sediada em Las Vegas, nos Estados Unidos. Segundo o site da empresa, o único jeito de conseguir mais cafeína de uma vez só é consumir um café expresso.
"O fato é que, subliminarmente, eles estão tornando a imagem da droga como algo legal. E é isso que as crianças querem ser", afirmou David Reynes. "As crianças vão beber Cocaine e inevitavelmente vão juntar as coisas. A bebida em si é inócua, mas estará remetendo ao uso de cocaína", declarou.
A empresa vem recebendo diversas reclamações sobre a bebida no Reino Unido e em outros países da Europa. Os principais consumidores do produto são adolescentes, segundo o Daily Mirror.
McDonald's recorre a sexo para conquistar China
Fonte: INVERTIA
As novas campanhas publicitárias do McDonald's que estão sendo veiculadas na China investem no sexo como principal mote para conquistar os clientes e incentivar o consumo de hambúrger, tipo de carne que é mais cara no país.
Segundo o jornal Wall Street Journal, a nova estratégia de marketing da rede tem como objetivo divulgar a idéia de que consumir hambúrger melhora o desempenho sexual e dá mais energia.
Para isso, a empresa investiu em anúncios "picantes", como cartazes com lábios vermelhos e carnudos ao lado dos sanduíches. Uma das propaganda veiculadas na TV local mostra um beijo e um hambúrguer entre os lábios dos namorados. Em outro anúncio, uma mulher passa a mão nos bíceps de um homem.
"Flerte com seus sentidos", é o slogan da campanha que tenta impulsionar a venda de produtos mais "americanos", em detrimento dos lançados no mercado chinês que tinham como foco características da comida local. Outros slogans são "Você pode sentir. Macio. Você pode sentir. Suculento", ainda mais sensual.
As novas campanhas publicitárias do McDonald's que estão sendo veiculadas na China investem no sexo como principal mote para conquistar os clientes e incentivar o consumo de hambúrger, tipo de carne que é mais cara no país.
Segundo o jornal Wall Street Journal, a nova estratégia de marketing da rede tem como objetivo divulgar a idéia de que consumir hambúrger melhora o desempenho sexual e dá mais energia.
Para isso, a empresa investiu em anúncios "picantes", como cartazes com lábios vermelhos e carnudos ao lado dos sanduíches. Uma das propaganda veiculadas na TV local mostra um beijo e um hambúrguer entre os lábios dos namorados. Em outro anúncio, uma mulher passa a mão nos bíceps de um homem.
"Flerte com seus sentidos", é o slogan da campanha que tenta impulsionar a venda de produtos mais "americanos", em detrimento dos lançados no mercado chinês que tinham como foco características da comida local. Outros slogans são "Você pode sentir. Macio. Você pode sentir. Suculento", ainda mais sensual.
Vizinha é condenada por racismo após soltar cão em festa
No Rio, juíza condenou idosa a pagar multa de R$ 14 mil por dano moral após invadir celebração de Natal; cabe recurso da decisão
Mãe e filha são acusadas de dar chicotadas e chamar um dos convidados de "negro safado" e de dizer que ele deveria estar "na senzala"
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Perto da meia-noite de 24 de dezembro, o melhor da festa de Natal da família da enfermeira Maria José Menna Barreto, 64, estava prestes a começar: para as crianças, a distribuição dos presentes pelo Papai Noel; para os adultos, as sobremesas saboreadas todos os anos, rabanada, musse e "surpresa de abacaxi".
O Papai Noel não apareceu e muita gente foi embora antes de comer os doces: mãe e filha invadiram o salão de festas de um prédio em Copacabana, zona sul do Rio. Elas soltaram um cão (seria da raça weimaraner) e aterrorizaram as crianças. A mãe, Palmyra Medeiros Rocha, hoje com 70 anos, gritava "acaba essa festa!; fora, fora!", contaram testemunhas.
Com a corda da coleira, a filha, Denise Medeiros Rocha (de idade desconhecida), chicoteou chão, móveis e paredes. Berrou para o genro da anfitriã, o vendedor Cláudio Costa Ferreira, 40: "Negro safado! O seu lugar não é aqui, é na senzala! Tem é que voltar para a senzala!".
No último dia 11, nove meses depois, o 5º Juizado Especial Cível do Rio de Janeiro acatou pedido de Maria José, moradora do oitavo andar do edifício da rua Santa Clara, e condenou por danos morais a vizinha do 14º, Palmyra. A ré tem até a quinta-feira para recorrer.
A juíza Luciana Santos Teixeira a condenou a pagar R$ 14 mil (40 salários mínimos). É a indenização máxima nesse tipo de juizado, conhecido como de "pequenas causas".
Cláudio Ferreira prepara ações criminal e indenizatória contra as mulheres. Segundo o Código Penal, a pena para o crime de injúria racial é de reclusão de um a três anos e multa.
A Lei do Racismo se aplica a atos distintos, como impedir o acesso a empregos, escolas e lojas por preconceito de raça. O Tribunal de Justiça do Rio contabiliza 11 processos abertos neste ano com base na lei.
À Justiça, Palmyra Rocha confirmou o que qualificou como "comportamento reprovável" de sua filha, mas negou que a tenha apoiado. Testemunhas dizem que a mãe ria e bradava "é isso mesmo" a cada impropério pronunciado por Denise.
Como a autora da ação não encontrou o endereço de Denise Rocha, decidiu ingressar com processo contra a mãe.
As provas, diz a juíza, não deixam "dúvidas de que a ré apoiou, participou e incentivou as ações da filha. (...) Por meio de atos humilhantes e racistas, a ré agrediu a honra e dignidade da autora, desrespeitando seus fundamentais direitos".
Noite infeliz
O Natal tinha tudo para ser especial. Após três anos fora, uma das duas filhas de Maria José tinha ido à cidade com a família. A moradora alugou o salão no playground porque a saúde de sua mãe, de 95 anos (ela morreu há duas semanas), não recomendava agitação no apartamento. Apareceram cerca de 50 parentes e amigos.
Pelas 22h30 caíram sacos plásticos com água no playground. Nenhum atingiu os freqüentadores em cheio, mas crianças se molharam. Os sacos teriam sido arremessados do apartamento de Palmyra.
Uma hora depois ela e Denise desceram, irritadas, embora a família não tivesse levado aparelho de som para a festa. Com o cão solto, as chibatadas e os gritos, a vizinhança correu à janela para ver o que acontecia.
Adultos pediram calma e citaram o susto das crianças -Denise seria médica. Quando Cláudio surgiu, ouviu gritos de "escravo" e de "seu lugar não é aqui", entre outros. Ele é negro e sua mulher, a professora universitária Ana Paula, branca. Ela é filha de Maria José.
Quando Denise xingou seu padrasto, a filha de dez anos de Ana Paula, do primeiro casamento, começou a chorar e a tremer (o casal tem um menino de dois anos). Maria José, a sogra do vendedor, passou mal.
Cláudio foi à polícia. A parente que se vestiria de Papai Noel também -não teve tempo de entregar os presentes.
O Natal foi tão traumático para a mãe do vendedor que, até hoje, eles não tocam no assunto. "As pessoas têm que pensar dez vezes antes de cometer algo parecido", ele diz.
Sua sogra mora há 30 anos no prédio e diz que não guarda "raiva nem rancor" da vizinha do 14º. Moradores assinaram manifesto de desagravo a ela e a sua família. "É preciso dar um basta nessa selvageria e discriminação racial", diz o texto.
Mãe e filha são acusadas de dar chicotadas e chamar um dos convidados de "negro safado" e de dizer que ele deveria estar "na senzala"
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Perto da meia-noite de 24 de dezembro, o melhor da festa de Natal da família da enfermeira Maria José Menna Barreto, 64, estava prestes a começar: para as crianças, a distribuição dos presentes pelo Papai Noel; para os adultos, as sobremesas saboreadas todos os anos, rabanada, musse e "surpresa de abacaxi".
O Papai Noel não apareceu e muita gente foi embora antes de comer os doces: mãe e filha invadiram o salão de festas de um prédio em Copacabana, zona sul do Rio. Elas soltaram um cão (seria da raça weimaraner) e aterrorizaram as crianças. A mãe, Palmyra Medeiros Rocha, hoje com 70 anos, gritava "acaba essa festa!; fora, fora!", contaram testemunhas.
Com a corda da coleira, a filha, Denise Medeiros Rocha (de idade desconhecida), chicoteou chão, móveis e paredes. Berrou para o genro da anfitriã, o vendedor Cláudio Costa Ferreira, 40: "Negro safado! O seu lugar não é aqui, é na senzala! Tem é que voltar para a senzala!".
No último dia 11, nove meses depois, o 5º Juizado Especial Cível do Rio de Janeiro acatou pedido de Maria José, moradora do oitavo andar do edifício da rua Santa Clara, e condenou por danos morais a vizinha do 14º, Palmyra. A ré tem até a quinta-feira para recorrer.
A juíza Luciana Santos Teixeira a condenou a pagar R$ 14 mil (40 salários mínimos). É a indenização máxima nesse tipo de juizado, conhecido como de "pequenas causas".
Cláudio Ferreira prepara ações criminal e indenizatória contra as mulheres. Segundo o Código Penal, a pena para o crime de injúria racial é de reclusão de um a três anos e multa.
A Lei do Racismo se aplica a atos distintos, como impedir o acesso a empregos, escolas e lojas por preconceito de raça. O Tribunal de Justiça do Rio contabiliza 11 processos abertos neste ano com base na lei.
À Justiça, Palmyra Rocha confirmou o que qualificou como "comportamento reprovável" de sua filha, mas negou que a tenha apoiado. Testemunhas dizem que a mãe ria e bradava "é isso mesmo" a cada impropério pronunciado por Denise.
Como a autora da ação não encontrou o endereço de Denise Rocha, decidiu ingressar com processo contra a mãe.
As provas, diz a juíza, não deixam "dúvidas de que a ré apoiou, participou e incentivou as ações da filha. (...) Por meio de atos humilhantes e racistas, a ré agrediu a honra e dignidade da autora, desrespeitando seus fundamentais direitos".
Noite infeliz
O Natal tinha tudo para ser especial. Após três anos fora, uma das duas filhas de Maria José tinha ido à cidade com a família. A moradora alugou o salão no playground porque a saúde de sua mãe, de 95 anos (ela morreu há duas semanas), não recomendava agitação no apartamento. Apareceram cerca de 50 parentes e amigos.
Pelas 22h30 caíram sacos plásticos com água no playground. Nenhum atingiu os freqüentadores em cheio, mas crianças se molharam. Os sacos teriam sido arremessados do apartamento de Palmyra.
Uma hora depois ela e Denise desceram, irritadas, embora a família não tivesse levado aparelho de som para a festa. Com o cão solto, as chibatadas e os gritos, a vizinhança correu à janela para ver o que acontecia.
Adultos pediram calma e citaram o susto das crianças -Denise seria médica. Quando Cláudio surgiu, ouviu gritos de "escravo" e de "seu lugar não é aqui", entre outros. Ele é negro e sua mulher, a professora universitária Ana Paula, branca. Ela é filha de Maria José.
Quando Denise xingou seu padrasto, a filha de dez anos de Ana Paula, do primeiro casamento, começou a chorar e a tremer (o casal tem um menino de dois anos). Maria José, a sogra do vendedor, passou mal.
Cláudio foi à polícia. A parente que se vestiria de Papai Noel também -não teve tempo de entregar os presentes.
O Natal foi tão traumático para a mãe do vendedor que, até hoje, eles não tocam no assunto. "As pessoas têm que pensar dez vezes antes de cometer algo parecido", ele diz.
Sua sogra mora há 30 anos no prédio e diz que não guarda "raiva nem rancor" da vizinha do 14º. Moradores assinaram manifesto de desagravo a ela e a sua família. "É preciso dar um basta nessa selvageria e discriminação racial", diz o texto.
Mentira - Manu Chao
Mentira lo que dice
Mentira lo que da
Mentira lo que hace
Mentira lo que va
La Mentira..
Mentira la mentira
Mentira la verdad
Mentira lo que cuece
Bajo la oscuridad
Mentira, Mentira, la Mentira
Mentira el amor
Mentira el sabor
Mentira la que manda
Mentira comanda
Mentira, Mentira, la Mentira
Mentira la tristeza
Cuando empieza
Mentira no se va
Mentira, Mentira
La Mentira...
Mentira no se borra
Mentira no se olvida
Mentira, la mentira
Mentira cuando llega
Mentira nunca se va
Mentira
Mentira la mentira
Mentira la verdad
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
Mentira lo que da
Mentira lo que hace
Mentira lo que va
La Mentira..
Mentira la mentira
Mentira la verdad
Mentira lo que cuece
Bajo la oscuridad
Mentira, Mentira, la Mentira
Mentira el amor
Mentira el sabor
Mentira la que manda
Mentira comanda
Mentira, Mentira, la Mentira
Mentira la tristeza
Cuando empieza
Mentira no se va
Mentira, Mentira
La Mentira...
Mentira no se borra
Mentira no se olvida
Mentira, la mentira
Mentira cuando llega
Mentira nunca se va
Mentira
Mentira la mentira
Mentira la verdad
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?
quarta-feira, setembro 20, 2006
Para empresários, burocracia de SP complica shows
Donos de casas noturnas e organizadores de shows dizem que processos são lentos e que prefeitura deveria cooperar
Motomix quase repete cancelamentos de festas do Vegas, Manga Rosa e do hotel Unique; faltam espaços para grandes shows
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo virou uma cidade micada para shows e festas de rock e música eletrônica? A questão se escancarou com o quase cancelamento do festival Motomix, que trouxe o Franz Ferdinand no fim de semana.
Neste ano, foram canceladas em cima da hora as festas de aniversário de clubes badalados, como Vegas e Manga Rosa, e o festival eletrônico da Reebok no hotel Unique. E o Pacaembu não abrigou nenhum grande show desde que o Pearl Jam foi obrigado a tocar em plena luz do dia, em dezembro do ano passado.
Para empresários de shows e casas noturnas, conseguir um alvará é um processo lento e complicado e falta cooperação da prefeitura. Mais do que isso, eles dizem que São Paulo está sem locais para grandes shows.
Assim, eles responderam às críticas do secretário municipal das Subprefeituras da cidade de São Paulo, Andrea Matarazzo, que, em entrevista à Folha publicada ontem, os acusou de estarem "desacostumados" a seguirem as normas para obtenção de alvarás.
"Não pode sair interditando. Há muitas coisas que podem ser corrigidas de última hora. A Prefeitura poderia cooperar", diz Sérgio Ajzenberg, dono da Divina Comédia, empresa responsável pelo Motomix.
Segundo ele, a Polícia Militar fez a inspeção no Espaço das Américas na quinta de manhã, quando a tenda ainda não estava armada. "Se a inspeção fosse na sexta de manhã, eles veriam que não havia problema. Não dá para armar com tanta antecedência, o Espaço das Américas estava ocupado com outro evento antes." O evento aconteceu, mas sem a tenda.
A festa de primeiro aniversário do clube Vegas, que seria realizada em várias boates da rua Augusta em junho, foi outro evento cancelado na última hora. "Alegaram falta de segurança, mas esses clubes funcionam normalmente há 20 anos", diz Facundo Guerra, dono do Vegas.
Fernando Tibiriçá, do Manga Rosa, no Brooklin, também teve o aniversário do clube cancelado, em abril passado. "O evento seria em um galpão onde uma semana antes houve uma festa da FGV. Tivemos que mudar de última hora."
