segunda-feira, janeiro 30, 2006

ELETRÔNICA

Na sétima coletânea montada pelo DJ prevalecem letras românticas, sensuais, bem-humoradas e pouco políticas

Malboro faz novo mapeamento do funk

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO


Já faz quase cinco anos que o DJ Marlboro lançou seu último "Funk Brasil". O sétimo disco dessa série que mapeia o que de melhor se produz de funk no país está indo para as ruas agora, embalado por sucessos como "Ela Só Pensa em Beijar" (MC Leozinho) e "Som de Preto" (Amilcka e Chocolate) e pela fama de Tati Quebra-Barraco ("Boladona").
"Eu não quero lançar todo ano por obrigação. Às vezes não está aparecendo nada. Lanço quando sinto necessidade, quando há um material de qualidade e está na hora de apontar tendências", explica Fernando Luis Mattos da Matta, o Marlboro, há 27 de seus 42 anos tocando funk em bailes.
No conjunto de 25 faixas selecionado pelo DJ, prevalecem letras românticas, sensuais e bem-humoradas. Funks políticos praticamente não há. Mas "Som de Preto" ("É som de preto/ De favelado/ Mas quando toca/ Ninguém fica parado") representa com força essa vertente.
" "Som de Preto" está cumprindo o papel de atualizar o "Rap da Felicidade" ("Eu só quero é ser feliz/ Andar tranqüilamente na favela em que eu nasci'), que já é um clássico. É uma maneira de o pessoal do funk dizer: sabemos o que estamos vivendo e o que estamos cantando. Queremos contar o que passamos", diz Marlboro.

Classe Média
Para ele, os proibidões (funks de apologia a facções do tráfico de drogas) também são retratos do que os compositores vivem nas favelas. Mas não há proibidões em "Funk Brasil" nem nos bailes comandados por Marlboro.
"Vivemos em uma cidade, um país, um mundo extremamente violento. Não vou tocar músicas que estimulem ainda mais essa violência. Não que elas sejam culpadas. Mas se música não encorajasse ninguém, pátria não tinha hino", justifica ele, para quem a classe média é quem faz a verdadeira apologia às drogas.
"Se a classe média não achasse bonitinhos os proibidões, não ficasse levantando o dedinho nos bailes para cantar essas músicas, não haveria tanta divulgação. Quem compõe os proibidões fala da realidade cruel que vive. Cabe à sociedade mudar essa realidade", afirma.
Entre as tendências do momento que Marlboro destaca no CD está a de um "funk mais pop", encabeçado por "Ela Só Pensa em Beijar". Buchecha, que perdeu muito de sua projeção com a morte do parceiro Claudinho, volta, ao lado da MC Sabrina, no funk melody "Implacável".
Há, ainda, uma série de letras sensuais, como as de "Atoladinha" (Bola de Fogo e as Foguentas) e "Pegação" (Tiago e Diogo). Mas não há nenhuma pornográfica. Mesmo a de Tati Quebra-Barraco é mais leve do que outras que fizeram a fama da funkeira nos bailes do Brasil.
"Eu converso com ela para ela não falar apenas da liberação sexual das mulheres mas também para falar de outras coisas que as mulheres estão enfrentando. Ela já foi doméstica e lavadeira, sabe como é. A música da Tati podia ser muito mais abrangente", opina Marlboro.

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