LONDRES, 21 Nov (AFP) - O fim dos tradicionais sinos, que anunciam nos pubs londrinos a última rodada antes do fechamento, às 23h, entusiasma muitos britânicos, mas gera temor em outros, para os quais esta medida estimulará o "binge drinking" (bebedeira), que é uma tradição no país.
Ao abolir a legislação que proíbe desde o fim da I Guerra Mundial servir bebidas alcoólicas depois das 11 da noite, a nova lei, que entrará em vigor na próxima quinta-feira, significa que os britânicos poderão pedir bebidas depois deste horário, assim como seus vizinhos europeus.
Além disso, pela primeira vez centenas de supermercados do país terão permissão para vender bebidas alcoólicas durante as 24 horas do dia.
Mas o direito de saborear uma dose a mais depois do horário limite, o que é comum em quase todos os países da Europa, na Grã-Bretanha está acompanhado de uma intensa polêmica, que supera as tradicionais divisões políticas, o que, aparentemente aumentará após a entrada em vigor da lei.
"Neste país, beber sempre está acompanhado de uma certa angústia, à espera dos temidos sinos. Acho que o fim deles eliminará um pouco esta angústia", disse à AFP Marvin Foster, em um pub de Islington, norte de Londres.
Mas sua amiga, Dennise Forward, não concorda.
"Na Grã-Bretanha não temos o costume mediterrâneo de desfrutar o álcool, saboreá-lo. Acho que a mudança da lei fará com que as pessoas bebam por mais tempo, se embebedem mais", afirmou.
O governo de Tony Blair alegou que a legislação que proíbe os pubs de servir álcool depois das 11 da noite estimulava o fenômeno do "binge drinking", e por isso era contraproducente.
Os trabalhistas lembram que esta lei, que data da 1915, tem como objetivo deter as faltas ao trabalho de funcionários da indústria armamentista, que tinham taxas vertiginosas de alcoolismo, o que agora não seria mais necessário.
Mas os conservadores, apoiados pela polícia, por autoridades educacionais e vários tablóides, alegam que as novas normas causarão o aumento do alcoolismo de da pequena delinqüência.
Por este motivo, tentaram impedir a abolição da lei sobre o fechamento dos bares, pedindo pelo menos seu adiamento para depois das festas de fim de ano. Em vão.
As conseqüências do abuso de álcool são dramáticas para o país, onde 33.000 pessoas morrem por ano por causa do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
O relatório do Instituto de Estudos Alcoólicos (IAS) destaca que 48% dos homens entre 18 e 24 anos e 31% das mulheres na mesma faixa etária praticam o "binge drinking" pelo menos duas vezes por mês.
As estatísticas são igualmente alarmantes entre os britânicos mais jovens.
De acordo com este estudo, 38% dos adolescentes britânicos de 13 anos afirmam ter se embebedado pelo menos uma vez na vida, contra 12% dos franceses e 7% dos italianos da mesma idade.
Segundo a unidade estratégica do gabinete do primeiro-ministro sobre alcoolismo na Grã-Bretanha, o "binge drinking" custa ao país mais de 20 bilhões de libras (34,3 bilhões de dólares) ao ano.
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