Para ele, há um "excesso" da prefeitura e também preconceito por se tratar de música eletrônica. "Se fosse axé, talvez não acontecesse nada."
Clubes sem alvará
Muitas discotecas da cidade, com alguns anos de existência, funcionam irregularmente. "A prefeitura leva muito tempo para analisar um pedido de alvará, tem casas que fecham depois de três anos de vida sem nunca ter obtido a permissão", critica Guerra, do Vegas.
"Estamos sempre sujeitos ao fechamento por algum motivo esotérico." Ele sugere uma "força-tarefa" para analisar as casas.
A Folha apurou que a situação irregular de funcionamento dos clubes, apenas com um protocolo de pedido de alvará, é propícia para a ação de fiscais corruptos -sem o alvará definitivo, seria mais fácil pedir propinas em uma blitz.
O secretário Andrea Matarazzo diz que se os donos das casas noturnas "fizessem direito", seguindo as normas, dificultaria a corrupção. "Eles não deveriam corromper os fiscais. Se tem o corrupto, alguém corrompeu. Se fizer direito, não precisa corromper. O fiscal não chega lá inventando a irregularidade."
Cidade carente
Os empresários da noite dizem que apesar do seu gigantismo, São Paulo tem poucas opções de espaços para shows. "Se for para um público de mais de 16 mil espectadores, você não encontra um lugar, estamos carentes", diz o empresário Luiz Eurico Klotz, que organiza o Skol Beats.
"É uma situação dramática porque as empresas querem investir em eventos e sabemos que a organização de shows atrai turismo e gera milhões para metrópoles de todo mundo. É urgente criar novos espaços, com metrô na porta". (ADRIANA FERREIRA SILVA, RAUL JUSTE LORES e THIAGO NEY)
Motomix quase repete cancelamentos de festas do Vegas, Manga Rosa e do hotel Unique; faltam espaços para grandes shows
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo virou uma cidade micada para shows e festas de rock e música eletrônica? A questão se escancarou com o quase cancelamento do festival Motomix, que trouxe o Franz Ferdinand no fim de semana.
Neste ano, foram canceladas em cima da hora as festas de aniversário de clubes badalados, como Vegas e Manga Rosa, e o festival eletrônico da Reebok no hotel Unique. E o Pacaembu não abrigou nenhum grande show desde que o Pearl Jam foi obrigado a tocar em plena luz do dia, em dezembro do ano passado.
Para empresários de shows e casas noturnas, conseguir um alvará é um processo lento e complicado e falta cooperação da prefeitura. Mais do que isso, eles dizem que São Paulo está sem locais para grandes shows.
Assim, eles responderam às críticas do secretário municipal das Subprefeituras da cidade de São Paulo, Andrea Matarazzo, que, em entrevista à Folha publicada ontem, os acusou de estarem "desacostumados" a seguirem as normas para obtenção de alvarás.
"Não pode sair interditando. Há muitas coisas que podem ser corrigidas de última hora. A Prefeitura poderia cooperar", diz Sérgio Ajzenberg, dono da Divina Comédia, empresa responsável pelo Motomix.
Segundo ele, a Polícia Militar fez a inspeção no Espaço das Américas na quinta de manhã, quando a tenda ainda não estava armada. "Se a inspeção fosse na sexta de manhã, eles veriam que não havia problema. Não dá para armar com tanta antecedência, o Espaço das Américas estava ocupado com outro evento antes." O evento aconteceu, mas sem a tenda.
A festa de primeiro aniversário do clube Vegas, que seria realizada em várias boates da rua Augusta em junho, foi outro evento cancelado na última hora. "Alegaram falta de segurança, mas esses clubes funcionam normalmente há 20 anos", diz Facundo Guerra, dono do Vegas.
Fernando Tibiriçá, do Manga Rosa, no Brooklin, também teve o aniversário do clube cancelado, em abril passado. "O evento seria em um galpão onde uma semana antes houve uma festa da FGV. Tivemos que mudar de última hora."
Para ele, há um "excesso" da prefeitura e também preconceito por se tratar de música eletrônica. "Se fosse axé, talvez não acontecesse nada."
Clubes sem alvará
Muitas discotecas da cidade, com alguns anos de existência, funcionam irregularmente. "A prefeitura leva muito tempo para analisar um pedido de alvará, tem casas que fecham depois de três anos de vida sem nunca ter obtido a permissão", critica Guerra, do Vegas.
"Estamos sempre sujeitos ao fechamento por algum motivo esotérico." Ele sugere uma "força-tarefa" para analisar as casas.
A Folha apurou que a situação irregular de funcionamento dos clubes, apenas com um protocolo de pedido de alvará, é propícia para a ação de fiscais corruptos -sem o alvará definitivo, seria mais fácil pedir propinas em uma blitz.
O secretário Andrea Matarazzo diz que se os donos das casas noturnas "fizessem direito", seguindo as normas, dificultaria a corrupção. "Eles não deveriam corromper os fiscais. Se tem o corrupto, alguém corrompeu. Se fizer direito, não precisa corromper. O fiscal não chega lá inventando a irregularidade."
Cidade carente
Os empresários da noite dizem que apesar do seu gigantismo, São Paulo tem poucas opções de espaços para shows. "Se for para um público de mais de 16 mil espectadores, você não encontra um lugar, estamos carentes", diz o empresário Luiz Eurico Klotz, que organiza o Skol Beats.
"É uma situação dramática porque as empresas querem investir em eventos e sabemos que a organização de shows atrai turismo e gera milhões para metrópoles de todo mundo. É urgente criar novos espaços, com metrô na porta". (ADRIANA FERREIRA SILVA, RAUL JUSTE LORES e THIAGO NEY)
MTV confirma Cicarelli no VMB após escândalo
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da Folha Online
As tórridas cenas do namoro entre a modelo e apresentadora Daniella Cicarelli, 26, e o empresário Renato Malzoni Filho, 33, conhecido como Tato, que viraram febre na internet nos últimos dias, em nada mudaram a situação da bela na MTV, emissora que na próxima semana (dia 28) leva ao ar o tradicional prêmio VMB 2006 (Video Music Brasil).
A partir desta quinta-feira (21), aliás, o público poderá escolher a roupa que Daniella Cicarelli vai vestir no encerramento do VMB. No site especial da premiação (www.mtv.com.br/vmb2006), os internautas votam na opção preferida de modelito no link "Vista a Cicarelli".
Também a partir desta quinta saem os cinco finalistas da nova categoria do prêmio, a "VC FEZ". O público fez sua versão de clipes que concorrem na categoria Escolha da Audiência, e o vencedor levará o troféu para casa.
Além de Cicarelli, comanda a apresentação Cazé Peçanha e Marcos Mion. No palco, tocam Caetano Veloso, Skank e Cachorro Grande, Pitty e Nação Zumbi, Charlie Brown Jr, CPM 22 e NXZero, Marcelo D2 e Mr. Catra e a banda americana Living Things.
A 12ª Edição do VMB será no Credicard Hall, em São Paulo, com transmissão ao vivo pela MTV a partir das 22h.
da Folha Online
As tórridas cenas do namoro entre a modelo e apresentadora Daniella Cicarelli, 26, e o empresário Renato Malzoni Filho, 33, conhecido como Tato, que viraram febre na internet nos últimos dias, em nada mudaram a situação da bela na MTV, emissora que na próxima semana (dia 28) leva ao ar o tradicional prêmio VMB 2006 (Video Music Brasil).
A partir desta quinta-feira (21), aliás, o público poderá escolher a roupa que Daniella Cicarelli vai vestir no encerramento do VMB. No site especial da premiação (www.mtv.com.br/vmb2006), os internautas votam na opção preferida de modelito no link "Vista a Cicarelli".
Também a partir desta quinta saem os cinco finalistas da nova categoria do prêmio, a "VC FEZ". O público fez sua versão de clipes que concorrem na categoria Escolha da Audiência, e o vencedor levará o troféu para casa.
Além de Cicarelli, comanda a apresentação Cazé Peçanha e Marcos Mion. No palco, tocam Caetano Veloso, Skank e Cachorro Grande, Pitty e Nação Zumbi, Charlie Brown Jr, CPM 22 e NXZero, Marcelo D2 e Mr. Catra e a banda americana Living Things.
A 12ª Edição do VMB será no Credicard Hall, em São Paulo, com transmissão ao vivo pela MTV a partir das 22h.
Casa Branca: comentários de Chávez não merecem uma resposta
Washington, 20 set (EFE).- A Casa Branca disse hoje que os comentários do presidente venezuelano, Hugo Chávez, durante seu discurso na 61ª Assembléia Geral da ONU "não merecem uma resposta".
Chávez chamou o presidente americano, George W. Bush, de "diabo".
Bush tinha saído de Nova York após se reunir com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com que encerrou sua participação na Assembléia Geral.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Fred Jones, afirmou que "essas palavras não merecem nenhum tipo de comentário".
Em seu discurso, Chávez pediu ao mundo que se levante contra as pretensões hegemônicas americanas que põem em perigo a sobrevivência do planeta e afirmou que a maior ameaça que paira sobre a Terra são as pretensões e estratégias imperialistas dos EUA.
"O diabo está em casa. Ontem o diabo veio aqui. Este lugar cheira a enxofre", disse Chávez, em referência à participação de Bush na Assembléia Geral.
Chávez chamou o presidente americano, George W. Bush, de "diabo".
Bush tinha saído de Nova York após se reunir com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com que encerrou sua participação na Assembléia Geral.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Fred Jones, afirmou que "essas palavras não merecem nenhum tipo de comentário".
Em seu discurso, Chávez pediu ao mundo que se levante contra as pretensões hegemônicas americanas que põem em perigo a sobrevivência do planeta e afirmou que a maior ameaça que paira sobre a Terra são as pretensões e estratégias imperialistas dos EUA.
"O diabo está em casa. Ontem o diabo veio aqui. Este lugar cheira a enxofre", disse Chávez, em referência à participação de Bush na Assembléia Geral.
Chávez rouba a cena com discurso anti-EUA na ONU
NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - Com um discurso duro e direto contra o sistema político dos Estados Unidos e seu presidente, George W. Bush, o líder venezuelano Hugo Chávez roubou a cena nesta quarta-feira ao falar na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Chávez, um militar aposentado que diz conduzir seu país para o "socialismo do século 21", começou seu discurso comentando o "cheiro de enxofre" deixado por Bush, a quem chama de "o diabo", no auditório, provocando risadas dos presentes.
"Que modelo de democracia é este, que se impõe graças a marines, invasões e bombas", disse Chávez, um crítico assíduo da política internacional da Casa Branca.
O mandatário, que acusa Washington de querer derrubá-lo, propôs trocar a estrutura da ONU para torná-la mais democrática, incluindo o Conselho de Segurança, onde espera obter uma cadeira não permanente no próximo mês.
O mandatário pediu para enfrentar "o imperialismo" de Washington. "Não podemos permitir que se instale a ditadura mundial, que ela se consolide", acrescentou o líder, que criticou as ações norte-americanas no Iraque e no Afeganistão e apóia o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear.
"Eles (EUA) querem impor o modelo democrático como o concebem, a falsa democracia das elites", disse.
"Como porta-voz do imperialismo, (Bush) tenta dar suas receitas para tratar de manter o atual esquema de dominação, de exploração e de saques dos povos do mundo", destacou o dirigente venezuelano sobre as palavras de seu colega norte-americano.
O líder esquerdista agradeceu os países que expressaram seu apoio à intenção da Venezuela para entrar no Conselho de Segurança. A nação sul-americana precisa de dois terços dos 192 votos para conseguir seu ingresso como membro não permanente do organismo, posto pelo qual compete com a Guatemala, que é apoiada pelos EUA.
Leia mais
Chávez, um militar aposentado que diz conduzir seu país para o "socialismo do século 21", começou seu discurso comentando o "cheiro de enxofre" deixado por Bush, a quem chama de "o diabo", no auditório, provocando risadas dos presentes.
"Que modelo de democracia é este, que se impõe graças a marines, invasões e bombas", disse Chávez, um crítico assíduo da política internacional da Casa Branca.
O mandatário, que acusa Washington de querer derrubá-lo, propôs trocar a estrutura da ONU para torná-la mais democrática, incluindo o Conselho de Segurança, onde espera obter uma cadeira não permanente no próximo mês.
O mandatário pediu para enfrentar "o imperialismo" de Washington. "Não podemos permitir que se instale a ditadura mundial, que ela se consolide", acrescentou o líder, que criticou as ações norte-americanas no Iraque e no Afeganistão e apóia o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear.
"Eles (EUA) querem impor o modelo democrático como o concebem, a falsa democracia das elites", disse.
"Como porta-voz do imperialismo, (Bush) tenta dar suas receitas para tratar de manter o atual esquema de dominação, de exploração e de saques dos povos do mundo", destacou o dirigente venezuelano sobre as palavras de seu colega norte-americano.
O líder esquerdista agradeceu os países que expressaram seu apoio à intenção da Venezuela para entrar no Conselho de Segurança. A nação sul-americana precisa de dois terços dos 192 votos para conseguir seu ingresso como membro não permanente do organismo, posto pelo qual compete com a Guatemala, que é apoiada pelos EUA.
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Para Benjamin, as "teses" não têm nenhum caráter definitivo, mas oferecem um balanço de pensamento
Seis teses sobre as "Teses"
Autômato jogador de xadrez construído
por von Kempelen e desenvolvido por
Johann Maetzel no séc. 19 que inspira
a 1° tese de Benjamin
Jeanne Marie Gagnebin
O texto de Walter Benjamin, "Sobre o conceito de História", também chamado de "Teses de filosofia da história", é bastante conhecido pelo público brasileiro. Por ocasião da publicação do livro de Michael Löwy ( Walter Benjamin: aviso de incêndio, Ed. Boitempo, São Paulo, 2005), que o comenta demoradamente, ganhou uma terceira tradução para o português. Gostaria, nesta pequena apresentação, de oferecer ao leitor alguns elementos de orientação nessas páginas ao mesmo tempo herméticas e fulgurantes.
I - Publicado pela primeira vez em 1942, em um número especial em homenagem a Benjamin da Revista do Instituto de Pesquisa Social, esse texto póstumo não tem versão definitiva. Existem vários manuscritos com número variável de teses. Essa situação reflete o fato de que Benjamin nunca cogitou publicá-lo tal qual quando o escreveu. Ele sabia muito bem que essas "teses" se prestariam a vários "malentendidos entusiasmados", como escreveu em uma carta a Gretel Adorno: esses malentendidos não tardaram a aparecer quando foi finalmente editado. Para Benjamin, as "teses" não têm nenhum caráter definitivo, não são um credo dogmático, mas oferecem, à ocasião, um balanço de pensamento e, mais ainda, umas "hipóteses" de pensamento, para não desesperar.
II - Para não desesperar numa situação de urgência política e histórica que representavam a vitória do nazismo na Alemanha e, mais especificamente, o pacto de não-agressão assinado entre Stalin e Hitler em agosto de 1939. Exilado em Paris desde 1933 como muitos outros refugiados alemães, judeus ou não, comunistas ou não, Benjamin se encontra, de repente, privado da esperança que podia significar a existência da União Soviética para os oponentes ao fascismo. Ademais, sua nacionalidade alemã o torna suspeito aos olhos das autoridades francesas, agora que a França declarou guerra à Alemanha. Benjamin chegou a ser internado em um "campo de trabalhadores voluntários" perto de Nevers, do qual só conseguiu sair graças à intervenção de amigos franceses. A redação das "teses" se dá provavelmente entre setembro de 1939 (início da Segunda Guerra) e abril de 1940 (construção do campo de concentração de Auschwitz), isto é, em um dos momentos mais negros da história européia. Portanto, não é um texto escrito na serenidade de um gabinete, mas em um quarto de exílio: ele pede aos leitores que não procurem por soluções ou respostas, mas que aceitem o fim de suas certezas sobre o curso da história e a formulações de questões novas, mesmo que continuem sem resposta.
