Editor de Ilustrada da Folha Online
Atire a primeira pedra quem nunca sofreu por amor, quem nunca morreu de ciúmes, quem nunca cogitou cortar os pulsos após uma dolorosa separação, quem nunca chorou baixinho, mordendo o travesseiro, ao som de uma canção dor-de-cotovelo. É como um tango, uma tragédia grega, uma ópera-bufa. Mas é só amor. Nessa seara, não há racionalidade, e todas as teorias padecem de consistência, e os intelectuais esnobam o tema ("amor é coisa de pobre; amor de rico é o poder").
Mesmo sob o risco de ser visto como mais um livro de auto-ajuda sobre o amor, um caça-níquel literário que infesta o mercado, "Amores que nos fazem mal", recém-lançado pela Larousse (184 páginas, R$ 24,90), é um ótimo passatempo. Escrito pela socióloga e jornalista francesa Patrícia Delahaie, a obra é ideal para fãs de revistas femininas e suas eternas reportagens sobre relacionamentos amorosos, casamento, sexo e traição.
É um texto leve. Mistura os saborosos clichês da terapia de casal com histórias supostamente reais, de fácil identificação pelo público. Todas as linhas do livro foram impressas em vermelho (amor ou sangue?). São quatro partes (cada uma com cinco capítulos): "Pessoas que amam demais", "Pessoas que não sabem amar", "Quando a separação faz bem" e "Insistir sim, mas de outro modo".
Como é de praxe nesse tipo de obra, a autora não expõe apenas o diagnóstico sobre as formas doentias de amar, relatando situações cotidianas. Também indica pretensas soluções para os problemas do coração. Durante a leitura, dá até para sentir que o remédio recomendado vai funcionar, mas a realidade é bem mais complexa. Não há milagres. É fácil falar o que está errado. Viabilizar a mudança é outra história.
Exemplo: como sofrer menos após a separação? A autora recomenda nunca mais responder ao telefone diretamente, evitar os lugares que possam lhe trazer boas e más lembranças, passar longe da casa "dele" [o livro é dirigido às mulheres], tirar todas as fotos das paredes, guardar as cartas numa caixa, bem no fundo do armário, não mais ver os amigos comuns, proibir todos que lhe falem dele e por aí vai. Fácil, não é?!
Outros bordões pincelados no livro: "É preciso ficar longe, como o alcoólatra da garrafa", "Sem amor, não podemos ser felizes", "Num casal, sempre existe aquele que ama mais", "Um homem que trai a mulher não a ama mais", "Amamos de verdade apenas uma vez na vida", "Os manipuladores não nos amam, apenas nos usam", "Mulheres desejam consideração", "Diga não às humilhações", "O relacionamento passa por altos e baixos".
É incrível como os livros desse gênero não conseguem avançar na abordagem do tema, na comparação com seus antecessores. Em geral, tudo se parece, por exemplo, com a obra do professor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998), autor de clássicos como "Amor", "Nascido para amar" e "Amando uns aos outros".
Há quem tenha vergonha de admitir que faz uso desse tipo de leitura, que é fácil escrever livros de auto-ajuda, que o público incauto, sem erudição, compra qualquer porcaria com uma capa bem editada, um título chamativo e uma forte campanha de marketing por trás.
Talvez isso seja verdade. Mas o que ninguém consegue impedir ou controlar é essa necessidade humana de amar e ser amado, de sofrer quando ama demais ou não é correspondido.
As palavras da autora francesa não chegam a funcionar como um bálsamo para as feridas. Ajudam apenas a recolocar o tema da vida pessoal na pauta dos leitores --às vezes tão absortos, obsessivos e histéricos com suas carreiras e finanças. A concepção de amor do livro é ingênua, mas soa poética e serve para arrancar alguns suspiros românticos, um consolo, um fiapo de esperança para qualquer pessoa:
"Amar de verdade supõe deixar de se voltar para si mesmo para se colocar no lugar do amado. Dessa maneira, passamos a pensar por meio de suas idéias. Ver por meio de seus olhos. Vivenciar seus
sentimentos, por vezes de maneira muito intensa. E é apenas nos intervalos que somos nós mesmos, com nossas próprias emoções, pensamentos, experiências."
Mesmo sob o risco de ser visto como mais um livro de auto-ajuda sobre o amor, um caça-níquel literário que infesta o mercado, "Amores que nos fazem mal", recém-lançado pela Larousse (184 páginas, R$ 24,90), é um ótimo passatempo. Escrito pela socióloga e jornalista francesa Patrícia Delahaie, a obra é ideal para fãs de revistas femininas e suas eternas reportagens sobre relacionamentos amorosos, casamento, sexo e traição.
É um texto leve. Mistura os saborosos clichês da terapia de casal com histórias supostamente reais, de fácil identificação pelo público. Todas as linhas do livro foram impressas em vermelho (amor ou sangue?). São quatro partes (cada uma com cinco capítulos): "Pessoas que amam demais", "Pessoas que não sabem amar", "Quando a separação faz bem" e "Insistir sim, mas de outro modo".
Como é de praxe nesse tipo de obra, a autora não expõe apenas o diagnóstico sobre as formas doentias de amar, relatando situações cotidianas. Também indica pretensas soluções para os problemas do coração. Durante a leitura, dá até para sentir que o remédio recomendado vai funcionar, mas a realidade é bem mais complexa. Não há milagres. É fácil falar o que está errado. Viabilizar a mudança é outra história.
Exemplo: como sofrer menos após a separação? A autora recomenda nunca mais responder ao telefone diretamente, evitar os lugares que possam lhe trazer boas e más lembranças, passar longe da casa "dele" [o livro é dirigido às mulheres], tirar todas as fotos das paredes, guardar as cartas numa caixa, bem no fundo do armário, não mais ver os amigos comuns, proibir todos que lhe falem dele e por aí vai. Fácil, não é?!
Outros bordões pincelados no livro: "É preciso ficar longe, como o alcoólatra da garrafa", "Sem amor, não podemos ser felizes", "Num casal, sempre existe aquele que ama mais", "Um homem que trai a mulher não a ama mais", "Amamos de verdade apenas uma vez na vida", "Os manipuladores não nos amam, apenas nos usam", "Mulheres desejam consideração", "Diga não às humilhações", "O relacionamento passa por altos e baixos".
É incrível como os livros desse gênero não conseguem avançar na abordagem do tema, na comparação com seus antecessores. Em geral, tudo se parece, por exemplo, com a obra do professor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998), autor de clássicos como "Amor", "Nascido para amar" e "Amando uns aos outros".
Há quem tenha vergonha de admitir que faz uso desse tipo de leitura, que é fácil escrever livros de auto-ajuda, que o público incauto, sem erudição, compra qualquer porcaria com uma capa bem editada, um título chamativo e uma forte campanha de marketing por trás.
Talvez isso seja verdade. Mas o que ninguém consegue impedir ou controlar é essa necessidade humana de amar e ser amado, de sofrer quando ama demais ou não é correspondido.
As palavras da autora francesa não chegam a funcionar como um bálsamo para as feridas. Ajudam apenas a recolocar o tema da vida pessoal na pauta dos leitores --às vezes tão absortos, obsessivos e histéricos com suas carreiras e finanças. A concepção de amor do livro é ingênua, mas soa poética e serve para arrancar alguns suspiros românticos, um consolo, um fiapo de esperança para qualquer pessoa:
"Amar de verdade supõe deixar de se voltar para si mesmo para se colocar no lugar do amado. Dessa maneira, passamos a pensar por meio de suas idéias. Ver por meio de seus olhos. Vivenciar seus
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