quarta-feira, janeiro 25, 2006

Coletivo de produtores cria manifesto defendendo "tendência"; novo clube no Bexiga tenta conquistar fãs de samba-rock

DJs apostam na mistura de samba e dub

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do samba-rock, será a vez do samba-dub? É o que tenta emplacar o novo clube AfroSpot, no Bexiga, que aposta na mistura desses dois estilos para conquistar o público que está à procura de uma alternativa ao Jive, casa fechada pela prefeitura em outubro de 2005, onde aconteciam as clássicas noites de samba-rock e grooves dos DJs Don KB e MZK.
"[O gênero] é uma herança de Chico Science e da Nação Zumbi. Um pós-mangue beat", defende o produtor e DJ Dudão Melo, 33, diretor artístico do AfroSpot. "É uma releitura da música brasileira com novas referências eletrônicas e da black music", diz.
Integrante do coletivo de produtores São Paulo Jazz Rebels, Melo e parceiros como o grupo pernambucano Monjolo escreveram até um manifesto em que defendem a "tendência", que não é assim tão nova -a Nação Zumbi mantém há cinco anos a banda de dub Los Sebosos Postizos.
A novidade é o circuito de boas noites que reúne núcleos de DJs de samba, dub e afins no AfroSpot e no bar Sarajevo, na rua Augusta. Entre os envolvidos, estão os DJs da Radiola Urbana, que defendem a bandeira dos afrobeats, e o soundsystem -como são chamadas as equipes de som jamaicanas- Dubversão, além do próprio Don KB.
No AfroSpot, que abriu no final do ano passado com a proposta de investir em funk, jazz, ritmos jamaicanos, latinos etc., a festa SambaDub rola às sextas, com Melo e residentes mensais como Don KB, Tony Hits e KL Jay, do Racionais MCs, que estreou na última semana.
Se a intenção era atrair os fãs de samba-rock, deu certo. A maioria das pessoas que estavam lá pela primeira vez esperavam ouvir hits dessa vertente -que é tema de uma festa lá aos domingos.
"Me falaram que a noite era samba-rock", disse Marcela Tahan, 23. "Estou gostando do lugar, mas as músicas poderiam ser melhores", falou a moça, indiferente ao set suingado de KL Jay. "[O clube] é bom, mas preferia samba-rock", concordou Vanessa Chiacchio, 30.
Quem procurava ouvir black music gostou. "Adoro o KL Jay, freqüento todas as festas dele", afirmou Andreia Souza Sobrinho, 31. "A música é superlegal, mas a casa está meio vazia", observou Carmen Lucia Garcia, 32.
Se no AfroSpot a mistura causou controvérsias, no bar underground Sarajevo o tal mix de samba e dub da festa Frankafrica se mostrou bem mais efetivo. Lá, às quartas, enquanto os disc-jóqueis da Dubversão tocam dub e reggae em uma salinha enfumaçada, no espaço ao lado, os DJs da Radiola Urbana vão de samba, samba-rock, funk e afrobeat.
"O público [das duas equipes] é meio parecido, interessado por dub e afrobeat", explica o jornalista Ramiro Zwetsch, 31, um dos responsáveis pela Radiola.
"O samba e o dub são grooves que tem a mesma referência africana, assim como o jazz, o reggae, o blues", lembra Miguel Gondim de Castro, 26, do Dubversão. "Na verdade, acho que não existe esse gênero [samba-dub]. O dub é mais um modo de produção de bandas como o Monjolo", diz ele.
Se o estilo existe ou é pura jogada de marketing, só o tempo irá dizer. O que interessava à moçada de 20 e poucos anos que lotava o Sarajevo, na última quarta, é que, tanto na sala onde reinava o samba, quanto na de dub, a música era de alto nível. Freqüentadora assídua, a estudante Bárbara Monroe, 20, "arrastou" a irmã para conhecer o lugar. "Venho pelo som, gosto de dub, reggae..."
Outro que bate cartão no bar é Michael Garcia, 26, que tinha uma reclamação: às vezes faltam meninas. "Hoje ainda tem mulher, mas, na maioria dos dias, só tem homem. Estou aqui porque gosto [da música] mesmo."

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