III - Essas exigências peculiares talvez expliquem a recepção conturbada das "teses". Os primeiros leitores se dividiram em dois campos: aqueles que, seguindo a interpretação de B. Brecht, grande amigo de W. Benjamin, afirmaram que o texto representava uma crítica marxista autêntica às erranças da Social-democracia alemã e da Segunda Internacional Comunista na luta contra o fascismo, sem dar maior importância às "meras metáforas" teológicas e judaicas; o segundo campo, pelo contrário, seguia a interpretação de Gershom Scholem, outro grande amigo de Benjamin e famoso pesquisador da Cabala, que se apoiava na primeira "tese" (alegoria do autômato com o anão enxadrista e o boneco turco como representantes da teologia e do marxismo) para sustentar que Benjamin, decepcionado pelos políticos de esquerda, se voltava nesse texto às especulações místicas e teológicas para entender melhor o decorrer da história humana. Uma segunda recepção do texto foi efetuada pelos estudantes de 1968 e dos anos de 1970; apesar dos seus dogmatismos, essa segunda recepção insistia, a meu ver, com razão, na nova questão colocada por Benjamin, a saber: como pensar as lutas dos oprimidos e a resistência aos fascismos e totalitarismos de várias proveniências sem, por isso, cair naquilo que Benjamin chama de "ideologia do progresso" e que caracteriza, até hoje, muitos discursos de esquerda que partem do pressuposto (na origem iluminista, hoje mais ideológico-burguês) de que a história sempre avança em direção a um progresso tão certo quanto indefinido, progresso que os vários partidos de esquerda, por sua vez, pretendem encarnar
IV - Considerando o caráter de urgência da redação das "teses" e, igualmente, a conturbada história de sua recepção, gostaria de defender a seguinte hipótese: as dificuldades desse texto não provêm tanto da ousada imbricação de motivos teológicos e materialistas, mas muito mais da exigência de um pensamento simultaneamente teórico e político, que coloque uma questão historiográfica precisa - o que é a "verdadeira imagem do passado"? - e, ao mesmo tempo, uma questão política no presente - como instaurar "o verdadeiro estado de exceção", como lutar verdadeiramente contra o fascismo? Em outros termos, as questões historiográficas em relação à "articulação histórica do passado" são inseparáveis da posição tanto hermenêutica quanto política do historiador, daquele que escreve "para seu presente". Não se trata, então, de adquirir um conhecimento isento, dito objetivo, do passado, mas de articular passado e presente de tal maneira que ambos sejam transformados.
V - Nessa tentativa, Benjamin tem de criticar duas tradições opostas, mas, na sua análise, complementares: o historicismo burguês e o determinismo materialista vulgar (que ele não atribui ao próprio Marx, mas muito mais aos seus seguidores).
O historicismo é caracterizado, na esteira da Segunda Consideração Intempestiva de Nietzsche, pelo seu ideal de completude e pela sua cansativa erudição: toda história humana deveria ser objeto de uma descrição exaustiva, sem prejulgar da importância ou não dos elementos estudados. A escola histórica alemã entendia, com esse ideal de completude, criticar os pressupostos da História da Razão de Hegel, na qual grandes domínios do passado eram abandonados ao esquecimento porque não contariam para o desenvolvimento do Espírito. Benjamin concorda com essa crítica a Hegel e com esse cuidado pelo detalhe, pelo resto, pelos resquícios; sua preocupação, porém, não visa uma descrição exaustiva ( a priori impossível, mas que tem o mérito de garantir emprego aos historiadores de todo calibre!), mas uma história "a contrapelo": não aquela dos vencedores, mas aquela que poderia ter sido outra, que foi sufocada, mas deixou interrogações, lacunas, brancos que são tantos sinais de alteridade e de resistência; esses sinais, cabe ao presente, justamente, reconhecê-los e, quem sabe, retomá-los e assumir suas promessas de alteridade e de resistência na luta histórica e política atual. Essa relação do presente ao passado não pode, então, seguir os moldes da identificação afetiva ou empatia ( Einfühlung) com os grandes heróis do passado, tais quais são descritos pela história oficial; pelo contrário, deve desconstruir a narrativa ronronante da "história dos vencedores" e indicar outras possibilidades narrativas e históricas, silenciadas, esquecidas ou recalcadas. Essa busca de uma outra história possível leva Benjamin a lançar mão de paradigmas teóricos pouco usados até aí, a saber o paradigma psicanalítico de Freud e estético de Proust. Sem poder entrar em detalhes a respeito no quadro desse artigo, podemos, porém, ressaltar que tanto Freud quanto Proust procuram, justamente, por uma nova relação do presente com o passado, isto é, por uma nova definição da memória e da identidade subjetiva. Ao tentar transpor essas redefinições do domínio da subjetividade para o da história coletiva e do território estético para o político, Benjamin enfrenta grandes dificuldades, das quais é perfeitamente consciente, e que explicam também nossas dificuldades de leitores. Permanece, contudo, a questão de uma narrativa histórica que soubesse responder no presente às interpelações silenciadas do passado.
VI - Em relação à historiografia pretensamente materialista que, segundo Benjamin, presidiu à prática política da Social-democracia alemã da República de Weimar e, infelizmente, também da Segunda Internacional, ela também segue, como o modelo burguês-historicista que pretende combater, uma concepção de tempo histórico vazio, homogêneo e linear, em vez de ficar atenta aos vários ritmos e intermitências da temporalidade histórico-política. Se seu ideal não consiste em uma descrição exaustiva "do que de fato foi", é porque se entrega cegamente a uma fé no progresso (e no advento por assim dizer automático da revolução socialista) e a um determinismo econômico que deveriam garantir aos partidos em questão tanto uma representatividade de classe quanto uma vitória final. Ora, esse misto de fé no progresso e de determinismo acarreta uma incapacidade profunda de diagnóstico e de decisão políticos, condenando a prática dita de esquerda a uma reafirmação dogmática de seus princípios, em vez de inovar no campo da atualidade política. Paradoxalmente, poderíamos dizer que essa atitude segue os moldes da crença religiosa, mesmo que o materialismo possa parecer à primeira vista como uma crítica da religião. Defendo a hipótese que a presença de motivos teológicos e messiânicos no pensamento de Benjamin não tem por alvo defender uma aliança da religião e do socialismo (uma interpretação bastante em voga), mas, pelo contrário, quer solapar as certezas político-religiosas sobre o fim feliz da história da humanidade pelo ácido da reflexão teológica autêntica: a saber, uma reflexão que não procura responder às questões sem solução da humanidade (o mal, a dor, a morte), o que é a grande tentação da religião, mas que lembra sempre que nenhum discurso ( logos) humano pode realmente dizer Deus ( theos), que nenhum discurso humano pode pretender a um saber absoluto, em particular nenhum saber absoluto sobre o curso da história. Os motivos teológicos e messiânicos funcionariam como tantos elementos disruptivos cuja presença poderia, isso sim, sacudir as certezas dogmáticas do "materialismo histórico" (essa marionete meio rígida da primeira tese) e ajudá-lo a inventar novas jogadas de xadrez ou de luta política. Quanto ao anãozinho "teologia" da primeira tese ainda, ele tão pouco é uma figura triunfante, mas fica escondido em baixo da mesa: ambos comparsas são grotescos e ligeiramente ridículos, ambos devem se unir, porém, para vencer o inimigo comum.
O que advém depois desse inimigo ter sido vencido (não o foi ainda), nem o materialismo nem a teologia pode prevê-lo. Não nos cabe especular sobre isso, só nos cabe refletir sobre a invenção de novos meios nessa aliança e nessa luta.
TESE V
A verdadeira imagem do passado passa célere e furtiva. É somente como imagem que lampeja justamente no instante de sua recognoscibilidade, para nunca mais ser vista, que o passado tem de ser capturado. "A verdade não nos escapará" - essa frase de Gottfried Keller indica, na imagem que o Historicismo faz da história, exatamente o ponto em que ela é batida em brecha pelo materialismo histórico. Pois é uma imagem irrestituível do passado que ameaça desaparecer com cada presente que não se reconhece como nela visado.
("Sobre o conceito de História", in LÖWY, Michael. Walter Benjamin: Aviso de incêndio, São Paulo:Ed. Boitempo, 2005)
Jeanne Marie Gagnebin é professora de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade de Campinas (Unicamp). Autora de História e narração em Walter Benjamin (Perspectiva, 1999) e Sete aulas sobre linguaguem, memória e história (Imago, 1997)
Autômato jogador de xadrez construído
por von Kempelen e desenvolvido por
Johann Maetzel no séc. 19 que inspira
a 1° tese de Benjamin
Jeanne Marie Gagnebin
O texto de Walter Benjamin, "Sobre o conceito de História", também chamado de "Teses de filosofia da história", é bastante conhecido pelo público brasileiro. Por ocasião da publicação do livro de Michael Löwy ( Walter Benjamin: aviso de incêndio, Ed. Boitempo, São Paulo, 2005), que o comenta demoradamente, ganhou uma terceira tradução para o português. Gostaria, nesta pequena apresentação, de oferecer ao leitor alguns elementos de orientação nessas páginas ao mesmo tempo herméticas e fulgurantes.
I - Publicado pela primeira vez em 1942, em um número especial em homenagem a Benjamin da Revista do Instituto de Pesquisa Social, esse texto póstumo não tem versão definitiva. Existem vários manuscritos com número variável de teses. Essa situação reflete o fato de que Benjamin nunca cogitou publicá-lo tal qual quando o escreveu. Ele sabia muito bem que essas "teses" se prestariam a vários "malentendidos entusiasmados", como escreveu em uma carta a Gretel Adorno: esses malentendidos não tardaram a aparecer quando foi finalmente editado. Para Benjamin, as "teses" não têm nenhum caráter definitivo, não são um credo dogmático, mas oferecem, à ocasião, um balanço de pensamento e, mais ainda, umas "hipóteses" de pensamento, para não desesperar.
II - Para não desesperar numa situação de urgência política e histórica que representavam a vitória do nazismo na Alemanha e, mais especificamente, o pacto de não-agressão assinado entre Stalin e Hitler em agosto de 1939. Exilado em Paris desde 1933 como muitos outros refugiados alemães, judeus ou não, comunistas ou não, Benjamin se encontra, de repente, privado da esperança que podia significar a existência da União Soviética para os oponentes ao fascismo. Ademais, sua nacionalidade alemã o torna suspeito aos olhos das autoridades francesas, agora que a França declarou guerra à Alemanha. Benjamin chegou a ser internado em um "campo de trabalhadores voluntários" perto de Nevers, do qual só conseguiu sair graças à intervenção de amigos franceses. A redação das "teses" se dá provavelmente entre setembro de 1939 (início da Segunda Guerra) e abril de 1940 (construção do campo de concentração de Auschwitz), isto é, em um dos momentos mais negros da história européia. Portanto, não é um texto escrito na serenidade de um gabinete, mas em um quarto de exílio: ele pede aos leitores que não procurem por soluções ou respostas, mas que aceitem o fim de suas certezas sobre o curso da história e a formulações de questões novas, mesmo que continuem sem resposta.
III - Essas exigências peculiares talvez expliquem a recepção conturbada das "teses". Os primeiros leitores se dividiram em dois campos: aqueles que, seguindo a interpretação de B. Brecht, grande amigo de W. Benjamin, afirmaram que o texto representava uma crítica marxista autêntica às erranças da Social-democracia alemã e da Segunda Internacional Comunista na luta contra o fascismo, sem dar maior importância às "meras metáforas" teológicas e judaicas; o segundo campo, pelo contrário, seguia a interpretação de Gershom Scholem, outro grande amigo de Benjamin e famoso pesquisador da Cabala, que se apoiava na primeira "tese" (alegoria do autômato com o anão enxadrista e o boneco turco como representantes da teologia e do marxismo) para sustentar que Benjamin, decepcionado pelos políticos de esquerda, se voltava nesse texto às especulações místicas e teológicas para entender melhor o decorrer da história humana. Uma segunda recepção do texto foi efetuada pelos estudantes de 1968 e dos anos de 1970; apesar dos seus dogmatismos, essa segunda recepção insistia, a meu ver, com razão, na nova questão colocada por Benjamin, a saber: como pensar as lutas dos oprimidos e a resistência aos fascismos e totalitarismos de várias proveniências sem, por isso, cair naquilo que Benjamin chama de "ideologia do progresso" e que caracteriza, até hoje, muitos discursos de esquerda que partem do pressuposto (na origem iluminista, hoje mais ideológico-burguês) de que a história sempre avança em direção a um progresso tão certo quanto indefinido, progresso que os vários partidos de esquerda, por sua vez, pretendem encarnar
IV - Considerando o caráter de urgência da redação das "teses" e, igualmente, a conturbada história de sua recepção, gostaria de defender a seguinte hipótese: as dificuldades desse texto não provêm tanto da ousada imbricação de motivos teológicos e materialistas, mas muito mais da exigência de um pensamento simultaneamente teórico e político, que coloque uma questão historiográfica precisa - o que é a "verdadeira imagem do passado"? - e, ao mesmo tempo, uma questão política no presente - como instaurar "o verdadeiro estado de exceção", como lutar verdadeiramente contra o fascismo? Em outros termos, as questões historiográficas em relação à "articulação histórica do passado" são inseparáveis da posição tanto hermenêutica quanto política do historiador, daquele que escreve "para seu presente". Não se trata, então, de adquirir um conhecimento isento, dito objetivo, do passado, mas de articular passado e presente de tal maneira que ambos sejam transformados.
V - Nessa tentativa, Benjamin tem de criticar duas tradições opostas, mas, na sua análise, complementares: o historicismo burguês e o determinismo materialista vulgar (que ele não atribui ao próprio Marx, mas muito mais aos seus seguidores).
O historicismo é caracterizado, na esteira da Segunda Consideração Intempestiva de Nietzsche, pelo seu ideal de completude e pela sua cansativa erudição: toda história humana deveria ser objeto de uma descrição exaustiva, sem prejulgar da importância ou não dos elementos estudados. A escola histórica alemã entendia, com esse ideal de completude, criticar os pressupostos da História da Razão de Hegel, na qual grandes domínios do passado eram abandonados ao esquecimento porque não contariam para o desenvolvimento do Espírito. Benjamin concorda com essa crítica a Hegel e com esse cuidado pelo detalhe, pelo resto, pelos resquícios; sua preocupação, porém, não visa uma descrição exaustiva ( a priori impossível, mas que tem o mérito de garantir emprego aos historiadores de todo calibre!), mas uma história "a contrapelo": não aquela dos vencedores, mas aquela que poderia ter sido outra, que foi sufocada, mas deixou interrogações, lacunas, brancos que são tantos sinais de alteridade e de resistência; esses sinais, cabe ao presente, justamente, reconhecê-los e, quem sabe, retomá-los e assumir suas promessas de alteridade e de resistência na luta histórica e política atual. Essa relação do presente ao passado não pode, então, seguir os moldes da identificação afetiva ou empatia ( Einfühlung) com os grandes heróis do passado, tais quais são descritos pela história oficial; pelo contrário, deve desconstruir a narrativa ronronante da "história dos vencedores" e indicar outras possibilidades narrativas e históricas, silenciadas, esquecidas ou recalcadas. Essa busca de uma outra história possível leva Benjamin a lançar mão de paradigmas teóricos pouco usados até aí, a saber o paradigma psicanalítico de Freud e estético de Proust. Sem poder entrar em detalhes a respeito no quadro desse artigo, podemos, porém, ressaltar que tanto Freud quanto Proust procuram, justamente, por uma nova relação do presente com o passado, isto é, por uma nova definição da memória e da identidade subjetiva. Ao tentar transpor essas redefinições do domínio da subjetividade para o da história coletiva e do território estético para o político, Benjamin enfrenta grandes dificuldades, das quais é perfeitamente consciente, e que explicam também nossas dificuldades de leitores. Permanece, contudo, a questão de uma narrativa histórica que soubesse responder no presente às interpelações silenciadas do passado.
