Donos de casas noturnas e organizadores de shows dizem que processos são lentos e que prefeitura deveria cooperar
Motomix quase repete cancelamentos de festas do Vegas, Manga Rosa e do hotel Unique; faltam espaços para grandes shows
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo virou uma cidade micada para shows e festas de rock e música eletrônica? A questão se escancarou com o quase cancelamento do festival Motomix, que trouxe o Franz Ferdinand no fim de semana.
Neste ano, foram canceladas em cima da hora as festas de aniversário de clubes badalados, como Vegas e Manga Rosa, e o festival eletrônico da Reebok no hotel Unique. E o Pacaembu não abrigou nenhum grande show desde que o Pearl Jam foi obrigado a tocar em plena luz do dia, em dezembro do ano passado.
Para empresários de shows e casas noturnas, conseguir um alvará é um processo lento e complicado e falta cooperação da prefeitura. Mais do que isso, eles dizem que São Paulo está sem locais para grandes shows.
Assim, eles responderam às críticas do secretário municipal das Subprefeituras da cidade de São Paulo, Andrea Matarazzo, que, em entrevista à Folha publicada ontem, os acusou de estarem "desacostumados" a seguirem as normas para obtenção de alvarás.
"Não pode sair interditando. Há muitas coisas que podem ser corrigidas de última hora. A Prefeitura poderia cooperar", diz Sérgio Ajzenberg, dono da Divina Comédia, empresa responsável pelo Motomix.
Segundo ele, a Polícia Militar fez a inspeção no Espaço das Américas na quinta de manhã, quando a tenda ainda não estava armada. "Se a inspeção fosse na sexta de manhã, eles veriam que não havia problema. Não dá para armar com tanta antecedência, o Espaço das Américas estava ocupado com outro evento antes." O evento aconteceu, mas sem a tenda.
A festa de primeiro aniversário do clube Vegas, que seria realizada em várias boates da rua Augusta em junho, foi outro evento cancelado na última hora. "Alegaram falta de segurança, mas esses clubes funcionam normalmente há 20 anos", diz Facundo Guerra, dono do Vegas.
Fernando Tibiriçá, do Manga Rosa, no Brooklin, também teve o aniversário do clube cancelado, em abril passado. "O evento seria em um galpão onde uma semana antes houve uma festa da FGV. Tivemos que mudar de última hora."
Para ele, há um "excesso" da prefeitura e também preconceito por se tratar de música eletrônica. "Se fosse axé, talvez não acontecesse nada."
Clubes sem alvará
Muitas discotecas da cidade, com alguns anos de existência, funcionam irregularmente. "A prefeitura leva muito tempo para analisar um pedido de alvará, tem casas que fecham depois de três anos de vida sem nunca ter obtido a permissão", critica Guerra, do Vegas.
"Estamos sempre sujeitos ao fechamento por algum motivo esotérico." Ele sugere uma "força-tarefa" para analisar as casas.
A Folha apurou que a situação irregular de funcionamento dos clubes, apenas com um protocolo de pedido de alvará, é propícia para a ação de fiscais corruptos -sem o alvará definitivo, seria mais fácil pedir propinas em uma blitz.
O secretário Andrea Matarazzo diz que se os donos das casas noturnas "fizessem direito", seguindo as normas, dificultaria a corrupção. "Eles não deveriam corromper os fiscais. Se tem o corrupto, alguém corrompeu. Se fizer direito, não precisa corromper. O fiscal não chega lá inventando a irregularidade."
Cidade carente
Os empresários da noite dizem que apesar do seu gigantismo, São Paulo tem poucas opções de espaços para shows. "Se for para um público de mais de 16 mil espectadores, você não encontra um lugar, estamos carentes", diz o empresário Luiz Eurico Klotz, que organiza o Skol Beats.
"É uma situação dramática porque as empresas querem investir em eventos e sabemos que a organização de shows atrai turismo e gera milhões para metrópoles de todo mundo. É urgente criar novos espaços, com metrô na porta". (ADRIANA FERREIRA SILVA, RAUL JUSTE LORES e THIAGO NEY)
quarta-feira, setembro 20, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário