segunda-feira, novembro 21, 2005

Gênero filk, que pega inspiração em jedis e no espaço, cresce com troca de arquivos digitais e cria rádio na web.

Nerds espalham canções sci-fi pela internet

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCA
L

O que acontece quando um fã de ficção científica, desses que se vestem de Darth Vader para a estréia do último "Guerra nas Estrelas", arranha também um violão? A resposta chama-se filk, movimento nerd-musical que, apesar de existir há várias décadas, se espalha por causa da internet, onde já ganhou até uma rádio.
A origem do termo é uma derivação de folk e, acredita-se, surgiu por um deslize de digitação no título de um artigo sobre ficção científica escrito ainda nos anos 1950. O erro virou fato, e hoje há centenas de compositores e milhares de músicas sob o guarda-chuva filk, cujos versos são cantados em vários gêneros, do rock à música eletrônica.
"As músicas falam sobre espaço, real e fantasia; tópicos científicos, como computadores e a vida no futuro; temas de fantasia, como dragões, vampiros e mágica; todos os gêneros de livro, filme ou programa de TV de que você já ouviu falar (e muitos que não conhece); gatos; e combinações de tudo o que citei", explica à Folha Mary Creasey, compositora, dona de loja filk na internet, organizadora de festivais na Califórnia e, na vida terráquea, técnica eletrônica dos Correios dos EUA.
"Você quer jovens na Lua que precisam de um sindicato? Temos músicas sobre isso. Quer caminhoneiros carregados de asteróides com problemas mecânicos? Temos músicas sobre isso. Se você quiser gatos no espaço, também temos", diz ela, que é casada com outro ativista filker, John.
A imensa maioria das músicas filk são paródias. Como "Lola", o clássico dos Kinks que virou "Yoda" na versão do "filk-star" Weird al Yankovic. O mestre jedi também foi homenageado numa versão de "YMCA", do Village People. "Há um compositor para cada dez letristas", diz Mary. "Alguns fazem ambos. Alguns escrevem, mas não cantam. Eu faço os três, mas na maioria das vezes escrevo apenas as letras", explica.
A pedido da reportagem, ela enviou duas músicas de sua autoria, uma sobre o telescópio Hubble e outra sobre "Harry Potter".
Sendo o filk um movimento nerd, não é nada estranho que a internet tenha dado um novo impulso à maluquice. Das fitas caseiras gravadas e trocadas em eventos, os filkers agora utilizam a rede mundial para trocar músicas e organizar eventos. O melhor site para iniciantes é o www.filk.com, onde é possível ouvir a rádio e conhecer a história do movimento.
A intensa troca de informações fez com que os filkers se dividissem em subgêneros: há, por exemplo os "Holmes filks", dedicados ao detetive mais famoso do mundo, e os compositores-fãs da Sociedade do Anacronismo Criativo, sobre a Europa pré-século 17.
Há ainda músicas incorporadas pelos filkers, como "Space Oddity", de David Bowie, sobre as desventuras do major Tom.
Mas nem é tudo o que é verde e vive no espaço é filk. Caretas, os filkers descartam músicas com inspiração lisérgica. "Drug songs não são filk songs", ensina o filk.com. "Músicas como "White Rabbit", de Jefferson Airplane, tem várias referências sobre o espaço e fantasia, mas são referências de pessoas que precisam tomar drogas para experimentar vôos espaciais. Nós lemos ficção científica."

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