VI - Em relação à historiografia pretensamente materialista que, segundo Benjamin, presidiu à prática política da Social-democracia alemã da República de Weimar e, infelizmente, também da Segunda Internacional, ela também segue, como o modelo burguês-historicista que pretende combater, uma concepção de tempo histórico vazio, homogêneo e linear, em vez de ficar atenta aos vários ritmos e intermitências da temporalidade histórico-política. Se seu ideal não consiste em uma descrição exaustiva "do que de fato foi", é porque se entrega cegamente a uma fé no progresso (e no advento por assim dizer automático da revolução socialista) e a um determinismo econômico que deveriam garantir aos partidos em questão tanto uma representatividade de classe quanto uma vitória final. Ora, esse misto de fé no progresso e de determinismo acarreta uma incapacidade profunda de diagnóstico e de decisão políticos, condenando a prática dita de esquerda a uma reafirmação dogmática de seus princípios, em vez de inovar no campo da atualidade política. Paradoxalmente, poderíamos dizer que essa atitude segue os moldes da crença religiosa, mesmo que o materialismo possa parecer à primeira vista como uma crítica da religião. Defendo a hipótese que a presença de motivos teológicos e messiânicos no pensamento de Benjamin não tem por alvo defender uma aliança da religião e do socialismo (uma interpretação bastante em voga), mas, pelo contrário, quer solapar as certezas político-religiosas sobre o fim feliz da história da humanidade pelo ácido da reflexão teológica autêntica: a saber, uma reflexão que não procura responder às questões sem solução da humanidade (o mal, a dor, a morte), o que é a grande tentação da religião, mas que lembra sempre que nenhum discurso ( logos) humano pode realmente dizer Deus ( theos), que nenhum discurso humano pode pretender a um saber absoluto, em particular nenhum saber absoluto sobre o curso da história. Os motivos teológicos e messiânicos funcionariam como tantos elementos disruptivos cuja presença poderia, isso sim, sacudir as certezas dogmáticas do "materialismo histórico" (essa marionete meio rígida da primeira tese) e ajudá-lo a inventar novas jogadas de xadrez ou de luta política. Quanto ao anãozinho "teologia" da primeira tese ainda, ele tão pouco é uma figura triunfante, mas fica escondido em baixo da mesa: ambos comparsas são grotescos e ligeiramente ridículos, ambos devem se unir, porém, para vencer o inimigo comum.
O que advém depois desse inimigo ter sido vencido (não o foi ainda), nem o materialismo nem a teologia pode prevê-lo. Não nos cabe especular sobre isso, só nos cabe refletir sobre a invenção de novos meios nessa aliança e nessa luta.
TESE V
A verdadeira imagem do passado passa célere e furtiva. É somente como imagem que lampeja justamente no instante de sua recognoscibilidade, para nunca mais ser vista, que o passado tem de ser capturado. "A verdade não nos escapará" - essa frase de Gottfried Keller indica, na imagem que o Historicismo faz da história, exatamente o ponto em que ela é batida em brecha pelo materialismo histórico. Pois é uma imagem irrestituível do passado que ameaça desaparecer com cada presente que não se reconhece como nela visado.
("Sobre o conceito de História", in LÖWY, Michael. Walter Benjamin: Aviso de incêndio, São Paulo:Ed. Boitempo, 2005)
Jeanne Marie Gagnebin é professora de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade de Campinas (Unicamp). Autora de História e narração em Walter Benjamin (Perspectiva, 1999) e Sete aulas sobre linguaguem, memória e história (Imago, 1997)
terça-feira, setembro 19, 2006
Secretário ataca organização de shows
Andrea Matarazzo diz que empresários estão desacostumados a cumprir normas e que Motomix quis criar fato consumado
Prefeitura diz que evento previsto para acontecer só no sábado "era inseguro como estava", mas que teve que acatar decisão judicial
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário municipal das Subprefeituras da cidade de São Paulo, Andrea Matarazzo, fez críticas aos empresários responsáveis pela organização de shows. Em sua opinião eles "estão desacostumados a seguir as normas legais e procurar alvará a tempo".
Matarazzo defendeu a decisão da Prefeitura de São Paulo de anunciar o cancelamento do festival Motomix na sexta-feira. Disse que os organizadores não cumpriram as exigências e que a suspensão dos shows era a decisão acertada. Mas uma liminar obtida na Justiça permitiu que o festival, previsto para acontecer no sábado, no Espaço da Américas, fosse realizado em dois dias -no sábado e no domingo.
Na opinião de Matarazzo, organizadores do Motomix tentaram criar um "fato consumado" ao entregar os documentos exigidos para a obtenção de alvará na última hora. "É uma forma de gastar menos. Fazem do jeito que querem, sem alvará nem nada", atacou o secretário.
Segundo Matarazzo, a prefeitura "sempre foi omissa em cobrar responsabilidades", por isso muitos fazem eventos sem pedir o alvará necessário.
Questionado pela Folha como um evento considerado inseguro virou seguro em questão de horas, ele respondeu que a responsabilidade é da Justiça. "Era inseguro como estava. O juiz deu uma decisão. O Contru foi lá e olhou, viu que era inseguro. Se o juiz determinou que se faça, o que se pode fazer? A Justiça deu uma determinação para tirar a lona, aí tudo bem, fizemos a nossa parte."
Sobre o cancelamento das atividades do Motomix no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), previstas para quinta e sexta-feira, o secretário disse que o museu não tem estrutura de estacionamento, rotas de fuga e que fica localizado em um bairro residencial. "Não pode ter música alta lá."
A confusão esvaziou a segunda parte do evento, que, no domingo, recebeu menos da metade das 7.700 pessoas que, segundo a organização, foram ao show da banda Franz Ferdinand no sábado.
Questionada pela reportagem, no domingo, a organização do festival disse que não falaria sobre os problemas que ocorreram.
(RAUL JUSTE LORES E THIAGO NEY)
Prefeitura diz que evento previsto para acontecer só no sábado "era inseguro como estava", mas que teve que acatar decisão judicial
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário municipal das Subprefeituras da cidade de São Paulo, Andrea Matarazzo, fez críticas aos empresários responsáveis pela organização de shows. Em sua opinião eles "estão desacostumados a seguir as normas legais e procurar alvará a tempo".
Matarazzo defendeu a decisão da Prefeitura de São Paulo de anunciar o cancelamento do festival Motomix na sexta-feira. Disse que os organizadores não cumpriram as exigências e que a suspensão dos shows era a decisão acertada. Mas uma liminar obtida na Justiça permitiu que o festival, previsto para acontecer no sábado, no Espaço da Américas, fosse realizado em dois dias -no sábado e no domingo.
Na opinião de Matarazzo, organizadores do Motomix tentaram criar um "fato consumado" ao entregar os documentos exigidos para a obtenção de alvará na última hora. "É uma forma de gastar menos. Fazem do jeito que querem, sem alvará nem nada", atacou o secretário.
Segundo Matarazzo, a prefeitura "sempre foi omissa em cobrar responsabilidades", por isso muitos fazem eventos sem pedir o alvará necessário.
Questionado pela Folha como um evento considerado inseguro virou seguro em questão de horas, ele respondeu que a responsabilidade é da Justiça. "Era inseguro como estava. O juiz deu uma decisão. O Contru foi lá e olhou, viu que era inseguro. Se o juiz determinou que se faça, o que se pode fazer? A Justiça deu uma determinação para tirar a lona, aí tudo bem, fizemos a nossa parte."
Sobre o cancelamento das atividades do Motomix no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), previstas para quinta e sexta-feira, o secretário disse que o museu não tem estrutura de estacionamento, rotas de fuga e que fica localizado em um bairro residencial. "Não pode ter música alta lá."
A confusão esvaziou a segunda parte do evento, que, no domingo, recebeu menos da metade das 7.700 pessoas que, segundo a organização, foram ao show da banda Franz Ferdinand no sábado.
Questionada pela reportagem, no domingo, a organização do festival disse que não falaria sobre os problemas que ocorreram.
(RAUL JUSTE LORES E THIAGO NEY)
Empregado é demitido por colocar urina no café
Fonte: INVERTIA
Um carteiro americano foi demitido de seu emprego e será julgado no Estado de Ohio sob a acusação de contaminar seus colegas de trabalho colocando urina no café.
Thomas Shaheen admitiu na segunda-feira ter colocado urina no café da agência dos correios de Wolf Ledges. Ele foi condenado a seis meses de prisão e terá de prestar serviço à comunidade.
O homem também foi condenado a pagar US$ 1,2 mil a cada um de seus colegas. Funcionários que estavam desconfiados dele colocaram uma câmera de vídeo para flagrá-lo contaminando a bebida.
Shaheen declarou, durante o julgamento, que sentia muito pelo ocorrido. "Eu só queria dizer que sinto muito. Eu não sei o que deu em mim. Espero que vocês encontrem um lugar no coração para me perdoar. Eu só queria que minha vida começasse de novo", disse, segundo informações da rede Local6.
"Ele assistiu a todos os colegas bebendo o café, em torno de 20 pessoas. Ele assistiu tudo sentado na mesma cozinha", disse o carteiro Jene Jackson.
Segundo os funcionários, Shaheen colocou urina na bebida diversas vezes em um período de quatro a seis meses. Alguns afirmam que o homem tinha inveja de alguns empregados que, segundo ele, tinham privilégios no emprego.
Um carteiro americano foi demitido de seu emprego e será julgado no Estado de Ohio sob a acusação de contaminar seus colegas de trabalho colocando urina no café.
Thomas Shaheen admitiu na segunda-feira ter colocado urina no café da agência dos correios de Wolf Ledges. Ele foi condenado a seis meses de prisão e terá de prestar serviço à comunidade.
O homem também foi condenado a pagar US$ 1,2 mil a cada um de seus colegas. Funcionários que estavam desconfiados dele colocaram uma câmera de vídeo para flagrá-lo contaminando a bebida.
Shaheen declarou, durante o julgamento, que sentia muito pelo ocorrido. "Eu só queria dizer que sinto muito. Eu não sei o que deu em mim. Espero que vocês encontrem um lugar no coração para me perdoar. Eu só queria que minha vida começasse de novo", disse, segundo informações da rede Local6.
"Ele assistiu a todos os colegas bebendo o café, em torno de 20 pessoas. Ele assistiu tudo sentado na mesma cozinha", disse o carteiro Jene Jackson.
Segundo os funcionários, Shaheen colocou urina na bebida diversas vezes em um período de quatro a seis meses. Alguns afirmam que o homem tinha inveja de alguns empregados que, segundo ele, tinham privilégios no emprego.
Polícia suspeita que idosas fizeram pacto suicida no Japão
Duas irmãs de mais de 80 anos e a filha de uma delas foram encontradas mortas em sua casa na província de Yamagata, no nordeste do Japão, e as autoridades suspeitam que elas tenham feito um pacto suicida, segundo a agência "Kyodo".
Masako Hongo, de 89 anos, sua filha Ritsuko, de 60 anos, e sua irmã Chizuru, de 88, foram encontradas por um parente, que informou a Polícia.
As duas irmãs estavam deitadas na cama e Ritsuko tinha se enforcado. As três mulheres viviam sozinhas na casa.
O Japão tem o maior índice de suicídios ao ano entre os países industrializados, com 24,1 casos para cada 100 mil habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No ano passado, 32.552 pessoas se suicidaram no país, 0,7% a mais que em 2004.
Masako Hongo, de 89 anos, sua filha Ritsuko, de 60 anos, e sua irmã Chizuru, de 88, foram encontradas por um parente, que informou a Polícia.
As duas irmãs estavam deitadas na cama e Ritsuko tinha se enforcado. As três mulheres viviam sozinhas na casa.
O Japão tem o maior índice de suicídios ao ano entre os países industrializados, com 24,1 casos para cada 100 mil habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No ano passado, 32.552 pessoas se suicidaram no país, 0,7% a mais que em 2004.
Ouvir vozes na cabeça pode ser normal, diz estudo
da BBC, em Londres
Ouvir vozes na cabeça, interrompendo seus pensamentos, é tão comum que é considerado normal, segundo psicólogos.
Uma pesquisa realizada na Holanda sugere que uma em 25 pessoas ouve vozes regularmente.
E pesquisadores britânicos na Universidade de Manchester afirmam que, ao contrário da crença tradicional, ouvir vozes não é necessariamente um sintoma de doença mental.
Ouvir vozes na cabeça, interrompendo seus pensamentos, é tão comum que é considerado normal, segundo psicólogos.
Uma pesquisa realizada na Holanda sugere que uma em 25 pessoas ouve vozes regularmente.
E pesquisadores britânicos na Universidade de Manchester afirmam que, ao contrário da crença tradicional, ouvir vozes não é necessariamente um sintoma de doença mental.
Willie Nelson é acusado de posse de drogas
NOVA ORLEANS (Reuters) - O cantor e compositor country Willie Nelson e vários músicos que trabalham com ele foram acusados pela polícia da Louisiana de posse de drogas, depois de ter encontrado maconha e cogumelos alucinógenos em uma revista feita na segunda-feira no ônibus que usavam na turnê.
O porta-voz da polícia estadual Willie Williams disse que a polícia parou o ônibus na madrugada da segunda-feira a cerca de 12 quilômetros a oeste de Lafayette, Louisiana, para uma inspeção de rotina, e que um policial sentiu o cheiro de maconha no veículo.
A polícia apreendeu cerca de 0,7 quilo de maconha e 91 gramas de cogumelos do ônibus.
Willie Nelson e quatro outros passageiros do ônibus foram acusados de posse de drogas e libertados. O motorista do ônibus teve sua licença de conduzir veículo comercial suspensa, além de ser acusado de posse de drogas.
Willie Nelson enfrenta uma possível sentença de até 6 meses de prisão, além de multa de valor não especificado, disse a polícia.
"Não houve problema de nenhuma espécie", disse Willie Williams. "Todos cooperaram com a polícia."
Uma representante de Willie Nelson disse não ter informações sobre a prisão.
Willie Nelson tem 73 anos e é defensor da legalização da maconha. Ele ficou famoso na década de 1970 como integrante do movimento country "fora da lei", que incluía influências do rock, jazz e da música folk.
O porta-voz da polícia estadual Willie Williams disse que a polícia parou o ônibus na madrugada da segunda-feira a cerca de 12 quilômetros a oeste de Lafayette, Louisiana, para uma inspeção de rotina, e que um policial sentiu o cheiro de maconha no veículo.
