A Câmara dos Deputados votou nesta quarta-feira (14) em favor da cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) após uma sessão que durou mais de quatro horas. Por 313 votos a favor e 156 contra. Jefferson foi o primeiro parlamentar cassado por conta das denúncias do "mensalão". A votação foi secreta. Houve ainda 13 abstenções, 5 votos em branco e 2 nulos.
A sessão, concorrida, foi presidida pelo deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), vice-presidente da Câmara. Severino Cavalcanti desistiu de se expor depois que o empresário Sebastião Buani mostrou cheque que comprovaria pagamento de propina a ele.
Com plenário e galerias lotados -com 489 deputados votantes (de um total de 513)- o relator do processo de cassação, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), voltou a acusar Jefferson de ter feito as acusações sobre o mensalão em proveito próprio, para fugir das denúncias que pesavam contra ele, citado em uma gravação que o envolveria em episódios de corrupção nos Correios. A seguir, os advogados de Roberto Jefferson, Itapuã Messias e Francisco Barbosa, apresentaram a defesa. Depois disso, foi a vez de Roberto Jefferson.
Em sua defesa, ainda deputado, Jefferson, criticou o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusando Lula de preguiçoso e o governo de corrupto. Sobre Lula, Jefferson afirmou: "é malandro e preguiçoso. Gosta de passear de avião. Governar que é bom, ele não gosta. Delegou." Sobre o governo, disse: "esse é o governo mais corrupto que testemunhei em 23 anos. O mais escandaloso processo de aluguel parlamentar jamais visto". Foi aplaudido mais de uma vez.
No início de seu discurso, deu a impressão de que faria de sua defesa apenas uma despedida. Gastou parte do tempo a fazer agradecimentos a parentes, funcionários, colegas, eleitores e outras pessoas que o acompanharam em sua vida pública. Enquanto falava nesse momento, o plenário fez silêncio para ouvi-lo. Muitos de ficaram pé.
Depois disso, foi subindo o tom de seu discurso, abrindo com uma frase de efeito. "Trago aqui a minha cabeça e a minha palavra. Vocês poderão ficar com a primeira, após ouvir a segunda", citando o advogado e político francês Jean Didier (1800-1881). Reafirmou todas as acusações feitas anteriormente e negou tê-las feito por interesse pessoal.
Sérgio Lima/Folha Imagem
No discurso de defesa, Jefferson faz ataques ao PT. Assista
Apelou ao Congresso, para que não se transforme numa Geni (em referência à prostituta, personagem e música de Chico Buarque) nem permita que as relações entre os parlamentares se transforme numa luta entre irmãos. "Entrego meu mandato aos senhores (deputados). Se tiver que sair, saio de cabeça erguida".
Ao final, foi aplaudido. Após sua defesa, houve discursos de vários parlamentares.
Até pouco antes do início da apuração dos votos, o clima era de incerteza sobre o resultado da votação. "Acho que o placar vai ser apertado, com a cassação vencendo com uns 15 votos", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) ao blog do jornalista Fernando Rodrigues.
"Mensalão"
Roberto Jefferson denunciou, em entrevista publicada pela Folha em 6 de junho, que congressistas aliados recebiam dinheiro do governo -R$ 30 mil mensais em troca de apoio às propostas governistas. O deputado disse que o suposto esquema era conhecido como "mensalão".
Segundo Jefferson, o dinheiro do "mensalão" vinha de estatais e de empresas privadas e chegava a Brasília "em malas" para ser distribuído em ação comandada pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, com a ajuda de "operadores" como o publicitário Marcos Valério e o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).
Antes da entrevista, Jefferson foi citado em uma gravação em que o ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho detalha o funcionamento de um suposto esquema de corrupção nos Correios.
Na fita, o ex-funcionário afirmou que trabalhava com o aval do presidente do PTB e de outro ex-diretor da empresa, Antônio Osório Batista. Na época, o presidente Lula disse que confiava tanto em Jefferson que lhe daria "um cheque em branco".
O dinheiro arrecadado com o esquema de corrupção seria usado pelo dirigente do PTB para engordar o caixa do partido, de acordo com as denúncias.
A fita, divulgada pela revista Veja, iniciou a crise na estatal e teve como conseqüência a criação da CPI dos Correios.
Jefferson também foi citado em outra denúncia, sobre um suposto pedido de desvio de R$ 400 mil do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).
Lista mostra saques
Depois da entrevista em que revelou o suposto "mensalão", Jefferson citou, em depoimentos na Câmara, o nome de seis deputados que teriam sido beneficiários do esquema: Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Sandro Mabel (PL-GO) e Valdemar Costa Neto (PL-RJ).
Lista de pagamentos divulgada pelo publicitário Marcos Valério, apontado como operador do esquema por Jefferson, confirmou que houve saques feitos por assessores dos acusados.
Os deputados Valdemar Costa Neto e Carlos Rodrigues renunciaram ao mandato para escapar da cassação. Os outros deputados constam de relatório das CPIs dos Correios e do Mensalão como passíveis de cassação.
Ao revelar o esquema, Jefferson foi acusado de quebra de decoro parlamentar. No relatório do Conselho de Ética da Câmara que trata do tema, são listadas várias transgressões: recebimento de caixa dois, não- comprovação da existência do "mensalão", realização de denúncias para tirar o foco de si próprio, omissão em divulgar o esquema logo que soube dele e tráfico de influência.
Militante da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor, o deputado nasceu há 52 anos em Petrópolis (RJ). É formado em direito e começou sua carreira política em 1971, quando se filiou ao MDB, partido de oposição ao governo durante a ditadura. Militou no MDB até 1979 e, depois, até 1980, fez uma breve passagem pelo PP. Em 1982, integrou-se ao PTB, legenda em que está até hoje.
