LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cabal quer mostrar que é mais do que o MC do sucesso das pistas "Senhorita", gravado sob o nome Motirô, uma parceria com o veterano DJ HUM e o cantor de r'n'b Lino Crizz.
Quer provar também que pode ser branco de um bairro de classe média de São Paulo e fazer rap dançante, mesmo correndo o risco de ser acusado de artista comercial, ou seja, que só busca fama e dinheiro.
Mas, em vez de se intimidar, Cabal seguiu o caminho contrário. Transformou as críticas em piadas no seu disco de estréia, "Prova Cabal". "O tema do disco é eu me defendendo da acusação de ser um rapper pop", conta o paulistano de 25 anos.
"Fiz uma brincadeira, mas, para o pessoal do rap, isso é uma preocupação. Não pode ir ao Faustão, à MTV, não pode isso, não pode aquilo. É uma cultura que veio do gueto e da periferia, e o gueto ainda se sente dono do rap e do hip hop. Entendo a preocupação de perder essa coisa tão verdadeira e de se tornar uma coisa banal e comercial."
Cabal deixa claro que esse não é o caso dele. "Tenho um comprometimento com a música e com o rap como uma forma de mudança social e comportamental. Do mesmo jeito que faço música para a pista e misturo rap com r'n'b, tenho músicas de protesto. Mas não dá para ficar falando apenas disso. Um dos problemas do rap no Brasil é que os rappers falam dos problemas, mas não de soluções", explica.
"Acho chato quando você ouve um disco e parece a mesma letra com uma base diferente. Não queria ficar preso a uma forma."
Além de ser branco, do bairro de Pinheiros (zona oeste de São Paulo) e formado em administração, Cabal iniciou sua carreira em um clube da Vila Olímpia, reduto de jovens abastados. Por isso ele sabe que poderá agradar mais aos garotos brancos de classe média do que aos jovens da periferia.
"Os moleques brancos de classe média podem se identificar comigo, mas não vou usar isso como muleta. Cheguei onde estou fazendo música boa e sincera. Quero ter o maior número de fãs brancos, negros, asiáticos, indígenas, homens, mulheres... Música é arte. Quem não gostar que escute outras coisas, porque o Brasil está bem servido de rappers, de b-boys e de DJs."
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