A polícia apreendeu cerca de 0,7 quilo de maconha e 91 gramas de cogumelos do ônibus.
Willie Nelson e quatro outros passageiros do ônibus foram acusados de posse de drogas e libertados. O motorista do ônibus teve sua licença de conduzir veículo comercial suspensa, além de ser acusado de posse de drogas.
Willie Nelson enfrenta uma possível sentença de até 6 meses de prisão, além de multa de valor não especificado, disse a polícia.
"Não houve problema de nenhuma espécie", disse Willie Williams. "Todos cooperaram com a polícia."
Uma representante de Willie Nelson disse não ter informações sobre a prisão.
Willie Nelson tem 73 anos e é defensor da legalização da maconha. Ele ficou famoso na década de 1970 como integrante do movimento country "fora da lei", que incluía influências do rock, jazz e da música folk.
segunda-feira, setembro 18, 2006
Um grupo de 35 pessoas sofreu queimaduras de primeiro e segundo graus nos pés depois de caminhar sobre brasa durante um curso de neurolingüística, na tarde de anteontem, em Campinas. O curso foi realizado no Hotel Premium Norte, no distrito Nova Aparecida, e ministrado pelo empresário Wagner Dias Barbosa Lima, de 36 anos, de São Paulo. Os feridos foram atendidos por uma empresa particular de ambulâncias, contratada pelo hotel, e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Todos foram liberados após o socorro. Cerca de 30 casais participaram do evento.
Segundo o boletim de ocorrência registrado no 4 Distrito Policial (DP), Lima declarou aos policiais ser instrutor de cursos de casais e que uma das etapas do treinamento era os casais andarem sobre brasas. Apesar do incidente, nenhuma vítima representou contra o empresário. Apenas um participante, Fernando Marcelo Aragão, de São Paulo, compareceu ao DP, mas não quis fazer a representação, segundo a polícia. O grupo, no entanto, tem o prazo legal de seis meses para prestar queixa contra o responsável pelo evento.
De acordo com o Samu, os feridos foram atendidos no saguão do hotel. "Todos gritavam muito de dor. Estavam sentadas no chão e se arrastavam. Foi uma cena muito impressionante", disse um dos profissionais que participaram do atendimento médico. Segundo os especialistas, as queimaduras de primeiro grau são leves, deixam um vermelhão e provocam dores. Já as queimaduras de segundo grau são aquelas que formam bolhas, com queimaduras de primeiro grau ao redor. "Alguns pacientes precisaram receber medicação na veia", completou o profissional.
Os responsáveis pelo atendimento médico ressaltaram que não havia kits de primeiros socorros no local do treinamento e que, após medicados, as vítimas evitaram falar sobre o assunto.
A reportagem da Agência Anhangüera de Notícias (AAN) conversou rapidamente por telefone na tarde de ontem com dois participantes do evento, ambos de São Paulo, e eles minimizaram o incidente.
"Passei sobre as brasas com o meu marido e nada me aconteceu. Pelo o que eu sei, apenas duas ou três mulheres tiveram queimaduras nos pés porque ficaram muito nervosas quando passaram", disse Neide, mulher de Aragão, que não foi localizado pela reportagem. Samuel Andrade Guimarães também disse que passou sobre as brasas com a mulher e que não sofreram qualquer tipo de ferimento. "É melhor você conversar com o Wagner Dias (Barbosa Lima), que ministrou o curso", afirmou.
A reportagem tentou contato com Lima em três números de telefone, mas não conseguiu localizá-lo. A gerência do Hotel Premium Norte também foi procurada, mas também não foi localizada. Assim como Lima, nenhum representante do hotel havia retornado as ligações da reportagem até o fechamento desta edição.
Wagner Dias Barbosa Lima é autor de dois livros Quem você pensa que é? e Nada na vida é por acaso. De acordo com o site do empresário, a primeira publicação apresenta metáforas que ilustram temas que compõem a identidade, a origem das crenças, a continuidade dos hábitos e incentiva o leitor a realizar as mudanças que julga necessárias, além de fazer refletir "sobre o amor, sobre a fé, o perdão e sobre o poder dos nossos sonhos". Na segunda publicação, o empresário usa como analogia a vida dos espermatozóides e a luta pela fecundação para mostrar como "a fé e a determinação, coragem e liberdade para escolher são fatores decisivos para a realização dos sonhos."
Segundo o boletim de ocorrência registrado no 4 Distrito Policial (DP), Lima declarou aos policiais ser instrutor de cursos de casais e que uma das etapas do treinamento era os casais andarem sobre brasas. Apesar do incidente, nenhuma vítima representou contra o empresário. Apenas um participante, Fernando Marcelo Aragão, de São Paulo, compareceu ao DP, mas não quis fazer a representação, segundo a polícia. O grupo, no entanto, tem o prazo legal de seis meses para prestar queixa contra o responsável pelo evento.
De acordo com o Samu, os feridos foram atendidos no saguão do hotel. "Todos gritavam muito de dor. Estavam sentadas no chão e se arrastavam. Foi uma cena muito impressionante", disse um dos profissionais que participaram do atendimento médico. Segundo os especialistas, as queimaduras de primeiro grau são leves, deixam um vermelhão e provocam dores. Já as queimaduras de segundo grau são aquelas que formam bolhas, com queimaduras de primeiro grau ao redor. "Alguns pacientes precisaram receber medicação na veia", completou o profissional.
Os responsáveis pelo atendimento médico ressaltaram que não havia kits de primeiros socorros no local do treinamento e que, após medicados, as vítimas evitaram falar sobre o assunto.
A reportagem da Agência Anhangüera de Notícias (AAN) conversou rapidamente por telefone na tarde de ontem com dois participantes do evento, ambos de São Paulo, e eles minimizaram o incidente.
"Passei sobre as brasas com o meu marido e nada me aconteceu. Pelo o que eu sei, apenas duas ou três mulheres tiveram queimaduras nos pés porque ficaram muito nervosas quando passaram", disse Neide, mulher de Aragão, que não foi localizado pela reportagem. Samuel Andrade Guimarães também disse que passou sobre as brasas com a mulher e que não sofreram qualquer tipo de ferimento. "É melhor você conversar com o Wagner Dias (Barbosa Lima), que ministrou o curso", afirmou.
A reportagem tentou contato com Lima em três números de telefone, mas não conseguiu localizá-lo. A gerência do Hotel Premium Norte também foi procurada, mas também não foi localizada. Assim como Lima, nenhum representante do hotel havia retornado as ligações da reportagem até o fechamento desta edição.
Wagner Dias Barbosa Lima é autor de dois livros Quem você pensa que é? e Nada na vida é por acaso. De acordo com o site do empresário, a primeira publicação apresenta metáforas que ilustram temas que compõem a identidade, a origem das crenças, a continuidade dos hábitos e incentiva o leitor a realizar as mudanças que julga necessárias, além de fazer refletir "sobre o amor, sobre a fé, o perdão e sobre o poder dos nossos sonhos". Na segunda publicação, o empresário usa como analogia a vida dos espermatozóides e a luta pela fecundação para mostrar como "a fé e a determinação, coragem e liberdade para escolher são fatores decisivos para a realização dos sonhos."
quinta-feira, setembro 14, 2006
Maestro rechaça acusações do pianista Ilan Rechtman
MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo
O maestro John Neschling refuta que o pianista Ilan Rechtman seja o autor do tema musical do programa "Roda Viva": "Nego veementemente a afirmação e confirmo que sou o único compositor do tema em questão", escreveu em e-mail.
O maestro diz ainda que é "absolutamente improcedente" a afirmação de Rechtman, segundo a qual recebeu a direção do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos como uma espécie de compensação por não ter sido pago pelo tema de "Roda Viva".
A direção executiva da Fundação Osesp refuta a afirmação de que falta transparência na aplicação dos R$ 2,3 milhões gastos no concurso de piano. De acordo com a diretoria, o concurso tinha autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 2.151.980,91 e conseguiu R$ 1.418.000.
"Todo o montante foi despendido exclusivamente no concurso e a devida prestação de contas do projeto está em fase de finalização e será encaminhada, como determina a lei, ao Ministério da Cultura dentro do prazo por ela estipulado. Fica claro que não existe caixa-preta alguma, ao contrário, a transparência é total", diz o texto enviado à Folha.
A Fundação Osesp informa em nota que nenhum músico da orquestra foi obrigado a assinar documentos em branco, como afirma Rechtman.
Não há clima de medo entre os músicos nem o maestro tem "poderes ditatoriais" sobre a orquestra, segundo a nota. A fundação enviou cartas de apoio a Neschling enviadas por lideranças da orquestra à diretoria em 30 de agosto último.
Não há privilégio a um único agente europeu, de acordo com a fundação. "Prova disso é que nas temporadas 2005, 2006 e 2007 foram convidados 243 artistas através de 50 agentes diferentes", assinala a nota.
A fundação também nega que os CDs gravados pelo selo Bis teriam sido pagos com recursos públicos, mas o lucro teria ficado com a empresa sueca. A diretoria da fundação diz que irá processar Rechtman por conta de suas declarações.
da Folha de S.Paulo
O maestro John Neschling refuta que o pianista Ilan Rechtman seja o autor do tema musical do programa "Roda Viva": "Nego veementemente a afirmação e confirmo que sou o único compositor do tema em questão", escreveu em e-mail.
O maestro diz ainda que é "absolutamente improcedente" a afirmação de Rechtman, segundo a qual recebeu a direção do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos como uma espécie de compensação por não ter sido pago pelo tema de "Roda Viva".
A direção executiva da Fundação Osesp refuta a afirmação de que falta transparência na aplicação dos R$ 2,3 milhões gastos no concurso de piano. De acordo com a diretoria, o concurso tinha autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 2.151.980,91 e conseguiu R$ 1.418.000.
"Todo o montante foi despendido exclusivamente no concurso e a devida prestação de contas do projeto está em fase de finalização e será encaminhada, como determina a lei, ao Ministério da Cultura dentro do prazo por ela estipulado. Fica claro que não existe caixa-preta alguma, ao contrário, a transparência é total", diz o texto enviado à Folha.
A Fundação Osesp informa em nota que nenhum músico da orquestra foi obrigado a assinar documentos em branco, como afirma Rechtman.
Não há clima de medo entre os músicos nem o maestro tem "poderes ditatoriais" sobre a orquestra, segundo a nota. A fundação enviou cartas de apoio a Neschling enviadas por lideranças da orquestra à diretoria em 30 de agosto último.
Não há privilégio a um único agente europeu, de acordo com a fundação. "Prova disso é que nas temporadas 2005, 2006 e 2007 foram convidados 243 artistas através de 50 agentes diferentes", assinala a nota.
A fundação também nega que os CDs gravados pelo selo Bis teriam sido pagos com recursos públicos, mas o lucro teria ficado com a empresa sueca. A diretoria da fundação diz que irá processar Rechtman por conta de suas declarações.
Pianista acusa maestro John Neschling de furtar música
MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo
O maestro John Neschling e o pianista Ilan Rechtman eram tão próximos que compuseram duas músicas a quatro mãos --as trilhas do filme "Desmundo" e da novela "Esperança".
Agora, Rechtman revela que compôs pelo menos uma música que Neschling diz ter feito sozinho: a do programa "Roda Viva", da TV Cultura. "Escrevi a música sozinho, mas Neschling apresentou-a à TV Cultura como se fosse dele", diz à Folha.
Inimigo do maestro desde que foi demitido da direção do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos, em abril, o pianista, que admitiu ter adulterado a nota de um jurado, começa a revelar os bastidores da mais importante orquestra brasileira, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Diz que a Osesp não é transparente e que orquestras com um orçamento anual similar (R$ 57 milhões) pagam o dobro a seus músicos.
Rechtman, 43, um israelense que já tocou com a Orquestra de Londres, trabalhou com o celista Yo-Yo Ma e já teve composições regidas por Zubin Mehta, conta que os CDs da Osesp, gravados pelo selo Bis, são pagos com dinheiro público, mas o lucro da venda fica para a empresa sueca.
Folha - Que tipo de relação o sr. tinha com John Neschling?
Ilan Reichtman - Conheço John Neschling há quase cinco anos. Tivemos uma relação tanto pessoal quanto profissional. Escrevemos juntos a trilha para o filme "Desmundo" e a música da novela "Esperança". Iniciei uma série de concertos de música de câmara na Sala São Paulo que tem sido um sucesso nesses últimos anos.
Folha - Como o sr. foi escolhido para ser o diretor do concurso?
Ilan Reichtman - Comecei a trabalhar no concurso de piano em abril de 2005. Seis meses antes Neschling me pediu que escrevesse a música de abertura do programa "Roda Viva", o que fiz, mas nessa época ele evitou me pagar ou até me dar créditos. Escrevi a música sozinho no estúdio da minha casa, mas Neschling apresentou-a à TV Cultura como se fosse dele.
Apesar de vários pedidos meus, ele nunca me deu crédito nem me compensou por isso. Em março de 2005, eu o encontrei para almoçar e toquei no assunto e também disse a ele que iria começar uma nova série de música de câmara fora da Sala São Paulo. Ele não gostou da idéia, pois provavelmente sentiu que essa nova série competiria com aquela que eu dirigia na Sala São Paulo. Ele me pediu para esperar duas semanas.
Quando achei que iria me compensar pelo trabalho do "Roda Viva", ele me ofereceu o cargo de diretor do concurso. Disse que eu tinha três horas para pensar na proposta. Aceitei porque me envolvi em concursos internacionais por mais de 20 anos como candidato e júri.
Folha - Por que o sr. não processou Neschling por essa música?
Reichtman - Não o processei porque ele me deu a direção do concurso. Não me sentia à vontade para processá-lo. Nem sei se o farei agora. O problema é que minha mulher trabalha como violoncelista da Osesp. Mesmo sem um processo judicial, as coisas estão ficando muito desconfortáveis para ela.
Folha - Um orçamento de R$ 2,3 milhões não é alto para um concurso internacional de piano?
Reichtman - Claro que é. Neste ano foram realizados 300 concursos internacionais de piano, e o da Osesp é provavelmente o mais caro. Não entendo para onde foi esse dinheiro. Quando comecei a trabalhar no concurso, me disseram que eu tinha US$ 100 mil para a publicidade internacional. Logo depois, um novo administrador disse que eram US$ 25 mil. Cerca de US$ 70 mil foram reservados para publicidade local, mas parece não terem sido usados. Quando pedi um telefone para fazer ligações para fora do Brasil, levou quase um ano.
Fiz todas as ligações internacionais do concurso de minha casa. Nunca me deram um escritório. Levou dez meses para me darem uma mesa. Quando pedi um armário para colocar os formulários dos candidatos, eles me disseram que não poderia tê-lo. Acho que o público deveria saber como o dinheiro foi gasto.
Folha - Por que o sr. foi demitido?
Reichtman - Não fui demitido por causa da minha moral, como Neschling disse. Não há nada de errado com minha moral e, se houvesse, ele deveria saber disso há muito tempo, bem antes de me contratar. Também não fui demitido porque desconsiderei algumas avaliações de Gilberto Tinetti. Escrevi para o Neschling sobre as avaliações de Tinetti só depois que de ter sido afastado. Neschling me demitiu pelo mesmo motivo que demitiu o maestro Roberto Minczuk: por ciúmes e medo de perder o controle. O concurso começou a ficar muito importante.
Folha - Não é exagero ver ciúmes em alguém com a fama do maestro?