Jefferson iniciou em 2003 seu sexto mandato como deputado federal. Em 2003, acumulou as funções de presidente do PTB, cargo do qual está licenciado agora.
A sessão, concorrida, foi presidida pelo deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), vice-presidente da Câmara. Severino Cavalcanti desistiu de se expor depois que o empresário Sebastião Buani mostrou cheque que comprovaria pagamento de propina a ele.
Com plenário e galerias lotados -com 489 deputados votantes (de um total de 513)- o relator do processo de cassação, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), voltou a acusar Jefferson de ter feito as acusações sobre o mensalão em proveito próprio, para fugir das denúncias que pesavam contra ele, citado em uma gravação que o envolveria em episódios de corrupção nos Correios. A seguir, os advogados de Roberto Jefferson, Itapuã Messias e Francisco Barbosa, apresentaram a defesa. Depois disso, foi a vez de Roberto Jefferson.
Em sua defesa, ainda deputado, Jefferson, criticou o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusando Lula de preguiçoso e o governo de corrupto. Sobre Lula, Jefferson afirmou: "é malandro e preguiçoso. Gosta de passear de avião. Governar que é bom, ele não gosta. Delegou." Sobre o governo, disse: "esse é o governo mais corrupto que testemunhei em 23 anos. O mais escandaloso processo de aluguel parlamentar jamais visto". Foi aplaudido mais de uma vez.
No início de seu discurso, deu a impressão de que faria de sua defesa apenas uma despedida. Gastou parte do tempo a fazer agradecimentos a parentes, funcionários, colegas, eleitores e outras pessoas que o acompanharam em sua vida pública. Enquanto falava nesse momento, o plenário fez silêncio para ouvi-lo. Muitos de ficaram pé.
Depois disso, foi subindo o tom de seu discurso, abrindo com uma frase de efeito. "Trago aqui a minha cabeça e a minha palavra. Vocês poderão ficar com a primeira, após ouvir a segunda", citando o advogado e político francês Jean Didier (1800-1881). Reafirmou todas as acusações feitas anteriormente e negou tê-las feito por interesse pessoal.
Sérgio Lima/Folha Imagem
No discurso de defesa, Jefferson faz ataques ao PT. Assista
Apelou ao Congresso, para que não se transforme numa Geni (em referência à prostituta, personagem e música de Chico Buarque) nem permita que as relações entre os parlamentares se transforme numa luta entre irmãos. "Entrego meu mandato aos senhores (deputados). Se tiver que sair, saio de cabeça erguida".
Ao final, foi aplaudido. Após sua defesa, houve discursos de vários parlamentares.
Até pouco antes do início da apuração dos votos, o clima era de incerteza sobre o resultado da votação. "Acho que o placar vai ser apertado, com a cassação vencendo com uns 15 votos", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) ao blog do jornalista Fernando Rodrigues.
"Mensalão"
Roberto Jefferson denunciou, em entrevista publicada pela Folha em 6 de junho, que congressistas aliados recebiam dinheiro do governo -R$ 30 mil mensais em troca de apoio às propostas governistas. O deputado disse que o suposto esquema era conhecido como "mensalão".
Segundo Jefferson, o dinheiro do "mensalão" vinha de estatais e de empresas privadas e chegava a Brasília "em malas" para ser distribuído em ação comandada pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, com a ajuda de "operadores" como o publicitário Marcos Valério e o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).
Antes da entrevista, Jefferson foi citado em uma gravação em que o ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho detalha o funcionamento de um suposto esquema de corrupção nos Correios.
Na fita, o ex-funcionário afirmou que trabalhava com o aval do presidente do PTB e de outro ex-diretor da empresa, Antônio Osório Batista. Na época, o presidente Lula disse que confiava tanto em Jefferson que lhe daria "um cheque em branco".
O dinheiro arrecadado com o esquema de corrupção seria usado pelo dirigente do PTB para engordar o caixa do partido, de acordo com as denúncias.
A fita, divulgada pela revista Veja, iniciou a crise na estatal e teve como conseqüência a criação da CPI dos Correios.
Jefferson também foi citado em outra denúncia, sobre um suposto pedido de desvio de R$ 400 mil do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).
Lista mostra saques
Depois da entrevista em que revelou o suposto "mensalão", Jefferson citou, em depoimentos na Câmara, o nome de seis deputados que teriam sido beneficiários do esquema: Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Sandro Mabel (PL-GO) e Valdemar Costa Neto (PL-RJ).
Lista de pagamentos divulgada pelo publicitário Marcos Valério, apontado como operador do esquema por Jefferson, confirmou que houve saques feitos por assessores dos acusados.
Os deputados Valdemar Costa Neto e Carlos Rodrigues renunciaram ao mandato para escapar da cassação. Os outros deputados constam de relatório das CPIs dos Correios e do Mensalão como passíveis de cassação.
Ao revelar o esquema, Jefferson foi acusado de quebra de decoro parlamentar. No relatório do Conselho de Ética da Câmara que trata do tema, são listadas várias transgressões: recebimento de caixa dois, não- comprovação da existência do "mensalão", realização de denúncias para tirar o foco de si próprio, omissão em divulgar o esquema logo que soube dele e tráfico de influência.
Militante da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor, o deputado nasceu há 52 anos em Petrópolis (RJ). É formado em direito e começou sua carreira política em 1971, quando se filiou ao MDB, partido de oposição ao governo durante a ditadura. Militou no MDB até 1979 e, depois, até 1980, fez uma breve passagem pelo PP. Em 1982, integrou-se ao PTB, legenda em que está até hoje.
Jefferson iniciou em 2003 seu sexto mandato como deputado federal. Em 2003, acumulou as funções de presidente do PTB, cargo do qual está licenciado agora.
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