Julián Castillo San Francisco (EUA), 23 set (EFE).- A confidencialidade das fontes jornalísticas voltou a sofrer um duro golpe nos Estados Unidos quando dois redatores do jornal "San Francisco Chronicle" foram presos por se recusarem a entregar perante a justiça as fontes que forneceram o depoimento do jogador de beisebol Barry Bonds.
Os jornalistas Lance Williams e Mark Fainaru-Wada, responsáveis pelos artigos sobre o escândalo dos Laboratórios Balco, onde uma nova versão dos esteróides sintéticos era fabricada e distribuída, foram condenados a 18 meses de prisão por se negarem a divulgar suas fontes.
Williams e Fainaru-Wada foram categóricos diante do juiz Jeffrey White, encarregado do caso, quando explicaram suas convicções profissionais e o direito que tinham de acordo com a Constituição.
Mas White respondeu que "ninguém está acima da lei" e que, segundo a denúncia dos promotores federais, eles tinham violado a lei ao publicar depoimentos secretos de Bonds e outros atletas de elite que falaram a um grande júri sobre o possível consumo de esteróides e outras substâncias proibidas.
Os dois jornalistas responderam desde o princípio que preferiam ser presos a traírem suas fontes e seus valores morais e profissionais.
White disse que o tribunal acreditava que os jornalistas reconsiderariam sua posição quando enfrentassem a dura realidade de perder a liberdade.
Williams e Fainaru-Wada publicaram uma série de artigos e um livro baseado em transcrições dos depoimentos de Bonds, Jason Giambi e de outros jogadores para o júri de instrução que investigava a Balco, empresa que supostamente produzia suplementos nutricionais, mas na verdade era um grupo que comercializava esteróides.
Diretores da Balco já cumpriram alguns meses de prisão e estão em liberdade condicional, enquanto o treinador pessoal de Bonds, Greg Anderson, também está preso, por motivo similar ao dos repórteres.
Anderson não quer depor contra Bonds, porque ou mente ou se envolve diretamente no caso do consumo de substâncias proibidas.
"Não tem por que ter um tratamento diferenciado para Anderson ou para os jornalistas", afirmou Michael Rains, advogado de Bonds, que continua competindo normalmente na Liga de Beisebol americana. "Em ambos os casos eles se negam a declarar perante a justiça".
Mas Williams disse que sua obrigação era manter a promessa que fez às pessoas que ajudaram a conseguir a informação e que não trairia sua palavra.
"Como se supõe, mantenho minhas promessas quando as pessoas me ajudam e confiam na minha palavra", disse Williams no tribunal.
"Ficarei desesperado por nosso país, pois se formos muito longe nesta direção, ninguém mais falará com os jornalistas".
Promotores federais pediram ao juiz White que ordene a prisão dos repórteres enquanto durarem os trabalhos do júri que investiga o vazamento à imprensa ou até que estes aceitem depor.
Todas as partes concordaram em suspender a aplicação da sentença do juiz White até que se conheça a decisão judicial da apelação apresentada na Corte Federal de Apelações.
Em agosto, White reconheceu que a decisão da Corte Suprema de Justiça em 1972, quando estabeleceu que "ninguém", incluindo os jornalistas, estavam acima da lei quando o assunto era depor perante um grande júri federal, o deixava de mãos atadas no caso de Williams e Fainaru-Wada.
Por sua parte, Phil Bronstein, vice-presidente executivo do "San Francisco Chronicle", que esteve ao lado dos dois jornalistas o tempo todo, disse que era uma tragédia prender dois profissionais que fizeram um excelente trabalho.
"Precisamos de uma lei federal que proteja os jornalistas com urgência, para que não tenham que revelar suas fontes de informação", ressaltou Bronstein
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