Reichtman - O público brasileiro não sabe, mas Neschling nunca regeu nenhuma orquestra internacional de importância. Ele nunca foi convidado para reger as filarmônicas de Viena, Nova York ou Londres. As orquestras que Neschling dirigiu antes da Osesp são de cidades muito pequenas. Saint Galle [Suíça], onde esteve por sete anos antes de vir para São Paulo, tem 60 mil habitantes. Nenhuma tinha importância no cenário mundial. Os moradores de São Paulo não percebem que gastam muito dinheiro com a orquestra, mas não têm o retorno proporcional.
Folha - Como assim?
Reichtman - As sinfônicas de Detroit ou Baltimore têm um orçamento similar ao da Osesp, mas os regentes convidados são muito mais famosos que os convidados daqui e mais caros.
Folha - Por que a Osesp não convida regentes mais famosos?
Reichtman - Talvez porque Neschling não queira que você se acostume a ouvir regentes melhores do que ele. Mas tem outra coisa que realmente levanta algumas questões. Os salários dos músicos das sinfônicas de Detroit ou Baltimore são o dobro dos músicos da Osesp. Os músicos em Detroit e Baltimore recebem planos de aposentadoria, coisa que não acontece na Osesp. Quando você compara esses números, tem de se perguntar: para onde vai o dinheiro da Osesp? Ninguém quer saber por quem são indicados os regentes e solistas convidados. Se tivessem visto, saberiam que muitos deles são indicados pelo mesmo agente europeu que é o agente pessoal de Neschling. Isso é justo? Os políticos parecem confiar cegamente em Neschling. O grande talento do maestro é convencer os brasileiros de que eles estão recebendo um ótimo retorno de seu investimento. Existe dinheiro suficiente para convidar os melhores regentes internacionais, como Daniel Barenboim e Kurt Mazur. Dar R$ 57 milhões e todo o controle a única pessoa é absurdo.
Folha - É normal um maestro ter poderes sobre o orçamento e os músicos, como ocorre com Neschling?
Reichtman - Não. Neschling tem poderes ditatoriais, algo que não existe em nenhuma sinfônica com esse orçamento. Alguns anos atrás ele demitiu sete músicos concursados da Osesp sem dar-lhes qualquer tipo de compensação. Nos últimos três anos ele demitiu quatro diretores-gerais, demitiu seu parceiro, o Roberto Minczuk. Neschling tem mais poder que o grande Toscanini teve antes da era Mussolini. Isso causa muito estrago aqui.
Folha - Que tipo de estrago?
Reichtman - Há alguns dias, os músicos da Osesp me disseram que tiveram de assinar um papel em branco. Nenhum músico ousou protestar. O apoio unânime dos músicos a Neschling tem o mesmo valor que as eleições em que Saddam Hussein recebia 98% dos votos. Todos apóiam por medo. Nenhuma outra orquestra permitiria tal conduta, mas aqui ninguém protesta. Obviamente, esse tipo de medo faz com que os músicos não toquem bem.
Folha - Não é impressionante a Osesp ter 10 mil assinantes?
Reichtman - É muito pouco para uma cidade de 10 milhões de habitantes. Os fundos gerados pelas assinaturas cobrem menos de 15% do orçamento. Em Tel Aviv, a Filarmônica de Israel recebe a metade do orçamento da Osesp, mas tem 15 mil assinantes e consegue muitos mais artistas e regentes importantes como convidados. Tel Aviv é 20 vezes menor que São Paulo. Quando a Filarmônica de Israel faz turnê, a maioria de suas despesas são pagas por aqueles que convidam. Quando a Osesp viaja, é o Estado de São Paulo que paga a conta, não as ricas platéias estrangeiras. Quando a Osesp grava um CD por um selo sueco chamado Bis, o contribuinte paga por isso também. O custo disso é enorme e o lucro com as vendas não cobre nem 5% do custo. E quem fica o lucro? A companhia sueca, não São Paulo.
da Folha de S.Paulo
O maestro John Neschling e o pianista Ilan Rechtman eram tão próximos que compuseram duas músicas a quatro mãos --as trilhas do filme "Desmundo" e da novela "Esperança".
Agora, Rechtman revela que compôs pelo menos uma música que Neschling diz ter feito sozinho: a do programa "Roda Viva", da TV Cultura. "Escrevi a música sozinho, mas Neschling apresentou-a à TV Cultura como se fosse dele", diz à Folha.
Inimigo do maestro desde que foi demitido da direção do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos, em abril, o pianista, que admitiu ter adulterado a nota de um jurado, começa a revelar os bastidores da mais importante orquestra brasileira, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Diz que a Osesp não é transparente e que orquestras com um orçamento anual similar (R$ 57 milhões) pagam o dobro a seus músicos.
Rechtman, 43, um israelense que já tocou com a Orquestra de Londres, trabalhou com o celista Yo-Yo Ma e já teve composições regidas por Zubin Mehta, conta que os CDs da Osesp, gravados pelo selo Bis, são pagos com dinheiro público, mas o lucro da venda fica para a empresa sueca.
Folha - Que tipo de relação o sr. tinha com John Neschling?
Ilan Reichtman - Conheço John Neschling há quase cinco anos. Tivemos uma relação tanto pessoal quanto profissional. Escrevemos juntos a trilha para o filme "Desmundo" e a música da novela "Esperança". Iniciei uma série de concertos de música de câmara na Sala São Paulo que tem sido um sucesso nesses últimos anos.
Folha - Como o sr. foi escolhido para ser o diretor do concurso?
Ilan Reichtman - Comecei a trabalhar no concurso de piano em abril de 2005. Seis meses antes Neschling me pediu que escrevesse a música de abertura do programa "Roda Viva", o que fiz, mas nessa época ele evitou me pagar ou até me dar créditos. Escrevi a música sozinho no estúdio da minha casa, mas Neschling apresentou-a à TV Cultura como se fosse dele.
Apesar de vários pedidos meus, ele nunca me deu crédito nem me compensou por isso. Em março de 2005, eu o encontrei para almoçar e toquei no assunto e também disse a ele que iria começar uma nova série de música de câmara fora da Sala São Paulo. Ele não gostou da idéia, pois provavelmente sentiu que essa nova série competiria com aquela que eu dirigia na Sala São Paulo. Ele me pediu para esperar duas semanas.
Quando achei que iria me compensar pelo trabalho do "Roda Viva", ele me ofereceu o cargo de diretor do concurso. Disse que eu tinha três horas para pensar na proposta. Aceitei porque me envolvi em concursos internacionais por mais de 20 anos como candidato e júri.
Folha - Por que o sr. não processou Neschling por essa música?
Reichtman - Não o processei porque ele me deu a direção do concurso. Não me sentia à vontade para processá-lo. Nem sei se o farei agora. O problema é que minha mulher trabalha como violoncelista da Osesp. Mesmo sem um processo judicial, as coisas estão ficando muito desconfortáveis para ela.
Folha - Um orçamento de R$ 2,3 milhões não é alto para um concurso internacional de piano?
Reichtman - Claro que é. Neste ano foram realizados 300 concursos internacionais de piano, e o da Osesp é provavelmente o mais caro. Não entendo para onde foi esse dinheiro. Quando comecei a trabalhar no concurso, me disseram que eu tinha US$ 100 mil para a publicidade internacional. Logo depois, um novo administrador disse que eram US$ 25 mil. Cerca de US$ 70 mil foram reservados para publicidade local, mas parece não terem sido usados. Quando pedi um telefone para fazer ligações para fora do Brasil, levou quase um ano.
Fiz todas as ligações internacionais do concurso de minha casa. Nunca me deram um escritório. Levou dez meses para me darem uma mesa. Quando pedi um armário para colocar os formulários dos candidatos, eles me disseram que não poderia tê-lo. Acho que o público deveria saber como o dinheiro foi gasto.
Folha - Por que o sr. foi demitido?
Reichtman - Não fui demitido por causa da minha moral, como Neschling disse. Não há nada de errado com minha moral e, se houvesse, ele deveria saber disso há muito tempo, bem antes de me contratar. Também não fui demitido porque desconsiderei algumas avaliações de Gilberto Tinetti. Escrevi para o Neschling sobre as avaliações de Tinetti só depois que de ter sido afastado. Neschling me demitiu pelo mesmo motivo que demitiu o maestro Roberto Minczuk: por ciúmes e medo de perder o controle. O concurso começou a ficar muito importante.
Folha - Não é exagero ver ciúmes em alguém com a fama do maestro?
Reichtman - O público brasileiro não sabe, mas Neschling nunca regeu nenhuma orquestra internacional de importância. Ele nunca foi convidado para reger as filarmônicas de Viena, Nova York ou Londres. As orquestras que Neschling dirigiu antes da Osesp são de cidades muito pequenas. Saint Galle [Suíça], onde esteve por sete anos antes de vir para São Paulo, tem 60 mil habitantes. Nenhuma tinha importância no cenário mundial. Os moradores de São Paulo não percebem que gastam muito dinheiro com a orquestra, mas não têm o retorno proporcional.
Folha - Como assim?
Reichtman - As sinfônicas de Detroit ou Baltimore têm um orçamento similar ao da Osesp, mas os regentes convidados são muito mais famosos que os convidados daqui e mais caros.
Folha - Por que a Osesp não convida regentes mais famosos?
Reichtman - Talvez porque Neschling não queira que você se acostume a ouvir regentes melhores do que ele. Mas tem outra coisa que realmente levanta algumas questões. Os salários dos músicos das sinfônicas de Detroit ou Baltimore são o dobro dos músicos da Osesp. Os músicos em Detroit e Baltimore recebem planos de aposentadoria, coisa que não acontece na Osesp. Quando você compara esses números, tem de se perguntar: para onde vai o dinheiro da Osesp? Ninguém quer saber por quem são indicados os regentes e solistas convidados. Se tivessem visto, saberiam que muitos deles são indicados pelo mesmo agente europeu que é o agente pessoal de Neschling. Isso é justo? Os políticos parecem confiar cegamente em Neschling. O grande talento do maestro é convencer os brasileiros de que eles estão recebendo um ótimo retorno de seu investimento. Existe dinheiro suficiente para convidar os melhores regentes internacionais, como Daniel Barenboim e Kurt Mazur. Dar R$ 57 milhões e todo o controle a única pessoa é absurdo.
Folha - É normal um maestro ter poderes sobre o orçamento e os músicos, como ocorre com Neschling?
Reichtman - Não. Neschling tem poderes ditatoriais, algo que não existe em nenhuma sinfônica com esse orçamento. Alguns anos atrás ele demitiu sete músicos concursados da Osesp sem dar-lhes qualquer tipo de compensação. Nos últimos três anos ele demitiu quatro diretores-gerais, demitiu seu parceiro, o Roberto Minczuk. Neschling tem mais poder que o grande Toscanini teve antes da era Mussolini. Isso causa muito estrago aqui.
Folha - Que tipo de estrago?
Reichtman - Há alguns dias, os músicos da Osesp me disseram que tiveram de assinar um papel em branco. Nenhum músico ousou protestar. O apoio unânime dos músicos a Neschling tem o mesmo valor que as eleições em que Saddam Hussein recebia 98% dos votos. Todos apóiam por medo. Nenhuma outra orquestra permitiria tal conduta, mas aqui ninguém protesta. Obviamente, esse tipo de medo faz com que os músicos não toquem bem.
Folha - Não é impressionante a Osesp ter 10 mil assinantes?
Reichtman - É muito pouco para uma cidade de 10 milhões de habitantes. Os fundos gerados pelas assinaturas cobrem menos de 15% do orçamento. Em Tel Aviv, a Filarmônica de Israel recebe a metade do orçamento da Osesp, mas tem 15 mil assinantes e consegue muitos mais artistas e regentes importantes como convidados. Tel Aviv é 20 vezes menor que São Paulo. Quando a Filarmônica de Israel faz turnê, a maioria de suas despesas são pagas por aqueles que convidam. Quando a Osesp viaja, é o Estado de São Paulo que paga a conta, não as ricas platéias estrangeiras. Quando a Osesp grava um CD por um selo sueco chamado Bis, o contribuinte paga por isso também. O custo disso é enorme e o lucro com as vendas não cobre nem 5% do custo. E quem fica o lucro? A companhia sueca, não São Paulo.
Pesquisadores encontram graves falhas em urna eletrônica usada nos EUA
Por Redação do IDG Now!
São Paulo - Grupo acusa brechas de segurança no aparelho da Diebold que permitiria a infecção de pragas que manipulam votos sem sinais evidentes.
A aura de inatingível que cerca a urna eletrônica atualmente pode estar com os dias contados.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Princeton divulgou um estudo nesta quinta-feira (14/09) reportando ter descoberto graves falhas de segurança o suficiente no equipamento para viabilizar uma fraude eleitoral.
No estudo "Análise de segurança da urna eletrônica Diebold AccuVote-TS", os pesquisadores Ariel Feldman, Alex Halderman e Edward Felten analisaram possíveis brechas de segurança no aparelho da Diebold, usado nas eleições norte-americanas de novembro de 2006 para registrar cerca de 10% dos votos no país.
Segundo o grupo, a urna é "vulnerável a ataques extremamente sérios", que permitiriam que a execução de códigos maliciosos apagasse, transferisse ou gerenciasse o número de votos de uma zona eleitoral.
"Um cracker que tenha acesso físico à máquina ou ao seu cartão de memória que seja por um minuto poderia instalar códigos maliciosos", afirma o blog do Centro de Política da tecnologia da Informação da universidade, onde o estudo foi divulgado.
"Pragas na urna poderiam roubar votos sem ser detectada, modificar todos os registros, logs e contadores para que a fraude seja consistente" o suficiente para não ser detectada por exames forenses de órgãos reguladores, afirma o estudo.
O grupo indica ainda que a presença de pragas de uma urna pode levar à infecção em massa de todos os outros equipamentos de uma zona eleitoral. Para demonstrar o risco, os pesquisadores forjaram um malware de demonstração que explora a falha.
Modificações para que as vulnerabilidades sejam corrigidas passam por melhorias no software da Diebold, mas, de acordo com o estudo, implicaria também na troca do hardware da urna eletrônica, além de mudanças no sistema de distribuição durante as eleições, para restringir o acesso às urnas.
O estudo do grupo da Universidade de Princeton é o primeiro a vir a público relatar problemas de segurança nos sistemas de votação eletrônica que podem implicar em fraudes eleitorais.
No Brasil, a votação eletrônica completará 10 anos nas eleições presidenciais do próximo dia 1º de outubro, em que 100% de todo o eleitorado, estimado em 126 milhões de brasileiros, votará em urnas eletrônicas.
São Paulo - Grupo acusa brechas de segurança no aparelho da Diebold que permitiria a infecção de pragas que manipulam votos sem sinais evidentes.
A aura de inatingível que cerca a urna eletrônica atualmente pode estar com os dias contados.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Princeton divulgou um estudo nesta quinta-feira (14/09) reportando ter descoberto graves falhas de segurança o suficiente no equipamento para viabilizar uma fraude eleitoral.
No estudo "Análise de segurança da urna eletrônica Diebold AccuVote-TS", os pesquisadores Ariel Feldman, Alex Halderman e Edward Felten analisaram possíveis brechas de segurança no aparelho da Diebold, usado nas eleições norte-americanas de novembro de 2006 para registrar cerca de 10% dos votos no país.
Segundo o grupo, a urna é "vulnerável a ataques extremamente sérios", que permitiriam que a execução de códigos maliciosos apagasse, transferisse ou gerenciasse o número de votos de uma zona eleitoral.
"Um cracker que tenha acesso físico à máquina ou ao seu cartão de memória que seja por um minuto poderia instalar códigos maliciosos", afirma o blog do Centro de Política da tecnologia da Informação da universidade, onde o estudo foi divulgado.
"Pragas na urna poderiam roubar votos sem ser detectada, modificar todos os registros, logs e contadores para que a fraude seja consistente" o suficiente para não ser detectada por exames forenses de órgãos reguladores, afirma o estudo.
O grupo indica ainda que a presença de pragas de uma urna pode levar à infecção em massa de todos os outros equipamentos de uma zona eleitoral. Para demonstrar o risco, os pesquisadores forjaram um malware de demonstração que explora a falha.
Modificações para que as vulnerabilidades sejam corrigidas passam por melhorias no software da Diebold, mas, de acordo com o estudo, implicaria também na troca do hardware da urna eletrônica, além de mudanças no sistema de distribuição durante as eleições, para restringir o acesso às urnas.
O estudo do grupo da Universidade de Princeton é o primeiro a vir a público relatar problemas de segurança nos sistemas de votação eletrônica que podem implicar em fraudes eleitorais.
No Brasil, a votação eletrônica completará 10 anos nas eleições presidenciais do próximo dia 1º de outubro, em que 100% de todo o eleitorado, estimado em 126 milhões de brasileiros, votará em urnas eletrônicas.
Grupo gaúcho demonstra base química da memória
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas comprovam ligação entre aprendizado e reforço de conexões neurais.
Estudo de 15 anos usando roedores colocou o ponto final em questão que desde a década de 1970 desafiava as pesquisas sobre cérebro.
Dois trabalhos científicos publicados nas últimas semanas, um deles de um grupo brasileiro, colocam um ponto final em uma questão que há anos desafia cientistas: o que acontece nos nossos neurônios quando aprendemos algo?
Uma resposta já havia sido proposta há décadas e parecia relativamente simples. Memórias duradouras seriam sustentadas quando algumas sinapses-conexões entre as células nervosas- específicas são fortalecidas.
Na década de 1970, cientistas descobriram um fenômeno batizado de potenciação de longa duração (LTP, na sigla em inglês), que é a manutenção dessa conexão reforçada por um longo período de tempo. Não havia provas definitivas para isso, porém, até um dos grupos conseguir identificar as cadeias de reações bioquímicas que ligam o aprendizado à LTP.
"Agora demonstramos que isso é a base da memória, nada menos", diz o neurocientista argentino Iván Izquierdo, líder do grupo da PUC do Rio Grande do Sul que acaba de publicar um estudo detalhando o assunto. "O fato de que existia um mecanismo sináptico que pode durar meses levou cientistas a pensarem que ele deveria ter algo a ver com a memória, mas nunca se havia provado isso."
O resultado é fruto de um trabalho que envolveu muito tempo e paciência. Os processos moleculares que dão base à LTP incluem nada menos que 40 passos. Foi preciso verificar cada um deles em experimentos com roedores. Usando drogas para inibir cada estágio e depois submetendo os animais a testes de memória, verificou-se a importância de cada um dos passos. "Nesses estudos devem ter sido usadas mais de 200 drogas que afetam a memória", recorda-se Izquierdo.
O grupo do neurocientista, que trabalhou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul antes de ir para a PUC-RS, começou a investigar o assunto em 1991 e publicou diversos trabalhos com resultados parciais ao longo do tempo. Agora, estão reunidos num estudo na edição de setembro da revista "Trends in Neuroscience".
O trabalho diz aquilo que já se desconfiava, mas agora com provas concretas: "Não há como explicar a memória de uma forma que não seja pela potenciação de longa duração no hipocampo", diz. O hipocampo, explica Izquierdo, é a estrutura cerebral responsável por associar as informações de uma memória. Quando nos lembramos de um evento muito importante da vida, conectamos aquilo que vimos, ouvimos e sentimos no momento de modo a fortalecer a lembrança. "Uma informação isolada dificilmente fica na memória", diz. "Memórias são associações."
Logo após a publicação do estudo de Izquierdo, o neurocientista Mark Bear, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, colocou uma cereja no bolo. Em estudo na revista "Science", ele apresenta um experimento que conseguiu medir a ocorrência de LTP diretamente no hipocampo de ratos submetidos a uma tarefa de aprendizagem. Bear se baseou em estudos de Izquierdo e conseguiu "ver" de fato a LTP, usando tecnologias mais sofisticadas, que envolvem implante de eletrodos nos animais.
Como os trabalhos de Izquierdo e Bear seguem uma linha de hipóteses consensual, eles não devem impulsionar descobertas súbitas em farmacologia. Os cientistas, porém, ajudaram a colocar em bases mais sólidas a pesquisa de tratamentos para distúrbios de memória, como o mal de Alzheimer.
Izquierdo é cético, porém, em relação à possibilidade de usar esse conhecimento para produzir uma droga capaz de criar uma supermemória. "Nosso sistema de memória, quando é saudável, está sempre funcionando no máximo de sua capacidade", diz o pesquisador. "Será difícil encontrar uma droga que melhore isso."
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas comprovam ligação entre aprendizado e reforço de conexões neurais.
Estudo de 15 anos usando roedores colocou o ponto final em questão que desde a década de 1970 desafiava as pesquisas sobre cérebro.
Dois trabalhos científicos publicados nas últimas semanas, um deles de um grupo brasileiro, colocam um ponto final em uma questão que há anos desafia cientistas: o que acontece nos nossos neurônios quando aprendemos algo?
Uma resposta já havia sido proposta há décadas e parecia relativamente simples. Memórias duradouras seriam sustentadas quando algumas sinapses-conexões entre as células nervosas- específicas são fortalecidas.
Na década de 1970, cientistas descobriram um fenômeno batizado de potenciação de longa duração (LTP, na sigla em inglês), que é a manutenção dessa conexão reforçada por um longo período de tempo. Não havia provas definitivas para isso, porém, até um dos grupos conseguir identificar as cadeias de reações bioquímicas que ligam o aprendizado à LTP.
"Agora demonstramos que isso é a base da memória, nada menos", diz o neurocientista argentino Iván Izquierdo, líder do grupo da PUC do Rio Grande do Sul que acaba de publicar um estudo detalhando o assunto. "O fato de que existia um mecanismo sináptico que pode durar meses levou cientistas a pensarem que ele deveria ter algo a ver com a memória, mas nunca se havia provado isso."
O resultado é fruto de um trabalho que envolveu muito tempo e paciência. Os processos moleculares que dão base à LTP incluem nada menos que 40 passos. Foi preciso verificar cada um deles em experimentos com roedores. Usando drogas para inibir cada estágio e depois submetendo os animais a testes de memória, verificou-se a importância de cada um dos passos. "Nesses estudos devem ter sido usadas mais de 200 drogas que afetam a memória", recorda-se Izquierdo.
O grupo do neurocientista, que trabalhou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul antes de ir para a PUC-RS, começou a investigar o assunto em 1991 e publicou diversos trabalhos com resultados parciais ao longo do tempo. Agora, estão reunidos num estudo na edição de setembro da revista "Trends in Neuroscience".
O trabalho diz aquilo que já se desconfiava, mas agora com provas concretas: "Não há como explicar a memória de uma forma que não seja pela potenciação de longa duração no hipocampo", diz. O hipocampo, explica Izquierdo, é a estrutura cerebral responsável por associar as informações de uma memória. Quando nos lembramos de um evento muito importante da vida, conectamos aquilo que vimos, ouvimos e sentimos no momento de modo a fortalecer a lembrança. "Uma informação isolada dificilmente fica na memória", diz. "Memórias são associações."
Logo após a publicação do estudo de Izquierdo, o neurocientista Mark Bear, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, colocou uma cereja no bolo. Em estudo na revista "Science", ele apresenta um experimento que conseguiu medir a ocorrência de LTP diretamente no hipocampo de ratos submetidos a uma tarefa de aprendizagem. Bear se baseou em estudos de Izquierdo e conseguiu "ver" de fato a LTP, usando tecnologias mais sofisticadas, que envolvem implante de eletrodos nos animais.
Como os trabalhos de Izquierdo e Bear seguem uma linha de hipóteses consensual, eles não devem impulsionar descobertas súbitas em farmacologia. Os cientistas, porém, ajudaram a colocar em bases mais sólidas a pesquisa de tratamentos para distúrbios de memória, como o mal de Alzheimer.
Izquierdo é cético, porém, em relação à possibilidade de usar esse conhecimento para produzir uma droga capaz de criar uma supermemória. "Nosso sistema de memória, quando é saudável, está sempre funcionando no máximo de sua capacidade", diz o pesquisador. "Será difícil encontrar uma droga que melhore isso."
quarta-feira, setembro 13, 2006
Profissão: psiquiatra de moradores de rua
Em Marselha, esta reportagem acompanhou uma equipe de Médicos do Mundo especializados em atender moradores de rua, os quais são geralmente deficientes mentais
Michel Samson
Nesta terça-feira de verão quentíssima, Vincent Girard, 34, a cabeleira amarrada em rabo-de-cavalo, os olhos azuis e um sorriso de criança, prepara sua turnê semanal. Este psiquiatra "de rua" é acompanhado pelo seu colega Hermann Händlhuber, um austríaco alto e magro de 52 anos que desembarcou em Marselha depois de uma "vagabundagem de oito anos", a qual resultou numa tuberculose. O projeto da organização Médicos do Mundo associa especialistas oficialmente diplomados com benévolos e "trabalhadores pares" cuja experiência de vida é reconhecida como uma competência.
Dentre as 70 pessoas das quais eles acompanham a evolução, as prioridades do dia dependem da "urgência". Pode ser a urgência psiquiátrica, médica e social, quando um jovem rapaz recém-saído das ruas está voltando a mergulhar na bebida e que é preciso encontrar um meio para ajudá-lo dar a volta por cima e retomar seu caminho sobre bases melhores. Pode ser uma urgência somática, quando um dos seus pacientes, que se encontra no ápice dos seus delírios e do seu cansaço, abandonou de tal forma o próprio corpo que é preciso intervir.
Mas a rua tem as suas prioridades que a medicina desconhece. As "visitas em domicílio a pessoas sem domicílio", para retomar uma expressão do médico, nunca acontecem conforme o previsto. Eles partem, portanto, rumo a La Ferme (A Fazenda), um centro de hospedagem situado numa comuna próxima a Aubagne (região marselhesa) onde a equipe havia deixado Sacha, um jovem alemão que acaba de receber um desfibrilador por causa de uma malformação cardíaca. Sacha confessou a Hermann, que fala alemão, inglês, italiano e francês, que ele queria "partir". Ora, cada uma das suas partidas o trouxe de volta para as ruas e perto da morte.
Sacha é um sujeito de grande gabarito, cujo antebraço é tatuado com a inscrição "Elisabeth" em letras góticas e cujos olhos afundados nas órbitas expressam o medo em primeiro lugar. "Medo, medo", repete, mostrando o seu coração, isso porque o seu aparelho cardíaco disparou recentemente sem nenhuma razão. Vincent fala com ele, segurando-o pelo ombro, enquanto Hermann traduz: o aparelho foi consertado, e eles vão prescrever-lhe calmantes, já que ele não consegue mais dormir. Nas costas do médico, Sacha, com o olhar desesperado, finge estar atirando uma bala na têmpora com dois dedos, ou simula seu enforcamento. Depois da visita, Hermann explica: "Sacha quer ir embora dali; os outros são velhos demais, ele não faz nada, e vai acabar morrendo de tédio". Por ocasião da próxima visita, será preciso tentar enviá-lo para um grupo de ajuda mútua onde se encontram ex-pacientes com problemas psiquiátricos.
Agora, a dupla está de volta ao centro de Marselha para procurar Jean-Marie, que normalmente concorda em passar alguns dias no hospital. Vincent Girard reservou-lhe um leito no serviço do doutor Naudin, de quem ele é o assistente. Infelizmente, Jean-Marie sumiu. Um esquizofrênico acometido de delírios expansivos, ele está em apuros. Alguém furtou os cartazes de papelão nos quais ele anuncia por meio de grandes letras coloridas "sessões de cinema em três dimensões", e que ele pendura nos plátanos da Alameda Pierre Puget. Ghil Darsa, uma antiga arquiteta que se tornou enfermeira, que participou da turnê na semana anterior, explica que o furto desses cartazes o "chocou profundamente, uma vez que aquela era a sua maneira de deixar sua marca, de comunicar, de habitar no lugar".
Vincent e Hermann apertam as mãos dos quatro moradores de rua que estão bebendo, sentados num banco da praça, e lhes indagam sobre o paradeiro de Jean-Marie. Um dos quatro aproveita para iniciar uma conversa privada com o psiquiatra. Com o olhar vago, ligeiramente titubeante, Jean-Marc, um homem jovem alto e loiro recém-saído das ruas, puxa Vincent pelo braço. Eles sentam num banco vizinho, e conversam. Pouco depois, Jean-Marc retorna, pega uma sacola de plástico que contém documentos e entra no carro. Finalmente, é ele quem parte para o hospital, no lugar de Jean-Marie que ninguém consegue encontrar. "O álcool acabou comigo; ele acabou comigo", confessa o jovem rapaz. "Eu achava que eu iria sair dessa, mas naquele momento, eu já havia acabado de tomar a minha terceira garrafa de rose; eu tomo os meus medicamentos junto com o álcool; de manhã eu já acordo transpirando; tenho duas folhas de pagamento para receber, mas alguém me roubou minha sacola com os meus documentos; a vida precisa oferecer-me uma outra perspectiva".
Vincent lhe responde, sorrindo, que "a recaída é normal" e que o que está acontecendo com ele hoje "é bom para ele".
Esta hospitalização imprevista, explica o médico após tê-lo acompanhado, atende também a uma outra necessidade: "Para nós, é muito importante que as pessoas que nós tiramos das ruas não retornem àquela condição. Para eles, é claro, mas para que nós tenhamos também, de vez em quando, alguns sucessos".
Este retorno ao hospital sublinha, sobretudo, a carência total de locais aptos a receberem os deficientes mentais que moram nas ruas. A equipe vem lutando pela criação de uma casa adequada e já começou a trabalhar num projeto de hospedagem assistida que o plano de coesão social do ministro Jean-Louis Borloo torna teoricamente possível. A enfermeira Ghil Darsa explica: "Em Marselha, não existe nenhum local aberto para as pessoas que não conseguem ser plenamente autônomas, que não têm mais nenhum laço parental e que precisam de ajuda para reconstruírem a sua vida. Acima de tudo, eles não devem permanecer no hospital, que continua sendo útil em tempos de crise".
O próximo encontro do dia é com o "Senhor Betti". Este homem idoso sem dentes e com o corpo escangalhado vive na entrada de um estacionamento. Ele tem um pesado passado psiquiátrico, que ele conta por pedaços mais ou menos coerentes. A equipe vai visitá-lo regularmente, fala com ele, lhe traz água: no cerne desta psiquiatria de rua, o que importa em primeiro lugar é uma presença regular, que pode até mesmo ser muda. Uma presença "que se mostra sem se impor" e se encarrega de acompanhar as pessoas tais como elas são e, sobretudo, com o seu assentimento.
"Dando uma passada, conversando, apertando a mão, é possível criar uma confiança com esses moradores de rua, homens e mulheres, dos quais se sabe, graças aos raros estudos existentes, que um em cada seis é psicótico", explica Vincent Girard.
Todos os especialistas, benévolos e "trabalhadores pares" do projeto de Médicos do Mundo participam da reunião das terças-feiras à noite, durante as quais as equipes trocam suas informações e fazem um levantamento das suas necessidades. Essas necessidades são tão imensas quanto variáveis: "Pode ser ajudar alguém a telefonar para a sua mãe ou um irmão, resolver um problema de orientação e reclassificação profissional, ajudar a encontrar um apartamento mobiliado para o paciente poder se instalar, ou hospitalizá-lo".
Uma hospitalização é sempre complicada, uma vez que os funcionários do hospital relutam muito a aceitar esses doentes, e têm dificuldades até mesmo para entender que eles sofrem de distúrbios psiquiátricos profundos. "Eles são distribuídos por categorias", comenta o psiquiatra. "Ora eles são toxicomaníacos, ora alcoólatras, ora deficientes mentais. Mas, na verdade, eles são "e" alcoólatras, "e" dependentes dos medicamentos "e" bipolares, por exemplo. Isso porque a droga pode ser uma auto-medicação frente a um distúrbio psiquiátrico grave". Além disso, prossegue Vincent Girard, "eles fedem, eles têm piolhos, e os funcionários do hospital não raro temem as contaminações - até mesmo imaginárias".
O Senhor Betti, por sua vez, sofre de todas as moléstias ao mesmo tempo. Já faz algumas semanas, ele enfiou no dedo um anel talismã que corroeu sua carne negra; a sua mão está inchada por um fleimão. Vincent e Raymond Négrel, um enfermeiro especializado em psiquiatria já aposentado, diagnosticam uma infecção que exige uma intervenção cirúrgica imediata. O Senhor Betti a recusa violentamente, grita, conta que naquele hospital "roubaram tudo" o que ele tinha, mistura prováveis elementos de realidade com um delírio repetitivo. Raymond o segura pelo ombro e lhe diz: "O senhor vai morrer caso não for tratado, Senhor Betti".
O médico resolve chamar os bombeiros. Ele detesta isso, uma vez que a filosofia desta psiquiatria da confiança é de nunca obrigar as pessoas.
Exceto, é claro, quando existe um sério perigo de morte. O Senhor Betti se afasta, e ainda grita: "Raymond, o que você está fazendo comigo?", mas acaba subindo finalmente, sem mostrar muita resistência, no caminhão vermelho. Ele é levado até o serviço de emergências do hospital geral... de onde ele foge imediatamente! Alcançado pela equipe de rua, o Senhor Betti é finalmente "hospitalizado a pedido de um terceiro", no caso o doutor Girard, no seu serviço de psiquiatria. Lá, ele vai sofrer um tratamento destinado a "torná-lo um pouco mais maleável, sendo sedado com algumas pílulas", antes da intervenção cirúrgica.
Já, no que diz respeito a Omar, ele é "psicótico, abandonado e incurável", diz o médico. Em pé na frente de um banco, curvado, trajando roupas cobertas por uma sujeira espessa, Omar tende vagamente a sua mão negrusca para os passantes que não o vêem. Omar só consegue se movimentar muito lentamente. É uma massa humana apenas viva. Nos seus cabelos, dá para ver os piolhos se mexendo. Ele reconhece Hermann e Vincent. Neste momento, aparece uma breve centelha nos seus olhos apagados. Ele não comeu nada, dorme sem nenhum cobertor, às vezes sobre um papelão, costuma ser assaltado pelos toxicomaníacos na Praça Jean Jaurès, onde ele sobrevive. Mas Omar nada diz, nada quer, não está pedindo mais nada. Ele aceita o cigarro que Hermann enrola para ele, procura num dos seus bolsos internos para ver se ele ainda tem uma moeda. Ele a tira lentamente, ela é amarela.
Vincent Volta a falar com ele em hospitalização; ele balança silenciosamente a cabeça para recusar. Vincent lhe propõe conduzi-lo até a sede de Médicos do Mundo para se lavar. Mesma recusa. Vincent lhe recorda de que um dia ele havia gostado disso. Um fulgor passa nos seus olhos, mas é o mesmo não silencioso. Omar nunca fala. A equipe de despede dele, mais uma vez, e voltará para vê-lo, ainda, sempre.
No carro, Hermann o discreto diz: "Ele não tem nada na mente, nada". E ele acrescenta, com o seu belo sotaque alemão: "É difícil para nós também. A gente traz apenas uma gota de água no oceano, e nem mesmo uma gota".
Uma gota de água na secura do mundo.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Michel Samson
Nesta terça-feira de verão quentíssima, Vincent Girard, 34, a cabeleira amarrada em rabo-de-cavalo, os olhos azuis e um sorriso de criança, prepara sua turnê semanal. Este psiquiatra "de rua" é acompanhado pelo seu colega Hermann Händlhuber, um austríaco alto e magro de 52 anos que desembarcou em Marselha depois de uma "vagabundagem de oito anos", a qual resultou numa tuberculose. O projeto da organização Médicos do Mundo associa especialistas oficialmente diplomados com benévolos e "trabalhadores pares" cuja experiência de vida é reconhecida como uma competência.
Dentre as 70 pessoas das quais eles acompanham a evolução, as prioridades do dia dependem da "urgência". Pode ser a urgência psiquiátrica, médica e social, quando um jovem rapaz recém-saído das ruas está voltando a mergulhar na bebida e que é preciso encontrar um meio para ajudá-lo dar a volta por cima e retomar seu caminho sobre bases melhores. Pode ser uma urgência somática, quando um dos seus pacientes, que se encontra no ápice dos seus delírios e do seu cansaço, abandonou de tal forma o próprio corpo que é preciso intervir.
Mas a rua tem as suas prioridades que a medicina desconhece. As "visitas em domicílio a pessoas sem domicílio", para retomar uma expressão do médico, nunca acontecem conforme o previsto. Eles partem, portanto, rumo a La Ferme (A Fazenda), um centro de hospedagem situado numa comuna próxima a Aubagne (região marselhesa) onde a equipe havia deixado Sacha, um jovem alemão que acaba de receber um desfibrilador por causa de uma malformação cardíaca. Sacha confessou a Hermann, que fala alemão, inglês, italiano e francês, que ele queria "partir". Ora, cada uma das suas partidas o trouxe de volta para as ruas e perto da morte.
Sacha é um sujeito de grande gabarito, cujo antebraço é tatuado com a inscrição "Elisabeth" em letras góticas e cujos olhos afundados nas órbitas expressam o medo em primeiro lugar. "Medo, medo", repete, mostrando o seu coração, isso porque o seu aparelho cardíaco disparou recentemente sem nenhuma razão. Vincent fala com ele, segurando-o pelo ombro, enquanto Hermann traduz: o aparelho foi consertado, e eles vão prescrever-lhe calmantes, já que ele não consegue mais dormir. Nas costas do médico, Sacha, com o olhar desesperado, finge estar atirando uma bala na têmpora com dois dedos, ou simula seu enforcamento. Depois da visita, Hermann explica: "Sacha quer ir embora dali; os outros são velhos demais, ele não faz nada, e vai acabar morrendo de tédio". Por ocasião da próxima visita, será preciso tentar enviá-lo para um grupo de ajuda mútua onde se encontram ex-pacientes com problemas psiquiátricos.
Agora, a dupla está de volta ao centro de Marselha para procurar Jean-Marie, que normalmente concorda em passar alguns dias no hospital. Vincent Girard reservou-lhe um leito no serviço do doutor Naudin, de quem ele é o assistente. Infelizmente, Jean-Marie sumiu. Um esquizofrênico acometido de delírios expansivos, ele está em apuros. Alguém furtou os cartazes de papelão nos quais ele anuncia por meio de grandes letras coloridas "sessões de cinema em três dimensões", e que ele pendura nos plátanos da Alameda Pierre Puget. Ghil Darsa, uma antiga arquiteta que se tornou enfermeira, que participou da turnê na semana anterior, explica que o furto desses cartazes o "chocou profundamente, uma vez que aquela era a sua maneira de deixar sua marca, de comunicar, de habitar no lugar".
Vincent e Hermann apertam as mãos dos quatro moradores de rua que estão bebendo, sentados num banco da praça, e lhes indagam sobre o paradeiro de Jean-Marie. Um dos quatro aproveita para iniciar uma conversa privada com o psiquiatra. Com o olhar vago, ligeiramente titubeante, Jean-Marc, um homem jovem alto e loiro recém-saído das ruas, puxa Vincent pelo braço. Eles sentam num banco vizinho, e conversam. Pouco depois, Jean-Marc retorna, pega uma sacola de plástico que contém documentos e entra no carro. Finalmente, é ele quem parte para o hospital, no lugar de Jean-Marie que ninguém consegue encontrar. "O álcool acabou comigo; ele acabou comigo", confessa o jovem rapaz. "Eu achava que eu iria sair dessa, mas naquele momento, eu já havia acabado de tomar a minha terceira garrafa de rose; eu tomo os meus medicamentos junto com o álcool; de manhã eu já acordo transpirando; tenho duas folhas de pagamento para receber, mas alguém me roubou minha sacola com os meus documentos; a vida precisa oferecer-me uma outra perspectiva".
Vincent lhe responde, sorrindo, que "a recaída é normal" e que o que está acontecendo com ele hoje "é bom para ele".
Esta hospitalização imprevista, explica o médico após tê-lo acompanhado, atende também a uma outra necessidade: "Para nós, é muito importante que as pessoas que nós tiramos das ruas não retornem àquela condição. Para eles, é claro, mas para que nós tenhamos também, de vez em quando, alguns sucessos".
Este retorno ao hospital sublinha, sobretudo, a carência total de locais aptos a receberem os deficientes mentais que moram nas ruas. A equipe vem lutando pela criação de uma casa adequada e já começou a trabalhar num projeto de hospedagem assistida que o plano de coesão social do ministro Jean-Louis Borloo torna teoricamente possível. A enfermeira Ghil Darsa explica: "Em Marselha, não existe nenhum local aberto para as pessoas que não conseguem ser plenamente autônomas, que não têm mais nenhum laço parental e que precisam de ajuda para reconstruírem a sua vida. Acima de tudo, eles não devem permanecer no hospital, que continua sendo útil em tempos de crise".
O próximo encontro do dia é com o "Senhor Betti". Este homem idoso sem dentes e com o corpo escangalhado vive na entrada de um estacionamento. Ele tem um pesado passado psiquiátrico, que ele conta por pedaços mais ou menos coerentes. A equipe vai visitá-lo regularmente, fala com ele, lhe traz água: no cerne desta psiquiatria de rua, o que importa em primeiro lugar é uma presença regular, que pode até mesmo ser muda. Uma presença "que se mostra sem se impor" e se encarrega de acompanhar as pessoas tais como elas são e, sobretudo, com o seu assentimento.
"Dando uma passada, conversando, apertando a mão, é possível criar uma confiança com esses moradores de rua, homens e mulheres, dos quais se sabe, graças aos raros estudos existentes, que um em cada seis é psicótico", explica Vincent Girard.
Todos os especialistas, benévolos e "trabalhadores pares" do projeto de Médicos do Mundo participam da reunião das terças-feiras à noite, durante as quais as equipes trocam suas informações e fazem um levantamento das suas necessidades. Essas necessidades são tão imensas quanto variáveis: "Pode ser ajudar alguém a telefonar para a sua mãe ou um irmão, resolver um problema de orientação e reclassificação profissional, ajudar a encontrar um apartamento mobiliado para o paciente poder se instalar, ou hospitalizá-lo".
Uma hospitalização é sempre complicada, uma vez que os funcionários do hospital relutam muito a aceitar esses doentes, e têm dificuldades até mesmo para entender que eles sofrem de distúrbios psiquiátricos profundos. "Eles são distribuídos por categorias", comenta o psiquiatra. "Ora eles são toxicomaníacos, ora alcoólatras, ora deficientes mentais. Mas, na verdade, eles são "e" alcoólatras, "e" dependentes dos medicamentos "e" bipolares, por exemplo. Isso porque a droga pode ser uma auto-medicação frente a um distúrbio psiquiátrico grave". Além disso, prossegue Vincent Girard, "eles fedem, eles têm piolhos, e os funcionários do hospital não raro temem as contaminações - até mesmo imaginárias".
O Senhor Betti, por sua vez, sofre de todas as moléstias ao mesmo tempo. Já faz algumas semanas, ele enfiou no dedo um anel talismã que corroeu sua carne negra; a sua mão está inchada por um fleimão. Vincent e Raymond Négrel, um enfermeiro especializado em psiquiatria já aposentado, diagnosticam uma infecção que exige uma intervenção cirúrgica imediata. O Senhor Betti a recusa violentamente, grita, conta que naquele hospital "roubaram tudo" o que ele tinha, mistura prováveis elementos de realidade com um delírio repetitivo. Raymond o segura pelo ombro e lhe diz: "O senhor vai morrer caso não for tratado, Senhor Betti".
O médico resolve chamar os bombeiros. Ele detesta isso, uma vez que a filosofia desta psiquiatria da confiança é de nunca obrigar as pessoas.
Exceto, é claro, quando existe um sério perigo de morte. O Senhor Betti se afasta, e ainda grita: "Raymond, o que você está fazendo comigo?", mas acaba subindo finalmente, sem mostrar muita resistência, no caminhão vermelho. Ele é levado até o serviço de emergências do hospital geral... de onde ele foge imediatamente! Alcançado pela equipe de rua, o Senhor Betti é finalmente "hospitalizado a pedido de um terceiro", no caso o doutor Girard, no seu serviço de psiquiatria. Lá, ele vai sofrer um tratamento destinado a "torná-lo um pouco mais maleável, sendo sedado com algumas pílulas", antes da intervenção cirúrgica.
Já, no que diz respeito a Omar, ele é "psicótico, abandonado e incurável", diz o médico. Em pé na frente de um banco, curvado, trajando roupas cobertas por uma sujeira espessa, Omar tende vagamente a sua mão negrusca para os passantes que não o vêem. Omar só consegue se movimentar muito lentamente. É uma massa humana apenas viva. Nos seus cabelos, dá para ver os piolhos se mexendo. Ele reconhece Hermann e Vincent. Neste momento, aparece uma breve centelha nos seus olhos apagados. Ele não comeu nada, dorme sem nenhum cobertor, às vezes sobre um papelão, costuma ser assaltado pelos toxicomaníacos na Praça Jean Jaurès, onde ele sobrevive. Mas Omar nada diz, nada quer, não está pedindo mais nada. Ele aceita o cigarro que Hermann enrola para ele, procura num dos seus bolsos internos para ver se ele ainda tem uma moeda. Ele a tira lentamente, ela é amarela.
Vincent Volta a falar com ele em hospitalização; ele balança silenciosamente a cabeça para recusar. Vincent lhe propõe conduzi-lo até a sede de Médicos do Mundo para se lavar. Mesma recusa. Vincent lhe recorda de que um dia ele havia gostado disso. Um fulgor passa nos seus olhos, mas é o mesmo não silencioso. Omar nunca fala. A equipe de despede dele, mais uma vez, e voltará para vê-lo, ainda, sempre.
No carro, Hermann o discreto diz: "Ele não tem nada na mente, nada". E ele acrescenta, com o seu belo sotaque alemão: "É difícil para nós também. A gente traz apenas uma gota de água no oceano, e nem mesmo uma gota".
Uma gota de água na secura do mundo.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
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